Crítica

Crítica

Mesmo com problemas, 'Duna' entrega uma excelente adaptação do romance inadaptável

22/10/2021

Denis Villeneuve entrega uma adaptação bela e extremamente bem realizada do romance de Frank Herbert, com maravilhosas tomadas e personagens carismáticos, embora ainda tropece em alguns momentos.

escrito por
Luis Henrique Franco

Denis Villeneuve entrega uma adaptação bela e extremamente bem realizada do romance de Frank Herbert, com maravilhosas tomadas e personagens carismáticos, embora ainda tropece em alguns momentos.

escrito por
Luis Henrique Franco
22/10/2021

Por muito tempo, o romance de ficção científica de Frank Herbert, "Duna", foi chamado de "o romance inadaptável" diante da enorme dificuldade dos cineastas em adaptar sua história para as grandes telas. E existem muitas provas para favorecer essa ideia, como o fato de que a adaptação de Alejandro Jodorowsky nunca ter sido finalizada, ou o fato de que a adaptação existente feita por David Lynch fez pouco sucesso e recebeu críticas pesadas. Aparentemente, porém, a nova versão da história, dirigida por Denis Villeneuve, veio para quebrar esse tabu do romance e possibilitar de vez sua passagem para as telas do cinema.

O universo de Duna explora um futuro distante, onde um poderoso Imperium se instalou na galáxia e no qual diversas famílias lutam por influência e poder comercial e militar. No centro dessa disputa, estão as famílias Atreides e Harkonnen, entre as quais se dá a disputa pelo controle do planeta Arrakis, de onde é extraída uma especiaria importante para o desenvolvimento do Império. Enquanto a disputa se dá entre as famílias, Paul Atreides (Timothee Chalamet), um jovem com grandes habilidades ainda incompreendidas, acompanha seu pai, Leto (Oscar Isaacs) quando esse é feito governador de Arrakis. Entretanto, o jovem logo se vê em meio a uma conspiração para destruir sua família e é forçado a buscar o apoio dos habitantes locais para se proteger dos planos do Barão Harkonnen (Stellan Skarsgard).

Timothee Chalamet como Paul Atreides em Duna

O romance de Frank Herbert sempre foi visto como um dos mais complexos da ficção científica, abordando diversos temas de política, religião e filosofia ao longo de suas mais de 600 páginas. A nova adaptação certamente bebe dessa complexidade, mergulhando profundamente no intrincado mundo de seus personagens, em suas necessidades políticas e na intensa rivalidade entre as famílias. Por um lado, isso é uma maneira excelente de fazer com que o público entende perfeitamente os aspectos importantes da trama, e a forma como o roteiro conduz suas explicações permite que tudo possa ser revelado de uma forma que não atrapalha o ritmo da narrativa nem soe extremamente cansativo. Misturando informações mostradas com outras explicadas pelo personagem, o filme garante a naturalidade de suas exposições e as concede ao público ao longo da narrativa ao invés de jogar tudo na nossa cara de uma vez.

Cena de Duna que mostra a organização do exército de uma das casas do Império

Essa exposição também auxilia no desenvolvimento dos arcos e motivações dos personagens. Conforme vamos entendo o intrincado sistema do Império, desde sua organização política até a presença de entidades religiosas poderosíssimas, como as Bene Gesserit, vamos também compreendendo o papel de cada um dos integrantes da família e sua importância no desenrolar da trama. Com grande habilidade narrativa, o filme nos revela o poder de Paul sobre a Voz, uma habilidade de controle que as Bene Gesserit guardam para si, e suas responsabilidades como herdeiro dos Atreides. Enquanto isso, ficamos sabendo, através de Jessica (Rebecca Ferguson) sobre a enorme influência das Bene Gesserit no Império e fora dele, manipulando as crenças do povo para fazê-los crer na vinda de um poderoso messias. Já a trama de Leto nos mostra não só as relações entre as famílias, mas também a habilidade diplomática necessária para lidar com os habitantes de Arrakis, os fremen, e conduzir a extração da especiaria.

Cena de Duna com Rebecca Ferguson ao centro, interpretando a Bene Gesserit Jessica Atreides.
Rebecca Ferguson como a Bene Gesserit Jessica Atreides.
Oscar Isaac no papel do duque Leto Atreides, em Duna.
Oscar Isaac no papel do duque Leto Atreides.

Denis Villeneuve não poupa esforços visuais para fazer seu filme se tornar uma grande obra-prima. Como é comum nos filmes do diretor, Duna possui uma fotografia maravilhosa e que explora as magníficas cores do planeta e o vasto mar de areia para proporcionar paisagens irreais de tão belas e enquadramentos dignos de pintura. Para além disso, o filme faz um uso incrível de efeitos especiais. Tudo, desde o maquinário de extração e as naves espaciais até os colossais e ameaçadores vermes da areia é feito com maestria, concedendo um show visual que, felizmente, não se perde em seu próprio espetáculo e preserva a fluidez e a compreensão da narrativa.

Mas diante de uma história tão complexa e que é tratada pelo diretor com igual complexidade, o filme acaba sendo vítima exatamente daquilo que o faz especial. Com todas as informações que o filme proporciona, mesmo com a organização do roteiro, ainda assim é perceptível uma grande sobrecarga mental por parte do público. Com a enorme riqueza desse universo, às vezes fica difícil acompanhar todos os aspectos e características dos diferentes povos e famílias e de todas as questões políticas, religiosas, econômicas e diplomáticas do Imperium. Chega um ponto em que todo esse acúmulo pesa para o espectador, e o filme se torna muito mais denso e demorado do que de fato é. E essa sensação de peso só piora pelo fato de que o filme é extremamente longo, com mais de 2h30 de duração.

Denis Villeneuve é um mestre da fotografia e consegue construir uma grande história com um ritmo mais lento, muitas vezes pagando o preço de que seus filmes deixem de ser os blockbusters que seus produtores e espectadores poderiam esperar. Não é algo ruim, e sacrificar esse lado popular para propiciar uma riqueza e uma reflexão maior em sua obra é algo a ser reconhecido. Ainda assim, Duna não é um filme que muitas pessoas conseguirão assistir sem se sentirem extremamente cansadas no final.

Mas talvez o principal aspecto negativo dessas questões é que, mesmo com sua longa duração, sua complexidade narrativa e sua exploração mais lenta da história, Duna ainda assim é uma obra incompleta. Isso porque o filme de Villeneuve cobre apenas dois terços do livro de Herbert, deixando sua parte final para uma segunda produção a ser lançada no futuro. Uma estratégia muito usada nos últimos anos, essa divisão de filmes em duas partes é irritante e deixa o público com uma sensação de que algo faltou. Não é algo que destrua completamente o filme, mas é decepcionante para o público saber que, após o cansaço passado durante todo esse filme, ele ainda terá que passar por tudo de novo em uma segunda parte ainda por ser lançada se quiser saber como a história irá se encerrar. Isso também faz com que muitos personagens tenham sua importância na trama adiada, como é o caso de Chani (Zendaya), que aparece ao longo de todo o filme em visões de Paul e se mostra como uma personagem importante para a trama, mas que não desempenha seu papel de destaque nesse filme, sendo reservada para a continuação.

Zendaya como a personagem Chani, em cena de uma das visões de Paul.

No geral, Duna tem muitos mais acertos do que erros. Seu ritmo é certamente difícil, um sacrifício feito conscientemente pela equipe e pelo diretor para explorar a fundo a riqueza de detalhes desse universo. E, no que diz respeito à construção de seu universo, personagens e narrativa, pode-se dizer que essa é finalmente uma adaptação digna do livro de Frank Herbert. Só nos resta esperar para ver como ela será encerrada.

E você? O que achou de Duna? Deixe sua opinião nos comentários.

botão de dar play no vídeo
Duna

Duna

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
saiba mais sobre o filme
saiba mais sobre a série

Denis Villeneuve entrega uma adaptação bela e extremamente bem realizada do romance de Frank Herbert, com maravilhosas tomadas e personagens carismáticos, embora ainda tropece em alguns momentos.

crítica por
Luis Henrique Franco
22/10/2021

Por muito tempo, o romance de ficção científica de Frank Herbert, "Duna", foi chamado de "o romance inadaptável" diante da enorme dificuldade dos cineastas em adaptar sua história para as grandes telas. E existem muitas provas para favorecer essa ideia, como o fato de que a adaptação de Alejandro Jodorowsky nunca ter sido finalizada, ou o fato de que a adaptação existente feita por David Lynch fez pouco sucesso e recebeu críticas pesadas. Aparentemente, porém, a nova versão da história, dirigida por Denis Villeneuve, veio para quebrar esse tabu do romance e possibilitar de vez sua passagem para as telas do cinema.

O universo de Duna explora um futuro distante, onde um poderoso Imperium se instalou na galáxia e no qual diversas famílias lutam por influência e poder comercial e militar. No centro dessa disputa, estão as famílias Atreides e Harkonnen, entre as quais se dá a disputa pelo controle do planeta Arrakis, de onde é extraída uma especiaria importante para o desenvolvimento do Império. Enquanto a disputa se dá entre as famílias, Paul Atreides (Timothee Chalamet), um jovem com grandes habilidades ainda incompreendidas, acompanha seu pai, Leto (Oscar Isaacs) quando esse é feito governador de Arrakis. Entretanto, o jovem logo se vê em meio a uma conspiração para destruir sua família e é forçado a buscar o apoio dos habitantes locais para se proteger dos planos do Barão Harkonnen (Stellan Skarsgard).

Timothee Chalamet como Paul Atreides em Duna

O romance de Frank Herbert sempre foi visto como um dos mais complexos da ficção científica, abordando diversos temas de política, religião e filosofia ao longo de suas mais de 600 páginas. A nova adaptação certamente bebe dessa complexidade, mergulhando profundamente no intrincado mundo de seus personagens, em suas necessidades políticas e na intensa rivalidade entre as famílias. Por um lado, isso é uma maneira excelente de fazer com que o público entende perfeitamente os aspectos importantes da trama, e a forma como o roteiro conduz suas explicações permite que tudo possa ser revelado de uma forma que não atrapalha o ritmo da narrativa nem soe extremamente cansativo. Misturando informações mostradas com outras explicadas pelo personagem, o filme garante a naturalidade de suas exposições e as concede ao público ao longo da narrativa ao invés de jogar tudo na nossa cara de uma vez.

Cena de Duna que mostra a organização do exército de uma das casas do Império

Essa exposição também auxilia no desenvolvimento dos arcos e motivações dos personagens. Conforme vamos entendo o intrincado sistema do Império, desde sua organização política até a presença de entidades religiosas poderosíssimas, como as Bene Gesserit, vamos também compreendendo o papel de cada um dos integrantes da família e sua importância no desenrolar da trama. Com grande habilidade narrativa, o filme nos revela o poder de Paul sobre a Voz, uma habilidade de controle que as Bene Gesserit guardam para si, e suas responsabilidades como herdeiro dos Atreides. Enquanto isso, ficamos sabendo, através de Jessica (Rebecca Ferguson) sobre a enorme influência das Bene Gesserit no Império e fora dele, manipulando as crenças do povo para fazê-los crer na vinda de um poderoso messias. Já a trama de Leto nos mostra não só as relações entre as famílias, mas também a habilidade diplomática necessária para lidar com os habitantes de Arrakis, os fremen, e conduzir a extração da especiaria.

Cena de Duna com Rebecca Ferguson ao centro, interpretando a Bene Gesserit Jessica Atreides.
Rebecca Ferguson como a Bene Gesserit Jessica Atreides.
Oscar Isaac no papel do duque Leto Atreides, em Duna.
Oscar Isaac no papel do duque Leto Atreides.

Denis Villeneuve não poupa esforços visuais para fazer seu filme se tornar uma grande obra-prima. Como é comum nos filmes do diretor, Duna possui uma fotografia maravilhosa e que explora as magníficas cores do planeta e o vasto mar de areia para proporcionar paisagens irreais de tão belas e enquadramentos dignos de pintura. Para além disso, o filme faz um uso incrível de efeitos especiais. Tudo, desde o maquinário de extração e as naves espaciais até os colossais e ameaçadores vermes da areia é feito com maestria, concedendo um show visual que, felizmente, não se perde em seu próprio espetáculo e preserva a fluidez e a compreensão da narrativa.

Mas diante de uma história tão complexa e que é tratada pelo diretor com igual complexidade, o filme acaba sendo vítima exatamente daquilo que o faz especial. Com todas as informações que o filme proporciona, mesmo com a organização do roteiro, ainda assim é perceptível uma grande sobrecarga mental por parte do público. Com a enorme riqueza desse universo, às vezes fica difícil acompanhar todos os aspectos e características dos diferentes povos e famílias e de todas as questões políticas, religiosas, econômicas e diplomáticas do Imperium. Chega um ponto em que todo esse acúmulo pesa para o espectador, e o filme se torna muito mais denso e demorado do que de fato é. E essa sensação de peso só piora pelo fato de que o filme é extremamente longo, com mais de 2h30 de duração.

Denis Villeneuve é um mestre da fotografia e consegue construir uma grande história com um ritmo mais lento, muitas vezes pagando o preço de que seus filmes deixem de ser os blockbusters que seus produtores e espectadores poderiam esperar. Não é algo ruim, e sacrificar esse lado popular para propiciar uma riqueza e uma reflexão maior em sua obra é algo a ser reconhecido. Ainda assim, Duna não é um filme que muitas pessoas conseguirão assistir sem se sentirem extremamente cansadas no final.

Mas talvez o principal aspecto negativo dessas questões é que, mesmo com sua longa duração, sua complexidade narrativa e sua exploração mais lenta da história, Duna ainda assim é uma obra incompleta. Isso porque o filme de Villeneuve cobre apenas dois terços do livro de Herbert, deixando sua parte final para uma segunda produção a ser lançada no futuro. Uma estratégia muito usada nos últimos anos, essa divisão de filmes em duas partes é irritante e deixa o público com uma sensação de que algo faltou. Não é algo que destrua completamente o filme, mas é decepcionante para o público saber que, após o cansaço passado durante todo esse filme, ele ainda terá que passar por tudo de novo em uma segunda parte ainda por ser lançada se quiser saber como a história irá se encerrar. Isso também faz com que muitos personagens tenham sua importância na trama adiada, como é o caso de Chani (Zendaya), que aparece ao longo de todo o filme em visões de Paul e se mostra como uma personagem importante para a trama, mas que não desempenha seu papel de destaque nesse filme, sendo reservada para a continuação.

Zendaya como a personagem Chani, em cena de uma das visões de Paul.

No geral, Duna tem muitos mais acertos do que erros. Seu ritmo é certamente difícil, um sacrifício feito conscientemente pela equipe e pelo diretor para explorar a fundo a riqueza de detalhes desse universo. E, no que diz respeito à construção de seu universo, personagens e narrativa, pode-se dizer que essa é finalmente uma adaptação digna do livro de Frank Herbert. Só nos resta esperar para ver como ela será encerrada.

E você? O que achou de Duna? Deixe sua opinião nos comentários.

confira o trailer

Crítica

Denis Villeneuve entrega uma adaptação bela e extremamente bem realizada do romance de Frank Herbert, com maravilhosas tomadas e personagens carismáticos, embora ainda tropece em alguns momentos.

escrito por
Luis Henrique Franco
22/10/2021
nascimento

Denis Villeneuve entrega uma adaptação bela e extremamente bem realizada do romance de Frank Herbert, com maravilhosas tomadas e personagens carismáticos, embora ainda tropece em alguns momentos.

escrito por
Luis Henrique Franco
22/10/2021

Por muito tempo, o romance de ficção científica de Frank Herbert, "Duna", foi chamado de "o romance inadaptável" diante da enorme dificuldade dos cineastas em adaptar sua história para as grandes telas. E existem muitas provas para favorecer essa ideia, como o fato de que a adaptação de Alejandro Jodorowsky nunca ter sido finalizada, ou o fato de que a adaptação existente feita por David Lynch fez pouco sucesso e recebeu críticas pesadas. Aparentemente, porém, a nova versão da história, dirigida por Denis Villeneuve, veio para quebrar esse tabu do romance e possibilitar de vez sua passagem para as telas do cinema.

O universo de Duna explora um futuro distante, onde um poderoso Imperium se instalou na galáxia e no qual diversas famílias lutam por influência e poder comercial e militar. No centro dessa disputa, estão as famílias Atreides e Harkonnen, entre as quais se dá a disputa pelo controle do planeta Arrakis, de onde é extraída uma especiaria importante para o desenvolvimento do Império. Enquanto a disputa se dá entre as famílias, Paul Atreides (Timothee Chalamet), um jovem com grandes habilidades ainda incompreendidas, acompanha seu pai, Leto (Oscar Isaacs) quando esse é feito governador de Arrakis. Entretanto, o jovem logo se vê em meio a uma conspiração para destruir sua família e é forçado a buscar o apoio dos habitantes locais para se proteger dos planos do Barão Harkonnen (Stellan Skarsgard).

Timothee Chalamet como Paul Atreides em Duna

O romance de Frank Herbert sempre foi visto como um dos mais complexos da ficção científica, abordando diversos temas de política, religião e filosofia ao longo de suas mais de 600 páginas. A nova adaptação certamente bebe dessa complexidade, mergulhando profundamente no intrincado mundo de seus personagens, em suas necessidades políticas e na intensa rivalidade entre as famílias. Por um lado, isso é uma maneira excelente de fazer com que o público entende perfeitamente os aspectos importantes da trama, e a forma como o roteiro conduz suas explicações permite que tudo possa ser revelado de uma forma que não atrapalha o ritmo da narrativa nem soe extremamente cansativo. Misturando informações mostradas com outras explicadas pelo personagem, o filme garante a naturalidade de suas exposições e as concede ao público ao longo da narrativa ao invés de jogar tudo na nossa cara de uma vez.

Cena de Duna que mostra a organização do exército de uma das casas do Império

Essa exposição também auxilia no desenvolvimento dos arcos e motivações dos personagens. Conforme vamos entendo o intrincado sistema do Império, desde sua organização política até a presença de entidades religiosas poderosíssimas, como as Bene Gesserit, vamos também compreendendo o papel de cada um dos integrantes da família e sua importância no desenrolar da trama. Com grande habilidade narrativa, o filme nos revela o poder de Paul sobre a Voz, uma habilidade de controle que as Bene Gesserit guardam para si, e suas responsabilidades como herdeiro dos Atreides. Enquanto isso, ficamos sabendo, através de Jessica (Rebecca Ferguson) sobre a enorme influência das Bene Gesserit no Império e fora dele, manipulando as crenças do povo para fazê-los crer na vinda de um poderoso messias. Já a trama de Leto nos mostra não só as relações entre as famílias, mas também a habilidade diplomática necessária para lidar com os habitantes de Arrakis, os fremen, e conduzir a extração da especiaria.

Cena de Duna com Rebecca Ferguson ao centro, interpretando a Bene Gesserit Jessica Atreides.
Rebecca Ferguson como a Bene Gesserit Jessica Atreides.
Oscar Isaac no papel do duque Leto Atreides, em Duna.
Oscar Isaac no papel do duque Leto Atreides.

Denis Villeneuve não poupa esforços visuais para fazer seu filme se tornar uma grande obra-prima. Como é comum nos filmes do diretor, Duna possui uma fotografia maravilhosa e que explora as magníficas cores do planeta e o vasto mar de areia para proporcionar paisagens irreais de tão belas e enquadramentos dignos de pintura. Para além disso, o filme faz um uso incrível de efeitos especiais. Tudo, desde o maquinário de extração e as naves espaciais até os colossais e ameaçadores vermes da areia é feito com maestria, concedendo um show visual que, felizmente, não se perde em seu próprio espetáculo e preserva a fluidez e a compreensão da narrativa.

Mas diante de uma história tão complexa e que é tratada pelo diretor com igual complexidade, o filme acaba sendo vítima exatamente daquilo que o faz especial. Com todas as informações que o filme proporciona, mesmo com a organização do roteiro, ainda assim é perceptível uma grande sobrecarga mental por parte do público. Com a enorme riqueza desse universo, às vezes fica difícil acompanhar todos os aspectos e características dos diferentes povos e famílias e de todas as questões políticas, religiosas, econômicas e diplomáticas do Imperium. Chega um ponto em que todo esse acúmulo pesa para o espectador, e o filme se torna muito mais denso e demorado do que de fato é. E essa sensação de peso só piora pelo fato de que o filme é extremamente longo, com mais de 2h30 de duração.

Denis Villeneuve é um mestre da fotografia e consegue construir uma grande história com um ritmo mais lento, muitas vezes pagando o preço de que seus filmes deixem de ser os blockbusters que seus produtores e espectadores poderiam esperar. Não é algo ruim, e sacrificar esse lado popular para propiciar uma riqueza e uma reflexão maior em sua obra é algo a ser reconhecido. Ainda assim, Duna não é um filme que muitas pessoas conseguirão assistir sem se sentirem extremamente cansadas no final.

Mas talvez o principal aspecto negativo dessas questões é que, mesmo com sua longa duração, sua complexidade narrativa e sua exploração mais lenta da história, Duna ainda assim é uma obra incompleta. Isso porque o filme de Villeneuve cobre apenas dois terços do livro de Herbert, deixando sua parte final para uma segunda produção a ser lançada no futuro. Uma estratégia muito usada nos últimos anos, essa divisão de filmes em duas partes é irritante e deixa o público com uma sensação de que algo faltou. Não é algo que destrua completamente o filme, mas é decepcionante para o público saber que, após o cansaço passado durante todo esse filme, ele ainda terá que passar por tudo de novo em uma segunda parte ainda por ser lançada se quiser saber como a história irá se encerrar. Isso também faz com que muitos personagens tenham sua importância na trama adiada, como é o caso de Chani (Zendaya), que aparece ao longo de todo o filme em visões de Paul e se mostra como uma personagem importante para a trama, mas que não desempenha seu papel de destaque nesse filme, sendo reservada para a continuação.

Zendaya como a personagem Chani, em cena de uma das visões de Paul.

No geral, Duna tem muitos mais acertos do que erros. Seu ritmo é certamente difícil, um sacrifício feito conscientemente pela equipe e pelo diretor para explorar a fundo a riqueza de detalhes desse universo. E, no que diz respeito à construção de seu universo, personagens e narrativa, pode-se dizer que essa é finalmente uma adaptação digna do livro de Frank Herbert. Só nos resta esperar para ver como ela será encerrada.

E você? O que achou de Duna? Deixe sua opinião nos comentários.

ARTIGOS relacionados

deixe seu comentário