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Análise & Opinião

Análise & Opinião

Sobre a DC: Um Universo Confuso

17/12/2020

Enquanto a DC continua a ampliar seu universo cinematográfico, analisamos o que já foi feito dentro dessa história e o que ainda pode ser pensado para colocar o DCEU nos eixos de uma vez por todas.

escrito por
Luis Henrique Franco

Enquanto a DC continua a ampliar seu universo cinematográfico, analisamos o que já foi feito dentro dessa história e o que ainda pode ser pensado para colocar o DCEU nos eixos de uma vez por todas.

escrito por
Luis Henrique Franco
17/12/2020

O cinema nos últimos tempos tem visto cada vez mais filmes de super-heróis. Uma das principais causas para isso é a existência de uma grande quantidade de universos cinematográficos, criados pelas grandes empresas de quadrinhos do mundo. Em especial, a Marvel e a DC Comics são as principais realizadoras desse momento dos filmes de heróis, tendo a Marvel saído na dianteira e a DC iniciado seu projeto alguns anos depois.

No atual momento, em que os filmes de super-heróis já se encontram bastante saturados, podemos olhar para trás e perceber que a Marvel, ao menos na questão de levar seus heróis para o cinema, tem obtido mais sucesso nos últimos anos, enquanto a DC parece ter encontrado graves problemas no condizente à organização e estruturação da narrativa do seu universo.

OS GRANDES FILMES ANTERIORES AO UNIVERSO

O atual momento cinematográfico da DC Comics pode não ter dado os frutos que seus diretores e produtores desejavam, mas isso não significa que a companhia não teve seus tempos dourados. Na realidade, os primeiros grandes filmes e séries de super-heróis a fazerem sucesso com o público foram os da DC.

Hoje em dia, tais filmes já se tornaram lendas. O sucesso do primeiro Superman, com Christopher Reeve, fez com que o personagem fosse extremamente reverenciado fora dos quadrinhos e abriu caminho para um grande número de continuações e para que outros longas explorassem esse universo. Não por acaso, pouco tempo depois foi a vez de Michael Keaton vestir o uniforme de herói em Batman, dirigido por Tim Burton.

Na televisão, Lynda Carter assumiu o icônico papel da Mulher Maravilha em uma série que durou de 1975 a 1979. Essa produção marcou uma nova visão sobre os super-heróis, uma que ainda não era tão séria e realista e sombria quanto os filmes mais recentes tentaram ser, mas que já não apresentavam o caráter cômico e extremamente leve da série Batman, estrelando Adam West.

Tanto os filmes quanto as séries abriram caminho para as primeiras sagas dos super-heróis, com as continuações Superman II - A Aventura Continua e Batman: O Retorno sendo também extremamente bem-recebidas por público e críticas. E muito embora alguns filmes subsequentes tenham sido um fiasco, a DC ainda conseguiu manter uma boa cadeia de produções cinematográficas ao longo dos anos, com destaque para a recente trilogia do Cavaleiro das Trevas, feita por Christopher Nolan.

Essas produções marcantes, no entanto, não são consideradas como parte integrante do atual Universo Estendido da DC, que teria começado em 2013, com a estréia de O Homem de Aço.

UM COMEÇO APRESSADO PARA SE CHEGAR AO CLÍMAX

O filme O Homem de Aço marcou a estreia oficial do DCEU, o Universo Estendido da DC no cinema. O filme introduz um novo Superman, dessa vez vivido pelo ator Henry Cavill. Com uma nova abordagem, o longa marcou a primeira tentativa de se construir um universo mais sério e sombrio, em contraste com o universo mais ameno e leve que já vinha sendo construído pela Marvel no cinema. Como consequência disso, os filmes da DC quase não apresentavam piadas ou momentos propositalmente engraçados a princípio.

O tom proposto por esse universo pareceu ser algo que agradou o público. E, mesmo que O Homem de Aço não seja um dos melhores filmes já feitos, é certamente bom dentro de padrões para filmes de super-heróis, e apresenta um começo para o DCEU que certamente é equiparável ao começo do Universo Marvel. Ainda não muito bem trabalhado, mas bom o suficiente para despertar no público um certo interesse para o que viria a seguir. Se fosse seguido um bom plano de ação, a DC poderia passar alguns anos desenvolvendo seus principais personagens em seus próprios filmes solo antes de uni-los em uma grande equipe. Mas não foi isso o que aconteceu. Após O Homem de Aço, foram necessários quase três anos para que o próximo filme, Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça, fosse lançado.

Acredito que, para justificar o que aconteceu no planejamento desses filmes, duas hipóteses podem ser consideradas. Primeira, a DC Comics tentou rivalizar diretamente com a Marvel, que em 2016 lançava o seu próprio filme de conflito entre heróis, Capitão América: Guerra Civil. Segunda, a DC teve confiança demais no fato de que seus personagens são extremamente conhecidos, e ignorou a necessidade de seus filmes solo. Seja qual for o motivo, a verdade é que o lançamento de Batman Vs. Superman se revelou uma tática apressada e, no fundo, um erro. E boa parte desse erro se deve pelo fato de que o público não tem nenhuma relação de reconhecimento com esses personagens.

É possível dizer que, pelo menos, o Superman nos é familiar. Tendo já assistido O Homem de Aço, nós ao menos conhecemos o personagem, sabemos como ele pensa e como age e quais são os seus princípios morais. Podemos não ter tido um longo tempo ao seu lado para ver esses princípios serem influenciados ou influenciarem a sociedade, mas pelo menos é um personagem com quem podemos ter alguma afinidades. O mesmo não pode ser dito sobre o Batman de Ben Affleck, contudo. Um personagem totalmente novo, ele já entra em um conflito em seu primeiro filme, sem que saibamos como ele pensa, quais seus princípios e como ele vê sua sociedade. Não sabemos nada sobre ele, mas devemos, de alguma forma, torcer por ele.

A DC, na tentativa de chegar ao clímax de seu universo estendido, sacrificou a apresentação de seus personagens. Essa mesma apresentação, contudo, não só poderia dar ao público um contato e uma afinidade maior, como poderia dar aos produtores motivos mais interessantes para os personagens entrarem em conflito. Porque, da maneira como foi apresentado, Batman Vs. Superman oferece motivações muito rasas para a introdução tanto do Batman quanto da Mulher-Maravilha de Gal Gadot, o que faz todo o filme baseado nesse conflito não ter muito sentido aos olhos do público.

UMA UNIÃO DE DESCONHECIDOS

Assim como a Marvel aspirava, em sua Fase 1, atingir o momento de união geral de seus personagens com Os Vingadores, a DC esperava atingir o mesmo momento com Liga da Justiça. E, por um breve momento, as sementes de antecipação foram bem plantadas. Tanto em Batman Vs. Superman quanto em Esquadrão Suicida, foram introduzidos, em cenas breves, os heróis que fariam parte da primeira formação da Liga: Aquaman, Flash e Ciborgue.

A ideia inicial seria introduzir esses novos heróis com seus próprios filmes, iniciando as sagas individuais de cada um e o que os levaria a se unir à Liga mais tarde. E, em um primeiro momento, até se conseguiu fazer isso com o filme Mulher Maravilha, de 2017, que reintroduziu a heroína interpretada por Gal Gadot, dessa vez para contar suas origens e suas primeiras aventuras. E o longa da heroína até conseguiu dar uma grande esperança para o DCEU, conquistando boas críticas e um apego grande por parte do público.

No entanto, a Mulher Maravilha foi a única heroína a receber seu filme solo antes da união da equipe em Liga da Justiça, o que significa que metade do time nem havia sido introduzido ao público antes da união. E você pode ter certeza de que um filme crossover que traz inúmeros personagens diferentes na mesma trama não é o local onde você quer introduzir seus personagens. Porque nesse tipo de produção, as histórias individuais não têm tanta força. Quando muito, são apenas instrumentos para alavancar a trama principal, que envolve o grupo todo. Mas como podemos ter simpatia por uma equipe da qual nós desconhecemos mais da metade de seus integrantes?

Sendo bastante justo, esse talvez seja um dos menores problemas da versão de Joss Whedon para Liga da Justiça. Mesmo que isso fosse concertado, ainda assim haveriam inúmeros problemas dentro do filme. Mas alguns desses problemas poderiam ser facilitados pela inclusão dos filmes solo dos outros heróis antes da reunião de todos eles. Porque, se tivéssemos sido apresentados ao Flash, Aquaman e Ciborgue com antecedência, teríamos conhecido suas formas de pensar e seus propósitos, e isso facilitaria a sua inclusão em Liga da Justiça, pois daria aos produtores uma ideia de porque é importante para eles se aliar com os demais membros.

Quando se une uma equipe de super-heróis, é preciso dar a todos eles uma motivação para estar ali. Algo além do velho "precisamos salvar o mundo". E para isso, os filmes solo fornecem uma grande ajuda. Mas, ao menos nesses primeiros anos, não parece que a DC estava muito interessada em realizar esses filmes solo e contentou-se em apenas jogar um grande número de personagens icônicos no mesmo filme. Foi um erro que ela cometeu com Batman vs. Superman, Liga da Justiça e Esquadrão Suicida. O público nunca terá apreço por uma equipe se não soubermos nada sobre seus integrantes.

A CONFUSÃO DE SE TENTAR APAGAR OS ERROS

Os primeiros anos do DCEU podem não ter sido os melhores em relação ao desempenho de seus filmes. Isso não significa, porém, que tal universo não poderia se tornar algo realmente grandioso com o tempo, desde que os problemas fossem realmente trabalhados e melhorados.

Quando olhamos para as produções mais recentes desse universo, contudo, percebemos uma tentativa de apagar os erros cometidos pelos filmes anteriores. Eles reconhecem tais produções, mais tentam remover o que foi feito nelas e recomeçar suas histórias do zero. E isso é extremamente ruim para a continuidade da história geral, deixando o público confuso quanto ao que deve ser considerado canônico e parte da história.

Em alguns casos, essa questão não é tão grave. Quando olhamos para Aves de Rapina tentando apagar alguns erros de Esquadrão Suicida, como o Coringa de Jared Leto, sentimos essa tentativa de começar do zero e esquecer o primeiro filme, mas podemos entendê-la como uma continuação à parte da história. O mesmo pode ser dito como o novo Esquadrão Suicida de James Gunn, que traz de volta Margot Robbie sem, contudo, escalar Will Smith novamente, por exemplo. Nós vemos uma tentativa de apagar um filme ruim, mas uma que é feita de forma a manter uma história para os personagens.

Em outros casos, porém, essa tentativa é descarada e pode ser prejudicial para o universo cinematográfico. Recentemente, foi anunciada a exibição da versão de Liga da Justiça feita por Zack Snyder, algo que muitos fãs já haviam pedido há um longo tempo. A liberação do Snydercut, porém, coloca uma série de questões quanto a que versão do filme é a versão a ser seguida na história geral. Devemos simplesmente esquecer a versão de Joss Whedon e apagá-la da existência, ou devemos mantê-la como a versão canônica e considerar o Snydercut como apenas um alento e uma amostra do que poderia ter sido?

A verdade é que já houveram vários filmes dentro do DCEU após Liga da Justiça, filmes que foram feitos com base nos eventos ocorridos em uma versão. Alterar a versão canônica do filme pode criar uma enorme confusão, pois dependendo do que for mudado, alguns filmes posteriores podem parecer estranhos por ainda referenciarem os fatos de acordo com a versão antiga.

A situação fica ainda pior com a saída de Ben Affleck e a não renovação do contrato de Henry Cavill. Como os mais icônicos heróis desse universo e os primeiros a aparecerem nos cinemas, eles são os rostos com os quais o público mais se identifica no momento. A saída de ambos significa que suas versões dos heróis não estarão mais presentes, e mesmo que existam produções futuras extremamente promissoras, como O Batman de Matt Reeves, com Robert Pattinson no papel principal, a introdução de novos atores significa um novo período de readaptação do público a eles, além de alimentar essa tendência a ignorar os filmes iniciais, fingindo que eles nunca de fato existiram dentro desse universo.

UMA CHANCE DE REDENÇÃO?

O DCEU, como qualquer grande universo cinematográfico, tem seus altos e baixos, e embora as tentativas de esconder seus baixos acabem resultando em problemas maiores para a organização de sua história, seus altos ainda são bons o suficiente para manter seu público interessado. O sucesso de Mulher Maravilha e de Aquaman, e mesmo o interesse do público pela comédia Shazam!, mostram que os espectadores ainda estão dispostos a dar uma chance a esses personagens. As próprias críticas positivas a Mulher Maravilha 1984 mostram que existe uma grande capacidade para se fazer filmes de heróis bons.

No geral, a DC possui bons personagens, e a maneira como muitos deles já foram explorados em outras produções, sejam filmes à parte, séries ou mesmo animações, mostra que ela também tem potencial para explorá-los. Mover esse potencial para os filmes que integrarão esse universo estendido não é algo tão difícil de se atingir, desde que a produção se comprometa com uma visão única e solidificada sobre o que o DCEU deve ser. Isso significa abraçar os erros, reconhecê-los como parte da história e trabalhar em cima deles. É algo que pode ser alcançado, mas para que o seja, primeiro é preciso que a DC pare de tentar acelerar os acontecimentos da trama e foque em desenvolver seus personagens e seus mundos, além de parar de tentar agradar seu público alterando aquilo que já foi estabelecido por filmes malsucedidos.

Apesar da saturação, super-heróis ainda estão em alta no cinema. Ou seja, ainda há tempo para que esse universo se encontre e dê a seus fãs uma história bastante sólida e digna de seus personagens.

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Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
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Enquanto a DC continua a ampliar seu universo cinematográfico, analisamos o que já foi feito dentro dessa história e o que ainda pode ser pensado para colocar o DCEU nos eixos de uma vez por todas.

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Luis Henrique Franco
17/12/2020

O cinema nos últimos tempos tem visto cada vez mais filmes de super-heróis. Uma das principais causas para isso é a existência de uma grande quantidade de universos cinematográficos, criados pelas grandes empresas de quadrinhos do mundo. Em especial, a Marvel e a DC Comics são as principais realizadoras desse momento dos filmes de heróis, tendo a Marvel saído na dianteira e a DC iniciado seu projeto alguns anos depois.

No atual momento, em que os filmes de super-heróis já se encontram bastante saturados, podemos olhar para trás e perceber que a Marvel, ao menos na questão de levar seus heróis para o cinema, tem obtido mais sucesso nos últimos anos, enquanto a DC parece ter encontrado graves problemas no condizente à organização e estruturação da narrativa do seu universo.

OS GRANDES FILMES ANTERIORES AO UNIVERSO

O atual momento cinematográfico da DC Comics pode não ter dado os frutos que seus diretores e produtores desejavam, mas isso não significa que a companhia não teve seus tempos dourados. Na realidade, os primeiros grandes filmes e séries de super-heróis a fazerem sucesso com o público foram os da DC.

Hoje em dia, tais filmes já se tornaram lendas. O sucesso do primeiro Superman, com Christopher Reeve, fez com que o personagem fosse extremamente reverenciado fora dos quadrinhos e abriu caminho para um grande número de continuações e para que outros longas explorassem esse universo. Não por acaso, pouco tempo depois foi a vez de Michael Keaton vestir o uniforme de herói em Batman, dirigido por Tim Burton.

Na televisão, Lynda Carter assumiu o icônico papel da Mulher Maravilha em uma série que durou de 1975 a 1979. Essa produção marcou uma nova visão sobre os super-heróis, uma que ainda não era tão séria e realista e sombria quanto os filmes mais recentes tentaram ser, mas que já não apresentavam o caráter cômico e extremamente leve da série Batman, estrelando Adam West.

Tanto os filmes quanto as séries abriram caminho para as primeiras sagas dos super-heróis, com as continuações Superman II - A Aventura Continua e Batman: O Retorno sendo também extremamente bem-recebidas por público e críticas. E muito embora alguns filmes subsequentes tenham sido um fiasco, a DC ainda conseguiu manter uma boa cadeia de produções cinematográficas ao longo dos anos, com destaque para a recente trilogia do Cavaleiro das Trevas, feita por Christopher Nolan.

Essas produções marcantes, no entanto, não são consideradas como parte integrante do atual Universo Estendido da DC, que teria começado em 2013, com a estréia de O Homem de Aço.

UM COMEÇO APRESSADO PARA SE CHEGAR AO CLÍMAX

O filme O Homem de Aço marcou a estreia oficial do DCEU, o Universo Estendido da DC no cinema. O filme introduz um novo Superman, dessa vez vivido pelo ator Henry Cavill. Com uma nova abordagem, o longa marcou a primeira tentativa de se construir um universo mais sério e sombrio, em contraste com o universo mais ameno e leve que já vinha sendo construído pela Marvel no cinema. Como consequência disso, os filmes da DC quase não apresentavam piadas ou momentos propositalmente engraçados a princípio.

O tom proposto por esse universo pareceu ser algo que agradou o público. E, mesmo que O Homem de Aço não seja um dos melhores filmes já feitos, é certamente bom dentro de padrões para filmes de super-heróis, e apresenta um começo para o DCEU que certamente é equiparável ao começo do Universo Marvel. Ainda não muito bem trabalhado, mas bom o suficiente para despertar no público um certo interesse para o que viria a seguir. Se fosse seguido um bom plano de ação, a DC poderia passar alguns anos desenvolvendo seus principais personagens em seus próprios filmes solo antes de uni-los em uma grande equipe. Mas não foi isso o que aconteceu. Após O Homem de Aço, foram necessários quase três anos para que o próximo filme, Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça, fosse lançado.

Acredito que, para justificar o que aconteceu no planejamento desses filmes, duas hipóteses podem ser consideradas. Primeira, a DC Comics tentou rivalizar diretamente com a Marvel, que em 2016 lançava o seu próprio filme de conflito entre heróis, Capitão América: Guerra Civil. Segunda, a DC teve confiança demais no fato de que seus personagens são extremamente conhecidos, e ignorou a necessidade de seus filmes solo. Seja qual for o motivo, a verdade é que o lançamento de Batman Vs. Superman se revelou uma tática apressada e, no fundo, um erro. E boa parte desse erro se deve pelo fato de que o público não tem nenhuma relação de reconhecimento com esses personagens.

É possível dizer que, pelo menos, o Superman nos é familiar. Tendo já assistido O Homem de Aço, nós ao menos conhecemos o personagem, sabemos como ele pensa e como age e quais são os seus princípios morais. Podemos não ter tido um longo tempo ao seu lado para ver esses princípios serem influenciados ou influenciarem a sociedade, mas pelo menos é um personagem com quem podemos ter alguma afinidades. O mesmo não pode ser dito sobre o Batman de Ben Affleck, contudo. Um personagem totalmente novo, ele já entra em um conflito em seu primeiro filme, sem que saibamos como ele pensa, quais seus princípios e como ele vê sua sociedade. Não sabemos nada sobre ele, mas devemos, de alguma forma, torcer por ele.

A DC, na tentativa de chegar ao clímax de seu universo estendido, sacrificou a apresentação de seus personagens. Essa mesma apresentação, contudo, não só poderia dar ao público um contato e uma afinidade maior, como poderia dar aos produtores motivos mais interessantes para os personagens entrarem em conflito. Porque, da maneira como foi apresentado, Batman Vs. Superman oferece motivações muito rasas para a introdução tanto do Batman quanto da Mulher-Maravilha de Gal Gadot, o que faz todo o filme baseado nesse conflito não ter muito sentido aos olhos do público.

UMA UNIÃO DE DESCONHECIDOS

Assim como a Marvel aspirava, em sua Fase 1, atingir o momento de união geral de seus personagens com Os Vingadores, a DC esperava atingir o mesmo momento com Liga da Justiça. E, por um breve momento, as sementes de antecipação foram bem plantadas. Tanto em Batman Vs. Superman quanto em Esquadrão Suicida, foram introduzidos, em cenas breves, os heróis que fariam parte da primeira formação da Liga: Aquaman, Flash e Ciborgue.

A ideia inicial seria introduzir esses novos heróis com seus próprios filmes, iniciando as sagas individuais de cada um e o que os levaria a se unir à Liga mais tarde. E, em um primeiro momento, até se conseguiu fazer isso com o filme Mulher Maravilha, de 2017, que reintroduziu a heroína interpretada por Gal Gadot, dessa vez para contar suas origens e suas primeiras aventuras. E o longa da heroína até conseguiu dar uma grande esperança para o DCEU, conquistando boas críticas e um apego grande por parte do público.

No entanto, a Mulher Maravilha foi a única heroína a receber seu filme solo antes da união da equipe em Liga da Justiça, o que significa que metade do time nem havia sido introduzido ao público antes da união. E você pode ter certeza de que um filme crossover que traz inúmeros personagens diferentes na mesma trama não é o local onde você quer introduzir seus personagens. Porque nesse tipo de produção, as histórias individuais não têm tanta força. Quando muito, são apenas instrumentos para alavancar a trama principal, que envolve o grupo todo. Mas como podemos ter simpatia por uma equipe da qual nós desconhecemos mais da metade de seus integrantes?

Sendo bastante justo, esse talvez seja um dos menores problemas da versão de Joss Whedon para Liga da Justiça. Mesmo que isso fosse concertado, ainda assim haveriam inúmeros problemas dentro do filme. Mas alguns desses problemas poderiam ser facilitados pela inclusão dos filmes solo dos outros heróis antes da reunião de todos eles. Porque, se tivéssemos sido apresentados ao Flash, Aquaman e Ciborgue com antecedência, teríamos conhecido suas formas de pensar e seus propósitos, e isso facilitaria a sua inclusão em Liga da Justiça, pois daria aos produtores uma ideia de porque é importante para eles se aliar com os demais membros.

Quando se une uma equipe de super-heróis, é preciso dar a todos eles uma motivação para estar ali. Algo além do velho "precisamos salvar o mundo". E para isso, os filmes solo fornecem uma grande ajuda. Mas, ao menos nesses primeiros anos, não parece que a DC estava muito interessada em realizar esses filmes solo e contentou-se em apenas jogar um grande número de personagens icônicos no mesmo filme. Foi um erro que ela cometeu com Batman vs. Superman, Liga da Justiça e Esquadrão Suicida. O público nunca terá apreço por uma equipe se não soubermos nada sobre seus integrantes.

A CONFUSÃO DE SE TENTAR APAGAR OS ERROS

Os primeiros anos do DCEU podem não ter sido os melhores em relação ao desempenho de seus filmes. Isso não significa, porém, que tal universo não poderia se tornar algo realmente grandioso com o tempo, desde que os problemas fossem realmente trabalhados e melhorados.

Quando olhamos para as produções mais recentes desse universo, contudo, percebemos uma tentativa de apagar os erros cometidos pelos filmes anteriores. Eles reconhecem tais produções, mais tentam remover o que foi feito nelas e recomeçar suas histórias do zero. E isso é extremamente ruim para a continuidade da história geral, deixando o público confuso quanto ao que deve ser considerado canônico e parte da história.

Em alguns casos, essa questão não é tão grave. Quando olhamos para Aves de Rapina tentando apagar alguns erros de Esquadrão Suicida, como o Coringa de Jared Leto, sentimos essa tentativa de começar do zero e esquecer o primeiro filme, mas podemos entendê-la como uma continuação à parte da história. O mesmo pode ser dito como o novo Esquadrão Suicida de James Gunn, que traz de volta Margot Robbie sem, contudo, escalar Will Smith novamente, por exemplo. Nós vemos uma tentativa de apagar um filme ruim, mas uma que é feita de forma a manter uma história para os personagens.

Em outros casos, porém, essa tentativa é descarada e pode ser prejudicial para o universo cinematográfico. Recentemente, foi anunciada a exibição da versão de Liga da Justiça feita por Zack Snyder, algo que muitos fãs já haviam pedido há um longo tempo. A liberação do Snydercut, porém, coloca uma série de questões quanto a que versão do filme é a versão a ser seguida na história geral. Devemos simplesmente esquecer a versão de Joss Whedon e apagá-la da existência, ou devemos mantê-la como a versão canônica e considerar o Snydercut como apenas um alento e uma amostra do que poderia ter sido?

A verdade é que já houveram vários filmes dentro do DCEU após Liga da Justiça, filmes que foram feitos com base nos eventos ocorridos em uma versão. Alterar a versão canônica do filme pode criar uma enorme confusão, pois dependendo do que for mudado, alguns filmes posteriores podem parecer estranhos por ainda referenciarem os fatos de acordo com a versão antiga.

A situação fica ainda pior com a saída de Ben Affleck e a não renovação do contrato de Henry Cavill. Como os mais icônicos heróis desse universo e os primeiros a aparecerem nos cinemas, eles são os rostos com os quais o público mais se identifica no momento. A saída de ambos significa que suas versões dos heróis não estarão mais presentes, e mesmo que existam produções futuras extremamente promissoras, como O Batman de Matt Reeves, com Robert Pattinson no papel principal, a introdução de novos atores significa um novo período de readaptação do público a eles, além de alimentar essa tendência a ignorar os filmes iniciais, fingindo que eles nunca de fato existiram dentro desse universo.

UMA CHANCE DE REDENÇÃO?

O DCEU, como qualquer grande universo cinematográfico, tem seus altos e baixos, e embora as tentativas de esconder seus baixos acabem resultando em problemas maiores para a organização de sua história, seus altos ainda são bons o suficiente para manter seu público interessado. O sucesso de Mulher Maravilha e de Aquaman, e mesmo o interesse do público pela comédia Shazam!, mostram que os espectadores ainda estão dispostos a dar uma chance a esses personagens. As próprias críticas positivas a Mulher Maravilha 1984 mostram que existe uma grande capacidade para se fazer filmes de heróis bons.

No geral, a DC possui bons personagens, e a maneira como muitos deles já foram explorados em outras produções, sejam filmes à parte, séries ou mesmo animações, mostra que ela também tem potencial para explorá-los. Mover esse potencial para os filmes que integrarão esse universo estendido não é algo tão difícil de se atingir, desde que a produção se comprometa com uma visão única e solidificada sobre o que o DCEU deve ser. Isso significa abraçar os erros, reconhecê-los como parte da história e trabalhar em cima deles. É algo que pode ser alcançado, mas para que o seja, primeiro é preciso que a DC pare de tentar acelerar os acontecimentos da trama e foque em desenvolver seus personagens e seus mundos, além de parar de tentar agradar seu público alterando aquilo que já foi estabelecido por filmes malsucedidos.

Apesar da saturação, super-heróis ainda estão em alta no cinema. Ou seja, ainda há tempo para que esse universo se encontre e dê a seus fãs uma história bastante sólida e digna de seus personagens.

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Enquanto a DC continua a ampliar seu universo cinematográfico, analisamos o que já foi feito dentro dessa história e o que ainda pode ser pensado para colocar o DCEU nos eixos de uma vez por todas.

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Luis Henrique Franco
17/12/2020
nascimento

Enquanto a DC continua a ampliar seu universo cinematográfico, analisamos o que já foi feito dentro dessa história e o que ainda pode ser pensado para colocar o DCEU nos eixos de uma vez por todas.

escrito por
Luis Henrique Franco
17/12/2020

O cinema nos últimos tempos tem visto cada vez mais filmes de super-heróis. Uma das principais causas para isso é a existência de uma grande quantidade de universos cinematográficos, criados pelas grandes empresas de quadrinhos do mundo. Em especial, a Marvel e a DC Comics são as principais realizadoras desse momento dos filmes de heróis, tendo a Marvel saído na dianteira e a DC iniciado seu projeto alguns anos depois.

No atual momento, em que os filmes de super-heróis já se encontram bastante saturados, podemos olhar para trás e perceber que a Marvel, ao menos na questão de levar seus heróis para o cinema, tem obtido mais sucesso nos últimos anos, enquanto a DC parece ter encontrado graves problemas no condizente à organização e estruturação da narrativa do seu universo.

OS GRANDES FILMES ANTERIORES AO UNIVERSO

O atual momento cinematográfico da DC Comics pode não ter dado os frutos que seus diretores e produtores desejavam, mas isso não significa que a companhia não teve seus tempos dourados. Na realidade, os primeiros grandes filmes e séries de super-heróis a fazerem sucesso com o público foram os da DC.

Hoje em dia, tais filmes já se tornaram lendas. O sucesso do primeiro Superman, com Christopher Reeve, fez com que o personagem fosse extremamente reverenciado fora dos quadrinhos e abriu caminho para um grande número de continuações e para que outros longas explorassem esse universo. Não por acaso, pouco tempo depois foi a vez de Michael Keaton vestir o uniforme de herói em Batman, dirigido por Tim Burton.

Na televisão, Lynda Carter assumiu o icônico papel da Mulher Maravilha em uma série que durou de 1975 a 1979. Essa produção marcou uma nova visão sobre os super-heróis, uma que ainda não era tão séria e realista e sombria quanto os filmes mais recentes tentaram ser, mas que já não apresentavam o caráter cômico e extremamente leve da série Batman, estrelando Adam West.

Tanto os filmes quanto as séries abriram caminho para as primeiras sagas dos super-heróis, com as continuações Superman II - A Aventura Continua e Batman: O Retorno sendo também extremamente bem-recebidas por público e críticas. E muito embora alguns filmes subsequentes tenham sido um fiasco, a DC ainda conseguiu manter uma boa cadeia de produções cinematográficas ao longo dos anos, com destaque para a recente trilogia do Cavaleiro das Trevas, feita por Christopher Nolan.

Essas produções marcantes, no entanto, não são consideradas como parte integrante do atual Universo Estendido da DC, que teria começado em 2013, com a estréia de O Homem de Aço.

UM COMEÇO APRESSADO PARA SE CHEGAR AO CLÍMAX

O filme O Homem de Aço marcou a estreia oficial do DCEU, o Universo Estendido da DC no cinema. O filme introduz um novo Superman, dessa vez vivido pelo ator Henry Cavill. Com uma nova abordagem, o longa marcou a primeira tentativa de se construir um universo mais sério e sombrio, em contraste com o universo mais ameno e leve que já vinha sendo construído pela Marvel no cinema. Como consequência disso, os filmes da DC quase não apresentavam piadas ou momentos propositalmente engraçados a princípio.

O tom proposto por esse universo pareceu ser algo que agradou o público. E, mesmo que O Homem de Aço não seja um dos melhores filmes já feitos, é certamente bom dentro de padrões para filmes de super-heróis, e apresenta um começo para o DCEU que certamente é equiparável ao começo do Universo Marvel. Ainda não muito bem trabalhado, mas bom o suficiente para despertar no público um certo interesse para o que viria a seguir. Se fosse seguido um bom plano de ação, a DC poderia passar alguns anos desenvolvendo seus principais personagens em seus próprios filmes solo antes de uni-los em uma grande equipe. Mas não foi isso o que aconteceu. Após O Homem de Aço, foram necessários quase três anos para que o próximo filme, Batman Vs. Superman: A Origem da Justiça, fosse lançado.

Acredito que, para justificar o que aconteceu no planejamento desses filmes, duas hipóteses podem ser consideradas. Primeira, a DC Comics tentou rivalizar diretamente com a Marvel, que em 2016 lançava o seu próprio filme de conflito entre heróis, Capitão América: Guerra Civil. Segunda, a DC teve confiança demais no fato de que seus personagens são extremamente conhecidos, e ignorou a necessidade de seus filmes solo. Seja qual for o motivo, a verdade é que o lançamento de Batman Vs. Superman se revelou uma tática apressada e, no fundo, um erro. E boa parte desse erro se deve pelo fato de que o público não tem nenhuma relação de reconhecimento com esses personagens.

É possível dizer que, pelo menos, o Superman nos é familiar. Tendo já assistido O Homem de Aço, nós ao menos conhecemos o personagem, sabemos como ele pensa e como age e quais são os seus princípios morais. Podemos não ter tido um longo tempo ao seu lado para ver esses princípios serem influenciados ou influenciarem a sociedade, mas pelo menos é um personagem com quem podemos ter alguma afinidades. O mesmo não pode ser dito sobre o Batman de Ben Affleck, contudo. Um personagem totalmente novo, ele já entra em um conflito em seu primeiro filme, sem que saibamos como ele pensa, quais seus princípios e como ele vê sua sociedade. Não sabemos nada sobre ele, mas devemos, de alguma forma, torcer por ele.

A DC, na tentativa de chegar ao clímax de seu universo estendido, sacrificou a apresentação de seus personagens. Essa mesma apresentação, contudo, não só poderia dar ao público um contato e uma afinidade maior, como poderia dar aos produtores motivos mais interessantes para os personagens entrarem em conflito. Porque, da maneira como foi apresentado, Batman Vs. Superman oferece motivações muito rasas para a introdução tanto do Batman quanto da Mulher-Maravilha de Gal Gadot, o que faz todo o filme baseado nesse conflito não ter muito sentido aos olhos do público.

UMA UNIÃO DE DESCONHECIDOS

Assim como a Marvel aspirava, em sua Fase 1, atingir o momento de união geral de seus personagens com Os Vingadores, a DC esperava atingir o mesmo momento com Liga da Justiça. E, por um breve momento, as sementes de antecipação foram bem plantadas. Tanto em Batman Vs. Superman quanto em Esquadrão Suicida, foram introduzidos, em cenas breves, os heróis que fariam parte da primeira formação da Liga: Aquaman, Flash e Ciborgue.

A ideia inicial seria introduzir esses novos heróis com seus próprios filmes, iniciando as sagas individuais de cada um e o que os levaria a se unir à Liga mais tarde. E, em um primeiro momento, até se conseguiu fazer isso com o filme Mulher Maravilha, de 2017, que reintroduziu a heroína interpretada por Gal Gadot, dessa vez para contar suas origens e suas primeiras aventuras. E o longa da heroína até conseguiu dar uma grande esperança para o DCEU, conquistando boas críticas e um apego grande por parte do público.

No entanto, a Mulher Maravilha foi a única heroína a receber seu filme solo antes da união da equipe em Liga da Justiça, o que significa que metade do time nem havia sido introduzido ao público antes da união. E você pode ter certeza de que um filme crossover que traz inúmeros personagens diferentes na mesma trama não é o local onde você quer introduzir seus personagens. Porque nesse tipo de produção, as histórias individuais não têm tanta força. Quando muito, são apenas instrumentos para alavancar a trama principal, que envolve o grupo todo. Mas como podemos ter simpatia por uma equipe da qual nós desconhecemos mais da metade de seus integrantes?

Sendo bastante justo, esse talvez seja um dos menores problemas da versão de Joss Whedon para Liga da Justiça. Mesmo que isso fosse concertado, ainda assim haveriam inúmeros problemas dentro do filme. Mas alguns desses problemas poderiam ser facilitados pela inclusão dos filmes solo dos outros heróis antes da reunião de todos eles. Porque, se tivéssemos sido apresentados ao Flash, Aquaman e Ciborgue com antecedência, teríamos conhecido suas formas de pensar e seus propósitos, e isso facilitaria a sua inclusão em Liga da Justiça, pois daria aos produtores uma ideia de porque é importante para eles se aliar com os demais membros.

Quando se une uma equipe de super-heróis, é preciso dar a todos eles uma motivação para estar ali. Algo além do velho "precisamos salvar o mundo". E para isso, os filmes solo fornecem uma grande ajuda. Mas, ao menos nesses primeiros anos, não parece que a DC estava muito interessada em realizar esses filmes solo e contentou-se em apenas jogar um grande número de personagens icônicos no mesmo filme. Foi um erro que ela cometeu com Batman vs. Superman, Liga da Justiça e Esquadrão Suicida. O público nunca terá apreço por uma equipe se não soubermos nada sobre seus integrantes.

A CONFUSÃO DE SE TENTAR APAGAR OS ERROS

Os primeiros anos do DCEU podem não ter sido os melhores em relação ao desempenho de seus filmes. Isso não significa, porém, que tal universo não poderia se tornar algo realmente grandioso com o tempo, desde que os problemas fossem realmente trabalhados e melhorados.

Quando olhamos para as produções mais recentes desse universo, contudo, percebemos uma tentativa de apagar os erros cometidos pelos filmes anteriores. Eles reconhecem tais produções, mais tentam remover o que foi feito nelas e recomeçar suas histórias do zero. E isso é extremamente ruim para a continuidade da história geral, deixando o público confuso quanto ao que deve ser considerado canônico e parte da história.

Em alguns casos, essa questão não é tão grave. Quando olhamos para Aves de Rapina tentando apagar alguns erros de Esquadrão Suicida, como o Coringa de Jared Leto, sentimos essa tentativa de começar do zero e esquecer o primeiro filme, mas podemos entendê-la como uma continuação à parte da história. O mesmo pode ser dito como o novo Esquadrão Suicida de James Gunn, que traz de volta Margot Robbie sem, contudo, escalar Will Smith novamente, por exemplo. Nós vemos uma tentativa de apagar um filme ruim, mas uma que é feita de forma a manter uma história para os personagens.

Em outros casos, porém, essa tentativa é descarada e pode ser prejudicial para o universo cinematográfico. Recentemente, foi anunciada a exibição da versão de Liga da Justiça feita por Zack Snyder, algo que muitos fãs já haviam pedido há um longo tempo. A liberação do Snydercut, porém, coloca uma série de questões quanto a que versão do filme é a versão a ser seguida na história geral. Devemos simplesmente esquecer a versão de Joss Whedon e apagá-la da existência, ou devemos mantê-la como a versão canônica e considerar o Snydercut como apenas um alento e uma amostra do que poderia ter sido?

A verdade é que já houveram vários filmes dentro do DCEU após Liga da Justiça, filmes que foram feitos com base nos eventos ocorridos em uma versão. Alterar a versão canônica do filme pode criar uma enorme confusão, pois dependendo do que for mudado, alguns filmes posteriores podem parecer estranhos por ainda referenciarem os fatos de acordo com a versão antiga.

A situação fica ainda pior com a saída de Ben Affleck e a não renovação do contrato de Henry Cavill. Como os mais icônicos heróis desse universo e os primeiros a aparecerem nos cinemas, eles são os rostos com os quais o público mais se identifica no momento. A saída de ambos significa que suas versões dos heróis não estarão mais presentes, e mesmo que existam produções futuras extremamente promissoras, como O Batman de Matt Reeves, com Robert Pattinson no papel principal, a introdução de novos atores significa um novo período de readaptação do público a eles, além de alimentar essa tendência a ignorar os filmes iniciais, fingindo que eles nunca de fato existiram dentro desse universo.

UMA CHANCE DE REDENÇÃO?

O DCEU, como qualquer grande universo cinematográfico, tem seus altos e baixos, e embora as tentativas de esconder seus baixos acabem resultando em problemas maiores para a organização de sua história, seus altos ainda são bons o suficiente para manter seu público interessado. O sucesso de Mulher Maravilha e de Aquaman, e mesmo o interesse do público pela comédia Shazam!, mostram que os espectadores ainda estão dispostos a dar uma chance a esses personagens. As próprias críticas positivas a Mulher Maravilha 1984 mostram que existe uma grande capacidade para se fazer filmes de heróis bons.

No geral, a DC possui bons personagens, e a maneira como muitos deles já foram explorados em outras produções, sejam filmes à parte, séries ou mesmo animações, mostra que ela também tem potencial para explorá-los. Mover esse potencial para os filmes que integrarão esse universo estendido não é algo tão difícil de se atingir, desde que a produção se comprometa com uma visão única e solidificada sobre o que o DCEU deve ser. Isso significa abraçar os erros, reconhecê-los como parte da história e trabalhar em cima deles. É algo que pode ser alcançado, mas para que o seja, primeiro é preciso que a DC pare de tentar acelerar os acontecimentos da trama e foque em desenvolver seus personagens e seus mundos, além de parar de tentar agradar seu público alterando aquilo que já foi estabelecido por filmes malsucedidos.

Apesar da saturação, super-heróis ainda estão em alta no cinema. Ou seja, ainda há tempo para que esse universo se encontre e dê a seus fãs uma história bastante sólida e digna de seus personagens.

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