Sempre que alguém em Hollywood decide adaptar um game para as telonas, a polêmica em torno dessas adaptações recomeça novamente. Desde que essas duas indústrias começaram a se cruzar, têm sido muito poucos os longas que obtiveram grande sucesso, quer seja entre os críticos, quer seja pela receptividade entre os fãs. Em geral, a história do jogo é sempre muito mais complexa do que aquilo que é levado para o filme, os personagens são mais desenvolvidos e mais numerosos, e mesmo as menores mudanças feitas durante a adaptação provocam mudanças enormes e que não tem como passarem despercebidas.

Nessa semana, ocorreu a esperada estreia de Tomb Raider - A Origem. Retomando a memorável saga de jogos iniciada nos anos 90, o novo filme traz Alicia Vikander no papel de Lara Croft, a arqueóloga e saqueadora de tumbas mais famosa do mundo virtual. Com um enredo que busca adaptar os novos jogos da franquia, que relatam as origens e as primeiras aventuras da exploradora, o filme trará a primeira aventura da personagem, ao mesmo tempo em que reviverá a história clássica de sua busca pelo pai desaparecido e a descoberta de uma organização secreta por trás de seu desaparecimento. Embora tenha prometido ser diferente das outras produções derivadas de jogos e levantado inúmeras expectativas, o filme ainda corre o risco de causar insatisfação por não ser capaz de adaptar toda a história ou mesmo por não conseguir captar a essência do game. Essas são preocupações comuns que marcam os principais filmes da temática. Com base nessa nova estreia, relembraremos os principais filmes baseados em games já lançados e seu impacto até hoje na cultura pop.

TOMB RAIDER E TOMB RAIDER: A ORIGEM DA VIDA
E já que estamos falando de Lara Croft, vale a pena começarmos relembrando a primeira aparição da personagem nas telas de cinema. Lançado em 2001, Tomb Raider trouxe a atriz Angelina Jolie no papel da clássica personagem e nos forneceu uma exploradora extremamente habilidosa e cheia de conhecimentos, tecnologias e armas para auxiliá-la na busca por tesouros escondidos.

Com um estilo muito mais voltado à ação, os filmes exploraram o lado das habilidades da personagem, sem se dispor a traçar a história de sua origem, como a nova produção. Combinando sequências de tiros com momentos em que os personagens param para desvendar os segredos, o primeiro filme foi uma produção que conseguiu seu sucesso e fez um pouco de justiça à heroína, colocando Jolie não só como uma mulher forte e ágil, mas também como extremamente inteligente que procura desvendar os segredos de uma antiga sociedade da qual seu pai era membro, enquanto luta para encontrar as duas metades de um artefato capaz de controlar o tempo antes que seu adversário, Manfred Powell (Iain Glen).
Já a sequência, A origem da Vida, não teve tanta sorte, caindo no grande problema de não apresentar muita coisa de novo com relação a seu antecessor, somado ao fato de que perdeu muito da essência do jogo que, embora não por completo, conseguiu estar presente no primeiro filme. Na trama, Lara se une a Terry Sheridan (Gerard Butler) para tentar proteger a lendária Caixa de Pandora das mãos de uma sociedade criminosa. Principalmente, o filme perdeu um pouco a ideia da ação envolvida pelo mistério que marcou tanto o jogo e estava presente no primeiro longa. No lugar, tivemos uma aventura fraca e que passa longe de tudo o que Tomb Raider foi ao longo dos anos.
SUPER MARIO BROS.
Clássico da Nintendo, é muito difícil imaginar um filme sendo feito a partir da história de Super Mario Bros. Mas esse filme não só foi realizado, como também se tornou a primeira adaptação de um jogo a ser lançada no cinema.

Com Bob Hoskins e John Leguizamo, o filme destruiu completamente a ideia do mundo fantasioso de Mushroom Kingdom e tirou todo o ar “ensolarado” e infantil dos jogos do Mario. Ele também transformou seu grande vilão, Bowser Koopa, em um ditador humano. A história narra a aventura de Mario Mario (sim, isso mesmo) e seu irmão, Luigi Mario (Decidam por mim qual dos dois é pior), dois encanadores do Brooklyn que acabam se perdendo em uma dimensão paralela onde a princesa do reino foi raptada o tudo é comandado pelo rei tirano Koopa. A questão do rapto e do resgate foi a única coisa que o filme manteve de fidelidade ao jogo.
Talvez pelo aspecto extremamente animado que os jogos de Super Mario Bros. possuam na nossa mentalidade é que o filme tenha se distanciado tanto do que era esperado, em uma tentativa de tentar parecer mais sério, mesmo que ainda se trate de uma aventura com toques de comédia. A mudança, porém, deixou os personagens quase irreconhecíveis para aqueles que jogaram o jogo. Super Mario Bros., porém, conseguiu se tornar um cult e um filme histórico da cultura pop, assentando o caminho para todas as adaptações de jogos que viriam depois.
MORTAL KOMBAT

Mesmo possuindo sua história, seus eventos e acontecimentos, Mortal Kombat é uma franquia que se caracteriza pelo combate entre dois jogadores, a luta rápida e sanguinária e os memoráveis (e, na maior parte dos casos, grotescos) fatalities ao final. Mesmo com sua história e com uma mitologia bastante complexa por trás, o suficiente para fazer um filme, o jogo em si possui uma essência que se volta completamente para essa ideia do combate entre dois personagens até a morte, algo que muito dificilmente sustenta o enredo de um longa até o final.
Apostando alto, o primeiro filme conseguiu se manter dentro dos padrões aceitáveis, mantendo-se fiel à história original de um grupo de guerreiros do Plano Guerreiro, selecionados pelo deus Raiden (Christopher Lambert) para lutarem no torneio de Mortal Kombat e protegerem seu mundo das garras do imperador Shao Khan e de seu servo Shang Tsung (Cary-Hiroyuki Tagawa). Longe de apresentar as melhores coreografias e os melhores efeitos (o monstro de quatro braços Goro é o melhor exemplo disso), o filme conseguiu fornecer cenas de ação mediana que se mantinham fiéis, dentro do possível, à história do jogo.
O mesmo, porém, não pode ser dito de sua continuação, Mortal Kombat: Aniquilação. Não só o filme se afastou completamente da ideia dos jogos, como também do próprio filme anterior, substituindo boa parte de seu elenco principal e fugindo completamente à ideia de uma sequência de combates para salvar a Terra e focando bastante na saga de Liu Kang (Robin Shou, um dos poucos do elenco do primeiro filme a continuar na sequência) para se tornar o herói salvador da humanidade. Acima de tudo, faltou ao filme explorar seus personagens, o que é bem decepcionante quando falamos de um filme que tentou introduzir grandes personagens da franquia, como Jax, Mileena, Motaro e, acima de todos, Shao Khan.

WARCRAFT
Aqueles que jogaram o clássico game da Blizzard sabem o quanto a história de Warcraft é complexa e complicada. Mesmo nos jogos originais, onde não havia uma variedade tão grande de raças jogáveis e a maior parte da ação se concentrava entre os orcs e os humanos, haviam muitos detalhes na história e na formação do mundo para serem adaptados, o que por si só já era motivo de preocupação para a produção de um filme. Isso, aparentemente, não assustou o diretor Duncan Jones, que arriscou realizar essa produção. O resultado, porém, foi um tanto decepcionante.

O principal problema é que o filme tenta trazer, em vários pontos, a complexidade dos jogos sem, contudo, proporcionar as explicações necessárias para o entendimento do mundo e dos personagens, deixando aqueles que não são anteriormente familiarizados com o universo um tanto confuso. E mesmo os fãs tiveram dificuldade em acompanhar o roteiro e as cenas repletas de efeitos e cortes rápidos, tentando mostrar todos os seus protagonistas e suas histórias e falhando em assentá-los corretamente no imaginário do público.
Acima de tudo, não há um enredo que faça o espectador sentir empatia pelos personagens. Somos simplesmente atirados em um mundo onde os orcs invadiram e os humanos precisam combate-los. O resto são efeitos especiais, muita porrada e muito sangue, sem muito trabalho para mostrar mais da cultura das duas raças envolvidas, cujos aspectos de suas sociedades acabam ficando à margem da história, o que impede a total compreensão e empatia pelos habitantes de Azeroth.
PRÍNCIPE DA PÉRSIA
Um dos melhores jogos da franquia, Prince of Persia: The Sands of Time narra a história do filho do Rei Sharaman da Pérsia, que ao invadir a Índia descobre um poderoso objeto chamado Adaga do Tempo, que o permite viajar para o passado quando seu poder é liberado. Enganado pelo Vizier do antigo marajá, o príncipe libera seu poder encravando-a na Ampulheta do Tempo e transforma os moradores locais em monstros de areia. Para consertar seu erro, ele se une à Princesa Farrah para devolver as Areias do Tempo à Ampulheta. Muito bem recebido, o jogo tinha uma boa história para se tornar um filme, mas acabou falhando em alguns pontos da adaptação.

Lançado em 2008 e tendo no elenco Jake Gyllenhaal, Gemma Arterton e Ben Kingsley, Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo tenta trazer os aspectos de acrobacias e movimentos de espada presentes no jogo, e nessa parte da ação é até bem feito. A falha do filme está no fato de que boa parte das cenas de luta é feita com um uso excessivo de montagem ultrarrápida e de efeitos, o que gera uma grande confusão para o espectador. Além disso, o elenco não convence em seus personagens: Jake Gyllenhaal convence no físico, mas não nos atos de seu personagem, afastando-se completamente da ideia trazida para seu personagem no jogo e transformando-o em apenas mais um herói de filmes da ação extremamente clichê, enquanto Gemma Arterton também parece totalmente deslocada de sua personagem, a princesa que protege a Ampulheta.
No geral, Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo poderia ter sido uma boa adaptação, mas vindo de um jogo que preza pela estratégia e pelas acrobacias, acaba caindo muito para o lado da ação explosiva hollywoodiana, perdendo também seu aspecto mais místico e conduzindo para um final onde tudo o que havia de errado se concerta de uma maneira extremamente maniqueísta.
ASSASSINS' CREED
Outro game com uma complexidade gigantesca em sua história, Assassins’ Creed foi adaptado para os cinemas no final de 2016, com Michael Fassbender, Marion Cotillard e Jeremy Irons no elenco. Abordando tanto a questão histórica quanto a questão tecnológica dos jogos, o filme acaba caindo na velha questão de ser uma adaptação confusa para aqueles que não estão familiarizados com os jogos. A disputa entre templários e assassinos não é totalmente explicada ou explorada, e as próprias cenas do passado, quando o personagem de Fassbender estabelece conexão com seu ancestral lendário Aguilar, não preenchem muito do filme e servem mais como uma fonte de sequências de ação e de luta, sem muito aprofundamento ou explicação dos personagens envolvidos.

A coreografia das lutas é bem-feita, e as sequências de ação também são em realizadas. Contudo, nelas se perde uma essência fundamental do jogo: Assassin’s Creed envolve muito mais a estratégia e a discrição, com assassinatos cautelosos e movimentos calculados, do que realmente grandes cenas de luta e de fuga, como é mostrado no filme.
Acima de tudo, o filme passa muito tempo tentando dar explicações para tudo o que está sendo mostrado no presente da história. Muitas das explicações, porém, tornam o filme ainda mais confuso e cansativo depois de muito tempo. Até é interessante ver toda a tecnologia criada para estabelecer o contato dos herdeiros dos assassinos com seus ancestrais, mas o tempo perdido para explicar todas as nuances do que está acontecendo quando essa conexão é feita é demais, tanto para os que já conhecem a saga e não necessitam dessa exposição quanto para os que nada sabem e acabam ficando ainda mais confusos.
DOOM

Outro clássico dos anos 90, e um dos maiores jogos de tiro em primeira pessoa da história, Doom foi adaptado para as telonas em 2006, trazendo Dwayne “The Rock” Johnson e Karl Urban em seu elenco principal. Filme de ação e de terror, o longa trouxe pouco sobre o jogo além da clássica invasão demoníaca em uma instalação da UAC, companhia responsável pela pesquisa e mineração de recursos em Marte.
Um dos principais pontos de distância entre os dois é que o jogo em si não se dispunha a fornecer grandes explicações sobre os acontecimentos. Logo no começo, tudo o que o jogador sabia era que havia ocorrido uma invasão de demônios no local e que ele deveria mata-los. Jogado em meio ao caos e a destruição, o personagem (conhecido como Doom Guy) apenas saltava em meio às hordas infernais, matando a todos com os mais variados tipos de armas.

Envolto em uma aura mais de suspense, o filme passa uma boa parte de seu enredo com os personagens tentando entender ou buscar uma explicação para o que pode estar acontecendo. Os demônios, a parte mais memorável do jogo, raramente aparecem no filme, com exceção daqueles conhecidos como “possuídos”. Mesmo com algumas referências nostálgicas, o longa se afasta muito de alguns conceitos básicos: a destruição massiva é exposta mais em falas do que nas telas, o caos total e o terror provocado pelo conflito frenético e constante com os monstros é substituído por um baseado no desconhecimento das causas para a situação e na tentativa de entender o que está acontecendo, e mesmo a ideia de um soldado solitário contra um mundo de demônios é substituída pela ideia de uma equipe que, pouco a pouco, se mostra extremamente incapaz de lidar com a situação. Uma cena contínua e primeira pessoa ainda tenta fazer uma última referência nostálgica ao jogo, mas é mais uma vergonha alheia do que uma cena digna.
RESIDENT EVIL
Ainda nas franquias de terror, podemos citar o caso da saga Resident Evil. O jogo, lançado em 1996, acompanha a investigação feita por um esquadrão de S.T.A.R.S. (Esquadrão Tático Especial e Resgate) de uma série de homicídios envolvendo canibalismo que ocorreram nas proximidades de Racoon City. Quando o grupo é atacado e se esconde em uma mansão, eles têm de enfrentar hordas de zumbis e criaturas mortas-vivas para tentar escapar.

Recheado com um ar de intenso mistério, o que alimenta ainda mais a ideia de terror, o primeiro jogo mantém uma ideia de macabro, com o medo vindo justamente de nunca se saber onde estão os inimigos. Mesmo tendo mantido essa ideia de mistério, alimentada pelo fato de que ninguém no enredo sabe exatamente o que está acontecendo, o filme partiu para o cenário da ação, com cenas recheadas de tiroteio e explosões e armas avançadas e sangue. Ainda assim, conseguiu se manter na ideia do horror e do suspense, algo que todas as suas sequências não conseguiram fazer, sempre apelando cada vez mais para os efeitos, para o cenário apocalíptico, para monstros gigantes e muita violência.
De certa forma, o caminho de ação e violência seguido pelos filmes foi o mesmo da grande maioria das sequências do jogo também. Muitos deles deixaram de lado a ideia do horror e do suspense, da investigação e da tensão para nos lançar em um mundo infestado pelo T-Vírus, onde os produtores extrapolavam cada vez mais os limites de o que o vírus poderia fazer. Eles chegaram inclusive a criar um dinossauro infectado como um dos chefões de um dos jogos. Nesse sentido, talvez jogos e filmes tenham caminhado para o mesmo final trágico, apesar de o novo game, Resident Evil 7: Biohazard, aparentemente ter retornado um pouco às origens da saga.
Essas foram algumas das principais adaptações de jogos para os cinemas. No geral, são filmes que conseguem agradar parcialmente o público, mas que dificilmente conseguem trazer toda a história. E talvez eles nem devam, pois ambos os mundos fazem parte de tipos diferentes de entretenimento. Enquanto o cinema demanda que o público seja um espectador, que assista e pense naquilo que assistiu, os jogos demandam uma ação por parte do jogador, sendo ele quem deve controlar os personagens e tomar as decisões, podendo inclusive abrir novas rotas e missões ao longo do caminho, algo que não se pode ser feito em um enredo de filme.
E você? Qual a sua adaptação favorita de um jogo? Qual te deixou mais decepcionado? Deixe nos comentários!