Análise & Opinião

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"E Se...?": A capacidade da ficção de alterar a História

18/2/2021

Através da ficção, o cinema, a tv e a literatura criam narrativas que expõem infinitas possibilidades de acontecimentos, podendo também trabalhar a História real e imaginar como seria o mundo se alguns fatos e acontecimentos fossem alterados.

escrito por
Luis Henrique Franco

Através da ficção, o cinema, a tv e a literatura criam narrativas que expõem infinitas possibilidades de acontecimentos, podendo também trabalhar a História real e imaginar como seria o mundo se alguns fatos e acontecimentos fossem alterados.

escrito por
Luis Henrique Franco
18/2/2021

Um dos principais atributos das narrativas, sejam da literatura, do cinema e da tv, é a capacidade de imaginar cenários completamente diferentes daqueles em que vivemos. Na ficção, as pessoas encontram um espaço para imaginar mundos alternativos, burlar as regras naturais, pensar em como seria o futuro caso alguma coisa acontecesse. Abrimos espaço para a entrada de monstros, magia, avanços científicos ainda impossíveis e uma grande variedade de coisas que alteram a nossa realidade. E em meio a tudo isso, algumas pessoas se dedicam a imaginar como seria, de fato, alterar a nossa realidade. O que aconteceria em nosso tempo se fatos do passado fossem alterados de alguma maneira?

Obviamente, a menos que a viagem no tempo seja enfim uma descoberta, sabemos que os fatos da História não podem ser alterados. Podemos mudar nossa visão sobre eles, mas não podemos alterar o que ocorreu. Mesmo assim, é interessante quando filmes, livros e séries se dispõem a fazer a pergunta "E Se...?", que acaba sendo uma pergunta extremamente divertida pela gigantesca janela de possibilidades que ela abre. Ela também nos mostra o quão interligados estão até os menores detalhes de nossa História, de maneira que uma pequena mudança pode ocasionar uma série de eventos nunca imaginados e mudar o rumo de acontecimentos importantes do nosso tempo.

É um questionamento bastante presente no cinema: as consequências de se alterar um fato, por menor que seja, do passado. Qualquer filme sobre viagem no tempo, desde o clássico De Volta para o Futuro até o mais recente Questão de Tempo, debatem sobre como o presente se altera quando uma pequena ocasião do passado é alterada, podendo resultar em uma melhora significativa na vida de uma família ou então na completa ruína de uma cidade. Esses filmes, no entanto, trabalham com consequências menores, em geral afetando apenas os personagens do filme ou, quando muito, o lugar em que eles moram.

Fotograma do filme "Questão de Tempo"
Questão de Tempo, 2013

Discutir sobre mudanças na História do mundo é um pouco mais complicado. Para além da já mencionada diferença de pontos de vista quanto a determinados fatos, existe o problema de que, nessa situação, estamos falando de mudanças um pouco mais abrangentes, em diversos setores da sociedade ao mesmo tempo. É claro que a ficção permite que alguns limites sejam extrapolados, e muitos diretores trabalham essas hipóteses apenas como possibilidades, sonhos ou mesmo como "contos de fadas". Quentin Tarantino já explorou essa possibilidade duas vezes em sua carreira. A primeira delas em Bastardos Inglórios (cujo título original seria Era Uma Vez... Numa França Ocupada pelos Nazistas) e a segunda no seu mais recente Era Uma Vez... em Hollywood.

Cartaz de Era Uma Vez em… Hollywood
Era Uma Vez em… Hollywood, 2019

Em ambos os casos, os filmes não fizeram uma análise aprofundada sobre as mudanças promovidas. Bastardos Inglórios promove um fim mais rápido à Segunda Guerra, no qual Hitler não se suicida, mas é fuzilado por dois soldados judeus, em uma cena de bem-vinda vingança pelos crimes cometidos. Já Era Uma Vez... em Hollywood estabelece uma realidade alternativa em que o terrível assassinato de Sharon Tate nunca aconteceu. Não são tramas que realmente imaginam como seria o mundo diante dessas possibilidades, mas deixam em aberto para o público imaginar as consequências desses contos de fadas: como seria o mundo caso a morte de Hitler tivesse sido antecipada por um atentado liderado pelos americanos (tirando a vitória final sobre Hitler das mãos dos soviéticos)? A Era de Ouro de Hollywood teria continuado em curso caso o assassinato de Tate tivesse sido evitado? Novamente, os filmes não estabelecem respostas para isso, mas são temas interessantes de se pensar.

E talvez essa seja a maior força dessas produções. Ao invés de oferecer respostas definitivas para essas mudanças, os filmes nos levam a imaginar as diversas consequências dessas mudanças, para o bem e para o mal. São longas que oferecem uma reflexão maior sobre as diferentes possibilidades de se realizar mesmo a menor alteração no passado histórico do que realmente promover uma resposta definitiva sobre esses assuntos.

Em alguns casos, essa reflexão é proporcionada a partir da existência de aspectos extremos de alteração histórica. Um desses aspectos mais comuns é a introdução de pessoas dotadas de poderes especiais na sociedade real. Heróis de quadrinhos têm interferido na História desde os seus primeiros lançamentos. Já é icônica a capa de quadrinho na qual o Capitão América esmurra o rosto de Adolf Hitler. Contudo, na maioria dos casos, as ações dos heróis não interferem tanto no andamento de História do mundo, afetando mais uma parcela reduzida da sua própria realidade, em geral ficcional.

Há exemplos contrários. Tanto nos quadrinhos originais de Alan Moore quanto na versão cinematográfica de Zack Snider, Watchmen se aprofunda um pouco mais nas consequências históricas da existência de vigilantes e seres super poderosos no mundo. Talvez uma das principais consequências mostradas no filme sejam como a afiliação da entidade Dr. Manhattan aos Estados Unidos significou a vitória americana na Guerra do Vietnã, que durou apenas alguns minutos depois que ele surgiu em cena. Também é marcante como Adrian Veidt, o homem mais inteligente do mundo, conseguiu elaborar um plano infalível que pôs fim à Guerra Fria e unificou URSS e Estados Unidos pelo medo de um ataque alienígena ao mundo.

A minissérie de mesmo nome, lançada em 2019, mergulha um pouco mais nas questões sociais derivadas da existência de vigilantes e super-heróis, mostrando os Estados Unidos atuais, sendo governados a mais de trinta anos pelo ator Robert Redford e tendo se transformado em um país que busca reparação histórica a todo momento pelos erros do passado. Nessa realidade, o Vietnã é mais um estado norte-americano e a descoberta dos diários do personagem Rorschach levou à criação de uma sociedade nos moldes da Ku Klux Klan e que tenta agir contra a nova ordem mundial e a presença de vigilantes na força policial. Mais do que o filme, a série explora a postura política dos heróis e sua influência em movimentos sociais, com poderosos agentes como o Justiça Encapuzada e a Irmã Noite sendo bastante influentes nas lutas do movimento negro, por exemplo.

Um outro exemplo de como a ficção usa pessoas super poderosas para promover mudanças históricas é a saga literária Wild Cards, que narra uma realidade paralela na qual um vírus alienígena caiu na Terra e fez com que diversas pessoas sofressem inúmeras mutações. Algumas receberam poderes enquanto outras sofreram deformações hediondas. O interessante dessa saga é que, além de promover mudanças nos fatos históricos da segunda metade do século XX (um herói salvou Gandhi de seu atentado, Perón nunca chegou ao poder na Argentina, a Lista Negra de McCarthy também passou a incluir pessoas com poderes, uma eleição americana é duramente afetada pela presença de um candidato com poderes, etc), ela cria uma nova tensão social, na qual os Ases, aqueles que receberam poderes, são exaltados e respeitados pela sociedade, enquanto os Curingas, aqueles que ficaram deformados por causa do vírus, são segregados e isolados, vivendo em condições extremamente precárias e sofrendo com a violência da sociedade.

Wild Cards, de George R. R. Martin

Diante desse novo conflito social, muitas das ações das personagens, desde manifestações até projetos sociais e de lei, giram em torno da luta para dar a esses Curingas melhores condições de vida, ao passo que outros pretendem mantê-los como um povo segregado e dificultar ainda mais seu acesso a serviços necessários. Isso faz com que a história de Wild Cards e seus personagens se tornem ainda mais complexa por envolver questões econômicas, sociais e políticas em seu meio, dando todas as dimensões de como seria uma sociedade nos moldes dessa realidade ficcional.

Para além da presença de super heróis e vigilantes, algumas produções simplesmente imaginam o mundo caso os fatos tivessem seguido uma ordem diferente. Uma das maiores distopias da ficção científica, O Homem do Castelo Alto, escrito por Philip K. Dick, retrata o ano de 1962 em uma realidade na qual a Alemanha e o Japão venceram a Segunda Guerra Mundial. Com a suástica nazista hasteada em Nova York, a escravidão se torna legal e os judeus são caçados constantemente. O mais interessante é que Dick não apenas estabelece essa mudança histórica, mas trilha uma sequência de alterações que levaram a ela, desde o assassinato de Franklyn D. Roosevelt em 1933 e o começo de uma política isolacionista dos Estados Unidos, até a vitória nazista sobre a URSS em 1941. Sofrendo de insuficiência militar, os Estados Unidos não conseguem dar batalha ao Japão após o ataque a Pearl Harbor. Tudo isso abriu caminho para o domínio nazista do mundo ao final da década de 40. O Homem no Castelo Alto foi adaptado pela Amazon Prime em 2014, e apresenta em seu elenco a atriz Alexa Davalos e os atores Rufus Sewell e Cary-Hiroyuki Tagawa.

Outra série que explora a alteração da História é a nova produção da Apple TV+, For All Mankind, que narra os acontecimentos a partir de um 1969 alternativo, no qual a URSS venceu os Estados Unidos na corrida espacial e enviou o primeiro homem à Lua. Isso desencadeou uma elevação da disputa espacial entre as duas potências até os dias de hoje, com objetivos cada vez maiores a serem alcançados e a expectativa do que essas conquistas podem ocasionar em um mundo ainda extremamente dividido e à espera de alguma grande ameaça.

ALTERAR O PASSADO: INFINITAS POSSIBILIDADES, MAS UM CUIDADO ESPECIAL

A ficção, seja literária, televisiva ou cinematográfica, nos presenteou com a capacidade de explorar infinitas possibilidades e questionar aquilo que consideramos como realidade. Filmes e livros estão constantemente subvertendo fatos e acontecimentos, algumas vezes imaginando como será o futuro, em outras alterando o passado para ver como o presente poderia ter sido. Apesar de nunca poderem ser comprovados, os resultados dessas alterações nos fazem imaginar como seria o decorrer da História caso os acontecimentos que a moldaram tivessem sido diferentes. E quando pensamos nisso, percebemos uma quantidade quase infinita de possibilidades.

Esse vasto número de possíveis sequências de fatos se dá pois há uma infinidade de possíveis mudanças que podemos pensar. Podemos até acreditar que mudanças significativas decorrem apenas de grandes alterações em alguns grandes eventos, mas a verdade é que são as pequenas mudanças, em momentos muitas vezes não tão importantes, que desencadeiam as maiores alterações nos grandes eventos. A História é uma vasta rede com infinitos elos ligando os diferentes acontecimentos em diferentes lugares do mundo. Alterar o menor elo que seja destrói a rede já construída, ou ao menos uma parte dela, e imediatamente elabora a criação de uma nova.

Com essa vasta variedade de possíveis sequências, a ficção é uma fonte quase inesgotável para o nosso desejo de saber o que poderia ter acontecido. Seja com momentos históricos ou narrativas de ficção que abrem a possibilidade de finais alternativos, é comum aos fãs se perguntarem "e se tal acontecimento tivesse ocorrido de uma maneira diferente?". Trabalhar as múltiplas respostas que essa pergunta pode ter faz da ficção uma jornada envolvente. Mas é preciso ter um certo cuidado.

Podemos explorar uma quantidade infinita de possibilidades narrativas se pensarmos em alterações nos fatos históricos, mas sempre precisamos ter cuidado ao realizar essas alterações. Para serem verossímeis, elas precisam provocar mudanças compreensíveis e acreditáveis em diversos setores da sociedade para realmente provocar uma mudança notável. Isso nos força sempre a pensar no caráter social, político, econômico e todos os outros ao mesmo tempo, e em como esses aspectos se ligam à mudança que queremos propor. Trabalhar narrativas históricas exige uma atenção muito grande a como os acontecimentos se conectam, e se a proposta de uma obra de ficção é pensar como seria o mundo caso algum fato ocorresse de forma diferente, é preciso ter em mente de que não se trata de apenas uma cadeia de eventos sendo alterada, mas sim toda uma gigantesca porção de uma rede de fatos interligados.

É um exercício interessante pensar em como os fatos históricos poderiam ser diferentes e no que isso acarretaria. Mas para essas "novas histórias", é necessário pensar em múltiplos níveis. Caso contrário, a trama que planejamos pode se tornar boba e, dependendo daquilo que propomos, até mesmo controversa.

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Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Através da ficção, o cinema, a tv e a literatura criam narrativas que expõem infinitas possibilidades de acontecimentos, podendo também trabalhar a História real e imaginar como seria o mundo se alguns fatos e acontecimentos fossem alterados.

crítica por
Luis Henrique Franco
18/2/2021

Um dos principais atributos das narrativas, sejam da literatura, do cinema e da tv, é a capacidade de imaginar cenários completamente diferentes daqueles em que vivemos. Na ficção, as pessoas encontram um espaço para imaginar mundos alternativos, burlar as regras naturais, pensar em como seria o futuro caso alguma coisa acontecesse. Abrimos espaço para a entrada de monstros, magia, avanços científicos ainda impossíveis e uma grande variedade de coisas que alteram a nossa realidade. E em meio a tudo isso, algumas pessoas se dedicam a imaginar como seria, de fato, alterar a nossa realidade. O que aconteceria em nosso tempo se fatos do passado fossem alterados de alguma maneira?

Obviamente, a menos que a viagem no tempo seja enfim uma descoberta, sabemos que os fatos da História não podem ser alterados. Podemos mudar nossa visão sobre eles, mas não podemos alterar o que ocorreu. Mesmo assim, é interessante quando filmes, livros e séries se dispõem a fazer a pergunta "E Se...?", que acaba sendo uma pergunta extremamente divertida pela gigantesca janela de possibilidades que ela abre. Ela também nos mostra o quão interligados estão até os menores detalhes de nossa História, de maneira que uma pequena mudança pode ocasionar uma série de eventos nunca imaginados e mudar o rumo de acontecimentos importantes do nosso tempo.

É um questionamento bastante presente no cinema: as consequências de se alterar um fato, por menor que seja, do passado. Qualquer filme sobre viagem no tempo, desde o clássico De Volta para o Futuro até o mais recente Questão de Tempo, debatem sobre como o presente se altera quando uma pequena ocasião do passado é alterada, podendo resultar em uma melhora significativa na vida de uma família ou então na completa ruína de uma cidade. Esses filmes, no entanto, trabalham com consequências menores, em geral afetando apenas os personagens do filme ou, quando muito, o lugar em que eles moram.

Fotograma do filme "Questão de Tempo"
Questão de Tempo, 2013

Discutir sobre mudanças na História do mundo é um pouco mais complicado. Para além da já mencionada diferença de pontos de vista quanto a determinados fatos, existe o problema de que, nessa situação, estamos falando de mudanças um pouco mais abrangentes, em diversos setores da sociedade ao mesmo tempo. É claro que a ficção permite que alguns limites sejam extrapolados, e muitos diretores trabalham essas hipóteses apenas como possibilidades, sonhos ou mesmo como "contos de fadas". Quentin Tarantino já explorou essa possibilidade duas vezes em sua carreira. A primeira delas em Bastardos Inglórios (cujo título original seria Era Uma Vez... Numa França Ocupada pelos Nazistas) e a segunda no seu mais recente Era Uma Vez... em Hollywood.

Cartaz de Era Uma Vez em… Hollywood
Era Uma Vez em… Hollywood, 2019

Em ambos os casos, os filmes não fizeram uma análise aprofundada sobre as mudanças promovidas. Bastardos Inglórios promove um fim mais rápido à Segunda Guerra, no qual Hitler não se suicida, mas é fuzilado por dois soldados judeus, em uma cena de bem-vinda vingança pelos crimes cometidos. Já Era Uma Vez... em Hollywood estabelece uma realidade alternativa em que o terrível assassinato de Sharon Tate nunca aconteceu. Não são tramas que realmente imaginam como seria o mundo diante dessas possibilidades, mas deixam em aberto para o público imaginar as consequências desses contos de fadas: como seria o mundo caso a morte de Hitler tivesse sido antecipada por um atentado liderado pelos americanos (tirando a vitória final sobre Hitler das mãos dos soviéticos)? A Era de Ouro de Hollywood teria continuado em curso caso o assassinato de Tate tivesse sido evitado? Novamente, os filmes não estabelecem respostas para isso, mas são temas interessantes de se pensar.

E talvez essa seja a maior força dessas produções. Ao invés de oferecer respostas definitivas para essas mudanças, os filmes nos levam a imaginar as diversas consequências dessas mudanças, para o bem e para o mal. São longas que oferecem uma reflexão maior sobre as diferentes possibilidades de se realizar mesmo a menor alteração no passado histórico do que realmente promover uma resposta definitiva sobre esses assuntos.

Em alguns casos, essa reflexão é proporcionada a partir da existência de aspectos extremos de alteração histórica. Um desses aspectos mais comuns é a introdução de pessoas dotadas de poderes especiais na sociedade real. Heróis de quadrinhos têm interferido na História desde os seus primeiros lançamentos. Já é icônica a capa de quadrinho na qual o Capitão América esmurra o rosto de Adolf Hitler. Contudo, na maioria dos casos, as ações dos heróis não interferem tanto no andamento de História do mundo, afetando mais uma parcela reduzida da sua própria realidade, em geral ficcional.

Há exemplos contrários. Tanto nos quadrinhos originais de Alan Moore quanto na versão cinematográfica de Zack Snider, Watchmen se aprofunda um pouco mais nas consequências históricas da existência de vigilantes e seres super poderosos no mundo. Talvez uma das principais consequências mostradas no filme sejam como a afiliação da entidade Dr. Manhattan aos Estados Unidos significou a vitória americana na Guerra do Vietnã, que durou apenas alguns minutos depois que ele surgiu em cena. Também é marcante como Adrian Veidt, o homem mais inteligente do mundo, conseguiu elaborar um plano infalível que pôs fim à Guerra Fria e unificou URSS e Estados Unidos pelo medo de um ataque alienígena ao mundo.

A minissérie de mesmo nome, lançada em 2019, mergulha um pouco mais nas questões sociais derivadas da existência de vigilantes e super-heróis, mostrando os Estados Unidos atuais, sendo governados a mais de trinta anos pelo ator Robert Redford e tendo se transformado em um país que busca reparação histórica a todo momento pelos erros do passado. Nessa realidade, o Vietnã é mais um estado norte-americano e a descoberta dos diários do personagem Rorschach levou à criação de uma sociedade nos moldes da Ku Klux Klan e que tenta agir contra a nova ordem mundial e a presença de vigilantes na força policial. Mais do que o filme, a série explora a postura política dos heróis e sua influência em movimentos sociais, com poderosos agentes como o Justiça Encapuzada e a Irmã Noite sendo bastante influentes nas lutas do movimento negro, por exemplo.

Um outro exemplo de como a ficção usa pessoas super poderosas para promover mudanças históricas é a saga literária Wild Cards, que narra uma realidade paralela na qual um vírus alienígena caiu na Terra e fez com que diversas pessoas sofressem inúmeras mutações. Algumas receberam poderes enquanto outras sofreram deformações hediondas. O interessante dessa saga é que, além de promover mudanças nos fatos históricos da segunda metade do século XX (um herói salvou Gandhi de seu atentado, Perón nunca chegou ao poder na Argentina, a Lista Negra de McCarthy também passou a incluir pessoas com poderes, uma eleição americana é duramente afetada pela presença de um candidato com poderes, etc), ela cria uma nova tensão social, na qual os Ases, aqueles que receberam poderes, são exaltados e respeitados pela sociedade, enquanto os Curingas, aqueles que ficaram deformados por causa do vírus, são segregados e isolados, vivendo em condições extremamente precárias e sofrendo com a violência da sociedade.

Wild Cards, de George R. R. Martin

Diante desse novo conflito social, muitas das ações das personagens, desde manifestações até projetos sociais e de lei, giram em torno da luta para dar a esses Curingas melhores condições de vida, ao passo que outros pretendem mantê-los como um povo segregado e dificultar ainda mais seu acesso a serviços necessários. Isso faz com que a história de Wild Cards e seus personagens se tornem ainda mais complexa por envolver questões econômicas, sociais e políticas em seu meio, dando todas as dimensões de como seria uma sociedade nos moldes dessa realidade ficcional.

Para além da presença de super heróis e vigilantes, algumas produções simplesmente imaginam o mundo caso os fatos tivessem seguido uma ordem diferente. Uma das maiores distopias da ficção científica, O Homem do Castelo Alto, escrito por Philip K. Dick, retrata o ano de 1962 em uma realidade na qual a Alemanha e o Japão venceram a Segunda Guerra Mundial. Com a suástica nazista hasteada em Nova York, a escravidão se torna legal e os judeus são caçados constantemente. O mais interessante é que Dick não apenas estabelece essa mudança histórica, mas trilha uma sequência de alterações que levaram a ela, desde o assassinato de Franklyn D. Roosevelt em 1933 e o começo de uma política isolacionista dos Estados Unidos, até a vitória nazista sobre a URSS em 1941. Sofrendo de insuficiência militar, os Estados Unidos não conseguem dar batalha ao Japão após o ataque a Pearl Harbor. Tudo isso abriu caminho para o domínio nazista do mundo ao final da década de 40. O Homem no Castelo Alto foi adaptado pela Amazon Prime em 2014, e apresenta em seu elenco a atriz Alexa Davalos e os atores Rufus Sewell e Cary-Hiroyuki Tagawa.

Outra série que explora a alteração da História é a nova produção da Apple TV+, For All Mankind, que narra os acontecimentos a partir de um 1969 alternativo, no qual a URSS venceu os Estados Unidos na corrida espacial e enviou o primeiro homem à Lua. Isso desencadeou uma elevação da disputa espacial entre as duas potências até os dias de hoje, com objetivos cada vez maiores a serem alcançados e a expectativa do que essas conquistas podem ocasionar em um mundo ainda extremamente dividido e à espera de alguma grande ameaça.

ALTERAR O PASSADO: INFINITAS POSSIBILIDADES, MAS UM CUIDADO ESPECIAL

A ficção, seja literária, televisiva ou cinematográfica, nos presenteou com a capacidade de explorar infinitas possibilidades e questionar aquilo que consideramos como realidade. Filmes e livros estão constantemente subvertendo fatos e acontecimentos, algumas vezes imaginando como será o futuro, em outras alterando o passado para ver como o presente poderia ter sido. Apesar de nunca poderem ser comprovados, os resultados dessas alterações nos fazem imaginar como seria o decorrer da História caso os acontecimentos que a moldaram tivessem sido diferentes. E quando pensamos nisso, percebemos uma quantidade quase infinita de possibilidades.

Esse vasto número de possíveis sequências de fatos se dá pois há uma infinidade de possíveis mudanças que podemos pensar. Podemos até acreditar que mudanças significativas decorrem apenas de grandes alterações em alguns grandes eventos, mas a verdade é que são as pequenas mudanças, em momentos muitas vezes não tão importantes, que desencadeiam as maiores alterações nos grandes eventos. A História é uma vasta rede com infinitos elos ligando os diferentes acontecimentos em diferentes lugares do mundo. Alterar o menor elo que seja destrói a rede já construída, ou ao menos uma parte dela, e imediatamente elabora a criação de uma nova.

Com essa vasta variedade de possíveis sequências, a ficção é uma fonte quase inesgotável para o nosso desejo de saber o que poderia ter acontecido. Seja com momentos históricos ou narrativas de ficção que abrem a possibilidade de finais alternativos, é comum aos fãs se perguntarem "e se tal acontecimento tivesse ocorrido de uma maneira diferente?". Trabalhar as múltiplas respostas que essa pergunta pode ter faz da ficção uma jornada envolvente. Mas é preciso ter um certo cuidado.

Podemos explorar uma quantidade infinita de possibilidades narrativas se pensarmos em alterações nos fatos históricos, mas sempre precisamos ter cuidado ao realizar essas alterações. Para serem verossímeis, elas precisam provocar mudanças compreensíveis e acreditáveis em diversos setores da sociedade para realmente provocar uma mudança notável. Isso nos força sempre a pensar no caráter social, político, econômico e todos os outros ao mesmo tempo, e em como esses aspectos se ligam à mudança que queremos propor. Trabalhar narrativas históricas exige uma atenção muito grande a como os acontecimentos se conectam, e se a proposta de uma obra de ficção é pensar como seria o mundo caso algum fato ocorresse de forma diferente, é preciso ter em mente de que não se trata de apenas uma cadeia de eventos sendo alterada, mas sim toda uma gigantesca porção de uma rede de fatos interligados.

É um exercício interessante pensar em como os fatos históricos poderiam ser diferentes e no que isso acarretaria. Mas para essas "novas histórias", é necessário pensar em múltiplos níveis. Caso contrário, a trama que planejamos pode se tornar boba e, dependendo daquilo que propomos, até mesmo controversa.

confira o trailer

Análise & Opinião

Através da ficção, o cinema, a tv e a literatura criam narrativas que expõem infinitas possibilidades de acontecimentos, podendo também trabalhar a História real e imaginar como seria o mundo se alguns fatos e acontecimentos fossem alterados.

escrito por
Luis Henrique Franco
18/2/2021
nascimento

Através da ficção, o cinema, a tv e a literatura criam narrativas que expõem infinitas possibilidades de acontecimentos, podendo também trabalhar a História real e imaginar como seria o mundo se alguns fatos e acontecimentos fossem alterados.

escrito por
Luis Henrique Franco
18/2/2021

Um dos principais atributos das narrativas, sejam da literatura, do cinema e da tv, é a capacidade de imaginar cenários completamente diferentes daqueles em que vivemos. Na ficção, as pessoas encontram um espaço para imaginar mundos alternativos, burlar as regras naturais, pensar em como seria o futuro caso alguma coisa acontecesse. Abrimos espaço para a entrada de monstros, magia, avanços científicos ainda impossíveis e uma grande variedade de coisas que alteram a nossa realidade. E em meio a tudo isso, algumas pessoas se dedicam a imaginar como seria, de fato, alterar a nossa realidade. O que aconteceria em nosso tempo se fatos do passado fossem alterados de alguma maneira?

Obviamente, a menos que a viagem no tempo seja enfim uma descoberta, sabemos que os fatos da História não podem ser alterados. Podemos mudar nossa visão sobre eles, mas não podemos alterar o que ocorreu. Mesmo assim, é interessante quando filmes, livros e séries se dispõem a fazer a pergunta "E Se...?", que acaba sendo uma pergunta extremamente divertida pela gigantesca janela de possibilidades que ela abre. Ela também nos mostra o quão interligados estão até os menores detalhes de nossa História, de maneira que uma pequena mudança pode ocasionar uma série de eventos nunca imaginados e mudar o rumo de acontecimentos importantes do nosso tempo.

É um questionamento bastante presente no cinema: as consequências de se alterar um fato, por menor que seja, do passado. Qualquer filme sobre viagem no tempo, desde o clássico De Volta para o Futuro até o mais recente Questão de Tempo, debatem sobre como o presente se altera quando uma pequena ocasião do passado é alterada, podendo resultar em uma melhora significativa na vida de uma família ou então na completa ruína de uma cidade. Esses filmes, no entanto, trabalham com consequências menores, em geral afetando apenas os personagens do filme ou, quando muito, o lugar em que eles moram.

Fotograma do filme "Questão de Tempo"
Questão de Tempo, 2013

Discutir sobre mudanças na História do mundo é um pouco mais complicado. Para além da já mencionada diferença de pontos de vista quanto a determinados fatos, existe o problema de que, nessa situação, estamos falando de mudanças um pouco mais abrangentes, em diversos setores da sociedade ao mesmo tempo. É claro que a ficção permite que alguns limites sejam extrapolados, e muitos diretores trabalham essas hipóteses apenas como possibilidades, sonhos ou mesmo como "contos de fadas". Quentin Tarantino já explorou essa possibilidade duas vezes em sua carreira. A primeira delas em Bastardos Inglórios (cujo título original seria Era Uma Vez... Numa França Ocupada pelos Nazistas) e a segunda no seu mais recente Era Uma Vez... em Hollywood.

Cartaz de Era Uma Vez em… Hollywood
Era Uma Vez em… Hollywood, 2019

Em ambos os casos, os filmes não fizeram uma análise aprofundada sobre as mudanças promovidas. Bastardos Inglórios promove um fim mais rápido à Segunda Guerra, no qual Hitler não se suicida, mas é fuzilado por dois soldados judeus, em uma cena de bem-vinda vingança pelos crimes cometidos. Já Era Uma Vez... em Hollywood estabelece uma realidade alternativa em que o terrível assassinato de Sharon Tate nunca aconteceu. Não são tramas que realmente imaginam como seria o mundo diante dessas possibilidades, mas deixam em aberto para o público imaginar as consequências desses contos de fadas: como seria o mundo caso a morte de Hitler tivesse sido antecipada por um atentado liderado pelos americanos (tirando a vitória final sobre Hitler das mãos dos soviéticos)? A Era de Ouro de Hollywood teria continuado em curso caso o assassinato de Tate tivesse sido evitado? Novamente, os filmes não estabelecem respostas para isso, mas são temas interessantes de se pensar.

E talvez essa seja a maior força dessas produções. Ao invés de oferecer respostas definitivas para essas mudanças, os filmes nos levam a imaginar as diversas consequências dessas mudanças, para o bem e para o mal. São longas que oferecem uma reflexão maior sobre as diferentes possibilidades de se realizar mesmo a menor alteração no passado histórico do que realmente promover uma resposta definitiva sobre esses assuntos.

Em alguns casos, essa reflexão é proporcionada a partir da existência de aspectos extremos de alteração histórica. Um desses aspectos mais comuns é a introdução de pessoas dotadas de poderes especiais na sociedade real. Heróis de quadrinhos têm interferido na História desde os seus primeiros lançamentos. Já é icônica a capa de quadrinho na qual o Capitão América esmurra o rosto de Adolf Hitler. Contudo, na maioria dos casos, as ações dos heróis não interferem tanto no andamento de História do mundo, afetando mais uma parcela reduzida da sua própria realidade, em geral ficcional.

Há exemplos contrários. Tanto nos quadrinhos originais de Alan Moore quanto na versão cinematográfica de Zack Snider, Watchmen se aprofunda um pouco mais nas consequências históricas da existência de vigilantes e seres super poderosos no mundo. Talvez uma das principais consequências mostradas no filme sejam como a afiliação da entidade Dr. Manhattan aos Estados Unidos significou a vitória americana na Guerra do Vietnã, que durou apenas alguns minutos depois que ele surgiu em cena. Também é marcante como Adrian Veidt, o homem mais inteligente do mundo, conseguiu elaborar um plano infalível que pôs fim à Guerra Fria e unificou URSS e Estados Unidos pelo medo de um ataque alienígena ao mundo.

A minissérie de mesmo nome, lançada em 2019, mergulha um pouco mais nas questões sociais derivadas da existência de vigilantes e super-heróis, mostrando os Estados Unidos atuais, sendo governados a mais de trinta anos pelo ator Robert Redford e tendo se transformado em um país que busca reparação histórica a todo momento pelos erros do passado. Nessa realidade, o Vietnã é mais um estado norte-americano e a descoberta dos diários do personagem Rorschach levou à criação de uma sociedade nos moldes da Ku Klux Klan e que tenta agir contra a nova ordem mundial e a presença de vigilantes na força policial. Mais do que o filme, a série explora a postura política dos heróis e sua influência em movimentos sociais, com poderosos agentes como o Justiça Encapuzada e a Irmã Noite sendo bastante influentes nas lutas do movimento negro, por exemplo.

Um outro exemplo de como a ficção usa pessoas super poderosas para promover mudanças históricas é a saga literária Wild Cards, que narra uma realidade paralela na qual um vírus alienígena caiu na Terra e fez com que diversas pessoas sofressem inúmeras mutações. Algumas receberam poderes enquanto outras sofreram deformações hediondas. O interessante dessa saga é que, além de promover mudanças nos fatos históricos da segunda metade do século XX (um herói salvou Gandhi de seu atentado, Perón nunca chegou ao poder na Argentina, a Lista Negra de McCarthy também passou a incluir pessoas com poderes, uma eleição americana é duramente afetada pela presença de um candidato com poderes, etc), ela cria uma nova tensão social, na qual os Ases, aqueles que receberam poderes, são exaltados e respeitados pela sociedade, enquanto os Curingas, aqueles que ficaram deformados por causa do vírus, são segregados e isolados, vivendo em condições extremamente precárias e sofrendo com a violência da sociedade.

Wild Cards, de George R. R. Martin

Diante desse novo conflito social, muitas das ações das personagens, desde manifestações até projetos sociais e de lei, giram em torno da luta para dar a esses Curingas melhores condições de vida, ao passo que outros pretendem mantê-los como um povo segregado e dificultar ainda mais seu acesso a serviços necessários. Isso faz com que a história de Wild Cards e seus personagens se tornem ainda mais complexa por envolver questões econômicas, sociais e políticas em seu meio, dando todas as dimensões de como seria uma sociedade nos moldes dessa realidade ficcional.

Para além da presença de super heróis e vigilantes, algumas produções simplesmente imaginam o mundo caso os fatos tivessem seguido uma ordem diferente. Uma das maiores distopias da ficção científica, O Homem do Castelo Alto, escrito por Philip K. Dick, retrata o ano de 1962 em uma realidade na qual a Alemanha e o Japão venceram a Segunda Guerra Mundial. Com a suástica nazista hasteada em Nova York, a escravidão se torna legal e os judeus são caçados constantemente. O mais interessante é que Dick não apenas estabelece essa mudança histórica, mas trilha uma sequência de alterações que levaram a ela, desde o assassinato de Franklyn D. Roosevelt em 1933 e o começo de uma política isolacionista dos Estados Unidos, até a vitória nazista sobre a URSS em 1941. Sofrendo de insuficiência militar, os Estados Unidos não conseguem dar batalha ao Japão após o ataque a Pearl Harbor. Tudo isso abriu caminho para o domínio nazista do mundo ao final da década de 40. O Homem no Castelo Alto foi adaptado pela Amazon Prime em 2014, e apresenta em seu elenco a atriz Alexa Davalos e os atores Rufus Sewell e Cary-Hiroyuki Tagawa.

Outra série que explora a alteração da História é a nova produção da Apple TV+, For All Mankind, que narra os acontecimentos a partir de um 1969 alternativo, no qual a URSS venceu os Estados Unidos na corrida espacial e enviou o primeiro homem à Lua. Isso desencadeou uma elevação da disputa espacial entre as duas potências até os dias de hoje, com objetivos cada vez maiores a serem alcançados e a expectativa do que essas conquistas podem ocasionar em um mundo ainda extremamente dividido e à espera de alguma grande ameaça.

ALTERAR O PASSADO: INFINITAS POSSIBILIDADES, MAS UM CUIDADO ESPECIAL

A ficção, seja literária, televisiva ou cinematográfica, nos presenteou com a capacidade de explorar infinitas possibilidades e questionar aquilo que consideramos como realidade. Filmes e livros estão constantemente subvertendo fatos e acontecimentos, algumas vezes imaginando como será o futuro, em outras alterando o passado para ver como o presente poderia ter sido. Apesar de nunca poderem ser comprovados, os resultados dessas alterações nos fazem imaginar como seria o decorrer da História caso os acontecimentos que a moldaram tivessem sido diferentes. E quando pensamos nisso, percebemos uma quantidade quase infinita de possibilidades.

Esse vasto número de possíveis sequências de fatos se dá pois há uma infinidade de possíveis mudanças que podemos pensar. Podemos até acreditar que mudanças significativas decorrem apenas de grandes alterações em alguns grandes eventos, mas a verdade é que são as pequenas mudanças, em momentos muitas vezes não tão importantes, que desencadeiam as maiores alterações nos grandes eventos. A História é uma vasta rede com infinitos elos ligando os diferentes acontecimentos em diferentes lugares do mundo. Alterar o menor elo que seja destrói a rede já construída, ou ao menos uma parte dela, e imediatamente elabora a criação de uma nova.

Com essa vasta variedade de possíveis sequências, a ficção é uma fonte quase inesgotável para o nosso desejo de saber o que poderia ter acontecido. Seja com momentos históricos ou narrativas de ficção que abrem a possibilidade de finais alternativos, é comum aos fãs se perguntarem "e se tal acontecimento tivesse ocorrido de uma maneira diferente?". Trabalhar as múltiplas respostas que essa pergunta pode ter faz da ficção uma jornada envolvente. Mas é preciso ter um certo cuidado.

Podemos explorar uma quantidade infinita de possibilidades narrativas se pensarmos em alterações nos fatos históricos, mas sempre precisamos ter cuidado ao realizar essas alterações. Para serem verossímeis, elas precisam provocar mudanças compreensíveis e acreditáveis em diversos setores da sociedade para realmente provocar uma mudança notável. Isso nos força sempre a pensar no caráter social, político, econômico e todos os outros ao mesmo tempo, e em como esses aspectos se ligam à mudança que queremos propor. Trabalhar narrativas históricas exige uma atenção muito grande a como os acontecimentos se conectam, e se a proposta de uma obra de ficção é pensar como seria o mundo caso algum fato ocorresse de forma diferente, é preciso ter em mente de que não se trata de apenas uma cadeia de eventos sendo alterada, mas sim toda uma gigantesca porção de uma rede de fatos interligados.

É um exercício interessante pensar em como os fatos históricos poderiam ser diferentes e no que isso acarretaria. Mas para essas "novas histórias", é necessário pensar em múltiplos níveis. Caso contrário, a trama que planejamos pode se tornar boba e, dependendo daquilo que propomos, até mesmo controversa.

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