No items found.

Análise & Opinião

Análise & Opinião

As Máscaras do Terror

14/10/2021

Em diversos clássicos do terror, a história gira em torno de um assassino mascarado, sobrenatural ou não. A identidade desconhecida do vilão é um artifício usado pelo cinema para explorar nosso medo diante de uma identidade omissa para fazer o mal.

escrito por
Luis Henrique Franco

Em diversos clássicos do terror, a história gira em torno de um assassino mascarado, sobrenatural ou não. A identidade desconhecida do vilão é um artifício usado pelo cinema para explorar nosso medo diante de uma identidade omissa para fazer o mal.

escrito por
Luis Henrique Franco
14/10/2021

A ideia de se usar uma máscara é dar às pessoas uma noção de desconhecido. Seja em um baile, em uma apresentação ou show, o propósito de alguém usar uma máscara é justamente manter sua identidade secreta, conferindo a si mesmo uma aura de mistério que se torna, quando bem usada, um atrativo à curiosidade do público.

Em outros casos, no entanto, o uso dessa aura de mistério pode justamente evocar o medo e a apreensão diante de algo que não conhecemos, mas que nos parece perigoso. É por isso que as máscaras são artifícios comumente usados nos filmes de terror, principalmente pelo vilão do filme. Independente de se essa máscara serve a algum outro propósito na trama (omitir uma deformidade, por exemplo), o fato claro é que ela está a li para manter uma identidade em segredo, possibilitando que seu usuário siga com sua onda de crimes sem se preocupar com as consequências enquanto não é descoberto.

A MÁSCARA COMO IDENTIDADE

São vários os filmes que se valem de assassinos ou entidades mascaradas para provocar o medo, mas são poucos aqueles que realmente conseguiram deixar uma marca no público. Entre aqueles que obtiveram sucesso, existe um fato que os conecta além do gênero cinematográfico: em todos eles, a máscara importa mais do que aquele que a usa.

É notável essa diferença quando comparamos a identificação do público para com certas figuras conhecidas do terror. Os fãs de Wes Craven e do terror de Slasher rapidamente reconhecem Robert Englund como o lendário Freddy Krueger. Mesmo com toda a maquiagem colocada sobre ele para lhe dar o aspecto de uma figura queimada e deformada, o rosto de Englund é sempre visível nos filmes clássicos do personagem, sendo assim marcadamente reconhecido como o rosto de Krueger. Em contrapartida, quando pensamos em outras franquias de sucesso como Halloween ou Sexta-Feira 13, não há um rosto específico que vem à mente quando pensamos em Jason ou Michael Myers. Suas máscaras, no entanto, são parte de nossa cultura popular e facilmente identificáveis por seus traços únicos.

Michael Myers no filme original de Halloween, com a máscara que se tornaria sua marca reconhecida.

Esses são os grandes assassinos do Slasher, que se diferenciam de outros assassinos pelo fato de serem reconhecidos. Não há dúvida sobre a identidade de Michael Myers ou Jason Voorhees, a menos naqueles filmes em que um entusiasta deles decide usar ele próprio a máscara para lhes prestar homenagens. Mas esses casos são raros e pouco lembrados. Para o contexto geral, esses assassinos são o rosto de suas franquias. Curiosamente, esse rosto é o rosto da máscara, não do personagem em si.

A máscara de hóquei que tornou o personagem Jason Voorhees, de sexta-Feira 13, famoso.

No sentido de enredo e de trama, essa opção por um assassino que sempre usa algo cobrindo seu rosto cumpre mais do que a função de torná-lo desconhecido. Nos casos acima, quando a identidade do assassino é conhecida, o uso da máscara ajuda a criar uma atmosfera de inumanidade. Incapazes de identificarmos os assassinos como humanos, passamos a vê-los como entidades sobrenaturais, fora de qualquer espectro humano de realidade. E, se não são humanos, os assassinos não precisam se prender a noções humanas de pena ou remorso, podendo ser frios e monstruosos sem qualquer empecilho de emoções.

Quando analisamos do ponto de vista da construção e duração da franquia, entretanto, a identificação do público com a máscara e não com a pessoa acaba tendo uma outra vantagem. Ela permite que sequências contínuas sejam feitas ao longo de muitos anos para esses filmes. Inúmeros atores já passaram pela pele de Michael, Leatherface e Jason, por exemplo, e nenhum deles precisou regressar constantemente ao papel, ao contrário de Robert Englund, que sempre será o rosto de Freddy em A Hora do Pesadelo. Ajuda também que os dois primeiros sejam assassinos silenciosos, pois assim nem suas vozes ficam marcadas para com o público, como é o caso de Brad Dourif, que tornou memorável a voz do boneco Chucky em Brinquedo Assassino. Apenas as máscaras são o suficiente para eternizar esses assassinos na memória popular.

Robert Englund como Freddy Krueger. Mesmo cheio de maquiagem,  ator é um dos rostos mais reconhecidos do terror.

Pode parecer estranho colocar toda a identidade de um personagem no seu adereço. E é óbvio hoje em dia que, com o passar das décadas, os assassinos do Slasher perderam seu poder de aterrorizar o público. Mas em sua época aquilo era uma coisa nova. O cinema nunca foi estranho a mistérios de assassinato e filmes de crimes, mas sempre havia uma resposta para esses feitos que resolvia o problema. Nos Slashers, saber a identidade do assassino não resolve nada pois eles não estão escondendo quem eles são. As máscaras não são um subterfúgio, mas sim a sua real identidade.

A MÁSCARA COMO ANONIMATO E IMPUNIDADE

Como parte de um disfarce, o uso da máscara pode proporcionar uma certa sensação de liberdade para os atos. Quando se sente que ninguém vai reconhecê-lo, e comum ser tentado a cometer ações fora dos padrões e das regras. E é por isso que a sensação de anonimato e desconhecido causado pelas máscaras é tão assustador. Não se trata apenas de não conseguirmos reconhecer quem está por trás dela. A questão é que, uma vez não reconhecidos, os mascarados não se vêm mais limitados a seguirem regras e podem fazer o que bem entenderem.

Personagens de Noite de Crime usam máscaras durante o expurgo anual para esconder seus rostos, mesmo que, por natureza, seus crimes já sairiam impunes.

O artifício da máscara consegue introduzir o aspecto do terror às histórias do tipo "Whodunnit?" (mistérios onde a ideia era achar o culpado por um crime dentro de uma lista de suspeitos pré-estabelecidos). Originalmente, o crime ocorreria fora das telas, e o suspense tomaria conta da história enquanto as pistas eram desvendadas. O uso da máscara pelo assassino (além de uma roupa que esconda boa parte de seu rosto) permite que não só que o assassinato inicial seja mostrado, mas também dá ao vilão a possibilidade de continuar a cometer crimes, visto que seu disfarce protege sua identidade.

Nesse tipo de filme, a aflição do público está em desvendar quem é o assassino entre os sobreviventes. E a cada nova vítima, a lista vai ficando menor. Nos casos dos grandes filmes do gênero, porém, isso não quer dizer que o mistério se torna mais fácil. Muitos filmes entregam seus assassinos na metade de sua duração, tornando o resto da jornada maçante para o público. Mas os realmente memoráveis aumentam a tensão conforme as mortes vão ocorrendo e as previsões do público vão se provando erradas, deixando-nos sem nenhuma ideia de como o filme vai acabar. Nesses casos, o prolongamento da franquia pode não ser uma boa ideia, visto que a saga tende a repetir sua fórmula de sucesso, tornando o que antes era uma ideia muito bem executada em uma repetição previsível e cansativa.

Esse é um tipo de terror muito diferente dos citados anteriormente por preservar o aspecto humano de seus assassinos. Jason e Myers não precisam se preocupar com suas identidades pois dificilmente podem ser parados ou punidos por seus crimes. Já assassinos como Ghostface, da franquia Pânico, precisam manter suas identidades em segredo pois são humanos normais e, por isso, muito mais suscetíveis a punições caso sejam descobertos. Ainda assim, existe uma semelhança entre os dois tipos de terror: a máscara permanece sendo a identidade principal do assassino. Poucos se lembram do nome exato de todos os personagens que usaram a máscara do Ghostface ao longo dos quatro (cinco no ano que vem) filmes, mas a máscara da figura branca gritando, com seu capuz e roupa preta cobrindo todo o corpo do assassino, é um dos rostos mais marcantes do terror.

Assassino de Pânico usa a máscara do Ghstface. com vários personagens diferentes assumindo a identidade, a máscara se tornou mais simbólica do que os assassinos em si.

A MÁSCARA COMO FONTE PRINCIPAL DO MEDO

Um outro efeito que as máscaras dos filmes de terror podem ter é o de provocar uma fobia particular nas pessoas: nosso medo de objetos humanoides. Mesmo que não assuma o grau de fobia, existe uma certa aversão generalizada a manequins, bonecas e outros objetos que se assemelham a humanos reais. No geral, podemos sentir uma certa ansiedade diante de algo que possui características extremamente humanas, mas não se comporta ou se move como um humano normal.

No caso das máscaras, a ideia é de que muitas delas evocam rostos perfeitamente humanos, ou no mínimo semelhantes a bonecas infantis. Contudo, suas expressões são endurecidas, imutáveis, permanecendo a mesma em diferentes situações que requerem reações diferentes. Essa falta de emoção, de movimento, de vida, causa desconforto nos que estão ao redor, mesmo que por trás da máscara exista de fato um humano normal.

Aproveitando-se dessa aversão das pessoas, o terror criou um sem fim de máscaras bastante humanoides que por si só já provocam ansiedade no público, ainda mais quando vestidas por um assassino com intenções macabras. Alguns filmes atuais do gênero Slasher, como A Morte Te Dá Parabéns, fizeram questão de empregar uma máscaras bastante perturbadoras, que evocam as expressões de um bebê sorridente, o que torna a situação ainda mais desconfortável e apreensiva. Colocados em filmes de terror, máscaras sorridentes se tornam o combustível para inúmeros pesadelos.

Assassino de a Morte te dá Parabéns, que usa uma perturbadora máscara semelhante a um bebê sorridente.

Mas às vezes a melhor saída é o uso de algo inexpressivo, congelado para sempre em um semblante indiferente, frio, incapaz de compaixão. Por isso a máscara de Michael Myers, que imita a feição do ator William Shatner, continua sendo uma das mais emblemáticas do gênero. Sem qualquer expressão, a máscara pálida tira qualquer coisa de humano de seu usuário. Combinado com a atitude sempre meticulosa e o completo silêncio do assassino, e não temos dificuldade em ver Myers como algo sobrenatural. Não por acaso, seu primeiro nome, antes de sua identidade real ser revelada, era "The Shape" (A Forma), sem qualquer identificação pessoal. Ele era apenas um vulto assassino vagando pelo mundo.

Michael Myers na versão de 2018 de Halloween, quando o personagem recupera a sua inexpressiva máscara.

Pior ainda é quando a máscara não só lembra de aspectos humanos, mas também é feita de partes humanas. No clássico O Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper, um dos aspectos mais tenebrosos de Leatherface é o fato de que sua máscara é uma costura de diversas partes de pele humana, formando um rosto despedaçado e deformado, mas que ainda tem semelhanças com algo humano. Perturbador por si só, o uso da pele de suas vítimas para criar um novo rosto que esconda seu semblante real aumenta ainda mais o pavor causado pela máscara, que já não é feita mais de algo sintético para imitar um humano, mas sim de algo que já foi um humano de verdade.

Cena do filme O Massacre d Serra Elétrica, em que o personagem Leatherface, com sua máscara de couro humano, persegue os personagens com sua serra.

A IDENTIDADE NO TERROR

Em todos esses casos, o uso da máscara carrega a mesma importância fundamental no terror: colocar o público em uma terrível expectativa pelo momento em que o assassino será revelado. Máscaras são o principal atributo do mistério que o gênero Slasher ainda carrega em si, e um aspecto dessas produções que não deve ser deixado de lado tão facilmente. Elas fazem uma atitude inumana parecer realizável por um humano, nos ajuda a enxergar o assassino como algo além da nossa compreensão e, quando por fim cai, revela que tamanha crueldade é possível para uma pessoa real.

Protegendo a identidade de seus usuários, elas assustam o público pela constatação da horrível realidade: qualquer personagem do filme pode estar atrás dela. Qualquer um que já não esteja morto pode ser aquele que, na verdade, está matando os outros. Independente de seus motivos serem bons ou ruins, suas ações estão acontecendo sem nenhuma consequência para o usuário até que ele finalmente seja revelado. E isso leva a uma ansiedade do público, movida pelo desejo de ver o disfarce cair de uma vez por todas, para que a onda de crimes termine.

E é por isso que, em muitos dos filmes nas quais são usadas, as máscaras se tornam mais icônicas do que o personagem que as usa. Porque quando esse personagem é revelado, termina o mistério e a ansiedade. mas enquanto houver algo cobrindo sua identidade, ele pode ser qualquer pessoa do filme, até mesmo o coadjuvante mais sem importância da trama. E, se houverem motivos suficientes para isso, podemos acreditar que qualquer um seja o assassino, mesmo a pessoa menos esperada.

No items found.
botão de dar play no vídeo
No items found.

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
saiba mais sobre o filme
saiba mais sobre a série

Em diversos clássicos do terror, a história gira em torno de um assassino mascarado, sobrenatural ou não. A identidade desconhecida do vilão é um artifício usado pelo cinema para explorar nosso medo diante de uma identidade omissa para fazer o mal.

crítica por
Luis Henrique Franco
14/10/2021

A ideia de se usar uma máscara é dar às pessoas uma noção de desconhecido. Seja em um baile, em uma apresentação ou show, o propósito de alguém usar uma máscara é justamente manter sua identidade secreta, conferindo a si mesmo uma aura de mistério que se torna, quando bem usada, um atrativo à curiosidade do público.

Em outros casos, no entanto, o uso dessa aura de mistério pode justamente evocar o medo e a apreensão diante de algo que não conhecemos, mas que nos parece perigoso. É por isso que as máscaras são artifícios comumente usados nos filmes de terror, principalmente pelo vilão do filme. Independente de se essa máscara serve a algum outro propósito na trama (omitir uma deformidade, por exemplo), o fato claro é que ela está a li para manter uma identidade em segredo, possibilitando que seu usuário siga com sua onda de crimes sem se preocupar com as consequências enquanto não é descoberto.

A MÁSCARA COMO IDENTIDADE

São vários os filmes que se valem de assassinos ou entidades mascaradas para provocar o medo, mas são poucos aqueles que realmente conseguiram deixar uma marca no público. Entre aqueles que obtiveram sucesso, existe um fato que os conecta além do gênero cinematográfico: em todos eles, a máscara importa mais do que aquele que a usa.

É notável essa diferença quando comparamos a identificação do público para com certas figuras conhecidas do terror. Os fãs de Wes Craven e do terror de Slasher rapidamente reconhecem Robert Englund como o lendário Freddy Krueger. Mesmo com toda a maquiagem colocada sobre ele para lhe dar o aspecto de uma figura queimada e deformada, o rosto de Englund é sempre visível nos filmes clássicos do personagem, sendo assim marcadamente reconhecido como o rosto de Krueger. Em contrapartida, quando pensamos em outras franquias de sucesso como Halloween ou Sexta-Feira 13, não há um rosto específico que vem à mente quando pensamos em Jason ou Michael Myers. Suas máscaras, no entanto, são parte de nossa cultura popular e facilmente identificáveis por seus traços únicos.

Michael Myers no filme original de Halloween, com a máscara que se tornaria sua marca reconhecida.

Esses são os grandes assassinos do Slasher, que se diferenciam de outros assassinos pelo fato de serem reconhecidos. Não há dúvida sobre a identidade de Michael Myers ou Jason Voorhees, a menos naqueles filmes em que um entusiasta deles decide usar ele próprio a máscara para lhes prestar homenagens. Mas esses casos são raros e pouco lembrados. Para o contexto geral, esses assassinos são o rosto de suas franquias. Curiosamente, esse rosto é o rosto da máscara, não do personagem em si.

A máscara de hóquei que tornou o personagem Jason Voorhees, de sexta-Feira 13, famoso.

No sentido de enredo e de trama, essa opção por um assassino que sempre usa algo cobrindo seu rosto cumpre mais do que a função de torná-lo desconhecido. Nos casos acima, quando a identidade do assassino é conhecida, o uso da máscara ajuda a criar uma atmosfera de inumanidade. Incapazes de identificarmos os assassinos como humanos, passamos a vê-los como entidades sobrenaturais, fora de qualquer espectro humano de realidade. E, se não são humanos, os assassinos não precisam se prender a noções humanas de pena ou remorso, podendo ser frios e monstruosos sem qualquer empecilho de emoções.

Quando analisamos do ponto de vista da construção e duração da franquia, entretanto, a identificação do público com a máscara e não com a pessoa acaba tendo uma outra vantagem. Ela permite que sequências contínuas sejam feitas ao longo de muitos anos para esses filmes. Inúmeros atores já passaram pela pele de Michael, Leatherface e Jason, por exemplo, e nenhum deles precisou regressar constantemente ao papel, ao contrário de Robert Englund, que sempre será o rosto de Freddy em A Hora do Pesadelo. Ajuda também que os dois primeiros sejam assassinos silenciosos, pois assim nem suas vozes ficam marcadas para com o público, como é o caso de Brad Dourif, que tornou memorável a voz do boneco Chucky em Brinquedo Assassino. Apenas as máscaras são o suficiente para eternizar esses assassinos na memória popular.

Robert Englund como Freddy Krueger. Mesmo cheio de maquiagem,  ator é um dos rostos mais reconhecidos do terror.

Pode parecer estranho colocar toda a identidade de um personagem no seu adereço. E é óbvio hoje em dia que, com o passar das décadas, os assassinos do Slasher perderam seu poder de aterrorizar o público. Mas em sua época aquilo era uma coisa nova. O cinema nunca foi estranho a mistérios de assassinato e filmes de crimes, mas sempre havia uma resposta para esses feitos que resolvia o problema. Nos Slashers, saber a identidade do assassino não resolve nada pois eles não estão escondendo quem eles são. As máscaras não são um subterfúgio, mas sim a sua real identidade.

A MÁSCARA COMO ANONIMATO E IMPUNIDADE

Como parte de um disfarce, o uso da máscara pode proporcionar uma certa sensação de liberdade para os atos. Quando se sente que ninguém vai reconhecê-lo, e comum ser tentado a cometer ações fora dos padrões e das regras. E é por isso que a sensação de anonimato e desconhecido causado pelas máscaras é tão assustador. Não se trata apenas de não conseguirmos reconhecer quem está por trás dela. A questão é que, uma vez não reconhecidos, os mascarados não se vêm mais limitados a seguirem regras e podem fazer o que bem entenderem.

Personagens de Noite de Crime usam máscaras durante o expurgo anual para esconder seus rostos, mesmo que, por natureza, seus crimes já sairiam impunes.

O artifício da máscara consegue introduzir o aspecto do terror às histórias do tipo "Whodunnit?" (mistérios onde a ideia era achar o culpado por um crime dentro de uma lista de suspeitos pré-estabelecidos). Originalmente, o crime ocorreria fora das telas, e o suspense tomaria conta da história enquanto as pistas eram desvendadas. O uso da máscara pelo assassino (além de uma roupa que esconda boa parte de seu rosto) permite que não só que o assassinato inicial seja mostrado, mas também dá ao vilão a possibilidade de continuar a cometer crimes, visto que seu disfarce protege sua identidade.

Nesse tipo de filme, a aflição do público está em desvendar quem é o assassino entre os sobreviventes. E a cada nova vítima, a lista vai ficando menor. Nos casos dos grandes filmes do gênero, porém, isso não quer dizer que o mistério se torna mais fácil. Muitos filmes entregam seus assassinos na metade de sua duração, tornando o resto da jornada maçante para o público. Mas os realmente memoráveis aumentam a tensão conforme as mortes vão ocorrendo e as previsões do público vão se provando erradas, deixando-nos sem nenhuma ideia de como o filme vai acabar. Nesses casos, o prolongamento da franquia pode não ser uma boa ideia, visto que a saga tende a repetir sua fórmula de sucesso, tornando o que antes era uma ideia muito bem executada em uma repetição previsível e cansativa.

Esse é um tipo de terror muito diferente dos citados anteriormente por preservar o aspecto humano de seus assassinos. Jason e Myers não precisam se preocupar com suas identidades pois dificilmente podem ser parados ou punidos por seus crimes. Já assassinos como Ghostface, da franquia Pânico, precisam manter suas identidades em segredo pois são humanos normais e, por isso, muito mais suscetíveis a punições caso sejam descobertos. Ainda assim, existe uma semelhança entre os dois tipos de terror: a máscara permanece sendo a identidade principal do assassino. Poucos se lembram do nome exato de todos os personagens que usaram a máscara do Ghostface ao longo dos quatro (cinco no ano que vem) filmes, mas a máscara da figura branca gritando, com seu capuz e roupa preta cobrindo todo o corpo do assassino, é um dos rostos mais marcantes do terror.

Assassino de Pânico usa a máscara do Ghstface. com vários personagens diferentes assumindo a identidade, a máscara se tornou mais simbólica do que os assassinos em si.

A MÁSCARA COMO FONTE PRINCIPAL DO MEDO

Um outro efeito que as máscaras dos filmes de terror podem ter é o de provocar uma fobia particular nas pessoas: nosso medo de objetos humanoides. Mesmo que não assuma o grau de fobia, existe uma certa aversão generalizada a manequins, bonecas e outros objetos que se assemelham a humanos reais. No geral, podemos sentir uma certa ansiedade diante de algo que possui características extremamente humanas, mas não se comporta ou se move como um humano normal.

No caso das máscaras, a ideia é de que muitas delas evocam rostos perfeitamente humanos, ou no mínimo semelhantes a bonecas infantis. Contudo, suas expressões são endurecidas, imutáveis, permanecendo a mesma em diferentes situações que requerem reações diferentes. Essa falta de emoção, de movimento, de vida, causa desconforto nos que estão ao redor, mesmo que por trás da máscara exista de fato um humano normal.

Aproveitando-se dessa aversão das pessoas, o terror criou um sem fim de máscaras bastante humanoides que por si só já provocam ansiedade no público, ainda mais quando vestidas por um assassino com intenções macabras. Alguns filmes atuais do gênero Slasher, como A Morte Te Dá Parabéns, fizeram questão de empregar uma máscaras bastante perturbadoras, que evocam as expressões de um bebê sorridente, o que torna a situação ainda mais desconfortável e apreensiva. Colocados em filmes de terror, máscaras sorridentes se tornam o combustível para inúmeros pesadelos.

Assassino de a Morte te dá Parabéns, que usa uma perturbadora máscara semelhante a um bebê sorridente.

Mas às vezes a melhor saída é o uso de algo inexpressivo, congelado para sempre em um semblante indiferente, frio, incapaz de compaixão. Por isso a máscara de Michael Myers, que imita a feição do ator William Shatner, continua sendo uma das mais emblemáticas do gênero. Sem qualquer expressão, a máscara pálida tira qualquer coisa de humano de seu usuário. Combinado com a atitude sempre meticulosa e o completo silêncio do assassino, e não temos dificuldade em ver Myers como algo sobrenatural. Não por acaso, seu primeiro nome, antes de sua identidade real ser revelada, era "The Shape" (A Forma), sem qualquer identificação pessoal. Ele era apenas um vulto assassino vagando pelo mundo.

Michael Myers na versão de 2018 de Halloween, quando o personagem recupera a sua inexpressiva máscara.

Pior ainda é quando a máscara não só lembra de aspectos humanos, mas também é feita de partes humanas. No clássico O Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper, um dos aspectos mais tenebrosos de Leatherface é o fato de que sua máscara é uma costura de diversas partes de pele humana, formando um rosto despedaçado e deformado, mas que ainda tem semelhanças com algo humano. Perturbador por si só, o uso da pele de suas vítimas para criar um novo rosto que esconda seu semblante real aumenta ainda mais o pavor causado pela máscara, que já não é feita mais de algo sintético para imitar um humano, mas sim de algo que já foi um humano de verdade.

Cena do filme O Massacre d Serra Elétrica, em que o personagem Leatherface, com sua máscara de couro humano, persegue os personagens com sua serra.

A IDENTIDADE NO TERROR

Em todos esses casos, o uso da máscara carrega a mesma importância fundamental no terror: colocar o público em uma terrível expectativa pelo momento em que o assassino será revelado. Máscaras são o principal atributo do mistério que o gênero Slasher ainda carrega em si, e um aspecto dessas produções que não deve ser deixado de lado tão facilmente. Elas fazem uma atitude inumana parecer realizável por um humano, nos ajuda a enxergar o assassino como algo além da nossa compreensão e, quando por fim cai, revela que tamanha crueldade é possível para uma pessoa real.

Protegendo a identidade de seus usuários, elas assustam o público pela constatação da horrível realidade: qualquer personagem do filme pode estar atrás dela. Qualquer um que já não esteja morto pode ser aquele que, na verdade, está matando os outros. Independente de seus motivos serem bons ou ruins, suas ações estão acontecendo sem nenhuma consequência para o usuário até que ele finalmente seja revelado. E isso leva a uma ansiedade do público, movida pelo desejo de ver o disfarce cair de uma vez por todas, para que a onda de crimes termine.

E é por isso que, em muitos dos filmes nas quais são usadas, as máscaras se tornam mais icônicas do que o personagem que as usa. Porque quando esse personagem é revelado, termina o mistério e a ansiedade. mas enquanto houver algo cobrindo sua identidade, ele pode ser qualquer pessoa do filme, até mesmo o coadjuvante mais sem importância da trama. E, se houverem motivos suficientes para isso, podemos acreditar que qualquer um seja o assassino, mesmo a pessoa menos esperada.

confira o trailer

Análise & Opinião

Em diversos clássicos do terror, a história gira em torno de um assassino mascarado, sobrenatural ou não. A identidade desconhecida do vilão é um artifício usado pelo cinema para explorar nosso medo diante de uma identidade omissa para fazer o mal.

escrito por
Luis Henrique Franco
14/10/2021
nascimento

Em diversos clássicos do terror, a história gira em torno de um assassino mascarado, sobrenatural ou não. A identidade desconhecida do vilão é um artifício usado pelo cinema para explorar nosso medo diante de uma identidade omissa para fazer o mal.

escrito por
Luis Henrique Franco
14/10/2021

A ideia de se usar uma máscara é dar às pessoas uma noção de desconhecido. Seja em um baile, em uma apresentação ou show, o propósito de alguém usar uma máscara é justamente manter sua identidade secreta, conferindo a si mesmo uma aura de mistério que se torna, quando bem usada, um atrativo à curiosidade do público.

Em outros casos, no entanto, o uso dessa aura de mistério pode justamente evocar o medo e a apreensão diante de algo que não conhecemos, mas que nos parece perigoso. É por isso que as máscaras são artifícios comumente usados nos filmes de terror, principalmente pelo vilão do filme. Independente de se essa máscara serve a algum outro propósito na trama (omitir uma deformidade, por exemplo), o fato claro é que ela está a li para manter uma identidade em segredo, possibilitando que seu usuário siga com sua onda de crimes sem se preocupar com as consequências enquanto não é descoberto.

A MÁSCARA COMO IDENTIDADE

São vários os filmes que se valem de assassinos ou entidades mascaradas para provocar o medo, mas são poucos aqueles que realmente conseguiram deixar uma marca no público. Entre aqueles que obtiveram sucesso, existe um fato que os conecta além do gênero cinematográfico: em todos eles, a máscara importa mais do que aquele que a usa.

É notável essa diferença quando comparamos a identificação do público para com certas figuras conhecidas do terror. Os fãs de Wes Craven e do terror de Slasher rapidamente reconhecem Robert Englund como o lendário Freddy Krueger. Mesmo com toda a maquiagem colocada sobre ele para lhe dar o aspecto de uma figura queimada e deformada, o rosto de Englund é sempre visível nos filmes clássicos do personagem, sendo assim marcadamente reconhecido como o rosto de Krueger. Em contrapartida, quando pensamos em outras franquias de sucesso como Halloween ou Sexta-Feira 13, não há um rosto específico que vem à mente quando pensamos em Jason ou Michael Myers. Suas máscaras, no entanto, são parte de nossa cultura popular e facilmente identificáveis por seus traços únicos.

Michael Myers no filme original de Halloween, com a máscara que se tornaria sua marca reconhecida.

Esses são os grandes assassinos do Slasher, que se diferenciam de outros assassinos pelo fato de serem reconhecidos. Não há dúvida sobre a identidade de Michael Myers ou Jason Voorhees, a menos naqueles filmes em que um entusiasta deles decide usar ele próprio a máscara para lhes prestar homenagens. Mas esses casos são raros e pouco lembrados. Para o contexto geral, esses assassinos são o rosto de suas franquias. Curiosamente, esse rosto é o rosto da máscara, não do personagem em si.

A máscara de hóquei que tornou o personagem Jason Voorhees, de sexta-Feira 13, famoso.

No sentido de enredo e de trama, essa opção por um assassino que sempre usa algo cobrindo seu rosto cumpre mais do que a função de torná-lo desconhecido. Nos casos acima, quando a identidade do assassino é conhecida, o uso da máscara ajuda a criar uma atmosfera de inumanidade. Incapazes de identificarmos os assassinos como humanos, passamos a vê-los como entidades sobrenaturais, fora de qualquer espectro humano de realidade. E, se não são humanos, os assassinos não precisam se prender a noções humanas de pena ou remorso, podendo ser frios e monstruosos sem qualquer empecilho de emoções.

Quando analisamos do ponto de vista da construção e duração da franquia, entretanto, a identificação do público com a máscara e não com a pessoa acaba tendo uma outra vantagem. Ela permite que sequências contínuas sejam feitas ao longo de muitos anos para esses filmes. Inúmeros atores já passaram pela pele de Michael, Leatherface e Jason, por exemplo, e nenhum deles precisou regressar constantemente ao papel, ao contrário de Robert Englund, que sempre será o rosto de Freddy em A Hora do Pesadelo. Ajuda também que os dois primeiros sejam assassinos silenciosos, pois assim nem suas vozes ficam marcadas para com o público, como é o caso de Brad Dourif, que tornou memorável a voz do boneco Chucky em Brinquedo Assassino. Apenas as máscaras são o suficiente para eternizar esses assassinos na memória popular.

Robert Englund como Freddy Krueger. Mesmo cheio de maquiagem,  ator é um dos rostos mais reconhecidos do terror.

Pode parecer estranho colocar toda a identidade de um personagem no seu adereço. E é óbvio hoje em dia que, com o passar das décadas, os assassinos do Slasher perderam seu poder de aterrorizar o público. Mas em sua época aquilo era uma coisa nova. O cinema nunca foi estranho a mistérios de assassinato e filmes de crimes, mas sempre havia uma resposta para esses feitos que resolvia o problema. Nos Slashers, saber a identidade do assassino não resolve nada pois eles não estão escondendo quem eles são. As máscaras não são um subterfúgio, mas sim a sua real identidade.

A MÁSCARA COMO ANONIMATO E IMPUNIDADE

Como parte de um disfarce, o uso da máscara pode proporcionar uma certa sensação de liberdade para os atos. Quando se sente que ninguém vai reconhecê-lo, e comum ser tentado a cometer ações fora dos padrões e das regras. E é por isso que a sensação de anonimato e desconhecido causado pelas máscaras é tão assustador. Não se trata apenas de não conseguirmos reconhecer quem está por trás dela. A questão é que, uma vez não reconhecidos, os mascarados não se vêm mais limitados a seguirem regras e podem fazer o que bem entenderem.

Personagens de Noite de Crime usam máscaras durante o expurgo anual para esconder seus rostos, mesmo que, por natureza, seus crimes já sairiam impunes.

O artifício da máscara consegue introduzir o aspecto do terror às histórias do tipo "Whodunnit?" (mistérios onde a ideia era achar o culpado por um crime dentro de uma lista de suspeitos pré-estabelecidos). Originalmente, o crime ocorreria fora das telas, e o suspense tomaria conta da história enquanto as pistas eram desvendadas. O uso da máscara pelo assassino (além de uma roupa que esconda boa parte de seu rosto) permite que não só que o assassinato inicial seja mostrado, mas também dá ao vilão a possibilidade de continuar a cometer crimes, visto que seu disfarce protege sua identidade.

Nesse tipo de filme, a aflição do público está em desvendar quem é o assassino entre os sobreviventes. E a cada nova vítima, a lista vai ficando menor. Nos casos dos grandes filmes do gênero, porém, isso não quer dizer que o mistério se torna mais fácil. Muitos filmes entregam seus assassinos na metade de sua duração, tornando o resto da jornada maçante para o público. Mas os realmente memoráveis aumentam a tensão conforme as mortes vão ocorrendo e as previsões do público vão se provando erradas, deixando-nos sem nenhuma ideia de como o filme vai acabar. Nesses casos, o prolongamento da franquia pode não ser uma boa ideia, visto que a saga tende a repetir sua fórmula de sucesso, tornando o que antes era uma ideia muito bem executada em uma repetição previsível e cansativa.

Esse é um tipo de terror muito diferente dos citados anteriormente por preservar o aspecto humano de seus assassinos. Jason e Myers não precisam se preocupar com suas identidades pois dificilmente podem ser parados ou punidos por seus crimes. Já assassinos como Ghostface, da franquia Pânico, precisam manter suas identidades em segredo pois são humanos normais e, por isso, muito mais suscetíveis a punições caso sejam descobertos. Ainda assim, existe uma semelhança entre os dois tipos de terror: a máscara permanece sendo a identidade principal do assassino. Poucos se lembram do nome exato de todos os personagens que usaram a máscara do Ghostface ao longo dos quatro (cinco no ano que vem) filmes, mas a máscara da figura branca gritando, com seu capuz e roupa preta cobrindo todo o corpo do assassino, é um dos rostos mais marcantes do terror.

Assassino de Pânico usa a máscara do Ghstface. com vários personagens diferentes assumindo a identidade, a máscara se tornou mais simbólica do que os assassinos em si.

A MÁSCARA COMO FONTE PRINCIPAL DO MEDO

Um outro efeito que as máscaras dos filmes de terror podem ter é o de provocar uma fobia particular nas pessoas: nosso medo de objetos humanoides. Mesmo que não assuma o grau de fobia, existe uma certa aversão generalizada a manequins, bonecas e outros objetos que se assemelham a humanos reais. No geral, podemos sentir uma certa ansiedade diante de algo que possui características extremamente humanas, mas não se comporta ou se move como um humano normal.

No caso das máscaras, a ideia é de que muitas delas evocam rostos perfeitamente humanos, ou no mínimo semelhantes a bonecas infantis. Contudo, suas expressões são endurecidas, imutáveis, permanecendo a mesma em diferentes situações que requerem reações diferentes. Essa falta de emoção, de movimento, de vida, causa desconforto nos que estão ao redor, mesmo que por trás da máscara exista de fato um humano normal.

Aproveitando-se dessa aversão das pessoas, o terror criou um sem fim de máscaras bastante humanoides que por si só já provocam ansiedade no público, ainda mais quando vestidas por um assassino com intenções macabras. Alguns filmes atuais do gênero Slasher, como A Morte Te Dá Parabéns, fizeram questão de empregar uma máscaras bastante perturbadoras, que evocam as expressões de um bebê sorridente, o que torna a situação ainda mais desconfortável e apreensiva. Colocados em filmes de terror, máscaras sorridentes se tornam o combustível para inúmeros pesadelos.

Assassino de a Morte te dá Parabéns, que usa uma perturbadora máscara semelhante a um bebê sorridente.

Mas às vezes a melhor saída é o uso de algo inexpressivo, congelado para sempre em um semblante indiferente, frio, incapaz de compaixão. Por isso a máscara de Michael Myers, que imita a feição do ator William Shatner, continua sendo uma das mais emblemáticas do gênero. Sem qualquer expressão, a máscara pálida tira qualquer coisa de humano de seu usuário. Combinado com a atitude sempre meticulosa e o completo silêncio do assassino, e não temos dificuldade em ver Myers como algo sobrenatural. Não por acaso, seu primeiro nome, antes de sua identidade real ser revelada, era "The Shape" (A Forma), sem qualquer identificação pessoal. Ele era apenas um vulto assassino vagando pelo mundo.

Michael Myers na versão de 2018 de Halloween, quando o personagem recupera a sua inexpressiva máscara.

Pior ainda é quando a máscara não só lembra de aspectos humanos, mas também é feita de partes humanas. No clássico O Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper, um dos aspectos mais tenebrosos de Leatherface é o fato de que sua máscara é uma costura de diversas partes de pele humana, formando um rosto despedaçado e deformado, mas que ainda tem semelhanças com algo humano. Perturbador por si só, o uso da pele de suas vítimas para criar um novo rosto que esconda seu semblante real aumenta ainda mais o pavor causado pela máscara, que já não é feita mais de algo sintético para imitar um humano, mas sim de algo que já foi um humano de verdade.

Cena do filme O Massacre d Serra Elétrica, em que o personagem Leatherface, com sua máscara de couro humano, persegue os personagens com sua serra.

A IDENTIDADE NO TERROR

Em todos esses casos, o uso da máscara carrega a mesma importância fundamental no terror: colocar o público em uma terrível expectativa pelo momento em que o assassino será revelado. Máscaras são o principal atributo do mistério que o gênero Slasher ainda carrega em si, e um aspecto dessas produções que não deve ser deixado de lado tão facilmente. Elas fazem uma atitude inumana parecer realizável por um humano, nos ajuda a enxergar o assassino como algo além da nossa compreensão e, quando por fim cai, revela que tamanha crueldade é possível para uma pessoa real.

Protegendo a identidade de seus usuários, elas assustam o público pela constatação da horrível realidade: qualquer personagem do filme pode estar atrás dela. Qualquer um que já não esteja morto pode ser aquele que, na verdade, está matando os outros. Independente de seus motivos serem bons ou ruins, suas ações estão acontecendo sem nenhuma consequência para o usuário até que ele finalmente seja revelado. E isso leva a uma ansiedade do público, movida pelo desejo de ver o disfarce cair de uma vez por todas, para que a onda de crimes termine.

E é por isso que, em muitos dos filmes nas quais são usadas, as máscaras se tornam mais icônicas do que o personagem que as usa. Porque quando esse personagem é revelado, termina o mistério e a ansiedade. mas enquanto houver algo cobrindo sua identidade, ele pode ser qualquer pessoa do filme, até mesmo o coadjuvante mais sem importância da trama. E, se houverem motivos suficientes para isso, podemos acreditar que qualquer um seja o assassino, mesmo a pessoa menos esperada.

ARTIGOS relacionados

deixe seu comentário