Ellen é uma jovem violinista que adquiriu certa fama e que, certa noite, sofre um ataque que a deixa cega para sempre. Aterrorizada pela sua nova condição, ela começa a se adaptar a um mundo sem a visão enquanto espera que a polícia capture o seu agressor. Confinada em um apartamento seguro, ela logo começa a pressentir que a pessoa que a atacou pode estar mais perto do que parece. O que começa como uma suspeita logo assume ares de paranoia conforme o terror vai a dominando por completo.

A ideia de um filme de suspense com um protagonista cego ou surdo não é nova. De fato, ela já foi usada em filmes como O Homem nas Trevas (2016) e Hush (2016), e a ideia é justamente trabalhar uma situação que por si só já seria tensa e terrível, agregando o fator de que o protagonista não terá alguma coisa que a maioria dos espectadores possui. Dessa forma, mesmo momentos que não seriam tão assustadores tornam-se muito mais alarmantes, pois sabemos que tais pessoas não dispõem dos meios para superar aquela questão normalmente.
Às Cegas segue exatamente esse estilo, o que faz com que não seja um filme muito inovador. Contudo, existem certos cuidados na elaboração desse longa que o fazem digno de ser assistido. Em primeiro lugar, não se trata apenas de um suspense com uma personagem cega. O filme, mais do que outros do mesmo gênero, explora bastante os dramas da personagem diante de sua condição, mostrando suas dificuldades, inseguranças e limitações. Madelaine Petsch concede uma atuação excelente ao retratar todas as constantes dificuldades que Ellen sofre, inclusive para se mover distâncias banais.
O filme também trata muito bem a questão da percepção. Sendo cega, Ellen não sabe como é o mundo à sua volta, de forma que boa parte do que vemos é a sua imaginação dando forma ao universo que a circunda. Essa questão também contribui muito para o suspense da trama, pois diante de cenários que a princípio parecem absurdos e inverossímeis, somos levados a questionar se aquilo tudo não passa de uma ilusão da personagem.

A paranoia é trabalhada de forma a nos deixar na incerteza sobre o que está acontecendo. O roteiro usa de artifícios como a negação dos outros personagens para alguns acontecimentos e a própria impossibilidade de algumas coisas terem ocorrido para nos fazer duvidar da nossa protagonista, e assim manter seu final uma surpresa para o público. É de se apontar que tal final pode não ser tão surpreendente, e alguns pontos deles serem até previsíveis, mas ainda assim entrega algo bastante interessante dentro das condições em que o filme se apresenta.
Com um cenário praticamente único e um elenco reduzido, as possibilidades de surpresa do filme são um pouco limitadas. Mesmo assim, é surpreendente como o roteiro consegue usar desse espaço e desses personagens para ludibriar o público em diversos pontos, nos fazendo acreditar em algo para logo em seguida colocar essa mesma questão em dúvida. Além disso, o espaço e elenco pequeno trabalham também uma ideia de isolamento e os terrores que isso pode causar quando extremamente prolongados.

Às Cegas é um suspense divertido de se assistir. Consegue mostrar o drama da situação ao mesmo tempo em que expõe uma narrativa bastante marcada pela tensão e a apreensão. Talvez não seja o filme mais inovador de todos, mas entrega aquilo que se propõe e o faz de uma maneira que garante um bom entretenimento para seus espectadores.
O filme estreia nessa sexta-feira, dia 11 de dezembro, às 23h30, no canal TNT.