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Análise & Opinião

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Entre o Clássico e o Atual: Convenção das Bruxas

19/11/2020

Em uma era onde remakes dominam o cinema, Convenção das Bruxas ressurge com a mesma história, mas uma nova forma, que emprega mais efeitos especiais e menos maquiagens e animatrônicos. Poderia essa nova versão se comparar ao original de 1990?

escrito por
Luis Henrique Franco

Em uma era onde remakes dominam o cinema, Convenção das Bruxas ressurge com a mesma história, mas uma nova forma, que emprega mais efeitos especiais e menos maquiagens e animatrônicos. Poderia essa nova versão se comparar ao original de 1990?

escrito por
Luis Henrique Franco
19/11/2020

Vivemos em uma época em que o cinema é dominado por efeitos especiais e por remakes de filmes antigos que, apesar de não serem grandes clássicos, são famosos o suficiente para provocarem nostalgia no público. Diante desse sentimento, as novas produções buscam se vender como uma nova visão, incorporam elementos mais modernos e "atualizando" os clássicos. Essa tendência, no entanto, possui um efeito negativo, visto que o excesso de efeitos visuais muitas vezes tira a magia e as características que fizeram o original ser tão amado por sua audiência.

Convenção das Bruxas é o mais novo filme a entrar nesse hall polêmico. Baseado no icônico filme de horror infantil de 1990, Robert Zemeckis buscou dar uma nova forma a um filme que conquistou uma enorme simpatia do público, trazendo um novo elenco e substituindo alguns dos trabalhos de maquiagem e efeitos práticos do original por CGI e efeitos de computador em sua maioria. Mas poderia essa mudança ser benéfica para o filme, ou fará com que ele perca a essência do original?

A FANTASIA PALPÁVEL

O filme Convenção das Bruxas original foi muito influenciado pelo trabalhado de Jim Henson, que empregou uma grande quantidade de efeitos práticos ao criar a sua história sobre uma criança que vai para um hotel com sua avó, onde descobre uma sinistra convenção secreta de bruxas que tem como objetivo acabar com todas as crianças no mundo.

A ideia da fantasia é vender algo que seria impossível no mundo real e convencer o público de que aquilo é real. Assim sendo, mesmo que a maquiagem das personagens do filme, em especial a da líder das bruxas, interpretada por Anjelica Huston, apresente criaturas imaginárias e que não existem no nosso mundo, o trabalho empregado em Convenção das Bruxas é extremamente bem-sucedido por tornar esses seres fantásticos em algo palpável, personagens que o público sabem estarem presentes na cena ao invés de serem inseridos nela digitalmente depois.

Esse era um dos grandes marcos dos filmes de fantasia do passado. Sabia-se muito bem que os personagens eram fantoches ou atores com um grande excesso de maquiagem. Mas mesmo com essa aparência "fake", os filmes obtinham sucesso em conquistar seu público por apresentarem personagens que eram reais no sentido de estarem ali, em cena. De não serem só algo que o público podia ver, mas algo que eles sentiam que podiam tocar também. Essa sensação imortalizou filmes fantásticos como clássicos cult, destacando-se entre eles O Cristal Encantado, também de Jim Henson, e A História Sem Fim. Entre filmes mais icônicos, essa preferência por efeitos práticos e palpáveis foi um dos motivos do enorme sucesso de Jurassic Park.

Por essas razões é que o primeiro Convenção das Bruxas se tornou um clássico dos anos 90, e mesmo que seus efeitos já estejam ultrapassados nos dias de hoje, a maneira como eles se conectam à história, incrementando-a, faz com que esse filme perdure na memória das pessoas.

OS TRIUNFOS DA ERA COMPUTADORIZADA

O remake de Convenção das Bruxas deve seguir a mesma fórmula dos demais remakes que estão sendo feitos atualmente: apresentar uma história já conhecida, provavelmente com algumas alterações mínimas, e valer-se de todas as ferramentas de efeitos visuais e computadorizados que for possível para tornar essa versão mais moderna aos olhos do espectador. Apesar de se arriscar a perder parte da essência que tornou o primeiro filme tão famoso, não é o emprego de efeitos visuais o principal problema dessa versão.

Ao longo dos últimos anos, o CGI e os efeitos computadorizados conquistaram um espaço inegável no universo cinematográfico. Quando se permite que os profissionais dessa nova área tenham espaço e tempo para trabalhar, os resultados são os mais impressionantes possíveis, desde a criação de grandes naves até o design de monstros absurdamente fantásticos. Mesmo que o espectador consiga perceber que tais criações são frutos de efeitos visuais, a maneira como eles são construídos é surpreendente e leva o público a acreditar naquilo que está vendo. Mas para isso, é preciso que se dê tempo e espaço para o desenvolvimento dos efeitos.

Bons efeitos especiais sobrevivem ao teste do tempo. Seu uso em franquias como Star Wars, o Universo Marvel e O Senhor dos Anéis provam que mesmo efeitos antigos continuam a cativar o público. Mas para que isso aconteça, os efeitos devem ser apenas mais uma peça em uma trama movida por bons personagens, uma narrativa envolvente e uma sucessão coerente de acontecimentos. Se os efeitos se unem a uma boa história ao invés de substituí-la, eles se tornam mais um grande ponto para o sucesso das produções.

A nova versão de Convenção das Bruxas tem as ferramentas para conquistar um novo público, e a própria caracterização das bruxas apresenta traços bastante chamativos e interessantes, mas não dá para depender apenas das técnicas dos novos tempos. À frente desses efeitos, ainda é preciso ter uma história.

READAPTAÇÕES SEM NADA PARA CONTAR

De todos os problemas que o remake de Convenção das Bruxas pode enfrentar, o principal deles é justamente ser um remake. Isso implica uma história já existente, que será repetida para um novo público, mas que também busca atrair espectadores mais velhos que gostavam do original. Mas justamente por ter esse viés de ser uma história que já foi contada, o próprio filme se impõe limites sobre até onde ele pode inovar, sendo que precisa preservar uma boa parte do original para continuar a se identificar com ele.

Não se pode esperar que esse novo remake apresente ideias inovadoras ou originais. O mais provável é que a mesma história irá se repetir com um visual mais moderno. E esse é o principal problema dessa nova onda de readaptações de filmes antigos: não ter nada de novo a oferecer a não ser os seus efeitos especiais. Por mais importantes que possam ser quando bem aplicados, efeitos visuais ainda são secundários quando comparados a um bom roteiro e a uma trama envolvente. Além disso, eles envelhecem rapidamente conforme novas técnicas vão sendo constantemente pensadas.

O problema do novo Convenção das Bruxas não é ser uma história com efeitos novos, mas depender demais desses efeitos para introduzir algo de novo para o público. Se não tiver nada a mais para oferecer, com certeza será um filme que cairá no esquecimento muito rapidamente.

A NOSTALGIA COMO PROBLEMA DE JULGAMENTO

Dito tudo isso, ainda é possível que uma readaptação de um filme clássico apresente algo de inovador para o público. Para além dos efeitos, temos que considerar também a abordagem que será feita da história, a interpretação dos atores, a possibilidade de se acrescentar elementos novos, o tom com que o filme será tratado em geral. Existem saídas para um remake surpreender e se tornar memorável, desde que seus elementos mais primordiais sejam bem trabalhados.

A partir dessa consideração, encontramos outro problema para a recepção de remakes pelo público: a nostalgia dos fãs do original. Esse é um sentimento muito comum, principalmente quando uma obra de arte afeta sua audiência de uma maneira extremamente única. Por causa desse sentimento, muitos consideram que tais produções são intocáveis e odeiam o fato de que alguém ache que consegue refazê-las.

É por causa da nostalgia que muitas produções são, ao mesmo tempo, tão aguardadas por muitos e tão odiadas por outros antes mesmo de seu lançamento. Cria-se sobre a mesma obra uma expectativa gigantesca e um sentimento de que nada pode superar o original. Por causa desse último, muitas pessoas se dedicam exclusivamente a apontar tudo aquilo que a nova produção "errou" em comparação com a primeira.

Contudo, é preciso saber que os novos tempos sempre irão demandar novas produções, e que as mudanças irão ocorrer quer gostemos ou não. É também importante notar que o público envelheceu muito entre os dois filmes, de forma que um longa destinado a assustar crianças não terá o mesmo efeito em adultos. No final, podemos resumir essa questão a uma noção de "respeitar o passado e abraçar o futuro". Nenhum dos lados dessa equação funciona sozinho ou em excesso. É preciso ter um olhar atento para os erros desses remakes, mas sem desconsiderá-los por completo devido a uma preferência ao original.

O novo Convenção das Bruxas pode ter uma infinidade de erros, mas tais erros devem ser apontados como falhas do próprio filme, e não em comparação ao sucesso de seu antecessor.

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Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Em uma era onde remakes dominam o cinema, Convenção das Bruxas ressurge com a mesma história, mas uma nova forma, que emprega mais efeitos especiais e menos maquiagens e animatrônicos. Poderia essa nova versão se comparar ao original de 1990?

crítica por
Luis Henrique Franco
19/11/2020

Vivemos em uma época em que o cinema é dominado por efeitos especiais e por remakes de filmes antigos que, apesar de não serem grandes clássicos, são famosos o suficiente para provocarem nostalgia no público. Diante desse sentimento, as novas produções buscam se vender como uma nova visão, incorporam elementos mais modernos e "atualizando" os clássicos. Essa tendência, no entanto, possui um efeito negativo, visto que o excesso de efeitos visuais muitas vezes tira a magia e as características que fizeram o original ser tão amado por sua audiência.

Convenção das Bruxas é o mais novo filme a entrar nesse hall polêmico. Baseado no icônico filme de horror infantil de 1990, Robert Zemeckis buscou dar uma nova forma a um filme que conquistou uma enorme simpatia do público, trazendo um novo elenco e substituindo alguns dos trabalhos de maquiagem e efeitos práticos do original por CGI e efeitos de computador em sua maioria. Mas poderia essa mudança ser benéfica para o filme, ou fará com que ele perca a essência do original?

A FANTASIA PALPÁVEL

O filme Convenção das Bruxas original foi muito influenciado pelo trabalhado de Jim Henson, que empregou uma grande quantidade de efeitos práticos ao criar a sua história sobre uma criança que vai para um hotel com sua avó, onde descobre uma sinistra convenção secreta de bruxas que tem como objetivo acabar com todas as crianças no mundo.

A ideia da fantasia é vender algo que seria impossível no mundo real e convencer o público de que aquilo é real. Assim sendo, mesmo que a maquiagem das personagens do filme, em especial a da líder das bruxas, interpretada por Anjelica Huston, apresente criaturas imaginárias e que não existem no nosso mundo, o trabalho empregado em Convenção das Bruxas é extremamente bem-sucedido por tornar esses seres fantásticos em algo palpável, personagens que o público sabem estarem presentes na cena ao invés de serem inseridos nela digitalmente depois.

Esse era um dos grandes marcos dos filmes de fantasia do passado. Sabia-se muito bem que os personagens eram fantoches ou atores com um grande excesso de maquiagem. Mas mesmo com essa aparência "fake", os filmes obtinham sucesso em conquistar seu público por apresentarem personagens que eram reais no sentido de estarem ali, em cena. De não serem só algo que o público podia ver, mas algo que eles sentiam que podiam tocar também. Essa sensação imortalizou filmes fantásticos como clássicos cult, destacando-se entre eles O Cristal Encantado, também de Jim Henson, e A História Sem Fim. Entre filmes mais icônicos, essa preferência por efeitos práticos e palpáveis foi um dos motivos do enorme sucesso de Jurassic Park.

Por essas razões é que o primeiro Convenção das Bruxas se tornou um clássico dos anos 90, e mesmo que seus efeitos já estejam ultrapassados nos dias de hoje, a maneira como eles se conectam à história, incrementando-a, faz com que esse filme perdure na memória das pessoas.

OS TRIUNFOS DA ERA COMPUTADORIZADA

O remake de Convenção das Bruxas deve seguir a mesma fórmula dos demais remakes que estão sendo feitos atualmente: apresentar uma história já conhecida, provavelmente com algumas alterações mínimas, e valer-se de todas as ferramentas de efeitos visuais e computadorizados que for possível para tornar essa versão mais moderna aos olhos do espectador. Apesar de se arriscar a perder parte da essência que tornou o primeiro filme tão famoso, não é o emprego de efeitos visuais o principal problema dessa versão.

Ao longo dos últimos anos, o CGI e os efeitos computadorizados conquistaram um espaço inegável no universo cinematográfico. Quando se permite que os profissionais dessa nova área tenham espaço e tempo para trabalhar, os resultados são os mais impressionantes possíveis, desde a criação de grandes naves até o design de monstros absurdamente fantásticos. Mesmo que o espectador consiga perceber que tais criações são frutos de efeitos visuais, a maneira como eles são construídos é surpreendente e leva o público a acreditar naquilo que está vendo. Mas para isso, é preciso que se dê tempo e espaço para o desenvolvimento dos efeitos.

Bons efeitos especiais sobrevivem ao teste do tempo. Seu uso em franquias como Star Wars, o Universo Marvel e O Senhor dos Anéis provam que mesmo efeitos antigos continuam a cativar o público. Mas para que isso aconteça, os efeitos devem ser apenas mais uma peça em uma trama movida por bons personagens, uma narrativa envolvente e uma sucessão coerente de acontecimentos. Se os efeitos se unem a uma boa história ao invés de substituí-la, eles se tornam mais um grande ponto para o sucesso das produções.

A nova versão de Convenção das Bruxas tem as ferramentas para conquistar um novo público, e a própria caracterização das bruxas apresenta traços bastante chamativos e interessantes, mas não dá para depender apenas das técnicas dos novos tempos. À frente desses efeitos, ainda é preciso ter uma história.

READAPTAÇÕES SEM NADA PARA CONTAR

De todos os problemas que o remake de Convenção das Bruxas pode enfrentar, o principal deles é justamente ser um remake. Isso implica uma história já existente, que será repetida para um novo público, mas que também busca atrair espectadores mais velhos que gostavam do original. Mas justamente por ter esse viés de ser uma história que já foi contada, o próprio filme se impõe limites sobre até onde ele pode inovar, sendo que precisa preservar uma boa parte do original para continuar a se identificar com ele.

Não se pode esperar que esse novo remake apresente ideias inovadoras ou originais. O mais provável é que a mesma história irá se repetir com um visual mais moderno. E esse é o principal problema dessa nova onda de readaptações de filmes antigos: não ter nada de novo a oferecer a não ser os seus efeitos especiais. Por mais importantes que possam ser quando bem aplicados, efeitos visuais ainda são secundários quando comparados a um bom roteiro e a uma trama envolvente. Além disso, eles envelhecem rapidamente conforme novas técnicas vão sendo constantemente pensadas.

O problema do novo Convenção das Bruxas não é ser uma história com efeitos novos, mas depender demais desses efeitos para introduzir algo de novo para o público. Se não tiver nada a mais para oferecer, com certeza será um filme que cairá no esquecimento muito rapidamente.

A NOSTALGIA COMO PROBLEMA DE JULGAMENTO

Dito tudo isso, ainda é possível que uma readaptação de um filme clássico apresente algo de inovador para o público. Para além dos efeitos, temos que considerar também a abordagem que será feita da história, a interpretação dos atores, a possibilidade de se acrescentar elementos novos, o tom com que o filme será tratado em geral. Existem saídas para um remake surpreender e se tornar memorável, desde que seus elementos mais primordiais sejam bem trabalhados.

A partir dessa consideração, encontramos outro problema para a recepção de remakes pelo público: a nostalgia dos fãs do original. Esse é um sentimento muito comum, principalmente quando uma obra de arte afeta sua audiência de uma maneira extremamente única. Por causa desse sentimento, muitos consideram que tais produções são intocáveis e odeiam o fato de que alguém ache que consegue refazê-las.

É por causa da nostalgia que muitas produções são, ao mesmo tempo, tão aguardadas por muitos e tão odiadas por outros antes mesmo de seu lançamento. Cria-se sobre a mesma obra uma expectativa gigantesca e um sentimento de que nada pode superar o original. Por causa desse último, muitas pessoas se dedicam exclusivamente a apontar tudo aquilo que a nova produção "errou" em comparação com a primeira.

Contudo, é preciso saber que os novos tempos sempre irão demandar novas produções, e que as mudanças irão ocorrer quer gostemos ou não. É também importante notar que o público envelheceu muito entre os dois filmes, de forma que um longa destinado a assustar crianças não terá o mesmo efeito em adultos. No final, podemos resumir essa questão a uma noção de "respeitar o passado e abraçar o futuro". Nenhum dos lados dessa equação funciona sozinho ou em excesso. É preciso ter um olhar atento para os erros desses remakes, mas sem desconsiderá-los por completo devido a uma preferência ao original.

O novo Convenção das Bruxas pode ter uma infinidade de erros, mas tais erros devem ser apontados como falhas do próprio filme, e não em comparação ao sucesso de seu antecessor.

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Em uma era onde remakes dominam o cinema, Convenção das Bruxas ressurge com a mesma história, mas uma nova forma, que emprega mais efeitos especiais e menos maquiagens e animatrônicos. Poderia essa nova versão se comparar ao original de 1990?

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Luis Henrique Franco
19/11/2020
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Em uma era onde remakes dominam o cinema, Convenção das Bruxas ressurge com a mesma história, mas uma nova forma, que emprega mais efeitos especiais e menos maquiagens e animatrônicos. Poderia essa nova versão se comparar ao original de 1990?

escrito por
Luis Henrique Franco
19/11/2020

Vivemos em uma época em que o cinema é dominado por efeitos especiais e por remakes de filmes antigos que, apesar de não serem grandes clássicos, são famosos o suficiente para provocarem nostalgia no público. Diante desse sentimento, as novas produções buscam se vender como uma nova visão, incorporam elementos mais modernos e "atualizando" os clássicos. Essa tendência, no entanto, possui um efeito negativo, visto que o excesso de efeitos visuais muitas vezes tira a magia e as características que fizeram o original ser tão amado por sua audiência.

Convenção das Bruxas é o mais novo filme a entrar nesse hall polêmico. Baseado no icônico filme de horror infantil de 1990, Robert Zemeckis buscou dar uma nova forma a um filme que conquistou uma enorme simpatia do público, trazendo um novo elenco e substituindo alguns dos trabalhos de maquiagem e efeitos práticos do original por CGI e efeitos de computador em sua maioria. Mas poderia essa mudança ser benéfica para o filme, ou fará com que ele perca a essência do original?

A FANTASIA PALPÁVEL

O filme Convenção das Bruxas original foi muito influenciado pelo trabalhado de Jim Henson, que empregou uma grande quantidade de efeitos práticos ao criar a sua história sobre uma criança que vai para um hotel com sua avó, onde descobre uma sinistra convenção secreta de bruxas que tem como objetivo acabar com todas as crianças no mundo.

A ideia da fantasia é vender algo que seria impossível no mundo real e convencer o público de que aquilo é real. Assim sendo, mesmo que a maquiagem das personagens do filme, em especial a da líder das bruxas, interpretada por Anjelica Huston, apresente criaturas imaginárias e que não existem no nosso mundo, o trabalho empregado em Convenção das Bruxas é extremamente bem-sucedido por tornar esses seres fantásticos em algo palpável, personagens que o público sabem estarem presentes na cena ao invés de serem inseridos nela digitalmente depois.

Esse era um dos grandes marcos dos filmes de fantasia do passado. Sabia-se muito bem que os personagens eram fantoches ou atores com um grande excesso de maquiagem. Mas mesmo com essa aparência "fake", os filmes obtinham sucesso em conquistar seu público por apresentarem personagens que eram reais no sentido de estarem ali, em cena. De não serem só algo que o público podia ver, mas algo que eles sentiam que podiam tocar também. Essa sensação imortalizou filmes fantásticos como clássicos cult, destacando-se entre eles O Cristal Encantado, também de Jim Henson, e A História Sem Fim. Entre filmes mais icônicos, essa preferência por efeitos práticos e palpáveis foi um dos motivos do enorme sucesso de Jurassic Park.

Por essas razões é que o primeiro Convenção das Bruxas se tornou um clássico dos anos 90, e mesmo que seus efeitos já estejam ultrapassados nos dias de hoje, a maneira como eles se conectam à história, incrementando-a, faz com que esse filme perdure na memória das pessoas.

OS TRIUNFOS DA ERA COMPUTADORIZADA

O remake de Convenção das Bruxas deve seguir a mesma fórmula dos demais remakes que estão sendo feitos atualmente: apresentar uma história já conhecida, provavelmente com algumas alterações mínimas, e valer-se de todas as ferramentas de efeitos visuais e computadorizados que for possível para tornar essa versão mais moderna aos olhos do espectador. Apesar de se arriscar a perder parte da essência que tornou o primeiro filme tão famoso, não é o emprego de efeitos visuais o principal problema dessa versão.

Ao longo dos últimos anos, o CGI e os efeitos computadorizados conquistaram um espaço inegável no universo cinematográfico. Quando se permite que os profissionais dessa nova área tenham espaço e tempo para trabalhar, os resultados são os mais impressionantes possíveis, desde a criação de grandes naves até o design de monstros absurdamente fantásticos. Mesmo que o espectador consiga perceber que tais criações são frutos de efeitos visuais, a maneira como eles são construídos é surpreendente e leva o público a acreditar naquilo que está vendo. Mas para isso, é preciso que se dê tempo e espaço para o desenvolvimento dos efeitos.

Bons efeitos especiais sobrevivem ao teste do tempo. Seu uso em franquias como Star Wars, o Universo Marvel e O Senhor dos Anéis provam que mesmo efeitos antigos continuam a cativar o público. Mas para que isso aconteça, os efeitos devem ser apenas mais uma peça em uma trama movida por bons personagens, uma narrativa envolvente e uma sucessão coerente de acontecimentos. Se os efeitos se unem a uma boa história ao invés de substituí-la, eles se tornam mais um grande ponto para o sucesso das produções.

A nova versão de Convenção das Bruxas tem as ferramentas para conquistar um novo público, e a própria caracterização das bruxas apresenta traços bastante chamativos e interessantes, mas não dá para depender apenas das técnicas dos novos tempos. À frente desses efeitos, ainda é preciso ter uma história.

READAPTAÇÕES SEM NADA PARA CONTAR

De todos os problemas que o remake de Convenção das Bruxas pode enfrentar, o principal deles é justamente ser um remake. Isso implica uma história já existente, que será repetida para um novo público, mas que também busca atrair espectadores mais velhos que gostavam do original. Mas justamente por ter esse viés de ser uma história que já foi contada, o próprio filme se impõe limites sobre até onde ele pode inovar, sendo que precisa preservar uma boa parte do original para continuar a se identificar com ele.

Não se pode esperar que esse novo remake apresente ideias inovadoras ou originais. O mais provável é que a mesma história irá se repetir com um visual mais moderno. E esse é o principal problema dessa nova onda de readaptações de filmes antigos: não ter nada de novo a oferecer a não ser os seus efeitos especiais. Por mais importantes que possam ser quando bem aplicados, efeitos visuais ainda são secundários quando comparados a um bom roteiro e a uma trama envolvente. Além disso, eles envelhecem rapidamente conforme novas técnicas vão sendo constantemente pensadas.

O problema do novo Convenção das Bruxas não é ser uma história com efeitos novos, mas depender demais desses efeitos para introduzir algo de novo para o público. Se não tiver nada a mais para oferecer, com certeza será um filme que cairá no esquecimento muito rapidamente.

A NOSTALGIA COMO PROBLEMA DE JULGAMENTO

Dito tudo isso, ainda é possível que uma readaptação de um filme clássico apresente algo de inovador para o público. Para além dos efeitos, temos que considerar também a abordagem que será feita da história, a interpretação dos atores, a possibilidade de se acrescentar elementos novos, o tom com que o filme será tratado em geral. Existem saídas para um remake surpreender e se tornar memorável, desde que seus elementos mais primordiais sejam bem trabalhados.

A partir dessa consideração, encontramos outro problema para a recepção de remakes pelo público: a nostalgia dos fãs do original. Esse é um sentimento muito comum, principalmente quando uma obra de arte afeta sua audiência de uma maneira extremamente única. Por causa desse sentimento, muitos consideram que tais produções são intocáveis e odeiam o fato de que alguém ache que consegue refazê-las.

É por causa da nostalgia que muitas produções são, ao mesmo tempo, tão aguardadas por muitos e tão odiadas por outros antes mesmo de seu lançamento. Cria-se sobre a mesma obra uma expectativa gigantesca e um sentimento de que nada pode superar o original. Por causa desse último, muitas pessoas se dedicam exclusivamente a apontar tudo aquilo que a nova produção "errou" em comparação com a primeira.

Contudo, é preciso saber que os novos tempos sempre irão demandar novas produções, e que as mudanças irão ocorrer quer gostemos ou não. É também importante notar que o público envelheceu muito entre os dois filmes, de forma que um longa destinado a assustar crianças não terá o mesmo efeito em adultos. No final, podemos resumir essa questão a uma noção de "respeitar o passado e abraçar o futuro". Nenhum dos lados dessa equação funciona sozinho ou em excesso. É preciso ter um olhar atento para os erros desses remakes, mas sem desconsiderá-los por completo devido a uma preferência ao original.

O novo Convenção das Bruxas pode ter uma infinidade de erros, mas tais erros devem ser apontados como falhas do próprio filme, e não em comparação ao sucesso de seu antecessor.

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