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Análise & Opinião

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Histórias Assustadoras: Um Conceito Clássico do Horror

29/8/2019

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro traz de volta a fórmula dos contos de terror e apresenta uma nova forma ao gênero, associando uma trama mais comum ao intrínseco conjunto de pequenos contos independentes.

escrito por
Luis Henrique Franco

Histórias Assustadoras para Contar no Escuro traz de volta a fórmula dos contos de terror e apresenta uma nova forma ao gênero, associando uma trama mais comum ao intrínseco conjunto de pequenos contos independentes.

escrito por
Luis Henrique Franco
29/8/2019

Talvez tenha sido devido ao fato de o filme ter estreado um pouco antes de grandes produções desse ano, como Era Uma Vez... Em Hollywood, mas eu sinto uma grande tristeza quando noto que o novo filme produzido por Guillermo del Toro e dirigido por André Øvredal, Histórias Assustadoras para se Contar no Escuro, não esteja sendo tão comentado. Certamente não é um filme que se compare ao filme de Tarantino, por exemplo, mas dentro do gênero de terror, consegue fazer uso de um artifício interessante desse tipo de gênero. Um artifício que, na maior parte dos filmes, não é tão utilizado.

Como o próprio nome aponta, Histórias Assustadoras para se Contar no Escuro é um conjunto de pequenos contos e histórias de terror agrupados em um livro gigantesco, que quando contadas, libertam uma maldição que faz os acontecimentos narrados no conto se tornarem verdadeiros. Por causa disso, o filme acaba tendo dois focos de terror ao longo da história. O primeiro se desenvolve na trama central do filme e é um pouco mais clichê quando comparado a outros filmes do gênero. O segundo, entretanto, cria um foco especial nos contos em específico, tornando cada episódio uma narrativa quase única.

A TRAMA CLICHÊ: UM MAL NECESSÁRIO?

O enredo do filme gira em torno de uma garota e seus amigos que, ao visitarem uma casa mal assombrada, descobrem um livro de histórias de horror pertencentes a uma habitante antiga da cidade, uma menina que diziam ser amaldiçoada e que era mantida longe de todos por sua família. O espírito da garota, chamada Sarah Bellows, logo se torna o principal antagonista do filme, e é o responsável pelas histórias serem escritas no livro.

Esse é o ponto onde a trama se torna clichê. Histórias Assustadoras é um filme de espíritos e casas mal-assombradas que não tenta se distanciar muito de outras produções que abordam esse gênero, de forma que tudo o que diz respeito a Sarah é algo que "já foi visto antes". É um filme com uma premissa inovadora, mas que não se furta a mostrar cenas já tão comuns ao gênero que se tornam cansativamente previsíveis, além de uma tentativa estranha de humanizar seu principal monstro e construir uma moral para o seu enredo. Mesmo que a lição que se deseja passar seja interessante ("Histórias repetidas constantemente se tornam reais"), ainda é algo que soa um pouco forçado quando chegamos ao fim do filme.

Mesmo assim, essa construção em cima de Sarah Bellows e o uso do clichê acabam tendo a sua utilidade para a narrativa, no sentido de que se tornam o elemento unificador das histórias e criam uma conexão entre os contos e os personagens. Por mais que já tenhamos todos visto alguma coisa assim antes, é justamente essa fórmula que permite que exista uma união entre os diversos acontecimentos para criar uma trama unificada e um roteiro coeso.

OS CONTOS: UM CONGLOMERADO DE TERRORES INDIVIDUAIS ENTRE SI

Agora chegamos à parte onde esse filme se diferencia dos demais do gênero. Porque, mesmo sendo Sarah Bellows a antagonista principal e a entidade por trás das histórias, essa é a única coisa que os contos têm de semelhantes entre si. Dentro dessa trama maior, porém, cada um deles opera como uma unidade independente, com uma história própria, um vilão único e uma narrativa de terror completamente diferente um do outro.

É como se, dentro da trama maior, houvesse uma série de capítulos que não necessariamente agregassem algo novo ao enredo central, mas que desenvolvessem, por sua própria conta, uma nova história secundária e com características únicas. Entre os monstros apresentados, Harold, a Mulher Gorda, o Homem Furioso e o Cadáver são criaturas que não dividem entre si nenhuma característica em comum, além do fato de serem personagens de histórias do mesmo livro. E nem mesmo o tipo de terror empregado é o mesmo, visto que são criaturas diferentes e que agem de maneiras diferentes, levando uma a ser uma perseguidora implacável enquanto outra usa de um lento encurralamento de sua vítima, e assim por diante.

Nessa divisão em múltiplas histórias, o filme revive o uso do conto no terror, algo que sempre foi de grande pelo gênero na literatura, especialmente com autores como Edgar A. Poe. A força máxima desses autores em sua época, e também algo visto no filme, é a construção do medo pelo suspense e pela tensão, colocando seus personagens em situações que todos já sabem serem problemáticas, mas que mesmo assim nos impede de prever por completo como essa situação vai se desenrolar.

Um outro ganho desse formato é que, da mesma forma que os autores da literatura, o filme não se presta a explicar seus monstros. Eles são personagens das suas histórias e não precisam ser mais desenvolvidos além de suas pequenas tramas individuais. E mesmo que exista uma explicação maior por trás de Sarah Bellows, essa explicação não atinge os monstros. Por que o espantalho criou vida? Porque a história contada assim determinou. De onde veio o cadáver, ou a mulher gorda? Ninguém sabe. Nesse mundo, somos levados a aceitar que tais contos não possuem explicação, o que vai contra uma linha de filmes do gênero que sempre buscou dizer quem eram seus monstros e porque eles faziam isso. Em Histórias Assustadoras para Contar no Escuro, essa explicação não é dada, nem é necessária. As criaturas cumprem seu papel, e suas histórias não precisam explicar quem elas são, porque elas nunca mais irão voltar. É uma resolução que deixa lacunas que não serão preenchidas, o que mexe com a audiência que necessita de uma resposta.

Explorar a temática dos contos de terror e reviver esse gênero literário no cinema é um movimento ousado e, por causa disso, é possível digerir a história clichê de Sarah Bellows porque, no final, não é ela o principal monstro desse filme, e sua presença é diminuída diante das criações de seu livro.

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Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
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Histórias Assustadoras para Contar no Escuro traz de volta a fórmula dos contos de terror e apresenta uma nova forma ao gênero, associando uma trama mais comum ao intrínseco conjunto de pequenos contos independentes.

crítica por
Luis Henrique Franco
29/8/2019

Talvez tenha sido devido ao fato de o filme ter estreado um pouco antes de grandes produções desse ano, como Era Uma Vez... Em Hollywood, mas eu sinto uma grande tristeza quando noto que o novo filme produzido por Guillermo del Toro e dirigido por André Øvredal, Histórias Assustadoras para se Contar no Escuro, não esteja sendo tão comentado. Certamente não é um filme que se compare ao filme de Tarantino, por exemplo, mas dentro do gênero de terror, consegue fazer uso de um artifício interessante desse tipo de gênero. Um artifício que, na maior parte dos filmes, não é tão utilizado.

Como o próprio nome aponta, Histórias Assustadoras para se Contar no Escuro é um conjunto de pequenos contos e histórias de terror agrupados em um livro gigantesco, que quando contadas, libertam uma maldição que faz os acontecimentos narrados no conto se tornarem verdadeiros. Por causa disso, o filme acaba tendo dois focos de terror ao longo da história. O primeiro se desenvolve na trama central do filme e é um pouco mais clichê quando comparado a outros filmes do gênero. O segundo, entretanto, cria um foco especial nos contos em específico, tornando cada episódio uma narrativa quase única.

A TRAMA CLICHÊ: UM MAL NECESSÁRIO?

O enredo do filme gira em torno de uma garota e seus amigos que, ao visitarem uma casa mal assombrada, descobrem um livro de histórias de horror pertencentes a uma habitante antiga da cidade, uma menina que diziam ser amaldiçoada e que era mantida longe de todos por sua família. O espírito da garota, chamada Sarah Bellows, logo se torna o principal antagonista do filme, e é o responsável pelas histórias serem escritas no livro.

Esse é o ponto onde a trama se torna clichê. Histórias Assustadoras é um filme de espíritos e casas mal-assombradas que não tenta se distanciar muito de outras produções que abordam esse gênero, de forma que tudo o que diz respeito a Sarah é algo que "já foi visto antes". É um filme com uma premissa inovadora, mas que não se furta a mostrar cenas já tão comuns ao gênero que se tornam cansativamente previsíveis, além de uma tentativa estranha de humanizar seu principal monstro e construir uma moral para o seu enredo. Mesmo que a lição que se deseja passar seja interessante ("Histórias repetidas constantemente se tornam reais"), ainda é algo que soa um pouco forçado quando chegamos ao fim do filme.

Mesmo assim, essa construção em cima de Sarah Bellows e o uso do clichê acabam tendo a sua utilidade para a narrativa, no sentido de que se tornam o elemento unificador das histórias e criam uma conexão entre os contos e os personagens. Por mais que já tenhamos todos visto alguma coisa assim antes, é justamente essa fórmula que permite que exista uma união entre os diversos acontecimentos para criar uma trama unificada e um roteiro coeso.

OS CONTOS: UM CONGLOMERADO DE TERRORES INDIVIDUAIS ENTRE SI

Agora chegamos à parte onde esse filme se diferencia dos demais do gênero. Porque, mesmo sendo Sarah Bellows a antagonista principal e a entidade por trás das histórias, essa é a única coisa que os contos têm de semelhantes entre si. Dentro dessa trama maior, porém, cada um deles opera como uma unidade independente, com uma história própria, um vilão único e uma narrativa de terror completamente diferente um do outro.

É como se, dentro da trama maior, houvesse uma série de capítulos que não necessariamente agregassem algo novo ao enredo central, mas que desenvolvessem, por sua própria conta, uma nova história secundária e com características únicas. Entre os monstros apresentados, Harold, a Mulher Gorda, o Homem Furioso e o Cadáver são criaturas que não dividem entre si nenhuma característica em comum, além do fato de serem personagens de histórias do mesmo livro. E nem mesmo o tipo de terror empregado é o mesmo, visto que são criaturas diferentes e que agem de maneiras diferentes, levando uma a ser uma perseguidora implacável enquanto outra usa de um lento encurralamento de sua vítima, e assim por diante.

Nessa divisão em múltiplas histórias, o filme revive o uso do conto no terror, algo que sempre foi de grande pelo gênero na literatura, especialmente com autores como Edgar A. Poe. A força máxima desses autores em sua época, e também algo visto no filme, é a construção do medo pelo suspense e pela tensão, colocando seus personagens em situações que todos já sabem serem problemáticas, mas que mesmo assim nos impede de prever por completo como essa situação vai se desenrolar.

Um outro ganho desse formato é que, da mesma forma que os autores da literatura, o filme não se presta a explicar seus monstros. Eles são personagens das suas histórias e não precisam ser mais desenvolvidos além de suas pequenas tramas individuais. E mesmo que exista uma explicação maior por trás de Sarah Bellows, essa explicação não atinge os monstros. Por que o espantalho criou vida? Porque a história contada assim determinou. De onde veio o cadáver, ou a mulher gorda? Ninguém sabe. Nesse mundo, somos levados a aceitar que tais contos não possuem explicação, o que vai contra uma linha de filmes do gênero que sempre buscou dizer quem eram seus monstros e porque eles faziam isso. Em Histórias Assustadoras para Contar no Escuro, essa explicação não é dada, nem é necessária. As criaturas cumprem seu papel, e suas histórias não precisam explicar quem elas são, porque elas nunca mais irão voltar. É uma resolução que deixa lacunas que não serão preenchidas, o que mexe com a audiência que necessita de uma resposta.

Explorar a temática dos contos de terror e reviver esse gênero literário no cinema é um movimento ousado e, por causa disso, é possível digerir a história clichê de Sarah Bellows porque, no final, não é ela o principal monstro desse filme, e sua presença é diminuída diante das criações de seu livro.

confira o trailer

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Histórias Assustadoras para Contar no Escuro traz de volta a fórmula dos contos de terror e apresenta uma nova forma ao gênero, associando uma trama mais comum ao intrínseco conjunto de pequenos contos independentes.

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Luis Henrique Franco
29/8/2019
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Histórias Assustadoras para Contar no Escuro traz de volta a fórmula dos contos de terror e apresenta uma nova forma ao gênero, associando uma trama mais comum ao intrínseco conjunto de pequenos contos independentes.

escrito por
Luis Henrique Franco
29/8/2019

Talvez tenha sido devido ao fato de o filme ter estreado um pouco antes de grandes produções desse ano, como Era Uma Vez... Em Hollywood, mas eu sinto uma grande tristeza quando noto que o novo filme produzido por Guillermo del Toro e dirigido por André Øvredal, Histórias Assustadoras para se Contar no Escuro, não esteja sendo tão comentado. Certamente não é um filme que se compare ao filme de Tarantino, por exemplo, mas dentro do gênero de terror, consegue fazer uso de um artifício interessante desse tipo de gênero. Um artifício que, na maior parte dos filmes, não é tão utilizado.

Como o próprio nome aponta, Histórias Assustadoras para se Contar no Escuro é um conjunto de pequenos contos e histórias de terror agrupados em um livro gigantesco, que quando contadas, libertam uma maldição que faz os acontecimentos narrados no conto se tornarem verdadeiros. Por causa disso, o filme acaba tendo dois focos de terror ao longo da história. O primeiro se desenvolve na trama central do filme e é um pouco mais clichê quando comparado a outros filmes do gênero. O segundo, entretanto, cria um foco especial nos contos em específico, tornando cada episódio uma narrativa quase única.

A TRAMA CLICHÊ: UM MAL NECESSÁRIO?

O enredo do filme gira em torno de uma garota e seus amigos que, ao visitarem uma casa mal assombrada, descobrem um livro de histórias de horror pertencentes a uma habitante antiga da cidade, uma menina que diziam ser amaldiçoada e que era mantida longe de todos por sua família. O espírito da garota, chamada Sarah Bellows, logo se torna o principal antagonista do filme, e é o responsável pelas histórias serem escritas no livro.

Esse é o ponto onde a trama se torna clichê. Histórias Assustadoras é um filme de espíritos e casas mal-assombradas que não tenta se distanciar muito de outras produções que abordam esse gênero, de forma que tudo o que diz respeito a Sarah é algo que "já foi visto antes". É um filme com uma premissa inovadora, mas que não se furta a mostrar cenas já tão comuns ao gênero que se tornam cansativamente previsíveis, além de uma tentativa estranha de humanizar seu principal monstro e construir uma moral para o seu enredo. Mesmo que a lição que se deseja passar seja interessante ("Histórias repetidas constantemente se tornam reais"), ainda é algo que soa um pouco forçado quando chegamos ao fim do filme.

Mesmo assim, essa construção em cima de Sarah Bellows e o uso do clichê acabam tendo a sua utilidade para a narrativa, no sentido de que se tornam o elemento unificador das histórias e criam uma conexão entre os contos e os personagens. Por mais que já tenhamos todos visto alguma coisa assim antes, é justamente essa fórmula que permite que exista uma união entre os diversos acontecimentos para criar uma trama unificada e um roteiro coeso.

OS CONTOS: UM CONGLOMERADO DE TERRORES INDIVIDUAIS ENTRE SI

Agora chegamos à parte onde esse filme se diferencia dos demais do gênero. Porque, mesmo sendo Sarah Bellows a antagonista principal e a entidade por trás das histórias, essa é a única coisa que os contos têm de semelhantes entre si. Dentro dessa trama maior, porém, cada um deles opera como uma unidade independente, com uma história própria, um vilão único e uma narrativa de terror completamente diferente um do outro.

É como se, dentro da trama maior, houvesse uma série de capítulos que não necessariamente agregassem algo novo ao enredo central, mas que desenvolvessem, por sua própria conta, uma nova história secundária e com características únicas. Entre os monstros apresentados, Harold, a Mulher Gorda, o Homem Furioso e o Cadáver são criaturas que não dividem entre si nenhuma característica em comum, além do fato de serem personagens de histórias do mesmo livro. E nem mesmo o tipo de terror empregado é o mesmo, visto que são criaturas diferentes e que agem de maneiras diferentes, levando uma a ser uma perseguidora implacável enquanto outra usa de um lento encurralamento de sua vítima, e assim por diante.

Nessa divisão em múltiplas histórias, o filme revive o uso do conto no terror, algo que sempre foi de grande pelo gênero na literatura, especialmente com autores como Edgar A. Poe. A força máxima desses autores em sua época, e também algo visto no filme, é a construção do medo pelo suspense e pela tensão, colocando seus personagens em situações que todos já sabem serem problemáticas, mas que mesmo assim nos impede de prever por completo como essa situação vai se desenrolar.

Um outro ganho desse formato é que, da mesma forma que os autores da literatura, o filme não se presta a explicar seus monstros. Eles são personagens das suas histórias e não precisam ser mais desenvolvidos além de suas pequenas tramas individuais. E mesmo que exista uma explicação maior por trás de Sarah Bellows, essa explicação não atinge os monstros. Por que o espantalho criou vida? Porque a história contada assim determinou. De onde veio o cadáver, ou a mulher gorda? Ninguém sabe. Nesse mundo, somos levados a aceitar que tais contos não possuem explicação, o que vai contra uma linha de filmes do gênero que sempre buscou dizer quem eram seus monstros e porque eles faziam isso. Em Histórias Assustadoras para Contar no Escuro, essa explicação não é dada, nem é necessária. As criaturas cumprem seu papel, e suas histórias não precisam explicar quem elas são, porque elas nunca mais irão voltar. É uma resolução que deixa lacunas que não serão preenchidas, o que mexe com a audiência que necessita de uma resposta.

Explorar a temática dos contos de terror e reviver esse gênero literário no cinema é um movimento ousado e, por causa disso, é possível digerir a história clichê de Sarah Bellows porque, no final, não é ela o principal monstro desse filme, e sua presença é diminuída diante das criações de seu livro.

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