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Crítica

Crítica

A Mula: Um Clint Eastwood Peculiar se Mostra

13/2/2019

Prestes a completar 89 anos em maio, Clint Eastwood traz seu novo filme sobre um avô que busca dinheiro como mula de um cartel de drogas.

escrito por
Luis Henrique Franco

Prestes a completar 89 anos em maio, Clint Eastwood traz seu novo filme sobre um avô que busca dinheiro como mula de um cartel de drogas.

escrito por
Luis Henrique Franco
13/2/2019

Prestes a completar 89 anos em maio, Clint Eastwood é um nome extremamente conhecido no cinema Hollywoodiano, tanto por sua carreira como ator e astro dos antigos filmes de Velho-Oeste como por seus inúmeros trabalhos como diretor. Seu estilo de filme já é também muito conhecido, e algumas coisas já são esperadas quando uma nova produção dele é anunciada. A Mula, entretanto, parece distorcer alguns desses pontos.

No filme, acompanhamos Earl Stone (Eastwood), um antigo cultivador de flores e vendedor de flores que perdeu seu negócio com o advento da internet e, no desespero para conseguir dinheiro, acaba aceitando trabalhar como mula para um cartel de drogas, dirigindo através do país para entregar as encomendas de um ponto a outro sem chamar a atenção. Com mais dinheiro do que nunca, Earl é capaz de melhorar sua vida e reconstruir sua relação com sua família, mas acaba se colocando em uma situação difícil quando a situação no cartel aperta e o força a escolher entre seu trabalho e sua família.

O filme tem um começo bastante lento no sentido de construir a tensão. Fica bem claro logo de início que Earl não sabe, a princípio, do que suas entregas consistem, mas mesmo depois de descobrir sobre as drogas, a trama mantém um ritmo lento e momentos de tensão real só acontecem mais para o terceiro ato. É interessante ver como a relação do protagonista com os membros do cartel se desenvolve ao longo do tempo, mas não chega a ser um dos melhores suspenses construídos pelo diretor.

O mais interessante é como Eastwood parece abrir mão de algumas peculiaridades suas nesse filme. Não se vê sequências de ação, confrontos tensos entre os personagens, o protagonista não se mostra um grande herói que reverte sua situação e vence os bandidos e também não há grandes espaços dedicados ao patriotismo americano. Em vez disso, somos apresentados a uma abordagem quase que de um drama familiar e sentimos o peso dos conflitos com a família pesarem muito mais sobre o protagonista do que o peso de seu trabalho sobre o cartel.

O ponto principal da história e o personagem mais chamativo é certamente Earl, principalmente pela maneira como ele se distancia da maioria dos personagens vividos por Eastwood. Mesmo em seus filmes mais recentes, como Gran Torino, Curvas da Vida e Menina de Ouro, o que víamos eram os vestígios de um dos grandes machões de Hollywood, o homem másculo e frio, fechado em si mesmo e sempre com aquela cara fechada de herói de Faroeste. Em A Mula, o machão não se mostra com tanta força, e vemos um personagem que ainda mostra a teimosia e algumas características de Eastwood (o fato de ser um veterano de guerra, por exemplo), mas que também demonstra um lado extremamente sentimental de um homem velho, preocupado, cansado, que percebe todos os erros que cometeu, mesmo que já seja tarde demais para corrigi-los. É uma dinâmica interessante que retrata um protagonista mais humano e, o mais interessante, extremamente frágil, algo que o próprio Eastwood parece admitir sobre si mesmo durante o filme: ele não é mais o mesmo ator dos velhos tempos, ele está mais velho, está mais frágil e parece que ele finalmente reconheceu isso.

Ao mesmo tempo, a idade avançada do ator leva a situações interessantes de contraste com os membros mais novos do elenco. O conflito de gerações cria situações engraçadas e de crítica onde o personagem, ao mesmo tempo em que amaldiçoa o uso constante do celular pela nova geração, se coloca em situações constrangedoras pelo uso de palavras e piadas que já não são mais usadas e atualmente são vistas como insultos e racismos. O problema desse conflito é que ele assume uma dicotomia um tanto estranha, ao mesmo tempo admitindo que os tempos mudaram e que as atitudes do velho Eastwood não condizem mais com a nova realidade social, mas também sem oferecer uma grande mudança em alguns aspectos, um tipo de “sorry, not sorry” do ator.

Um outro problema do filme é a falta de trabalho para cima dos outros personagens. A história inteira fica focada em Earl, e histórias paralelas não são bem expostas ou não nos animam tanto, o que é triste considerando o elenco de peso colocado nesse filme. Andy Garcia e Lawrence Fishburne têm papéis muito pequenos para serem chamativos, e Bradley Cooper e Michael Peña não trazem uma história tão envolvente como os dois agentes da Narcóticos que investigam o cartel. O próprio elenco do cartel é bastante secundário e estereotipado, com uma ligeira exceção para o personagem Julio (Ignacio Serricchio). Curiosamente, é a família do protagonista que chama mais a atenção, e mesmo eles não têm um papel tão grande assim.

A Mula traz uma abordagem diferente ao expor a fragilidade de Clint Eastwood, um ator extremamente envelhecido que já não consegue se manter na mesma pose de antes. Por conta desse lado mais emotivo e introspectivo, o filme funciona como uma espécie de reflexão pessoal do ator e diretor sobre sua própria vida, seus papéis, suas ideias diante do mundo atual e sua própria relação com sua família. O fato de que a filha de Earl é interpretada pela filha real de Eastwood só reforça esse lado reflexivo. No final, parece que o protagonista durão, fechado, frio e solitário que ele sempre interpretou não precisa mais sofrer sozinho, e encontra uma esperada redenção.

A Mula estreia dia 14 de fevereiro nos cinemas.

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Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Prestes a completar 89 anos em maio, Clint Eastwood traz seu novo filme sobre um avô que busca dinheiro como mula de um cartel de drogas.

crítica por
Luis Henrique Franco
13/2/2019

Prestes a completar 89 anos em maio, Clint Eastwood é um nome extremamente conhecido no cinema Hollywoodiano, tanto por sua carreira como ator e astro dos antigos filmes de Velho-Oeste como por seus inúmeros trabalhos como diretor. Seu estilo de filme já é também muito conhecido, e algumas coisas já são esperadas quando uma nova produção dele é anunciada. A Mula, entretanto, parece distorcer alguns desses pontos.

No filme, acompanhamos Earl Stone (Eastwood), um antigo cultivador de flores e vendedor de flores que perdeu seu negócio com o advento da internet e, no desespero para conseguir dinheiro, acaba aceitando trabalhar como mula para um cartel de drogas, dirigindo através do país para entregar as encomendas de um ponto a outro sem chamar a atenção. Com mais dinheiro do que nunca, Earl é capaz de melhorar sua vida e reconstruir sua relação com sua família, mas acaba se colocando em uma situação difícil quando a situação no cartel aperta e o força a escolher entre seu trabalho e sua família.

O filme tem um começo bastante lento no sentido de construir a tensão. Fica bem claro logo de início que Earl não sabe, a princípio, do que suas entregas consistem, mas mesmo depois de descobrir sobre as drogas, a trama mantém um ritmo lento e momentos de tensão real só acontecem mais para o terceiro ato. É interessante ver como a relação do protagonista com os membros do cartel se desenvolve ao longo do tempo, mas não chega a ser um dos melhores suspenses construídos pelo diretor.

O mais interessante é como Eastwood parece abrir mão de algumas peculiaridades suas nesse filme. Não se vê sequências de ação, confrontos tensos entre os personagens, o protagonista não se mostra um grande herói que reverte sua situação e vence os bandidos e também não há grandes espaços dedicados ao patriotismo americano. Em vez disso, somos apresentados a uma abordagem quase que de um drama familiar e sentimos o peso dos conflitos com a família pesarem muito mais sobre o protagonista do que o peso de seu trabalho sobre o cartel.

O ponto principal da história e o personagem mais chamativo é certamente Earl, principalmente pela maneira como ele se distancia da maioria dos personagens vividos por Eastwood. Mesmo em seus filmes mais recentes, como Gran Torino, Curvas da Vida e Menina de Ouro, o que víamos eram os vestígios de um dos grandes machões de Hollywood, o homem másculo e frio, fechado em si mesmo e sempre com aquela cara fechada de herói de Faroeste. Em A Mula, o machão não se mostra com tanta força, e vemos um personagem que ainda mostra a teimosia e algumas características de Eastwood (o fato de ser um veterano de guerra, por exemplo), mas que também demonstra um lado extremamente sentimental de um homem velho, preocupado, cansado, que percebe todos os erros que cometeu, mesmo que já seja tarde demais para corrigi-los. É uma dinâmica interessante que retrata um protagonista mais humano e, o mais interessante, extremamente frágil, algo que o próprio Eastwood parece admitir sobre si mesmo durante o filme: ele não é mais o mesmo ator dos velhos tempos, ele está mais velho, está mais frágil e parece que ele finalmente reconheceu isso.

Ao mesmo tempo, a idade avançada do ator leva a situações interessantes de contraste com os membros mais novos do elenco. O conflito de gerações cria situações engraçadas e de crítica onde o personagem, ao mesmo tempo em que amaldiçoa o uso constante do celular pela nova geração, se coloca em situações constrangedoras pelo uso de palavras e piadas que já não são mais usadas e atualmente são vistas como insultos e racismos. O problema desse conflito é que ele assume uma dicotomia um tanto estranha, ao mesmo tempo admitindo que os tempos mudaram e que as atitudes do velho Eastwood não condizem mais com a nova realidade social, mas também sem oferecer uma grande mudança em alguns aspectos, um tipo de “sorry, not sorry” do ator.

Um outro problema do filme é a falta de trabalho para cima dos outros personagens. A história inteira fica focada em Earl, e histórias paralelas não são bem expostas ou não nos animam tanto, o que é triste considerando o elenco de peso colocado nesse filme. Andy Garcia e Lawrence Fishburne têm papéis muito pequenos para serem chamativos, e Bradley Cooper e Michael Peña não trazem uma história tão envolvente como os dois agentes da Narcóticos que investigam o cartel. O próprio elenco do cartel é bastante secundário e estereotipado, com uma ligeira exceção para o personagem Julio (Ignacio Serricchio). Curiosamente, é a família do protagonista que chama mais a atenção, e mesmo eles não têm um papel tão grande assim.

A Mula traz uma abordagem diferente ao expor a fragilidade de Clint Eastwood, um ator extremamente envelhecido que já não consegue se manter na mesma pose de antes. Por conta desse lado mais emotivo e introspectivo, o filme funciona como uma espécie de reflexão pessoal do ator e diretor sobre sua própria vida, seus papéis, suas ideias diante do mundo atual e sua própria relação com sua família. O fato de que a filha de Earl é interpretada pela filha real de Eastwood só reforça esse lado reflexivo. No final, parece que o protagonista durão, fechado, frio e solitário que ele sempre interpretou não precisa mais sofrer sozinho, e encontra uma esperada redenção.

A Mula estreia dia 14 de fevereiro nos cinemas.

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Prestes a completar 89 anos em maio, Clint Eastwood traz seu novo filme sobre um avô que busca dinheiro como mula de um cartel de drogas.

escrito por
Luis Henrique Franco
13/2/2019
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Prestes a completar 89 anos em maio, Clint Eastwood traz seu novo filme sobre um avô que busca dinheiro como mula de um cartel de drogas.

escrito por
Luis Henrique Franco
13/2/2019

Prestes a completar 89 anos em maio, Clint Eastwood é um nome extremamente conhecido no cinema Hollywoodiano, tanto por sua carreira como ator e astro dos antigos filmes de Velho-Oeste como por seus inúmeros trabalhos como diretor. Seu estilo de filme já é também muito conhecido, e algumas coisas já são esperadas quando uma nova produção dele é anunciada. A Mula, entretanto, parece distorcer alguns desses pontos.

No filme, acompanhamos Earl Stone (Eastwood), um antigo cultivador de flores e vendedor de flores que perdeu seu negócio com o advento da internet e, no desespero para conseguir dinheiro, acaba aceitando trabalhar como mula para um cartel de drogas, dirigindo através do país para entregar as encomendas de um ponto a outro sem chamar a atenção. Com mais dinheiro do que nunca, Earl é capaz de melhorar sua vida e reconstruir sua relação com sua família, mas acaba se colocando em uma situação difícil quando a situação no cartel aperta e o força a escolher entre seu trabalho e sua família.

O filme tem um começo bastante lento no sentido de construir a tensão. Fica bem claro logo de início que Earl não sabe, a princípio, do que suas entregas consistem, mas mesmo depois de descobrir sobre as drogas, a trama mantém um ritmo lento e momentos de tensão real só acontecem mais para o terceiro ato. É interessante ver como a relação do protagonista com os membros do cartel se desenvolve ao longo do tempo, mas não chega a ser um dos melhores suspenses construídos pelo diretor.

O mais interessante é como Eastwood parece abrir mão de algumas peculiaridades suas nesse filme. Não se vê sequências de ação, confrontos tensos entre os personagens, o protagonista não se mostra um grande herói que reverte sua situação e vence os bandidos e também não há grandes espaços dedicados ao patriotismo americano. Em vez disso, somos apresentados a uma abordagem quase que de um drama familiar e sentimos o peso dos conflitos com a família pesarem muito mais sobre o protagonista do que o peso de seu trabalho sobre o cartel.

O ponto principal da história e o personagem mais chamativo é certamente Earl, principalmente pela maneira como ele se distancia da maioria dos personagens vividos por Eastwood. Mesmo em seus filmes mais recentes, como Gran Torino, Curvas da Vida e Menina de Ouro, o que víamos eram os vestígios de um dos grandes machões de Hollywood, o homem másculo e frio, fechado em si mesmo e sempre com aquela cara fechada de herói de Faroeste. Em A Mula, o machão não se mostra com tanta força, e vemos um personagem que ainda mostra a teimosia e algumas características de Eastwood (o fato de ser um veterano de guerra, por exemplo), mas que também demonstra um lado extremamente sentimental de um homem velho, preocupado, cansado, que percebe todos os erros que cometeu, mesmo que já seja tarde demais para corrigi-los. É uma dinâmica interessante que retrata um protagonista mais humano e, o mais interessante, extremamente frágil, algo que o próprio Eastwood parece admitir sobre si mesmo durante o filme: ele não é mais o mesmo ator dos velhos tempos, ele está mais velho, está mais frágil e parece que ele finalmente reconheceu isso.

Ao mesmo tempo, a idade avançada do ator leva a situações interessantes de contraste com os membros mais novos do elenco. O conflito de gerações cria situações engraçadas e de crítica onde o personagem, ao mesmo tempo em que amaldiçoa o uso constante do celular pela nova geração, se coloca em situações constrangedoras pelo uso de palavras e piadas que já não são mais usadas e atualmente são vistas como insultos e racismos. O problema desse conflito é que ele assume uma dicotomia um tanto estranha, ao mesmo tempo admitindo que os tempos mudaram e que as atitudes do velho Eastwood não condizem mais com a nova realidade social, mas também sem oferecer uma grande mudança em alguns aspectos, um tipo de “sorry, not sorry” do ator.

Um outro problema do filme é a falta de trabalho para cima dos outros personagens. A história inteira fica focada em Earl, e histórias paralelas não são bem expostas ou não nos animam tanto, o que é triste considerando o elenco de peso colocado nesse filme. Andy Garcia e Lawrence Fishburne têm papéis muito pequenos para serem chamativos, e Bradley Cooper e Michael Peña não trazem uma história tão envolvente como os dois agentes da Narcóticos que investigam o cartel. O próprio elenco do cartel é bastante secundário e estereotipado, com uma ligeira exceção para o personagem Julio (Ignacio Serricchio). Curiosamente, é a família do protagonista que chama mais a atenção, e mesmo eles não têm um papel tão grande assim.

A Mula traz uma abordagem diferente ao expor a fragilidade de Clint Eastwood, um ator extremamente envelhecido que já não consegue se manter na mesma pose de antes. Por conta desse lado mais emotivo e introspectivo, o filme funciona como uma espécie de reflexão pessoal do ator e diretor sobre sua própria vida, seus papéis, suas ideias diante do mundo atual e sua própria relação com sua família. O fato de que a filha de Earl é interpretada pela filha real de Eastwood só reforça esse lado reflexivo. No final, parece que o protagonista durão, fechado, frio e solitário que ele sempre interpretou não precisa mais sofrer sozinho, e encontra uma esperada redenção.

A Mula estreia dia 14 de fevereiro nos cinemas.

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