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Análise & Opinião

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A Velhice: nas telas do cinema e na vida dos artistas

8/4/2021

Muitos filmes trataram da velhice, alguns com maior profundidade que outros. Mas mesmo os filmes mais profundos não conseguem esconder um triste fato: como o cinema em geral, e a sociedade, trata os seus membros mais velhos?

escrito por
Luis Henrique Franco

Muitos filmes trataram da velhice, alguns com maior profundidade que outros. Mas mesmo os filmes mais profundos não conseguem esconder um triste fato: como o cinema em geral, e a sociedade, trata os seus membros mais velhos?

escrito por
Luis Henrique Franco
8/4/2021

Como um fato eternamente presente na vida humana, a velhice é vista de maneiras diferentes por diferentes pessoas. Alguns a chamam de "melhor idade" enquanto outros temem atingi-la. Entre os medos que cercam esse segundo grupo estão a proximidade do fim da vida, a dificuldade em se realizar algumas atividades que antes eram fáceis, a invalidação. Visões que, durante um longo tempo, o cinema alimentou, tratando seus personagens idosos como coadjuvantes, ou tornando-os figuras cômicas que exploram abusam dos preconceitos contra a velhice para tentar criar comédia, ou colocando-os como aquelas figuras sábias e como grandes conselheiros, mas que não realizam muitas ações eles próprios.

Felizmente, já faz alguns anos que essa visão vem mudando, e muitos filmes começaram a trazer uma outra visão sobre a velhice. Em alguns casos, a representação de pessoas idosas os mostra praticando atividades e sendo extremamente proativos. Nos casos de comédias, mesmo que alguns preconceitos ainda sejam mostrados, a imagem dos idosos remete à pro atividade e não os coloca como inválidos. E mesmo os filmes que ressaltam os problemas que podem surgir com a idade avançada o fazem com uma atenção maior e um cuidado em sua exibição.

No filme Meu Pai, por exemplo, temos um retrato bastante tocante sobre essa questão da velhice. Anthony Hopkins vive um velho senhor que recusa toda e qualquer assistência vinda de sua filha (vivida por Olivia Colman) e luta para continuar vivendo em seu apartamento. Ao longo do filme, inúmeros problemas vão acontecendo, à medida que ele tem problemas para se lembrar das coisas, começa a ter alucinações e a duvidar de seus próprios entes queridos. Na trama, mesmo que o personagem de Hopkins sofra de vários problemas, eles não são usados de forma cômica e nem apontam para uma invalidez total. Ao contrário, suas questões são tratadas com sensibilidade e mostram um problema real de maneira séria e com um olhar atento.

Anthony Hopkins no filme "Meu Pai (The Father)", indicado ao Oscar 2021

OS CAMINHOS DOS ARTISTAS QUANDO A VELHICE SURGE

Por muitos anos, a ideia predominante no cinema com respeito ao idoso é de que, com a idade, vem o conhecimento. Por isso, em muitos dramas, e mesmo em algumas comédias, o personagem mais velho é sempre aquele que detém o maior conhecimento e que, ao invés de tomar atitudes, aconselha o protagonista e fornece boas sugestões sobre o que ele deve fazer. Apesar de ser uma imagem de certa forma positiva, que coloca os idosos como figuras respeitáveis com grande conhecimento para distribuir, também apresenta um lado negativo de limitar os idosos a apenas esse papel, como se, a partir de certa idade, não fosse possível para eles irem atrás de nada ou realizarem ações que eles desejem realizar e que não sejam sentar em uma poltrona e falar com os mais jovens.

Um dos principais resultados desse uso constante de uma imagem específica foi o fato de que inúmeros grandes astros de Hollywood, que em sua juventude ocupavam sempre o posto de protagonistas, passaram a atuar apenas como coadjuvantes em filmes que privilegiavam as estrelas mais jovens. E por mais que seja muito bom dar espaço a uma nova geração, isso não significa que a geração mais velha não tenha mais o que oferecer como personagens centrais de uma história. Grandes atores e atrizes como Michael Caine, Morgan Freeman, Michelle Pfeiffer, Dustin Hoffman, tiveram uma redução drástica no número de papéis em sua carreira nos últimos anos, considerando que, por várias décadas, eles foram as celebridades centrais do cinema.

Apesar de não ser algo que todos sigam, a aposentadoria também é uma possibilidade para esses atores quando a idade se torna muito avançada. Apesar de possuírem grandes filmes de sucesso e serem algumas das maiores estrelas de Hollywood, Joe Pesci, Jack Nicholson e Joanne Woodward há muito deixaram de atuar constantemente. Eventualmente, eles retornam em papéis menores, mas não com a mesma frequência de outros com idades semelhantes.

Em outros casos, os atores até conseguem se manter bastante ativos, desde que passem a aceitar papéis menores em filmes não tão chamativos. Robert De Niro foi um dos que conseguiu se manter presentes, mas se compararmos os filmes dos quais ele era a estrela principal nos anos 70 a 90 com os papéis por ele obtido nos anos 2000 e 2010, veremos que ele certamente optou por um caminho de menos glamour para se manter ativo. O ator Christopher Plummer, recentemente falecido, é outro que conseguiu manter-se ativo por vários anos, mesmo com uma idade extremamente avançada. O mesmo pode ser dito sobre a grande atriz Glenn Close, que voltou a ter uma grande aparição no cinema nos últimos anos, principalmente em filmes como A Esposa. Contudo, ainda assim essas atuações acabam, muitas vezes, resumindo-se a esses papéis menores, muitas vezes em filmes menores também.

Em outros casos, a menor presença acaba sendo resultado de uma mudança de atividade, como é o caso da atriz Jodie Foster, que apesar de continuar a trabalhar atuando, concentra-se muito mais em seus projetos como diretora e produtora, sendo responsável por vários filmes e inclusive episódios de séries premiados. Outros, como George Clooney, Denzel Washington e Brad Pitt, apesar de ainda bastante ativos como atores, já começam a surgir como produtores, roteiristas e diretores nos últimos anos.

Pode-se ver que, mesmo que o ramo de atuação não lhes dê tantas oportunidades com o passar do tempo, os grandes atores e atrizes ainda conseguem oportunidades de se manterem em atividade. O problema maior é que, na maioria desses casos, as oportunidades são para interpretar papéis extremamente presos em estereótipos, seja o do velho sábio, seja o do idoso que, por causa da idade, perdeu a compostura e não se importa mais com nada. Isso acaba limitando e prendendo esses grandes astros em atuações que estão muito abaixo de seu verdadeiro potencial.

AS NOVAS FORMAS DE SE ENXERGAR A VELHICE

Por muito tempo, os idosos foram restringidos às imagens acima no cinema, raramente deixando essa zona delimitada pela indústria. Nos últimos anos, porém, uma presença um pouco maior de atores e atrizes mais velhos nos filmes têm dado novos ares para algumas produções. Nada que seja realmente revolucionário ou que altere por completo a visão da sociedade a respeito dos idosos, mas é certamente agradável ver uma mudança nos papéis para variar.

Mesmo em comédias, a forma como os idosos são tratados sofreu algumas mudanças. Vários filmes, apesar de ainda explorarem alguns estereótipos sobre a velhice, o fazem de uma maneira mais crítica ou então colocando seus personagens mais velhos como protagonistas e como personagens ativos. Última Viagem a Vegas, Despedida em Grande Estilo e Do Jeito que Elas Querem são alguns exemplos de atores e atrizes idosos colocados na posição de protagonistas e como os verdadeiros mobilizadores da trama. Seu uso de estereótipos é feito de uma forma mais reflexiva e que, ao mesmo tempo, não deixa de ser cômica. Dessa forma, grandes estrelas como Michael Caine, Alan Arkin, Morgan Freeman, Jane Fonda, Diane Keaton, Michael Douglas e Kevin Kline recebem uma chance de mostrar seu potencial em papéis que não os diminuem, colocando-os no centro da narrativa.

Outros exemplos de comédias sobre a velhice são as séries O Método Kominsky e Grace & Frankie. A primeira apresenta novamente Michael Douglas e Alan Arkin como um ator veterano e agora professor de teatro e o seu agente enlutado pela perda da esposa. Ao longo da série, várias questões relativas à velhice são apresentadas de uma forma crítica e reflexiva, enquanto ambos vão questionando como continuar a trabalhar agora que a idade os atingiu, e se eles devem de fato continuar em atividade. Já Grace & Frankie coloca Jane Fonda e Lily Tomlin como duas senhoras que aprendem a conviver como duas solteiras após ambos os seus maridos pedirem o divórcio para se casarem entre si. Novamente, temos um exemplo de uma série que usa aspectos da velhice como alívio cômico, mas que não o faz de uma forma depreciativa e busca, ao invés disso, estabelecer um olhar sensível sobre a situação de pessoas idosas.

Mas, muito além da comédia, a velhice também recebeu olhares mais analíticos no drama. Em especial, alguns diretores renomados começaram a olhar para os gêneros que os tornaram famosos ao longo dos anos e lançaram sobre eles um olhar mais introspectivo e profundo à medida que sua idade também avançava. Martin Scorsese certamente fez isso em O Irlandês, no qual apresenta um longa sobre a máfia italiana, gênero no qual se encontram alguns de seus principais filmes, e avança ao lado de seus personagens (Robert De Niro, Joe Pesci e Al Pacino) para mostrar sua evolução e queda ao longo das décadas, as decisões que os assombram e a forma como essas decisões os afetam nos últimos anos de sua vida.

Outro renomado ator e diretor, Clint Eastwood também passou a ponderar sobre sua vida e sua idade avançada em seus últimos filmes, mantendo um pouco sua personalidade de grande machão, mas abrindo-se para reflexões subjetivas mais aprofundadas sobre sua condição e seus personagens. Tais reflexões se apresentam desde Os Imperdoáveis até o mais recente A Mula, e retratam um Eastwood consciente de sua própria idade e refletindo mais sobre sua vida enquanto ainda consegue produzir filmes.

Os últimos anos têm visto muitos atores já envelhecidos retornarem ao estrelato do protagonismo e encabeçarem filmes marcantes que souberam explorar suas personagens. Mais reflexivos e menos cheios de ação, esses longas se sustentam no incomparável poder de atuação de suas estrelas e mostram que ainda há espaço para celebridades idosas mostrarem todo o seu brilho e potencial para as novas gerações.

O QUE É VELHICE E QUANDO ELA, DE FATO, CHEGA?

A presença de tantos atores idosos ainda em atividade mostra que, pelo menos no cinema, a idade não é um empecilho por si só. Mesmo em outros gêneros, como a ação e a aventura, grandes astros já envelhecidos continuam a aparecer em filmes e, muito embora não tenham mais a juventude para ajudá-los em certas cenas, ainda assim conseguem fazer um trabalho espetacular. Sendo assim, a idade não é, de fato, nada que impeça um ator ou diretor de trabalhar, a menos que seja acompanhada de outros problemas mais restritivos.

Mas se este é o caso, então por que ainda há uma certa restrição dos papéis de idosos a certas imagens? Os exemplos dados de filmes acima mostram que, felizmente, a indústria está se abrindo e deixando essas velhas imagens de lado, mas não significam que estas deixaram de existir. Na realidade, ainda há muitos filmes que se prendem a estereótipos e apresentam idosos apenas como pessoas sábias, mas frágeis e que necessitam de ajuda.

E conforme pensamos nessa situação, surge um novo problema: como o cinema define quem são os seus astros velhos? Obviamente existem certos padrões que delimitam quem são as grandes estrelas do momento, e ao analisarmos esses padrões, percebemos que eles privilegiam atores mais jovens. Essa situação é ainda mais restritiva quando falamos sobre os papéis das atrizes, que tendem a ser consideradas velhas pela indústria em uma idade mais baixa que os homens. Já falei disso em outro texto, no qual abordei como, por estarem sempre associadas a um padrão de beleza e sensualidade, a maioria das atrizes perde seu status de celebridade muito mais cedo que os homens e acabam sendo chamadas para um número reduzido de papéis quando estão com 40 ou 50 anos, uma idade na qual muitos atores homens ainda estão no auge de seu estrelato.

Debra Winger foi uma das atrizes que, aos 40 anos, entendeu que não manteria seu sucesso por muitos anos mais. Recebendo menos que seus colegashomens, ela optou por deixar sua carreira de sucesso antes de "se tornar invisível"

Existem, então, duas questões conflitantes nesse problema: uma é a velhice de fato, que chega a todos os seres humanos, mas que não configura por si só em um problema para pessoas que desejem se manter ativas; a outra é a forma como a indústria do cinema enxerga a velhice e a partir de qual idade ela define que alguém se torna velho. E isso é problemático porque o cinema acaba tendo um papel muito importante na forma como enxergamos o mundo e as pessoas, e tais imagens a respeito de um grupo social prejudica a forma como esse grupo é tratado pela sociedade.

Por isso que os exemplos citados acima, de atores e atrizes velhos que conseguiram se manter na ativa e como protagonistas do cinema, são tão importantes. Eles retratam uma mudança que está lutando para se firmar na forma como olhamos para esses grupos. Uma mudança que parte da sociedade em si e é acompanhada pelo cinema.

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Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
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Muitos filmes trataram da velhice, alguns com maior profundidade que outros. Mas mesmo os filmes mais profundos não conseguem esconder um triste fato: como o cinema em geral, e a sociedade, trata os seus membros mais velhos?

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Luis Henrique Franco
8/4/2021

Como um fato eternamente presente na vida humana, a velhice é vista de maneiras diferentes por diferentes pessoas. Alguns a chamam de "melhor idade" enquanto outros temem atingi-la. Entre os medos que cercam esse segundo grupo estão a proximidade do fim da vida, a dificuldade em se realizar algumas atividades que antes eram fáceis, a invalidação. Visões que, durante um longo tempo, o cinema alimentou, tratando seus personagens idosos como coadjuvantes, ou tornando-os figuras cômicas que exploram abusam dos preconceitos contra a velhice para tentar criar comédia, ou colocando-os como aquelas figuras sábias e como grandes conselheiros, mas que não realizam muitas ações eles próprios.

Felizmente, já faz alguns anos que essa visão vem mudando, e muitos filmes começaram a trazer uma outra visão sobre a velhice. Em alguns casos, a representação de pessoas idosas os mostra praticando atividades e sendo extremamente proativos. Nos casos de comédias, mesmo que alguns preconceitos ainda sejam mostrados, a imagem dos idosos remete à pro atividade e não os coloca como inválidos. E mesmo os filmes que ressaltam os problemas que podem surgir com a idade avançada o fazem com uma atenção maior e um cuidado em sua exibição.

No filme Meu Pai, por exemplo, temos um retrato bastante tocante sobre essa questão da velhice. Anthony Hopkins vive um velho senhor que recusa toda e qualquer assistência vinda de sua filha (vivida por Olivia Colman) e luta para continuar vivendo em seu apartamento. Ao longo do filme, inúmeros problemas vão acontecendo, à medida que ele tem problemas para se lembrar das coisas, começa a ter alucinações e a duvidar de seus próprios entes queridos. Na trama, mesmo que o personagem de Hopkins sofra de vários problemas, eles não são usados de forma cômica e nem apontam para uma invalidez total. Ao contrário, suas questões são tratadas com sensibilidade e mostram um problema real de maneira séria e com um olhar atento.

Anthony Hopkins no filme "Meu Pai (The Father)", indicado ao Oscar 2021

OS CAMINHOS DOS ARTISTAS QUANDO A VELHICE SURGE

Por muitos anos, a ideia predominante no cinema com respeito ao idoso é de que, com a idade, vem o conhecimento. Por isso, em muitos dramas, e mesmo em algumas comédias, o personagem mais velho é sempre aquele que detém o maior conhecimento e que, ao invés de tomar atitudes, aconselha o protagonista e fornece boas sugestões sobre o que ele deve fazer. Apesar de ser uma imagem de certa forma positiva, que coloca os idosos como figuras respeitáveis com grande conhecimento para distribuir, também apresenta um lado negativo de limitar os idosos a apenas esse papel, como se, a partir de certa idade, não fosse possível para eles irem atrás de nada ou realizarem ações que eles desejem realizar e que não sejam sentar em uma poltrona e falar com os mais jovens.

Um dos principais resultados desse uso constante de uma imagem específica foi o fato de que inúmeros grandes astros de Hollywood, que em sua juventude ocupavam sempre o posto de protagonistas, passaram a atuar apenas como coadjuvantes em filmes que privilegiavam as estrelas mais jovens. E por mais que seja muito bom dar espaço a uma nova geração, isso não significa que a geração mais velha não tenha mais o que oferecer como personagens centrais de uma história. Grandes atores e atrizes como Michael Caine, Morgan Freeman, Michelle Pfeiffer, Dustin Hoffman, tiveram uma redução drástica no número de papéis em sua carreira nos últimos anos, considerando que, por várias décadas, eles foram as celebridades centrais do cinema.

Apesar de não ser algo que todos sigam, a aposentadoria também é uma possibilidade para esses atores quando a idade se torna muito avançada. Apesar de possuírem grandes filmes de sucesso e serem algumas das maiores estrelas de Hollywood, Joe Pesci, Jack Nicholson e Joanne Woodward há muito deixaram de atuar constantemente. Eventualmente, eles retornam em papéis menores, mas não com a mesma frequência de outros com idades semelhantes.

Em outros casos, os atores até conseguem se manter bastante ativos, desde que passem a aceitar papéis menores em filmes não tão chamativos. Robert De Niro foi um dos que conseguiu se manter presentes, mas se compararmos os filmes dos quais ele era a estrela principal nos anos 70 a 90 com os papéis por ele obtido nos anos 2000 e 2010, veremos que ele certamente optou por um caminho de menos glamour para se manter ativo. O ator Christopher Plummer, recentemente falecido, é outro que conseguiu manter-se ativo por vários anos, mesmo com uma idade extremamente avançada. O mesmo pode ser dito sobre a grande atriz Glenn Close, que voltou a ter uma grande aparição no cinema nos últimos anos, principalmente em filmes como A Esposa. Contudo, ainda assim essas atuações acabam, muitas vezes, resumindo-se a esses papéis menores, muitas vezes em filmes menores também.

Em outros casos, a menor presença acaba sendo resultado de uma mudança de atividade, como é o caso da atriz Jodie Foster, que apesar de continuar a trabalhar atuando, concentra-se muito mais em seus projetos como diretora e produtora, sendo responsável por vários filmes e inclusive episódios de séries premiados. Outros, como George Clooney, Denzel Washington e Brad Pitt, apesar de ainda bastante ativos como atores, já começam a surgir como produtores, roteiristas e diretores nos últimos anos.

Pode-se ver que, mesmo que o ramo de atuação não lhes dê tantas oportunidades com o passar do tempo, os grandes atores e atrizes ainda conseguem oportunidades de se manterem em atividade. O problema maior é que, na maioria desses casos, as oportunidades são para interpretar papéis extremamente presos em estereótipos, seja o do velho sábio, seja o do idoso que, por causa da idade, perdeu a compostura e não se importa mais com nada. Isso acaba limitando e prendendo esses grandes astros em atuações que estão muito abaixo de seu verdadeiro potencial.

AS NOVAS FORMAS DE SE ENXERGAR A VELHICE

Por muito tempo, os idosos foram restringidos às imagens acima no cinema, raramente deixando essa zona delimitada pela indústria. Nos últimos anos, porém, uma presença um pouco maior de atores e atrizes mais velhos nos filmes têm dado novos ares para algumas produções. Nada que seja realmente revolucionário ou que altere por completo a visão da sociedade a respeito dos idosos, mas é certamente agradável ver uma mudança nos papéis para variar.

Mesmo em comédias, a forma como os idosos são tratados sofreu algumas mudanças. Vários filmes, apesar de ainda explorarem alguns estereótipos sobre a velhice, o fazem de uma maneira mais crítica ou então colocando seus personagens mais velhos como protagonistas e como personagens ativos. Última Viagem a Vegas, Despedida em Grande Estilo e Do Jeito que Elas Querem são alguns exemplos de atores e atrizes idosos colocados na posição de protagonistas e como os verdadeiros mobilizadores da trama. Seu uso de estereótipos é feito de uma forma mais reflexiva e que, ao mesmo tempo, não deixa de ser cômica. Dessa forma, grandes estrelas como Michael Caine, Alan Arkin, Morgan Freeman, Jane Fonda, Diane Keaton, Michael Douglas e Kevin Kline recebem uma chance de mostrar seu potencial em papéis que não os diminuem, colocando-os no centro da narrativa.

Outros exemplos de comédias sobre a velhice são as séries O Método Kominsky e Grace & Frankie. A primeira apresenta novamente Michael Douglas e Alan Arkin como um ator veterano e agora professor de teatro e o seu agente enlutado pela perda da esposa. Ao longo da série, várias questões relativas à velhice são apresentadas de uma forma crítica e reflexiva, enquanto ambos vão questionando como continuar a trabalhar agora que a idade os atingiu, e se eles devem de fato continuar em atividade. Já Grace & Frankie coloca Jane Fonda e Lily Tomlin como duas senhoras que aprendem a conviver como duas solteiras após ambos os seus maridos pedirem o divórcio para se casarem entre si. Novamente, temos um exemplo de uma série que usa aspectos da velhice como alívio cômico, mas que não o faz de uma forma depreciativa e busca, ao invés disso, estabelecer um olhar sensível sobre a situação de pessoas idosas.

Mas, muito além da comédia, a velhice também recebeu olhares mais analíticos no drama. Em especial, alguns diretores renomados começaram a olhar para os gêneros que os tornaram famosos ao longo dos anos e lançaram sobre eles um olhar mais introspectivo e profundo à medida que sua idade também avançava. Martin Scorsese certamente fez isso em O Irlandês, no qual apresenta um longa sobre a máfia italiana, gênero no qual se encontram alguns de seus principais filmes, e avança ao lado de seus personagens (Robert De Niro, Joe Pesci e Al Pacino) para mostrar sua evolução e queda ao longo das décadas, as decisões que os assombram e a forma como essas decisões os afetam nos últimos anos de sua vida.

Outro renomado ator e diretor, Clint Eastwood também passou a ponderar sobre sua vida e sua idade avançada em seus últimos filmes, mantendo um pouco sua personalidade de grande machão, mas abrindo-se para reflexões subjetivas mais aprofundadas sobre sua condição e seus personagens. Tais reflexões se apresentam desde Os Imperdoáveis até o mais recente A Mula, e retratam um Eastwood consciente de sua própria idade e refletindo mais sobre sua vida enquanto ainda consegue produzir filmes.

Os últimos anos têm visto muitos atores já envelhecidos retornarem ao estrelato do protagonismo e encabeçarem filmes marcantes que souberam explorar suas personagens. Mais reflexivos e menos cheios de ação, esses longas se sustentam no incomparável poder de atuação de suas estrelas e mostram que ainda há espaço para celebridades idosas mostrarem todo o seu brilho e potencial para as novas gerações.

O QUE É VELHICE E QUANDO ELA, DE FATO, CHEGA?

A presença de tantos atores idosos ainda em atividade mostra que, pelo menos no cinema, a idade não é um empecilho por si só. Mesmo em outros gêneros, como a ação e a aventura, grandes astros já envelhecidos continuam a aparecer em filmes e, muito embora não tenham mais a juventude para ajudá-los em certas cenas, ainda assim conseguem fazer um trabalho espetacular. Sendo assim, a idade não é, de fato, nada que impeça um ator ou diretor de trabalhar, a menos que seja acompanhada de outros problemas mais restritivos.

Mas se este é o caso, então por que ainda há uma certa restrição dos papéis de idosos a certas imagens? Os exemplos dados de filmes acima mostram que, felizmente, a indústria está se abrindo e deixando essas velhas imagens de lado, mas não significam que estas deixaram de existir. Na realidade, ainda há muitos filmes que se prendem a estereótipos e apresentam idosos apenas como pessoas sábias, mas frágeis e que necessitam de ajuda.

E conforme pensamos nessa situação, surge um novo problema: como o cinema define quem são os seus astros velhos? Obviamente existem certos padrões que delimitam quem são as grandes estrelas do momento, e ao analisarmos esses padrões, percebemos que eles privilegiam atores mais jovens. Essa situação é ainda mais restritiva quando falamos sobre os papéis das atrizes, que tendem a ser consideradas velhas pela indústria em uma idade mais baixa que os homens. Já falei disso em outro texto, no qual abordei como, por estarem sempre associadas a um padrão de beleza e sensualidade, a maioria das atrizes perde seu status de celebridade muito mais cedo que os homens e acabam sendo chamadas para um número reduzido de papéis quando estão com 40 ou 50 anos, uma idade na qual muitos atores homens ainda estão no auge de seu estrelato.

Debra Winger foi uma das atrizes que, aos 40 anos, entendeu que não manteria seu sucesso por muitos anos mais. Recebendo menos que seus colegashomens, ela optou por deixar sua carreira de sucesso antes de "se tornar invisível"

Existem, então, duas questões conflitantes nesse problema: uma é a velhice de fato, que chega a todos os seres humanos, mas que não configura por si só em um problema para pessoas que desejem se manter ativas; a outra é a forma como a indústria do cinema enxerga a velhice e a partir de qual idade ela define que alguém se torna velho. E isso é problemático porque o cinema acaba tendo um papel muito importante na forma como enxergamos o mundo e as pessoas, e tais imagens a respeito de um grupo social prejudica a forma como esse grupo é tratado pela sociedade.

Por isso que os exemplos citados acima, de atores e atrizes velhos que conseguiram se manter na ativa e como protagonistas do cinema, são tão importantes. Eles retratam uma mudança que está lutando para se firmar na forma como olhamos para esses grupos. Uma mudança que parte da sociedade em si e é acompanhada pelo cinema.

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Muitos filmes trataram da velhice, alguns com maior profundidade que outros. Mas mesmo os filmes mais profundos não conseguem esconder um triste fato: como o cinema em geral, e a sociedade, trata os seus membros mais velhos?

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Luis Henrique Franco
8/4/2021
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Muitos filmes trataram da velhice, alguns com maior profundidade que outros. Mas mesmo os filmes mais profundos não conseguem esconder um triste fato: como o cinema em geral, e a sociedade, trata os seus membros mais velhos?

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Luis Henrique Franco
8/4/2021

Como um fato eternamente presente na vida humana, a velhice é vista de maneiras diferentes por diferentes pessoas. Alguns a chamam de "melhor idade" enquanto outros temem atingi-la. Entre os medos que cercam esse segundo grupo estão a proximidade do fim da vida, a dificuldade em se realizar algumas atividades que antes eram fáceis, a invalidação. Visões que, durante um longo tempo, o cinema alimentou, tratando seus personagens idosos como coadjuvantes, ou tornando-os figuras cômicas que exploram abusam dos preconceitos contra a velhice para tentar criar comédia, ou colocando-os como aquelas figuras sábias e como grandes conselheiros, mas que não realizam muitas ações eles próprios.

Felizmente, já faz alguns anos que essa visão vem mudando, e muitos filmes começaram a trazer uma outra visão sobre a velhice. Em alguns casos, a representação de pessoas idosas os mostra praticando atividades e sendo extremamente proativos. Nos casos de comédias, mesmo que alguns preconceitos ainda sejam mostrados, a imagem dos idosos remete à pro atividade e não os coloca como inválidos. E mesmo os filmes que ressaltam os problemas que podem surgir com a idade avançada o fazem com uma atenção maior e um cuidado em sua exibição.

No filme Meu Pai, por exemplo, temos um retrato bastante tocante sobre essa questão da velhice. Anthony Hopkins vive um velho senhor que recusa toda e qualquer assistência vinda de sua filha (vivida por Olivia Colman) e luta para continuar vivendo em seu apartamento. Ao longo do filme, inúmeros problemas vão acontecendo, à medida que ele tem problemas para se lembrar das coisas, começa a ter alucinações e a duvidar de seus próprios entes queridos. Na trama, mesmo que o personagem de Hopkins sofra de vários problemas, eles não são usados de forma cômica e nem apontam para uma invalidez total. Ao contrário, suas questões são tratadas com sensibilidade e mostram um problema real de maneira séria e com um olhar atento.

Anthony Hopkins no filme "Meu Pai (The Father)", indicado ao Oscar 2021

OS CAMINHOS DOS ARTISTAS QUANDO A VELHICE SURGE

Por muitos anos, a ideia predominante no cinema com respeito ao idoso é de que, com a idade, vem o conhecimento. Por isso, em muitos dramas, e mesmo em algumas comédias, o personagem mais velho é sempre aquele que detém o maior conhecimento e que, ao invés de tomar atitudes, aconselha o protagonista e fornece boas sugestões sobre o que ele deve fazer. Apesar de ser uma imagem de certa forma positiva, que coloca os idosos como figuras respeitáveis com grande conhecimento para distribuir, também apresenta um lado negativo de limitar os idosos a apenas esse papel, como se, a partir de certa idade, não fosse possível para eles irem atrás de nada ou realizarem ações que eles desejem realizar e que não sejam sentar em uma poltrona e falar com os mais jovens.

Um dos principais resultados desse uso constante de uma imagem específica foi o fato de que inúmeros grandes astros de Hollywood, que em sua juventude ocupavam sempre o posto de protagonistas, passaram a atuar apenas como coadjuvantes em filmes que privilegiavam as estrelas mais jovens. E por mais que seja muito bom dar espaço a uma nova geração, isso não significa que a geração mais velha não tenha mais o que oferecer como personagens centrais de uma história. Grandes atores e atrizes como Michael Caine, Morgan Freeman, Michelle Pfeiffer, Dustin Hoffman, tiveram uma redução drástica no número de papéis em sua carreira nos últimos anos, considerando que, por várias décadas, eles foram as celebridades centrais do cinema.

Apesar de não ser algo que todos sigam, a aposentadoria também é uma possibilidade para esses atores quando a idade se torna muito avançada. Apesar de possuírem grandes filmes de sucesso e serem algumas das maiores estrelas de Hollywood, Joe Pesci, Jack Nicholson e Joanne Woodward há muito deixaram de atuar constantemente. Eventualmente, eles retornam em papéis menores, mas não com a mesma frequência de outros com idades semelhantes.

Em outros casos, os atores até conseguem se manter bastante ativos, desde que passem a aceitar papéis menores em filmes não tão chamativos. Robert De Niro foi um dos que conseguiu se manter presentes, mas se compararmos os filmes dos quais ele era a estrela principal nos anos 70 a 90 com os papéis por ele obtido nos anos 2000 e 2010, veremos que ele certamente optou por um caminho de menos glamour para se manter ativo. O ator Christopher Plummer, recentemente falecido, é outro que conseguiu manter-se ativo por vários anos, mesmo com uma idade extremamente avançada. O mesmo pode ser dito sobre a grande atriz Glenn Close, que voltou a ter uma grande aparição no cinema nos últimos anos, principalmente em filmes como A Esposa. Contudo, ainda assim essas atuações acabam, muitas vezes, resumindo-se a esses papéis menores, muitas vezes em filmes menores também.

Em outros casos, a menor presença acaba sendo resultado de uma mudança de atividade, como é o caso da atriz Jodie Foster, que apesar de continuar a trabalhar atuando, concentra-se muito mais em seus projetos como diretora e produtora, sendo responsável por vários filmes e inclusive episódios de séries premiados. Outros, como George Clooney, Denzel Washington e Brad Pitt, apesar de ainda bastante ativos como atores, já começam a surgir como produtores, roteiristas e diretores nos últimos anos.

Pode-se ver que, mesmo que o ramo de atuação não lhes dê tantas oportunidades com o passar do tempo, os grandes atores e atrizes ainda conseguem oportunidades de se manterem em atividade. O problema maior é que, na maioria desses casos, as oportunidades são para interpretar papéis extremamente presos em estereótipos, seja o do velho sábio, seja o do idoso que, por causa da idade, perdeu a compostura e não se importa mais com nada. Isso acaba limitando e prendendo esses grandes astros em atuações que estão muito abaixo de seu verdadeiro potencial.

AS NOVAS FORMAS DE SE ENXERGAR A VELHICE

Por muito tempo, os idosos foram restringidos às imagens acima no cinema, raramente deixando essa zona delimitada pela indústria. Nos últimos anos, porém, uma presença um pouco maior de atores e atrizes mais velhos nos filmes têm dado novos ares para algumas produções. Nada que seja realmente revolucionário ou que altere por completo a visão da sociedade a respeito dos idosos, mas é certamente agradável ver uma mudança nos papéis para variar.

Mesmo em comédias, a forma como os idosos são tratados sofreu algumas mudanças. Vários filmes, apesar de ainda explorarem alguns estereótipos sobre a velhice, o fazem de uma maneira mais crítica ou então colocando seus personagens mais velhos como protagonistas e como personagens ativos. Última Viagem a Vegas, Despedida em Grande Estilo e Do Jeito que Elas Querem são alguns exemplos de atores e atrizes idosos colocados na posição de protagonistas e como os verdadeiros mobilizadores da trama. Seu uso de estereótipos é feito de uma forma mais reflexiva e que, ao mesmo tempo, não deixa de ser cômica. Dessa forma, grandes estrelas como Michael Caine, Alan Arkin, Morgan Freeman, Jane Fonda, Diane Keaton, Michael Douglas e Kevin Kline recebem uma chance de mostrar seu potencial em papéis que não os diminuem, colocando-os no centro da narrativa.

Outros exemplos de comédias sobre a velhice são as séries O Método Kominsky e Grace & Frankie. A primeira apresenta novamente Michael Douglas e Alan Arkin como um ator veterano e agora professor de teatro e o seu agente enlutado pela perda da esposa. Ao longo da série, várias questões relativas à velhice são apresentadas de uma forma crítica e reflexiva, enquanto ambos vão questionando como continuar a trabalhar agora que a idade os atingiu, e se eles devem de fato continuar em atividade. Já Grace & Frankie coloca Jane Fonda e Lily Tomlin como duas senhoras que aprendem a conviver como duas solteiras após ambos os seus maridos pedirem o divórcio para se casarem entre si. Novamente, temos um exemplo de uma série que usa aspectos da velhice como alívio cômico, mas que não o faz de uma forma depreciativa e busca, ao invés disso, estabelecer um olhar sensível sobre a situação de pessoas idosas.

Mas, muito além da comédia, a velhice também recebeu olhares mais analíticos no drama. Em especial, alguns diretores renomados começaram a olhar para os gêneros que os tornaram famosos ao longo dos anos e lançaram sobre eles um olhar mais introspectivo e profundo à medida que sua idade também avançava. Martin Scorsese certamente fez isso em O Irlandês, no qual apresenta um longa sobre a máfia italiana, gênero no qual se encontram alguns de seus principais filmes, e avança ao lado de seus personagens (Robert De Niro, Joe Pesci e Al Pacino) para mostrar sua evolução e queda ao longo das décadas, as decisões que os assombram e a forma como essas decisões os afetam nos últimos anos de sua vida.

Outro renomado ator e diretor, Clint Eastwood também passou a ponderar sobre sua vida e sua idade avançada em seus últimos filmes, mantendo um pouco sua personalidade de grande machão, mas abrindo-se para reflexões subjetivas mais aprofundadas sobre sua condição e seus personagens. Tais reflexões se apresentam desde Os Imperdoáveis até o mais recente A Mula, e retratam um Eastwood consciente de sua própria idade e refletindo mais sobre sua vida enquanto ainda consegue produzir filmes.

Os últimos anos têm visto muitos atores já envelhecidos retornarem ao estrelato do protagonismo e encabeçarem filmes marcantes que souberam explorar suas personagens. Mais reflexivos e menos cheios de ação, esses longas se sustentam no incomparável poder de atuação de suas estrelas e mostram que ainda há espaço para celebridades idosas mostrarem todo o seu brilho e potencial para as novas gerações.

O QUE É VELHICE E QUANDO ELA, DE FATO, CHEGA?

A presença de tantos atores idosos ainda em atividade mostra que, pelo menos no cinema, a idade não é um empecilho por si só. Mesmo em outros gêneros, como a ação e a aventura, grandes astros já envelhecidos continuam a aparecer em filmes e, muito embora não tenham mais a juventude para ajudá-los em certas cenas, ainda assim conseguem fazer um trabalho espetacular. Sendo assim, a idade não é, de fato, nada que impeça um ator ou diretor de trabalhar, a menos que seja acompanhada de outros problemas mais restritivos.

Mas se este é o caso, então por que ainda há uma certa restrição dos papéis de idosos a certas imagens? Os exemplos dados de filmes acima mostram que, felizmente, a indústria está se abrindo e deixando essas velhas imagens de lado, mas não significam que estas deixaram de existir. Na realidade, ainda há muitos filmes que se prendem a estereótipos e apresentam idosos apenas como pessoas sábias, mas frágeis e que necessitam de ajuda.

E conforme pensamos nessa situação, surge um novo problema: como o cinema define quem são os seus astros velhos? Obviamente existem certos padrões que delimitam quem são as grandes estrelas do momento, e ao analisarmos esses padrões, percebemos que eles privilegiam atores mais jovens. Essa situação é ainda mais restritiva quando falamos sobre os papéis das atrizes, que tendem a ser consideradas velhas pela indústria em uma idade mais baixa que os homens. Já falei disso em outro texto, no qual abordei como, por estarem sempre associadas a um padrão de beleza e sensualidade, a maioria das atrizes perde seu status de celebridade muito mais cedo que os homens e acabam sendo chamadas para um número reduzido de papéis quando estão com 40 ou 50 anos, uma idade na qual muitos atores homens ainda estão no auge de seu estrelato.

Debra Winger foi uma das atrizes que, aos 40 anos, entendeu que não manteria seu sucesso por muitos anos mais. Recebendo menos que seus colegashomens, ela optou por deixar sua carreira de sucesso antes de "se tornar invisível"

Existem, então, duas questões conflitantes nesse problema: uma é a velhice de fato, que chega a todos os seres humanos, mas que não configura por si só em um problema para pessoas que desejem se manter ativas; a outra é a forma como a indústria do cinema enxerga a velhice e a partir de qual idade ela define que alguém se torna velho. E isso é problemático porque o cinema acaba tendo um papel muito importante na forma como enxergamos o mundo e as pessoas, e tais imagens a respeito de um grupo social prejudica a forma como esse grupo é tratado pela sociedade.

Por isso que os exemplos citados acima, de atores e atrizes velhos que conseguiram se manter na ativa e como protagonistas do cinema, são tão importantes. Eles retratam uma mudança que está lutando para se firmar na forma como olhamos para esses grupos. Uma mudança que parte da sociedade em si e é acompanhada pelo cinema.

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