Filmes de terror que mexem com assombrações geralmente empregam objetos inanimados para serem possuídos por algum espírito ou demônio para assustar os protagonistas e fazer da vida deles um inferno macabro. Esses objetos são diversos e podem variar desde um giz de cera usado para escrever palavras macabras nas paredes, até um móvel que é arremessado contra uma pessoa com violência. Contudo, nenhum objeto causa tantos arrepios quanto as bonecas e bonecos que, em determinados filmes, são usados como receptáculos sinistros para os demônios.
Apesar de serem uma parte muito antiga da nossa cultura, as bonecas costumam causar arrepios e sensações estranhas em todos nós. O que será que é a causa principal desse medo? No texto abaixo, relembraremos alguns dos brinquedos mais memoráveis do terror.
AS BONECAS NA SOCIEDADE

Existentes desde os primórdios da civilização, as bonecas foram utilizadas para muitas funções ao longo da história, sendo inclusive colocadas como protetoras nos túmulos infantis no Egito Antigo e na Babilônia.
Em muitas culturas ocidentais, a boneca era um brinquedo geralmente relacionado ao preparo das meninas para a maternidade, usadas principalmente para ensinar as mulheres como cuidar, alimentar e tratar seus futuros filhos. O aspecto humano que elas geralmente possuíam e a semelhança com crianças pequenas contribuíam para esse fator, e a perduração dessa função durante séculos na sociedade contribuiu para alimentar o preconceito de que bonecas eram brinquedo de menina com o qual homens não podiam brincar.
Mesmo após o início da fabricação de bonecas com propósito comercial, na Alemanha do século XV, elas continuaram a serem vistas como um artefato preparatório para a maternidade e como um brinquedo para mulheres. Também eram um produto restrito às classes mais abastadas, o que logo levou a sua produção a obter toques de vestimentas ou de design que eram feitos por profissionais de renome, com o intuito de aumentar seu valor comercial. Assim, as classes mais altas viviam com bonecas feitas de porcelana e madeira e com trajes de época costurados artesanalmente. O passar do tempo resultou em evoluções no seu modo de fabricação, chegando até o advento da boneca elétrica.
CULTOS E O MEDO DE BONECAS
Em algumas outras culturas, no entanto, esses "brinquedos" costumam ser usados para outros fins, em geral envolvendo algum teor místico ou religioso. É comum em alguns lugares a utilização de bonecas como receptáculos para espíritos, uma forma de prender o imaterial a uma forma sólida. Por causa desse aspecto, muitas bonecas são utilizadas como forma de comunicação com o mundo espiritual e servem como prisões para maus espíritos e como artefatos de proteção. Em culturas africanas e caribenhas, em especial a prática vodu, bonecos representando pessoas reais costumam ser usados como uma forma de amaldiçoar a pessoa e levar os maus espíritos a caírem sobre ela, apesar de essa técnica ser mais comum na prática do chamado “Vodu de Louisiana”.

Por causa de sua mitologia espiritual, e também devido à sua semelhança com um ser humano real, as bonecas são objetos que costumam causar muitos arrepios e medos em boa parte das pessoas. Sua presença transmite uma sensação de insegurança, como se houvesse algo errado acontecendo. As bonecas falantes tornam-se ainda piores, pois a fala as torna ainda mais horripilantes e aumenta essa insegurança. Sentimos uma certa estranheza, repulsa por coisas que se comportam como nós, mas não são humanos. O familiar que não é parecido conosco e, por isso, causa estranheza.
Aproveitando-se desse fator de estranhamento e arrepio, Hollywood explorou esse medo tão comum entre as pessoas para criar alguns dos personagens mais marcantes do terror. Apesar de muitas vezes inertes, esses bonecos e bonecas causam ainda causam muito medo nos telespectadores em geral.
A GRANDE FAMÍLIA CHUCKY
Talvez um dos rostos mais icônicos do terror, o boneco Chucky, estrela principal do clássico Brinquedo Assassino, é um boneco que representa um pequeno menino ruivo. Quando o serial killer Charles Lee Ray (Brad Dourif) é perseguido e morto pela polícia, ele usa magia negra para transmitir sua alma para o boneco antes de morrer, dando vida ao boneco inanimado. Comprado por uma mãe desavisada, Chucky continua a saga de terror do criminoso, possuindo agora um disfarce perfeito (quem suspeitaria de um brinquedo). Apenas o garoto Andy Barclay (Alex Vincent) sabe que o boneco está vivo, mas ninguém acredita nele, forçando-o a lutar sozinho contra essa ameaça.
Como qualquer outra saga de terror, Brinquedo Assassino rendeu diversas continuações. Em 1998, foi introduzida Tiffany (Jennifer Tilly), uma serial-killer apaixonada por Charles Lee Ray que, depois de ser morta e ter sua alma presa em uma boneca, torna-se a esposa do assassino de brinquedo. O relacionamento dos dois, porém, não é dos melhores, visto que um vive tentando matar o outro ao mesmo tempo em que realizam seus crimes. Em 2004, o casal de criminosos foi ainda mais longe e conseguiu um filho, Glen (Billy Boyd), que os revive e os leva para Hollywood, onde um filme sobre os assassinatos cometidos pelos dois está já em produção. No entanto, Glen não gosta de seguir os passos dos pais, para desespero de Chucky.
A franquia do Brinquedo Assassino é uma das mais famosas do gênero do terror e trabalhou com um humor mais sarcástico, misturando a mentalidade de um assassino ao corpo de um brinquedo infantil, que supostamente deveria transmitir inocência.
POSSUÍDA PELO CAPETA
Em muitos casos, os bonecos não precisam nem criar vida para serem assustadores. A própria aparência deles acaba por fazer esse serviço. Um dos objetos mais famosos da saga Invocação do Mal, a boneca Annabelle é a prova disso. Toda a trama e todo o terror gira em torno da possessão do objeto por um demônio, e os eventos paranormais se dão por causa dessa possessão. No entanto, o próprio visual feio e macabro da boneca acaba por gerar uma situação de desconforto mesmo antes da possessão. Chegamos até a questionar porque o casal do primeiro filme solo da boneca decide ficar com ela.
Tentando usar a filha do casal para fazer a mulher entregar sua alma e se matar, um demônio começa a manipular o brinquedo, fazendo-o aparecer em lugares improváveis, levitar e atacar a mulher, enlouquecendo-a durante dias e fazendo-a ter alucinações perturbadoras. Tendo deixado a casa do casal e parado em uma casa de freiras, a boneca é investigada por Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), demonologistas que tentam extrair o mal de dentro dela, mas que são forçados a mantê-la trancada em uma caixa própria, na qual ela é constantemente benzida por um padre.
Em uma prequel lançada recentemente nos cinemas, é contada a história de origem de Annabelle. Em Annabelle: Creation, ficamos sabendo como, anos após a morte de sua única filha, um fabricante de bonecas (Anthony LaPaglia) e sua esposa (Miranda Otto), passam a sofrer com a fúria da criação possuída do fabricante, uma boneca que busca trazer a eles lembranças de sua filha.
PALHAÇO CRUEL
Para alguns, a aflição que os bonecos causam não é o bastante. É preciso juntar duas coisas que causam arrepios e fazer um boneco com rosto de palhaço. O motivo para as pessoas terem medo de palhaços é quase o mesmo: um estranhamento que se tem diante de algo que é semelhante a nós, mas ainda assim não parece certo aos nossos olhos, o que gera uma insegurança ao estarmos perto deles. E o cinema fez questão de utilizar essa questão para dar vida aos palhaços mais assustadores já vistos.

Nesse caso em particular, o filme Poltergeist apresenta a nós uma família que acaba de se mudar para uma casa construída em cima de um antigo cemitério indígena. Sem saber do lugar assombrado, eles passam a ser perturbados e atacados pelos espíritos do local, que estão furiosos por terem seu local de descanso perturbado e começam a se apossar das coisas da casa. Os principais objetos possuídos são a televisão e um boneco vestido de palhaço que pertence ao filho do casal.
Mesmo antes da possessão, ninguém tem uma visão muito boa desse boneco, e todo mundo já percebe que ele será um problema. Seu visual grotesco e o fato de ele estar sempre encostado em uma cadeira no quarto provocam uma certa ansiedade, o que colabora para aumentar ainda mais o medo sentido quando ele é finalmente possuído e ataca o garoto na cama. De certa forma, ele está lá como um preparatório para o que vai acontecer. Ninguém que vê o filme olha para o palhaço e não tem certeza imediata de que ele será usado para o mal. É o aspecto horripilante do boneco, sua presença desconfortável, que já nos coloca em estado de alerta e é utilizada com maestria pelo filme.
O REI DA TORTURA

Em alguns casos, não é necessária uma possessão demoníaca para fazer um boneco ser assustador, muitas vezes, tudo o que é necessário é um maníaco controlando-o. Esse exemplo pode ser visto em Jigsaw, o boneco maligno da franquia Jogos Mortais. Comandado pelo notório serial-killer John Kramer (Tobin Bell), o boneco é o rosto terrível que assombra os participantes de seus “jogos”.
Por trás de sua proteção de telas e câmeras, Jigsaw dá dicas aos jovens capturados sobre o que eles devem fazer para sobreviver, geralmente os conduzindo por um caminho cheio de torturas e dores para o seu prazer, geralmente os fazendo cortar partes de seus próprios corpos, entrar em locais com produtos perigosos ou terem de escapar de armadilhas mortais.
Durante sete filmes, observamos as armadilhas mortais serem comandadas pelo boneco diabólico, e fomos tomados por um sentimento de desconfiança e medo ao nos darmos conta de que aquele pequeno boneco não passa de um disfarce, um fantoche a serviço de um homem extremamente inteligente e cruel, que não se revela para suas vítimas. Ao contrário dos outros bonecos dessa lista, Jigsaw não está possuído por um espírito ou por um demônio, mas é controlado por um ser humano normal, alguém que poderia muito bem ser real.
O BRINQUEDO DO MAL
Para finalizar nossa lista de brinquedos demoníacos selecionamos um mais recente nesse universo particular do terror. Em Boneco do Mal (The Boy, 2016), uma babá americana (Lauren Cohan) é contratada por um casal inglês para cuidar de seu filho. Ao chegar lá, porém, ela descobre que a criança da qual ela vai ter que cuidar é, na realidade, um boneco em tamanho real de um menino.
Por não acreditar que ele seja de verdade, ela acaba por descumprir uma série de regras muito rígidas, gerando uma série de eventos macabros e estranhos, que a levam, no final, a pensar que o boneco está mesmo vivo.

O assustador desse filme acaba nem sendo os eventos macabros, a ideia de que o boneco está possuído por um espírito morto ou o fato de que a babá presencia seu pior pesadelo enquanto está na casa. A ideia de um casal tomando conta de um boneco como se fosse um filho de verdade é perturbadora demais para qualquer ser humano normal. De certa forma, o filme analisa o comportamento de pessoas que acreditam que seus bonecos são pessoas reais.
ELA ESTÁ DE VOLTA
Com o universo de Invocação do Mal se expandindo a cada ano, grandes personagens dessa franquia eventualmente fazem seus retornos para o universo dos filmes. Sendo assim, é óbvio
que a adorada Annabelle logo seria trazida de volta novamente para o seu terceiro filme. Dessa vez, a boneca possuída vai assombrar a casa da família Warren, e causar grandes problemas para a filha do casal de demonologistas e pesquisadores do sobrenatural.