Crítica

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Adão Negro: nada de redenção para os super-heróis esse ano

21/10/2022

Tendo a chance de construir um bom argumento e criar um filme mais sério e profundo, Adão Negro opta pelo seguro, cai na fórmula de sempre e deixa de impressionar com um filme sem nada de substancial para oferecer.

escrito por
Luis Henrique Franco

Tendo a chance de construir um bom argumento e criar um filme mais sério e profundo, Adão Negro opta pelo seguro, cai na fórmula de sempre e deixa de impressionar com um filme sem nada de substancial para oferecer.

escrito por
Luis Henrique Franco
21/10/2022

2022 definitivamente não foi o ano dos super-heróis. É possível que nunca antes tenhamos tido tantas produções do gênero sendo lançadas, e mesmo assim, a maioria dos lançamentos pela Marvel foi aquém das expectativas, com seus melhores filmes e séries do ano sendo, no máximo, medianos. Diante desse cenário, muitos podem virar os olhos para a DC Comics na esperança de um bom filme de heróis esse ano. Mas aqueles que o fizerem também irão encontrar só decepção, pois o grande filme da companhia para 2022, Adão Negro, certamente não é o grande salvador do gênero esse ano.

O filme segue a história de Teth Adam (Dwayne Johnson), um ex-escravo do reino de Kahndaq que recebeu dos grandes magos o poder para libertar seu povo, mas acabou usando-o para obter vingança e quase erradicou o reino. Por conta disso, Adam foi aprisionado pelos mesmos magos e passou 5000 anos esperando até ser despertado de novo, em uma Kahndaq diferente e modernizada, mas ainda dominada por forças opressoras.

Dwayne Johnson como Adão Negro

Este é o ponto em que o filme talvez tivesse a sua maior força. Adão Negro não é um herói convencional e não se importa de matar seus inimigos de formas brutais, julgando por conta própria aqueles que ficam em seu caminho. Para a concepção aceita de heróis, isso faria dele um vilão, mas em um mundo repleto de super-heróis, nenhum deles jamais veio ajudar o povo de Kahndaq. Assim, quando finalmente surge uma entidade poderosa que luta por esse povo, os moradores do lugar não o vêm como uma ameaça, mas como um libertador. É uma ideia interessante de ser trabalhada, não só para jogar uma tonalidade cinza na nossa concepção de super-heróis, mas também para servir como crítica ao fato de que, em todas as produções do gênero, os mocinhos são apenas que atendem às intenções específicas de um determinado sistema e ignoram todo o resto do mundo no processo.

No papel, seria o plano perfeito para um filme que se arriscaria a por um protagonista com uma moral completamente duvidosa. Mas na prática, esse conflito nunca assume as proporções sérias que poderia ter. Adão Negro nunca é posto em uma situação na qual sua moral o leva a tomar uma ação realmente duvidosa e sombrio, e seus atos mais brutais são praticados contra soldados sem nome, figurantes de cenas de ação e entidades sobrenaturais de CGI (inimigos que já foram mortos e destruídos por outros heróis que não carregam esse ideia de serem acinzentados). O maior conflito desses ideais fica muito restrito aos diálogos conflitantes entre Adão Negro e a Sociedade da Justiça, especialmente com o irritante Falcão Negro (Aldis Hodge), cuja construção como um herói completamente justo e correto é tão caricata que é impossível de ser levada a sério.

Adão Negro e Gavião Negro se enfrentam

Honestamente, esse é o maior problema do filme todo. Cheio de potencial para ser sério, sombrio e propor uma discussão ousada e arriscada para o gênero, ele opta pela fórmula batida, apenas alterando-a para se adequar a um protagonista anti-herói, que começa em conflito com o mundo ao seu redor e com a equipe que o acompanha, mas acaba se tornando um aliado desse mesmo mundo quando uma ameaça muito maior e sem nenhum traço acinzentado surge para colocar o mundo em risco. E todos os clichês da fórmula se repetem aqui: temos o herói que não se adequa ao mundo, um vilão de efeitos especiais sem nenhum desenvolvimento, uma história previsível, diálogos embaraços, um artefato de poder imensurável que serve para guiar a narrativa e, é claro, diversas piadinhas e alívios cômicos. O que é muito pior do que parece aqui, pois esses alívios destroem todo o tom mais sombrio que o filme se propõe. Por que um ex-escravo com os poderes de um deus e em busca de vingança iria se preocupar em acertar uma frase de efeito? como filme, Adão Negro tenta convencer que é sério, mas acaba passando a ideia de um adolescente revoltado.

Adão Negro encapuzado deixa um local de conflito.

Em toda essa narrativa previsível, o personagem que mais se salva é, talvez, o Senhor Destino de Pierce Brosnan, com uma construção mais retida e cautelosa, que demonstra uma sabedoria de alguém que viu como o futuro pode ser alterado e paciência de não julgar antecipadamente uma situação. Brosnan também consegue dar um toque humano ao personagem ao mostrar, de forma singela, o sofrimento de alguém que vive sempre com um pé no futuro. De forma a chamar muita atenção para si, o Senhor Destino se torna o ponto central dessa balança e representa muito melhor a ideia de dualidade e moral cinzenta do filme do que os dois extremos opostos interpretados por Johnson e Hodge.

Senhor Destino realiza um feitiço em meio às ruas de Kahndaq.

Em um ano cheio de fiascos para os super-heróis, Adão Negro consegue se sustentar como mais uma produção mediana do gênero. Talvez até se salve mais do que outros por não ter alimentado uma expectativa tão alta quanto outros filmes desse ano, como Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. Nesse sentido, é um filme de super-heróis como muitos aos quais nos acostumamos nos últimos anos. É frustrante ver que tal fórmula parece impossível de ser quebrada, e mais frustrante ainda quando um filme mostra potencial e não vai além do lugar comum, mas ainda assim é um filme cheio de cenas de ação, personagens reconhecíveis do Universo DC e uma narrativa que se sustenta ao longo de sua duração. Parece que isso é o máximo que podemos esperar desse gênero ultimamente.

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Adão Negro

Adão Negro

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Tendo a chance de construir um bom argumento e criar um filme mais sério e profundo, Adão Negro opta pelo seguro, cai na fórmula de sempre e deixa de impressionar com um filme sem nada de substancial para oferecer.

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Luis Henrique Franco
21/10/2022

2022 definitivamente não foi o ano dos super-heróis. É possível que nunca antes tenhamos tido tantas produções do gênero sendo lançadas, e mesmo assim, a maioria dos lançamentos pela Marvel foi aquém das expectativas, com seus melhores filmes e séries do ano sendo, no máximo, medianos. Diante desse cenário, muitos podem virar os olhos para a DC Comics na esperança de um bom filme de heróis esse ano. Mas aqueles que o fizerem também irão encontrar só decepção, pois o grande filme da companhia para 2022, Adão Negro, certamente não é o grande salvador do gênero esse ano.

O filme segue a história de Teth Adam (Dwayne Johnson), um ex-escravo do reino de Kahndaq que recebeu dos grandes magos o poder para libertar seu povo, mas acabou usando-o para obter vingança e quase erradicou o reino. Por conta disso, Adam foi aprisionado pelos mesmos magos e passou 5000 anos esperando até ser despertado de novo, em uma Kahndaq diferente e modernizada, mas ainda dominada por forças opressoras.

Dwayne Johnson como Adão Negro

Este é o ponto em que o filme talvez tivesse a sua maior força. Adão Negro não é um herói convencional e não se importa de matar seus inimigos de formas brutais, julgando por conta própria aqueles que ficam em seu caminho. Para a concepção aceita de heróis, isso faria dele um vilão, mas em um mundo repleto de super-heróis, nenhum deles jamais veio ajudar o povo de Kahndaq. Assim, quando finalmente surge uma entidade poderosa que luta por esse povo, os moradores do lugar não o vêm como uma ameaça, mas como um libertador. É uma ideia interessante de ser trabalhada, não só para jogar uma tonalidade cinza na nossa concepção de super-heróis, mas também para servir como crítica ao fato de que, em todas as produções do gênero, os mocinhos são apenas que atendem às intenções específicas de um determinado sistema e ignoram todo o resto do mundo no processo.

No papel, seria o plano perfeito para um filme que se arriscaria a por um protagonista com uma moral completamente duvidosa. Mas na prática, esse conflito nunca assume as proporções sérias que poderia ter. Adão Negro nunca é posto em uma situação na qual sua moral o leva a tomar uma ação realmente duvidosa e sombrio, e seus atos mais brutais são praticados contra soldados sem nome, figurantes de cenas de ação e entidades sobrenaturais de CGI (inimigos que já foram mortos e destruídos por outros heróis que não carregam esse ideia de serem acinzentados). O maior conflito desses ideais fica muito restrito aos diálogos conflitantes entre Adão Negro e a Sociedade da Justiça, especialmente com o irritante Falcão Negro (Aldis Hodge), cuja construção como um herói completamente justo e correto é tão caricata que é impossível de ser levada a sério.

Adão Negro e Gavião Negro se enfrentam

Honestamente, esse é o maior problema do filme todo. Cheio de potencial para ser sério, sombrio e propor uma discussão ousada e arriscada para o gênero, ele opta pela fórmula batida, apenas alterando-a para se adequar a um protagonista anti-herói, que começa em conflito com o mundo ao seu redor e com a equipe que o acompanha, mas acaba se tornando um aliado desse mesmo mundo quando uma ameaça muito maior e sem nenhum traço acinzentado surge para colocar o mundo em risco. E todos os clichês da fórmula se repetem aqui: temos o herói que não se adequa ao mundo, um vilão de efeitos especiais sem nenhum desenvolvimento, uma história previsível, diálogos embaraços, um artefato de poder imensurável que serve para guiar a narrativa e, é claro, diversas piadinhas e alívios cômicos. O que é muito pior do que parece aqui, pois esses alívios destroem todo o tom mais sombrio que o filme se propõe. Por que um ex-escravo com os poderes de um deus e em busca de vingança iria se preocupar em acertar uma frase de efeito? como filme, Adão Negro tenta convencer que é sério, mas acaba passando a ideia de um adolescente revoltado.

Adão Negro encapuzado deixa um local de conflito.

Em toda essa narrativa previsível, o personagem que mais se salva é, talvez, o Senhor Destino de Pierce Brosnan, com uma construção mais retida e cautelosa, que demonstra uma sabedoria de alguém que viu como o futuro pode ser alterado e paciência de não julgar antecipadamente uma situação. Brosnan também consegue dar um toque humano ao personagem ao mostrar, de forma singela, o sofrimento de alguém que vive sempre com um pé no futuro. De forma a chamar muita atenção para si, o Senhor Destino se torna o ponto central dessa balança e representa muito melhor a ideia de dualidade e moral cinzenta do filme do que os dois extremos opostos interpretados por Johnson e Hodge.

Senhor Destino realiza um feitiço em meio às ruas de Kahndaq.

Em um ano cheio de fiascos para os super-heróis, Adão Negro consegue se sustentar como mais uma produção mediana do gênero. Talvez até se salve mais do que outros por não ter alimentado uma expectativa tão alta quanto outros filmes desse ano, como Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. Nesse sentido, é um filme de super-heróis como muitos aos quais nos acostumamos nos últimos anos. É frustrante ver que tal fórmula parece impossível de ser quebrada, e mais frustrante ainda quando um filme mostra potencial e não vai além do lugar comum, mas ainda assim é um filme cheio de cenas de ação, personagens reconhecíveis do Universo DC e uma narrativa que se sustenta ao longo de sua duração. Parece que isso é o máximo que podemos esperar desse gênero ultimamente.

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Tendo a chance de construir um bom argumento e criar um filme mais sério e profundo, Adão Negro opta pelo seguro, cai na fórmula de sempre e deixa de impressionar com um filme sem nada de substancial para oferecer.

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Luis Henrique Franco
21/10/2022
nascimento

Tendo a chance de construir um bom argumento e criar um filme mais sério e profundo, Adão Negro opta pelo seguro, cai na fórmula de sempre e deixa de impressionar com um filme sem nada de substancial para oferecer.

escrito por
Luis Henrique Franco
21/10/2022

2022 definitivamente não foi o ano dos super-heróis. É possível que nunca antes tenhamos tido tantas produções do gênero sendo lançadas, e mesmo assim, a maioria dos lançamentos pela Marvel foi aquém das expectativas, com seus melhores filmes e séries do ano sendo, no máximo, medianos. Diante desse cenário, muitos podem virar os olhos para a DC Comics na esperança de um bom filme de heróis esse ano. Mas aqueles que o fizerem também irão encontrar só decepção, pois o grande filme da companhia para 2022, Adão Negro, certamente não é o grande salvador do gênero esse ano.

O filme segue a história de Teth Adam (Dwayne Johnson), um ex-escravo do reino de Kahndaq que recebeu dos grandes magos o poder para libertar seu povo, mas acabou usando-o para obter vingança e quase erradicou o reino. Por conta disso, Adam foi aprisionado pelos mesmos magos e passou 5000 anos esperando até ser despertado de novo, em uma Kahndaq diferente e modernizada, mas ainda dominada por forças opressoras.

Dwayne Johnson como Adão Negro

Este é o ponto em que o filme talvez tivesse a sua maior força. Adão Negro não é um herói convencional e não se importa de matar seus inimigos de formas brutais, julgando por conta própria aqueles que ficam em seu caminho. Para a concepção aceita de heróis, isso faria dele um vilão, mas em um mundo repleto de super-heróis, nenhum deles jamais veio ajudar o povo de Kahndaq. Assim, quando finalmente surge uma entidade poderosa que luta por esse povo, os moradores do lugar não o vêm como uma ameaça, mas como um libertador. É uma ideia interessante de ser trabalhada, não só para jogar uma tonalidade cinza na nossa concepção de super-heróis, mas também para servir como crítica ao fato de que, em todas as produções do gênero, os mocinhos são apenas que atendem às intenções específicas de um determinado sistema e ignoram todo o resto do mundo no processo.

No papel, seria o plano perfeito para um filme que se arriscaria a por um protagonista com uma moral completamente duvidosa. Mas na prática, esse conflito nunca assume as proporções sérias que poderia ter. Adão Negro nunca é posto em uma situação na qual sua moral o leva a tomar uma ação realmente duvidosa e sombrio, e seus atos mais brutais são praticados contra soldados sem nome, figurantes de cenas de ação e entidades sobrenaturais de CGI (inimigos que já foram mortos e destruídos por outros heróis que não carregam esse ideia de serem acinzentados). O maior conflito desses ideais fica muito restrito aos diálogos conflitantes entre Adão Negro e a Sociedade da Justiça, especialmente com o irritante Falcão Negro (Aldis Hodge), cuja construção como um herói completamente justo e correto é tão caricata que é impossível de ser levada a sério.

Adão Negro e Gavião Negro se enfrentam

Honestamente, esse é o maior problema do filme todo. Cheio de potencial para ser sério, sombrio e propor uma discussão ousada e arriscada para o gênero, ele opta pela fórmula batida, apenas alterando-a para se adequar a um protagonista anti-herói, que começa em conflito com o mundo ao seu redor e com a equipe que o acompanha, mas acaba se tornando um aliado desse mesmo mundo quando uma ameaça muito maior e sem nenhum traço acinzentado surge para colocar o mundo em risco. E todos os clichês da fórmula se repetem aqui: temos o herói que não se adequa ao mundo, um vilão de efeitos especiais sem nenhum desenvolvimento, uma história previsível, diálogos embaraços, um artefato de poder imensurável que serve para guiar a narrativa e, é claro, diversas piadinhas e alívios cômicos. O que é muito pior do que parece aqui, pois esses alívios destroem todo o tom mais sombrio que o filme se propõe. Por que um ex-escravo com os poderes de um deus e em busca de vingança iria se preocupar em acertar uma frase de efeito? como filme, Adão Negro tenta convencer que é sério, mas acaba passando a ideia de um adolescente revoltado.

Adão Negro encapuzado deixa um local de conflito.

Em toda essa narrativa previsível, o personagem que mais se salva é, talvez, o Senhor Destino de Pierce Brosnan, com uma construção mais retida e cautelosa, que demonstra uma sabedoria de alguém que viu como o futuro pode ser alterado e paciência de não julgar antecipadamente uma situação. Brosnan também consegue dar um toque humano ao personagem ao mostrar, de forma singela, o sofrimento de alguém que vive sempre com um pé no futuro. De forma a chamar muita atenção para si, o Senhor Destino se torna o ponto central dessa balança e representa muito melhor a ideia de dualidade e moral cinzenta do filme do que os dois extremos opostos interpretados por Johnson e Hodge.

Senhor Destino realiza um feitiço em meio às ruas de Kahndaq.

Em um ano cheio de fiascos para os super-heróis, Adão Negro consegue se sustentar como mais uma produção mediana do gênero. Talvez até se salve mais do que outros por não ter alimentado uma expectativa tão alta quanto outros filmes desse ano, como Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. Nesse sentido, é um filme de super-heróis como muitos aos quais nos acostumamos nos últimos anos. É frustrante ver que tal fórmula parece impossível de ser quebrada, e mais frustrante ainda quando um filme mostra potencial e não vai além do lugar comum, mas ainda assim é um filme cheio de cenas de ação, personagens reconhecíveis do Universo DC e uma narrativa que se sustenta ao longo de sua duração. Parece que isso é o máximo que podemos esperar desse gênero ultimamente.

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