No items found.

Biográfico

Biográfico

Os 80 Anos de Hayao Miyazaki

5/1/2021

Hayao Miyazaki é um dos maiores animadores do Japão, e suas produções conquistaram o coração de fãs ao longo de muitas décadas. Em seu aniversário de 80 anos, relembramos a carreira de um dos fundadores do Studio Ghibli.

escrito por
Luis Henrique Franco

Hayao Miyazaki é um dos maiores animadores do Japão, e suas produções conquistaram o coração de fãs ao longo de muitas décadas. Em seu aniversário de 80 anos, relembramos a carreira de um dos fundadores do Studio Ghibli.

escrito por
Luis Henrique Franco
5/1/2021
"Eu gostaria de fazer um filme para contar às crianças: É bom estar vivo."

Um dos maiores diretores de animação do Japão, Hayao Miyazaki conquistou renome e respeito internacional por suas histórias cheias de tramas bem trabalhadas, personagens divertidos e carismáticos e, acima de tudo, por animações estonteantes. Seu trabalho ao longo de quase seis décadas lhe valeu um prestígio internacional e a adoração de inúmeros fãs, dentro e fora do Japão.

No aniversário de 80 anos desse grande artista, relembramos um pouco da grande história de Hayao Miyazaki, que, com desenhos únicos e personagens que se conectam facilmente com o público, conseguiu criar uma enorme quantidade de histórias lembradas até hoje por sua beleza e mensagens profundas.

ESTÚDIO TOEI DOUGA: OS PRIMEIROS ANOS DA CARREIRA

Hayao Miyazaki nasceu em 5 de janeiro de 1941 em Tóquio. Durante seus primeiros anos, viveu os horrores da Segunda Guerra de perto, com sua família tendo de ser evacuada duas vezes após bombardeios nas cidades em que moravam. Com apenas quatro anos, ele presenciou o bombardeio de Utsunomiya, em 1944, que deixou uma forte impressão em sua vida.

Seu interesse por animação começou em seu primeiro ano na Escola Colegial Toyotama, quando assistiu ao filme A Lenda da Serpente Branca e se apaixonou pela protagonista. Na Universidade Gakushuin, ele entrou para o Clube de Pesquisa de Literatura Infantil. Em 1963, no mesmo ano em que se formou pela Universidade, Miyazaki foi contratado pelo Estúdio Toei Douga e já começou a trabalhar como artista intermediário no longa-metragem animado Doggie March e na série de televisão Ken, o Menino Lobo.

Desde o começo, demonstrou ter grande habilidade como desenhista, além de sempre apresentar ideias extremamente criativas, que ele propunha aos autores. Em 1964, trabalhou no filme As Viagens Espaciais de Gulliver, mesmo ano em que, após uma disputa trabalhista, tornou-se secretário-chefe do sindicato trabalhista da Toei. Em 1968, tornou-se animador chefe, artista conceitual e projetista de cena em Hórus: Príncipe do Sol, no qual atuou ao lado de seu mentor, Yasuo Otsuka, cuja abordagem para a animação influenciou os trabalhos posteriores de Miyazaki. O filme foi considerado como um marco na evolução da animação e marcou o início da longa parceria de de Miyazaki com o diretor Isao Takahata.

O CAMINHO ATÉ GHIBLI

Em 1971, Miyazaki deixou o Toei Douga e foi contratado pela A Production, onde dirigiu, ao lado de Takahata, 23 episódios da série de animação Lupin III. Os dois também tinham planos para uma série baseada nos livros de Pippi Meialonga, mas tiveram que cancelar o projeto após a autora dos livros não permitir a adaptação.

Em 1973, os dois deixam a A Production e se unem à Zuiyo Eizo, que mais tarde se tornaria a Nippon Animation. Ali, os dois trabalharam na World Masterpiece Theatre, série de animação japonesa que contava histórias de livros clássicos. Um dos trabalhos feitos por Miyazaki e Takahata foi Heidi, a Menina dos Alpes, adaptação do romance Heidi, de Johanna Spyri. Ele também dirigiu a série Conan, o Rapaz do Futuro, adaptação do romance The Incredible Tide, de Alexander Key.

Em 1979, Miyazaki deixou a Nippon Animation e foi trabalhar na Telecom Animation Film, onde dirigiu seu primeiro longa-metragem: O Castelo de Cagliostro, que conta com o retorno do personagem Arséne Lupin III, que foge de um cassino após executar um roubo, apenas para descobrir que as notas são falsas, o que o leva a buscar pela origem das falsificações no Ducado de Cagliostro, onde ajuda a filha do falecido grão-duque a enfrentar o seu noivo, um poderoso conde.

Após a estreia do longa, ele já começou a elaborar planos para uma possível adaptação do quadrinho Rowlf, de Richard Corben, mas não conseguiu seguir com a sua ideia para um filme devido ao fato de que os direitos sobre o quadrinho não haviam sido adquiridos pela Telecom. Após um acordo, Miyazaki pôde desenvolver seus esboços e ideias na forma de um mangá, com a garantia de que ele não seria transformado em filme. A obra foi intitulada Nausicaä do Vale do Vento, e foi publicada de 1982 a 1994. No mesmo ano do começo da publicação, Miyazaki se demitiu da Telecom. Foi só em 1984 que, após ser incentivado por Yasuyoshi Tokuma, que o diretor conseguiu produzir seu filme animado.

Nausicaä do Vale do Vento é considerado um dos principais trabalhos do diretor, tendo consolidado definitivamente sua reputação como animador. De acordo com críticos, o filme aborda temáticas antiguerra e aspectos feministas, o que é refutado por Miyazaki, que alega que o único objetivo da produção é o entretenimento. de qualquer forma, o filme foi bastante elogiado por sua representação positiva das mulheres, em especial na protagonista Nausicaä.

A CRIAÇÃO DO STUDIO GHIBLI E OS PRIMEIROS FILMES

Em 1985, Miyazaki fundou a sua própria companhia de animação ao lado de Takahata, Tokuma e do editor Toshio Suzuki, batizando-a de Studio Ghibli. Já em 1986, lançaram o seu primeiro filme, O Castelo no Céu, que se tornou a maior arrecadação do ano no Japão. Inspirado na arquitetura da Grécia Antiga e em padrões urbanistas europeus, o filme foi feito pela mesma equipe de Nausicaä do Vale do Vento e conta a história de um casal de jovens que luta para proteger um cristal mágico de um grupo de agentes militares, enquanto procura por um lendário castelo flutuante. Foi vencedor do Anime Grand Prix em 1986 e é considerado um marco da cultura steampunk, tendo influenciado diversos filmes e jogos subsequentes no Japão e internacionalmente.

Em 1988, a fim de garantir a situação financeira do Studio, Miyazaki lançou seu segundo filme, Meu Amigo Totoro, no mesmo momento em que Takahata lançou o seu icônico Túmulo dos Vagalumes. Isso resultou em uma produção simultânea caótica, na qual os artistas precisavam ficar trocando de projetos constantemente. Foi também essa situação que fez com que Meu Amigo Totoro não obtivesse tanto sucesso na bilheteria, apesar de ter sido extremamente elogiado e se tornado um grande clássico com o passar do tempo.

Logo depois, em 1989, lançou O Serviço de Entregas da Kiki, baseado na história de fantasia infantil Majo no Takkyubin, de Eiko Kadono. O filme arrecadou 2,15 trilhões de ienes nas bilheterias, se tornando a maior arrecadação do cinema japonês daquele ano. Ainda em 1989, Miyazaki publicou o mangá The Age of the Flying Boat, que serviu de inspiração para o seu próximo filme, Porco Rosso. A eclosão da Guerra Civil Iugoslava, no entanto, afetou o trabalho e fez com que filme tivesse um tom mais sombrio e uma forte mensagem antiguerra. Por causa disso, Miyazaki considerou o filme e seus temas como inapropriados para crianças. Apesar disso, Porco Rosso se manteve como o filme de animação de maior bilheteria no Japão por alguns anos.

O SUCESSO INTERNACIONAL

"Para aumentar seu público, você deve trair as expectativas dele."

Em 1994, Miyazaki começou a produzir os primeiros storyboards para a sua próxima animação, Princesa Mononoke, baseado em pensamentos e esboços preliminares originalmente concebidos na década de 70. Após sofrer um bloqueio criativo e se afastar um pouco da produção, ele levou sua equipe para as florestas da ilha de Yakushima, que inspiraram os cenários da animação.

Produzido com um orçamento estimado de 2,35 bilhões de ienes, Princesa Mononoke se tornou o filme mais caro do Studio Ghibli até então. Ele revisitou as temáticas políticas e ambientais de Nausicaä do Vale do Vento e marcou o primeiro trabalho do diretor com animações computadorizadas, aqui mescladas ainda com os desenhos tradicionais. O filme estreou em 1997 e foi aclamado pela crítica especializada, tornando-se o primeiro filme de animação a vencer o Prêmio da Academia Japonesa de Filme do Ano. O sucesso chamou a atenção dos estúdios Miramax, que compraram o direito de distribuição do longa, tornando-o a primeira produção do Studio Ghibli a receber uma grande distribuição na América do Norte e marcando a introdução da companhia nos mercados globais.

Apesar de ter alegado que Princesa Mononoke seria seu último filme, Miyazaki retornou em 2001 com A Viagem de Chihiro, filme concebido durante suas férias em família. Segundo ele, o filme tinha a intenção de apresentar uma heroína na qual garotas de dez anos poderiam se inspirar, uma que não oferecesse apenas paixões e romances como temas principais.

A Viagem de Chihiro também contou com animações computadorizadas, mas que foram mantidas a um nível restrito, de forma a apenas aprimorar a narrativa, e não roubar a cena. Tratando de temas como confiança, ganância e uma viagem pelo mundo dos espíritos, o longa recebeu aclamação da crítica e do público, tendo recebido o segundo Prêmio da Academia Japonesa de Filme do Ano do Studio Ghibli, além de conceder a Miyazaki o Oscar de Melhor Filme de Animação. Com uma arrecadação de 30,4 bilhões de ienes, é ainda hoje o filme de maior bilheteria de todos os tempos no Japão.

Inspirado pelo livro de Diana Wynne, Miyazaki dirigiu a animação O Castelo Animado, na qual conseguiu dar asas à sua imaginação para explicar como o edifício se movia. Como inspiração, baseou-se na arquitetura de cidades da Alsácia, na França, e em conceitos de tecnologia futurista das obras de Albert Robida. O longa foi produzido digitalmente, apesar de personagens de fundo e cenários terem sido desenhados a mão antes de serem digitalizados antes de serem digitalizados. Lançado em 2004, O Castelo Animado venceu o Prêmio Osela de Excelência Técnica no Festival Internacional de Cinema de Veneza e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Animado. No ano seguinte, Miyazaki recebeu um honorário Leão de Ouro no Festival de Veneza.

Em 2006, ele começou a produção de Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar, animação inspirada inicialmente no conto da Pequena Sereia, de Hans Christian Andersen, mas que depois começou a assumir uma forma única. Com um grande desejo de utilizar apenas animações tradicionais, o diretor se envolveu muito com a arte do filme, que celebra a inocência e positividade do universo de uma criança. Ponyo foi um enorme sucesso e faturou o prêmio de Animação do Ano da Academia do Japão.

OS ANOS ATUAIS

Entre 2009 e 2011, Miyazaki coescreveu os roteiros de O Mundo dos Pequeninos, dirigido por Hiromasa Yonebayashi, e Da Colina Kokuriko, de Goro Miyazaki. Em 2012, ele iniciou a produção de Vidas ao Vento, baseado em um mangá que el havia escrito no início de 2009. O filme estreou junto com O Conto da Princesa Kaguya, de Takahata. O filme, que continua a refletir o pacifismo das obras anteriores de Miyazaki, foi aclamado mundialmente, recebeu o o prêmio da Animação do Ano pela Academia do Japão e foi indicado ao Oscar.

Em 2013, Miyazaki anunciou que estava se aposentando dos longas-metragens, mas que desejava continuar trabalhando nas exibições do Museu Studio Ghibli. Desde então, seus trabalhos têm sido focados em curtas animados. Entre esses, destaca-se o projeto Boro e a Lagarta, projeto que estava sendo pensado desde os anos 90 e que foi exibido exclusivamente no Museu em 2018.

Por sua extensa carreira e contribuição ao universo da animação, Miyazaki recebeu um Oscar Honorário em 2014. O prêmio foi entregue por John Lasseter, diretor de criação da Pixar, que homenageou o diretor japonês, de quem havia se tornado amigo.

Em 2016, Miyazaki propôs um novo longa-metragem, Como Vocês Vivem?, e começou a trabalhar em sua animação sem receber uma aprovação oficial. Sua primeira previsão era terminar o filme em 2019. Porém, atrasos ocorreram e, atualmente, o filme não tem uma previsão de estreia.

OS TEMAS DE UM ANIMADOR

"A criação de um mundo único vem de um grande número de fragmentos e caos."

Os filmes de Miyazaki geralmente apresentam temas recorrentes, como ecologismo, pacifismo, amor, família. Também são caracterizados por nunca criarem um antagonista que careça de características redentoras. No tocante ao ecologismo, o diretor aponta para a fragilidade da Terra e enfatiza o seu desgosto por uma tecnologia excessiva e por uma cultura moderna "vazia e falsa", sendo também um crítico do capitalismo e da globalização e seus efeitos na vida das pessoas.

Outro tema bastante recorrente é o pacifismo e as mensagens antiguerra, presentes em Porco Rosso, Vidas ao Vento e no protagonista Ashitaka, de Princesa Mononoke. Também já foi apontado que tanto esse último filme quando Nausicaä do Vale do Vento não representam o mal tradicional dos filmes ocidentais, mas sim as raízes do mal no pensamento budista: a ganância, a má vontade e a desilusão.

Outro ponto muito forte nos filmes de Miyazaki é o protagonismo feminino. Suas animações, quando não são protagonizadas por uma mulher forte, geralmente apresentam uma personagem feminina em um papel importante na trama. O próprio diretor descreveu as suas personagens como "meninas corajosas e autossuficientes que não pensam duas vezes sobre lutar por aquilo que acreditam com todo o seu coração". Ele também afirmou que essas personagens "podem precisar de um amigo ou um apoiador, mas nunca de um salvador". Dotadas de personalidade e características complexas e individuais, geralmente ausentes em produções estadunidenses, as mulheres dos filmes de Miyazaki se destacam por suas jornadas de amadurecimento, nas quais descobrem suas características mais fortes e individuais.

Através de todos esses temas, Hayao Miyazaki conseguiu criar um vasto universo de produções maravilhosas e marcantes, cada uma com uma lição sobre autoconfiança, coragem, amor e família. Em seus 80 anos, ele se estabeleceu como um dos nomes mais marcantes da indústria da animação mundial, e seus filmes merecem ser reconhecidos não apenas pela beleza de seus desenhos, mas também pelo poder de suas mensagens.

No items found.
botão de dar play no vídeo
No items found.

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
saiba mais sobre o filme
saiba mais sobre a série

Hayao Miyazaki é um dos maiores animadores do Japão, e suas produções conquistaram o coração de fãs ao longo de muitas décadas. Em seu aniversário de 80 anos, relembramos a carreira de um dos fundadores do Studio Ghibli.

crítica por
Luis Henrique Franco
5/1/2021
"Eu gostaria de fazer um filme para contar às crianças: É bom estar vivo."

Um dos maiores diretores de animação do Japão, Hayao Miyazaki conquistou renome e respeito internacional por suas histórias cheias de tramas bem trabalhadas, personagens divertidos e carismáticos e, acima de tudo, por animações estonteantes. Seu trabalho ao longo de quase seis décadas lhe valeu um prestígio internacional e a adoração de inúmeros fãs, dentro e fora do Japão.

No aniversário de 80 anos desse grande artista, relembramos um pouco da grande história de Hayao Miyazaki, que, com desenhos únicos e personagens que se conectam facilmente com o público, conseguiu criar uma enorme quantidade de histórias lembradas até hoje por sua beleza e mensagens profundas.

ESTÚDIO TOEI DOUGA: OS PRIMEIROS ANOS DA CARREIRA

Hayao Miyazaki nasceu em 5 de janeiro de 1941 em Tóquio. Durante seus primeiros anos, viveu os horrores da Segunda Guerra de perto, com sua família tendo de ser evacuada duas vezes após bombardeios nas cidades em que moravam. Com apenas quatro anos, ele presenciou o bombardeio de Utsunomiya, em 1944, que deixou uma forte impressão em sua vida.

Seu interesse por animação começou em seu primeiro ano na Escola Colegial Toyotama, quando assistiu ao filme A Lenda da Serpente Branca e se apaixonou pela protagonista. Na Universidade Gakushuin, ele entrou para o Clube de Pesquisa de Literatura Infantil. Em 1963, no mesmo ano em que se formou pela Universidade, Miyazaki foi contratado pelo Estúdio Toei Douga e já começou a trabalhar como artista intermediário no longa-metragem animado Doggie March e na série de televisão Ken, o Menino Lobo.

Desde o começo, demonstrou ter grande habilidade como desenhista, além de sempre apresentar ideias extremamente criativas, que ele propunha aos autores. Em 1964, trabalhou no filme As Viagens Espaciais de Gulliver, mesmo ano em que, após uma disputa trabalhista, tornou-se secretário-chefe do sindicato trabalhista da Toei. Em 1968, tornou-se animador chefe, artista conceitual e projetista de cena em Hórus: Príncipe do Sol, no qual atuou ao lado de seu mentor, Yasuo Otsuka, cuja abordagem para a animação influenciou os trabalhos posteriores de Miyazaki. O filme foi considerado como um marco na evolução da animação e marcou o início da longa parceria de de Miyazaki com o diretor Isao Takahata.

O CAMINHO ATÉ GHIBLI

Em 1971, Miyazaki deixou o Toei Douga e foi contratado pela A Production, onde dirigiu, ao lado de Takahata, 23 episódios da série de animação Lupin III. Os dois também tinham planos para uma série baseada nos livros de Pippi Meialonga, mas tiveram que cancelar o projeto após a autora dos livros não permitir a adaptação.

Em 1973, os dois deixam a A Production e se unem à Zuiyo Eizo, que mais tarde se tornaria a Nippon Animation. Ali, os dois trabalharam na World Masterpiece Theatre, série de animação japonesa que contava histórias de livros clássicos. Um dos trabalhos feitos por Miyazaki e Takahata foi Heidi, a Menina dos Alpes, adaptação do romance Heidi, de Johanna Spyri. Ele também dirigiu a série Conan, o Rapaz do Futuro, adaptação do romance The Incredible Tide, de Alexander Key.

Em 1979, Miyazaki deixou a Nippon Animation e foi trabalhar na Telecom Animation Film, onde dirigiu seu primeiro longa-metragem: O Castelo de Cagliostro, que conta com o retorno do personagem Arséne Lupin III, que foge de um cassino após executar um roubo, apenas para descobrir que as notas são falsas, o que o leva a buscar pela origem das falsificações no Ducado de Cagliostro, onde ajuda a filha do falecido grão-duque a enfrentar o seu noivo, um poderoso conde.

Após a estreia do longa, ele já começou a elaborar planos para uma possível adaptação do quadrinho Rowlf, de Richard Corben, mas não conseguiu seguir com a sua ideia para um filme devido ao fato de que os direitos sobre o quadrinho não haviam sido adquiridos pela Telecom. Após um acordo, Miyazaki pôde desenvolver seus esboços e ideias na forma de um mangá, com a garantia de que ele não seria transformado em filme. A obra foi intitulada Nausicaä do Vale do Vento, e foi publicada de 1982 a 1994. No mesmo ano do começo da publicação, Miyazaki se demitiu da Telecom. Foi só em 1984 que, após ser incentivado por Yasuyoshi Tokuma, que o diretor conseguiu produzir seu filme animado.

Nausicaä do Vale do Vento é considerado um dos principais trabalhos do diretor, tendo consolidado definitivamente sua reputação como animador. De acordo com críticos, o filme aborda temáticas antiguerra e aspectos feministas, o que é refutado por Miyazaki, que alega que o único objetivo da produção é o entretenimento. de qualquer forma, o filme foi bastante elogiado por sua representação positiva das mulheres, em especial na protagonista Nausicaä.

A CRIAÇÃO DO STUDIO GHIBLI E OS PRIMEIROS FILMES

Em 1985, Miyazaki fundou a sua própria companhia de animação ao lado de Takahata, Tokuma e do editor Toshio Suzuki, batizando-a de Studio Ghibli. Já em 1986, lançaram o seu primeiro filme, O Castelo no Céu, que se tornou a maior arrecadação do ano no Japão. Inspirado na arquitetura da Grécia Antiga e em padrões urbanistas europeus, o filme foi feito pela mesma equipe de Nausicaä do Vale do Vento e conta a história de um casal de jovens que luta para proteger um cristal mágico de um grupo de agentes militares, enquanto procura por um lendário castelo flutuante. Foi vencedor do Anime Grand Prix em 1986 e é considerado um marco da cultura steampunk, tendo influenciado diversos filmes e jogos subsequentes no Japão e internacionalmente.

Em 1988, a fim de garantir a situação financeira do Studio, Miyazaki lançou seu segundo filme, Meu Amigo Totoro, no mesmo momento em que Takahata lançou o seu icônico Túmulo dos Vagalumes. Isso resultou em uma produção simultânea caótica, na qual os artistas precisavam ficar trocando de projetos constantemente. Foi também essa situação que fez com que Meu Amigo Totoro não obtivesse tanto sucesso na bilheteria, apesar de ter sido extremamente elogiado e se tornado um grande clássico com o passar do tempo.

Logo depois, em 1989, lançou O Serviço de Entregas da Kiki, baseado na história de fantasia infantil Majo no Takkyubin, de Eiko Kadono. O filme arrecadou 2,15 trilhões de ienes nas bilheterias, se tornando a maior arrecadação do cinema japonês daquele ano. Ainda em 1989, Miyazaki publicou o mangá The Age of the Flying Boat, que serviu de inspiração para o seu próximo filme, Porco Rosso. A eclosão da Guerra Civil Iugoslava, no entanto, afetou o trabalho e fez com que filme tivesse um tom mais sombrio e uma forte mensagem antiguerra. Por causa disso, Miyazaki considerou o filme e seus temas como inapropriados para crianças. Apesar disso, Porco Rosso se manteve como o filme de animação de maior bilheteria no Japão por alguns anos.

O SUCESSO INTERNACIONAL

"Para aumentar seu público, você deve trair as expectativas dele."

Em 1994, Miyazaki começou a produzir os primeiros storyboards para a sua próxima animação, Princesa Mononoke, baseado em pensamentos e esboços preliminares originalmente concebidos na década de 70. Após sofrer um bloqueio criativo e se afastar um pouco da produção, ele levou sua equipe para as florestas da ilha de Yakushima, que inspiraram os cenários da animação.

Produzido com um orçamento estimado de 2,35 bilhões de ienes, Princesa Mononoke se tornou o filme mais caro do Studio Ghibli até então. Ele revisitou as temáticas políticas e ambientais de Nausicaä do Vale do Vento e marcou o primeiro trabalho do diretor com animações computadorizadas, aqui mescladas ainda com os desenhos tradicionais. O filme estreou em 1997 e foi aclamado pela crítica especializada, tornando-se o primeiro filme de animação a vencer o Prêmio da Academia Japonesa de Filme do Ano. O sucesso chamou a atenção dos estúdios Miramax, que compraram o direito de distribuição do longa, tornando-o a primeira produção do Studio Ghibli a receber uma grande distribuição na América do Norte e marcando a introdução da companhia nos mercados globais.

Apesar de ter alegado que Princesa Mononoke seria seu último filme, Miyazaki retornou em 2001 com A Viagem de Chihiro, filme concebido durante suas férias em família. Segundo ele, o filme tinha a intenção de apresentar uma heroína na qual garotas de dez anos poderiam se inspirar, uma que não oferecesse apenas paixões e romances como temas principais.

A Viagem de Chihiro também contou com animações computadorizadas, mas que foram mantidas a um nível restrito, de forma a apenas aprimorar a narrativa, e não roubar a cena. Tratando de temas como confiança, ganância e uma viagem pelo mundo dos espíritos, o longa recebeu aclamação da crítica e do público, tendo recebido o segundo Prêmio da Academia Japonesa de Filme do Ano do Studio Ghibli, além de conceder a Miyazaki o Oscar de Melhor Filme de Animação. Com uma arrecadação de 30,4 bilhões de ienes, é ainda hoje o filme de maior bilheteria de todos os tempos no Japão.

Inspirado pelo livro de Diana Wynne, Miyazaki dirigiu a animação O Castelo Animado, na qual conseguiu dar asas à sua imaginação para explicar como o edifício se movia. Como inspiração, baseou-se na arquitetura de cidades da Alsácia, na França, e em conceitos de tecnologia futurista das obras de Albert Robida. O longa foi produzido digitalmente, apesar de personagens de fundo e cenários terem sido desenhados a mão antes de serem digitalizados antes de serem digitalizados. Lançado em 2004, O Castelo Animado venceu o Prêmio Osela de Excelência Técnica no Festival Internacional de Cinema de Veneza e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Animado. No ano seguinte, Miyazaki recebeu um honorário Leão de Ouro no Festival de Veneza.

Em 2006, ele começou a produção de Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar, animação inspirada inicialmente no conto da Pequena Sereia, de Hans Christian Andersen, mas que depois começou a assumir uma forma única. Com um grande desejo de utilizar apenas animações tradicionais, o diretor se envolveu muito com a arte do filme, que celebra a inocência e positividade do universo de uma criança. Ponyo foi um enorme sucesso e faturou o prêmio de Animação do Ano da Academia do Japão.

OS ANOS ATUAIS

Entre 2009 e 2011, Miyazaki coescreveu os roteiros de O Mundo dos Pequeninos, dirigido por Hiromasa Yonebayashi, e Da Colina Kokuriko, de Goro Miyazaki. Em 2012, ele iniciou a produção de Vidas ao Vento, baseado em um mangá que el havia escrito no início de 2009. O filme estreou junto com O Conto da Princesa Kaguya, de Takahata. O filme, que continua a refletir o pacifismo das obras anteriores de Miyazaki, foi aclamado mundialmente, recebeu o o prêmio da Animação do Ano pela Academia do Japão e foi indicado ao Oscar.

Em 2013, Miyazaki anunciou que estava se aposentando dos longas-metragens, mas que desejava continuar trabalhando nas exibições do Museu Studio Ghibli. Desde então, seus trabalhos têm sido focados em curtas animados. Entre esses, destaca-se o projeto Boro e a Lagarta, projeto que estava sendo pensado desde os anos 90 e que foi exibido exclusivamente no Museu em 2018.

Por sua extensa carreira e contribuição ao universo da animação, Miyazaki recebeu um Oscar Honorário em 2014. O prêmio foi entregue por John Lasseter, diretor de criação da Pixar, que homenageou o diretor japonês, de quem havia se tornado amigo.

Em 2016, Miyazaki propôs um novo longa-metragem, Como Vocês Vivem?, e começou a trabalhar em sua animação sem receber uma aprovação oficial. Sua primeira previsão era terminar o filme em 2019. Porém, atrasos ocorreram e, atualmente, o filme não tem uma previsão de estreia.

OS TEMAS DE UM ANIMADOR

"A criação de um mundo único vem de um grande número de fragmentos e caos."

Os filmes de Miyazaki geralmente apresentam temas recorrentes, como ecologismo, pacifismo, amor, família. Também são caracterizados por nunca criarem um antagonista que careça de características redentoras. No tocante ao ecologismo, o diretor aponta para a fragilidade da Terra e enfatiza o seu desgosto por uma tecnologia excessiva e por uma cultura moderna "vazia e falsa", sendo também um crítico do capitalismo e da globalização e seus efeitos na vida das pessoas.

Outro tema bastante recorrente é o pacifismo e as mensagens antiguerra, presentes em Porco Rosso, Vidas ao Vento e no protagonista Ashitaka, de Princesa Mononoke. Também já foi apontado que tanto esse último filme quando Nausicaä do Vale do Vento não representam o mal tradicional dos filmes ocidentais, mas sim as raízes do mal no pensamento budista: a ganância, a má vontade e a desilusão.

Outro ponto muito forte nos filmes de Miyazaki é o protagonismo feminino. Suas animações, quando não são protagonizadas por uma mulher forte, geralmente apresentam uma personagem feminina em um papel importante na trama. O próprio diretor descreveu as suas personagens como "meninas corajosas e autossuficientes que não pensam duas vezes sobre lutar por aquilo que acreditam com todo o seu coração". Ele também afirmou que essas personagens "podem precisar de um amigo ou um apoiador, mas nunca de um salvador". Dotadas de personalidade e características complexas e individuais, geralmente ausentes em produções estadunidenses, as mulheres dos filmes de Miyazaki se destacam por suas jornadas de amadurecimento, nas quais descobrem suas características mais fortes e individuais.

Através de todos esses temas, Hayao Miyazaki conseguiu criar um vasto universo de produções maravilhosas e marcantes, cada uma com uma lição sobre autoconfiança, coragem, amor e família. Em seus 80 anos, ele se estabeleceu como um dos nomes mais marcantes da indústria da animação mundial, e seus filmes merecem ser reconhecidos não apenas pela beleza de seus desenhos, mas também pelo poder de suas mensagens.

confira o trailer

Biográfico

Hayao Miyazaki

Hayao Miyazaki é um dos maiores animadores do Japão, e suas produções conquistaram o coração de fãs ao longo de muitas décadas. Em seu aniversário de 80 anos, relembramos a carreira de um dos fundadores do Studio Ghibli.

escrito por
Luis Henrique Franco
5/1/2021
Hayao Miyazaki
Diretor, Roteirista e Animador
nascimento
1941
Hayao Miyazaki é um dos maiores animadores do Japão e uma pessoa de enorme influência na animação japonesa, cujas produções junto do Studio Ghibli continuam a ser adoradas por todo inúmeras pessoas.

Hayao Miyazaki é um dos maiores animadores do Japão, e suas produções conquistaram o coração de fãs ao longo de muitas décadas. Em seu aniversário de 80 anos, relembramos a carreira de um dos fundadores do Studio Ghibli.

escrito por
Luis Henrique Franco
5/1/2021
"Eu gostaria de fazer um filme para contar às crianças: É bom estar vivo."

Um dos maiores diretores de animação do Japão, Hayao Miyazaki conquistou renome e respeito internacional por suas histórias cheias de tramas bem trabalhadas, personagens divertidos e carismáticos e, acima de tudo, por animações estonteantes. Seu trabalho ao longo de quase seis décadas lhe valeu um prestígio internacional e a adoração de inúmeros fãs, dentro e fora do Japão.

No aniversário de 80 anos desse grande artista, relembramos um pouco da grande história de Hayao Miyazaki, que, com desenhos únicos e personagens que se conectam facilmente com o público, conseguiu criar uma enorme quantidade de histórias lembradas até hoje por sua beleza e mensagens profundas.

ESTÚDIO TOEI DOUGA: OS PRIMEIROS ANOS DA CARREIRA

Hayao Miyazaki nasceu em 5 de janeiro de 1941 em Tóquio. Durante seus primeiros anos, viveu os horrores da Segunda Guerra de perto, com sua família tendo de ser evacuada duas vezes após bombardeios nas cidades em que moravam. Com apenas quatro anos, ele presenciou o bombardeio de Utsunomiya, em 1944, que deixou uma forte impressão em sua vida.

Seu interesse por animação começou em seu primeiro ano na Escola Colegial Toyotama, quando assistiu ao filme A Lenda da Serpente Branca e se apaixonou pela protagonista. Na Universidade Gakushuin, ele entrou para o Clube de Pesquisa de Literatura Infantil. Em 1963, no mesmo ano em que se formou pela Universidade, Miyazaki foi contratado pelo Estúdio Toei Douga e já começou a trabalhar como artista intermediário no longa-metragem animado Doggie March e na série de televisão Ken, o Menino Lobo.

Desde o começo, demonstrou ter grande habilidade como desenhista, além de sempre apresentar ideias extremamente criativas, que ele propunha aos autores. Em 1964, trabalhou no filme As Viagens Espaciais de Gulliver, mesmo ano em que, após uma disputa trabalhista, tornou-se secretário-chefe do sindicato trabalhista da Toei. Em 1968, tornou-se animador chefe, artista conceitual e projetista de cena em Hórus: Príncipe do Sol, no qual atuou ao lado de seu mentor, Yasuo Otsuka, cuja abordagem para a animação influenciou os trabalhos posteriores de Miyazaki. O filme foi considerado como um marco na evolução da animação e marcou o início da longa parceria de de Miyazaki com o diretor Isao Takahata.

O CAMINHO ATÉ GHIBLI

Em 1971, Miyazaki deixou o Toei Douga e foi contratado pela A Production, onde dirigiu, ao lado de Takahata, 23 episódios da série de animação Lupin III. Os dois também tinham planos para uma série baseada nos livros de Pippi Meialonga, mas tiveram que cancelar o projeto após a autora dos livros não permitir a adaptação.

Em 1973, os dois deixam a A Production e se unem à Zuiyo Eizo, que mais tarde se tornaria a Nippon Animation. Ali, os dois trabalharam na World Masterpiece Theatre, série de animação japonesa que contava histórias de livros clássicos. Um dos trabalhos feitos por Miyazaki e Takahata foi Heidi, a Menina dos Alpes, adaptação do romance Heidi, de Johanna Spyri. Ele também dirigiu a série Conan, o Rapaz do Futuro, adaptação do romance The Incredible Tide, de Alexander Key.

Em 1979, Miyazaki deixou a Nippon Animation e foi trabalhar na Telecom Animation Film, onde dirigiu seu primeiro longa-metragem: O Castelo de Cagliostro, que conta com o retorno do personagem Arséne Lupin III, que foge de um cassino após executar um roubo, apenas para descobrir que as notas são falsas, o que o leva a buscar pela origem das falsificações no Ducado de Cagliostro, onde ajuda a filha do falecido grão-duque a enfrentar o seu noivo, um poderoso conde.

Após a estreia do longa, ele já começou a elaborar planos para uma possível adaptação do quadrinho Rowlf, de Richard Corben, mas não conseguiu seguir com a sua ideia para um filme devido ao fato de que os direitos sobre o quadrinho não haviam sido adquiridos pela Telecom. Após um acordo, Miyazaki pôde desenvolver seus esboços e ideias na forma de um mangá, com a garantia de que ele não seria transformado em filme. A obra foi intitulada Nausicaä do Vale do Vento, e foi publicada de 1982 a 1994. No mesmo ano do começo da publicação, Miyazaki se demitiu da Telecom. Foi só em 1984 que, após ser incentivado por Yasuyoshi Tokuma, que o diretor conseguiu produzir seu filme animado.

Nausicaä do Vale do Vento é considerado um dos principais trabalhos do diretor, tendo consolidado definitivamente sua reputação como animador. De acordo com críticos, o filme aborda temáticas antiguerra e aspectos feministas, o que é refutado por Miyazaki, que alega que o único objetivo da produção é o entretenimento. de qualquer forma, o filme foi bastante elogiado por sua representação positiva das mulheres, em especial na protagonista Nausicaä.

A CRIAÇÃO DO STUDIO GHIBLI E OS PRIMEIROS FILMES

Em 1985, Miyazaki fundou a sua própria companhia de animação ao lado de Takahata, Tokuma e do editor Toshio Suzuki, batizando-a de Studio Ghibli. Já em 1986, lançaram o seu primeiro filme, O Castelo no Céu, que se tornou a maior arrecadação do ano no Japão. Inspirado na arquitetura da Grécia Antiga e em padrões urbanistas europeus, o filme foi feito pela mesma equipe de Nausicaä do Vale do Vento e conta a história de um casal de jovens que luta para proteger um cristal mágico de um grupo de agentes militares, enquanto procura por um lendário castelo flutuante. Foi vencedor do Anime Grand Prix em 1986 e é considerado um marco da cultura steampunk, tendo influenciado diversos filmes e jogos subsequentes no Japão e internacionalmente.

Em 1988, a fim de garantir a situação financeira do Studio, Miyazaki lançou seu segundo filme, Meu Amigo Totoro, no mesmo momento em que Takahata lançou o seu icônico Túmulo dos Vagalumes. Isso resultou em uma produção simultânea caótica, na qual os artistas precisavam ficar trocando de projetos constantemente. Foi também essa situação que fez com que Meu Amigo Totoro não obtivesse tanto sucesso na bilheteria, apesar de ter sido extremamente elogiado e se tornado um grande clássico com o passar do tempo.

Logo depois, em 1989, lançou O Serviço de Entregas da Kiki, baseado na história de fantasia infantil Majo no Takkyubin, de Eiko Kadono. O filme arrecadou 2,15 trilhões de ienes nas bilheterias, se tornando a maior arrecadação do cinema japonês daquele ano. Ainda em 1989, Miyazaki publicou o mangá The Age of the Flying Boat, que serviu de inspiração para o seu próximo filme, Porco Rosso. A eclosão da Guerra Civil Iugoslava, no entanto, afetou o trabalho e fez com que filme tivesse um tom mais sombrio e uma forte mensagem antiguerra. Por causa disso, Miyazaki considerou o filme e seus temas como inapropriados para crianças. Apesar disso, Porco Rosso se manteve como o filme de animação de maior bilheteria no Japão por alguns anos.

O SUCESSO INTERNACIONAL

"Para aumentar seu público, você deve trair as expectativas dele."

Em 1994, Miyazaki começou a produzir os primeiros storyboards para a sua próxima animação, Princesa Mononoke, baseado em pensamentos e esboços preliminares originalmente concebidos na década de 70. Após sofrer um bloqueio criativo e se afastar um pouco da produção, ele levou sua equipe para as florestas da ilha de Yakushima, que inspiraram os cenários da animação.

Produzido com um orçamento estimado de 2,35 bilhões de ienes, Princesa Mononoke se tornou o filme mais caro do Studio Ghibli até então. Ele revisitou as temáticas políticas e ambientais de Nausicaä do Vale do Vento e marcou o primeiro trabalho do diretor com animações computadorizadas, aqui mescladas ainda com os desenhos tradicionais. O filme estreou em 1997 e foi aclamado pela crítica especializada, tornando-se o primeiro filme de animação a vencer o Prêmio da Academia Japonesa de Filme do Ano. O sucesso chamou a atenção dos estúdios Miramax, que compraram o direito de distribuição do longa, tornando-o a primeira produção do Studio Ghibli a receber uma grande distribuição na América do Norte e marcando a introdução da companhia nos mercados globais.

Apesar de ter alegado que Princesa Mononoke seria seu último filme, Miyazaki retornou em 2001 com A Viagem de Chihiro, filme concebido durante suas férias em família. Segundo ele, o filme tinha a intenção de apresentar uma heroína na qual garotas de dez anos poderiam se inspirar, uma que não oferecesse apenas paixões e romances como temas principais.

A Viagem de Chihiro também contou com animações computadorizadas, mas que foram mantidas a um nível restrito, de forma a apenas aprimorar a narrativa, e não roubar a cena. Tratando de temas como confiança, ganância e uma viagem pelo mundo dos espíritos, o longa recebeu aclamação da crítica e do público, tendo recebido o segundo Prêmio da Academia Japonesa de Filme do Ano do Studio Ghibli, além de conceder a Miyazaki o Oscar de Melhor Filme de Animação. Com uma arrecadação de 30,4 bilhões de ienes, é ainda hoje o filme de maior bilheteria de todos os tempos no Japão.

Inspirado pelo livro de Diana Wynne, Miyazaki dirigiu a animação O Castelo Animado, na qual conseguiu dar asas à sua imaginação para explicar como o edifício se movia. Como inspiração, baseou-se na arquitetura de cidades da Alsácia, na França, e em conceitos de tecnologia futurista das obras de Albert Robida. O longa foi produzido digitalmente, apesar de personagens de fundo e cenários terem sido desenhados a mão antes de serem digitalizados antes de serem digitalizados. Lançado em 2004, O Castelo Animado venceu o Prêmio Osela de Excelência Técnica no Festival Internacional de Cinema de Veneza e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Animado. No ano seguinte, Miyazaki recebeu um honorário Leão de Ouro no Festival de Veneza.

Em 2006, ele começou a produção de Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar, animação inspirada inicialmente no conto da Pequena Sereia, de Hans Christian Andersen, mas que depois começou a assumir uma forma única. Com um grande desejo de utilizar apenas animações tradicionais, o diretor se envolveu muito com a arte do filme, que celebra a inocência e positividade do universo de uma criança. Ponyo foi um enorme sucesso e faturou o prêmio de Animação do Ano da Academia do Japão.

OS ANOS ATUAIS

Entre 2009 e 2011, Miyazaki coescreveu os roteiros de O Mundo dos Pequeninos, dirigido por Hiromasa Yonebayashi, e Da Colina Kokuriko, de Goro Miyazaki. Em 2012, ele iniciou a produção de Vidas ao Vento, baseado em um mangá que el havia escrito no início de 2009. O filme estreou junto com O Conto da Princesa Kaguya, de Takahata. O filme, que continua a refletir o pacifismo das obras anteriores de Miyazaki, foi aclamado mundialmente, recebeu o o prêmio da Animação do Ano pela Academia do Japão e foi indicado ao Oscar.

Em 2013, Miyazaki anunciou que estava se aposentando dos longas-metragens, mas que desejava continuar trabalhando nas exibições do Museu Studio Ghibli. Desde então, seus trabalhos têm sido focados em curtas animados. Entre esses, destaca-se o projeto Boro e a Lagarta, projeto que estava sendo pensado desde os anos 90 e que foi exibido exclusivamente no Museu em 2018.

Por sua extensa carreira e contribuição ao universo da animação, Miyazaki recebeu um Oscar Honorário em 2014. O prêmio foi entregue por John Lasseter, diretor de criação da Pixar, que homenageou o diretor japonês, de quem havia se tornado amigo.

Em 2016, Miyazaki propôs um novo longa-metragem, Como Vocês Vivem?, e começou a trabalhar em sua animação sem receber uma aprovação oficial. Sua primeira previsão era terminar o filme em 2019. Porém, atrasos ocorreram e, atualmente, o filme não tem uma previsão de estreia.

OS TEMAS DE UM ANIMADOR

"A criação de um mundo único vem de um grande número de fragmentos e caos."

Os filmes de Miyazaki geralmente apresentam temas recorrentes, como ecologismo, pacifismo, amor, família. Também são caracterizados por nunca criarem um antagonista que careça de características redentoras. No tocante ao ecologismo, o diretor aponta para a fragilidade da Terra e enfatiza o seu desgosto por uma tecnologia excessiva e por uma cultura moderna "vazia e falsa", sendo também um crítico do capitalismo e da globalização e seus efeitos na vida das pessoas.

Outro tema bastante recorrente é o pacifismo e as mensagens antiguerra, presentes em Porco Rosso, Vidas ao Vento e no protagonista Ashitaka, de Princesa Mononoke. Também já foi apontado que tanto esse último filme quando Nausicaä do Vale do Vento não representam o mal tradicional dos filmes ocidentais, mas sim as raízes do mal no pensamento budista: a ganância, a má vontade e a desilusão.

Outro ponto muito forte nos filmes de Miyazaki é o protagonismo feminino. Suas animações, quando não são protagonizadas por uma mulher forte, geralmente apresentam uma personagem feminina em um papel importante na trama. O próprio diretor descreveu as suas personagens como "meninas corajosas e autossuficientes que não pensam duas vezes sobre lutar por aquilo que acreditam com todo o seu coração". Ele também afirmou que essas personagens "podem precisar de um amigo ou um apoiador, mas nunca de um salvador". Dotadas de personalidade e características complexas e individuais, geralmente ausentes em produções estadunidenses, as mulheres dos filmes de Miyazaki se destacam por suas jornadas de amadurecimento, nas quais descobrem suas características mais fortes e individuais.

Através de todos esses temas, Hayao Miyazaki conseguiu criar um vasto universo de produções maravilhosas e marcantes, cada uma com uma lição sobre autoconfiança, coragem, amor e família. Em seus 80 anos, ele se estabeleceu como um dos nomes mais marcantes da indústria da animação mundial, e seus filmes merecem ser reconhecidos não apenas pela beleza de seus desenhos, mas também pelo poder de suas mensagens.

ARTIGOS relacionados

deixe seu comentário