O terror é um gênero clássico do cinema, cheio de inúmeros filmes famosos e personagens marcantes, que vão de assassinos mascarados e demônios terríveis a espíritos macabros e monstros sanguinários.
Muito mais do que seus monstros e entidades, muito mais que o sangue e os gritos, o terror pode ser extremamente bem construído através do som. E não estamos apenas falando do som de rugidos e gritos ou de serras elétricas sendo ligadas. A trilha sonora é um dos principais contribuintes para a construção do suspense, da tensão e, principalmente, do medo. O som de instrumentos explodindo em sons agonizantes e fortes é uma das táticas mais velhas e mais utilizadas para essa construção, mas essa estratégia depende muito mais de outro fator além da força dos instrumentos: essas cenas são muito mais impactantes pelo silêncio anterior à explosão. A presença apenas de sons do ambiente, ou mesmo a ausência total de som, provoca no espectador um sentimento de angústia e de expectativa tenebrosa, porque o silêncio nunca nos parece natural e é causador de um estado de alerta que nos prepara sem, contudo, nos deixar completamente prontos para o que está por vir.

Um dos exemplos mais clássicos da construção do suspense e do terror através, principalmente, do som, é a cena clássica de Psicose, a obra-prima de Alfred Hitchcock. Por ser um filme antigo, e mesmo pela maneira como ela foi executada, a cena do chuveiro, em que a personagem Marion Crane é brutalmente assassinada por uma personagem misteriosa no Bates Motel, está longe de ser um momento marcante simplesmente pela sequência de ações em si e, se dependesse apenas disso, seria inclusive completamente esquecível. Contudo, a Trilha Sonora composta por Bernard Hermann para essa cena a transformou em uma das mais assustadoras de sua época, tudo por causa da junção equilibrada entre silêncio e música. Os momentos iniciais possuem apenas o som do chuveiro onde a personagem se banha, e só com esse som ficamos na expectativa do que vai acontecer, principalmente após vermos a figura sombria do lado oposto da cortina do box. Quando essa figura se revela, com uma faca na mão, um conjunto de violinos explodem, criando uma sensação de susto e de surpresa que afeta imediatamente o espectador, mas que só consegue reagir com espanto ao ver a até então protagonista ser morta dessa maneira.
Esse é o grande papel do silêncio nos filmes. Não se trata de uma pausa, de um respiro, mas justamente do efeito contrário. O silêncio cria expectativa, explora uma certa natureza inquieta que todos nós temos e que nos faz estar sempre esperando pela próxima ação. Enquanto os sons tocam, estamos em um estado de normalidade, estamos vendo a ação acontecer e o som acompanha-la. Quando, porém, o silêncio reina, ficamos inquietos, alertas, esperando algo a mais acontecer. É nosso lado instintivo sendo ativado, nosso lado mais animalesco, nos alertando que existe algo de errado, mas que não sabemos ainda o que é.
Outro grande filme a usar o silêncio para a construção do medo e da tensão foi O Iluminado, e Stanley Kubrick. Em uma de suas cenas, o personagem Halloran (Scatman Crothers) retorna ao Overlook Hotel para ajudar à família Torrance. Ao retornar, porém, ele desconhece a insanidade que tomou conta de Jack (Jack Nicholson) e entra no Hotel desavisados. O ataque de Jack vem completamente sem aviso. Em uma cena tensa de silêncio, não ouvimos nenhuma música, mas o grito do louco ao atacar o ex-gerente. Completamente inesperada a cena provoca gigantesco sobressalto no público.
E, muito embora seu uso neles seja realizado de maneira mais mecânica e menos inovadora, todos os filmes de terror partem da alternância entre o silêncio e o som para provocar medo. O momento anterior ao ataque é preenchido pela ausência quase que completa do som, para criar a reação de alerta no telespectador e nos fazer esperar o ataque de todos os lados. Quando finalmente esse ocorre, a música salta junto com os gritos e com os objetos se quebrando, e o espectador é pego de surpresa pelo som alto, que faz seu estado de alertar-se alarmar ainda mais, provocando o medo.
Importante na maioria dos filmes, a trilha sonora é essencial para o terror, nem tanto pelas músicas arrepiantes, mas pela alternância entre o silêncio e o som. Isso porque a música sempre está presente nos filmes, sendo geralmente substituída apenas pelas falas dos personagens. Quando, porém, nenhum desses dois elementos está presente em cena, somos tomados por uma sensação de desconforto diante da não naturalidade do momento, sentimos medo daquilo que nos parece estranho. Tanto o som natural quanto a trilha sonora devem levar ao desconforto do silêncio constante para a expectativa do público.