Dirigido por Renato Sircilli, o longa-metragem Fôlego, produzido pela Avoa Filmes, estará disponível no catálogo do serviço de streaming do Sesc "Cinema em Casa" a partir de 3 de dezembro. O longa estreou em diversos festivais em 2018 e, inclusive, recebeu a Menção Honrosa de Melhor Filme na Mostra de Filme Livre.

O longa acompanha um projeto iniciado por Sircilli e seu amigo, o ator Bruno Moreno. O filme partiria de fatos da vida do ator, que seriam readaptados e reencenados em um set de filmagem, com o propósito de se tentar flagrar alguma catarse. Contudo, enquanto o projeto era desenvolvido, o inesperado aconteceu. A mãe de Bruno veio a falecer. Durante algum tempo, o filme tentou contornar esse ocorrido, mas logo ficou claro que a ficção já não dava mais conta do processo e que seria impossível não se debruçar na questão do falecimento.
Com uma narrativa não-linear e um ritmo bastante lento, Fôlego é um projeto difícil de se acompanhar. Alternando constantemente entre as conversas trocadas entre o diretor e Bruno e as cenas que ambos já haviam filmado, a trama muitas vezes parece não conectar muito bem seus acontecimentos. Mostrando pequenos momentos do dia-a-dia do ator e depois reencenando-os com as mesmas pessoas, cria-se uma noção de repetição em determinados momentos que dificulta o entendimento para o público.
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Algumas cenas também são bastante prolongadas, e muitas delas são extremamente silenciosas. Por tudo isso, Fôlego definitivamente não é um filme fácil de se assistir. Ainda assim, é uma produção que consegue um grande feito ao apelar para o intimismo do cotidiano e a reflexão sobre acontecimentos do dia-a-dia. Sem nenhum grande evento sendo mostrado nas telas, ainda é um filme que consegue capturar a atenção através de reflexões sobre coisas diárias, incluindo conversas de WhatsApp.
Além disso, Sircilli realmente cria uma proposta inovadora ao não apagar o projeto anterior à morte da mãe de Bruno. Podemos notar um certo deslocamento de algumas cenas e percebemos que elas faziam parte da ideia original, e deixá-las no corte final foi realmente uma escolha excelente, pois contrasta o que aquela ideia estava se tornando com o que ela, forçosamente, precisou se tornar após o acontecimento.
É nas cenas que retratam a reação dos envolvidos à morte, que o filme traz uma de suas mensagens mais fortes, abordando o medo do esquecimento, a dificuldade de se conviver com a perda, o luto e a necessidade por catarse. Nas respostas de Bruno e em suas conversas com o diretor, percebemos o apreço que ambos tinham pela mãe dele, e as dificuldades em honrá-la devidamente no projeto, visto que praticamente não há registro midiático dela. E essa necessidade de se falar sobre o ocorrido contrasta com as demais cenas, onde tal assunto não é abordado, criando um bom panorama sobre como, às vezes, é difícil aceitar a perda de alguém.
Fôlego é certamente um filme difícil de se assistir, principalmente porque não segue uma estrutura convencional, o que pode deixar muita gente confusa sobre o que está acontecendo. Por traz disso, no entanto, o que se constrói é um grande debate sobre expressar suas emoções e aceitar a dor quando ela é necessária.

O longa permanecerá no ar dentro do serviço de streaming do Sesc até o dia 2 de janeiro de 2021. A plataforma, com curadoria do CineSesc, não exige cadastro e a exibição é gratuita.
UM OLHAR PARA OS CICLOS NATURAIS
A Clapper conversou um pouco com Renato Sircilli, diretor de Fôlego, que contou um pouco sobre a sua inspiração. Segundo ele, a ideia inicial era fazer uma mescla entre documentário e ficção em que se pensasse o ator como sendo ele próprio um personagem. Para isso, foram documentados aspectos da vida de seu colega, Bruno Moreno, e criar uma ficção a partir disso.
Renato também comenta como a morte da mãe de Bruno afetou a produção do filme. "A gente paralisou toda a produção por um ano para lidar com a perda", explica. "Quando a gente voltou, tentamos continuar com o projeto original e não abordar a questão da morte, mas no final sentimos que isso traía o próprio ideal inicial do filme". Com uma relação muito próxima com Bruno, Renato acredita nessas trocas horizontais entre pessoas nos cinemas, e que é necessário uma relação íntima para se falar sobre afeto e mostrar o cuidado e a preocupação entre eles.
"O filme mostra o processo de montagem e de entendimento dessa perda. Ele lida com a amizade entre dois homens e esses diferentes tipos de masculinidade", Renato explica. Ele também esclarece que o filme coloca todos os acontecimentos como forma de perspectiva, sem estabelecer uma verdade total. É por isso que as cenas mostrando a tela de um computador, onde ocorrem as conversas entre ele e Bruno, são tão importantes. "Elas mostram o meu olhar sobre o material, a minha perspectiva pessoal, não uma verdade absoluta".
Por fim, Renato acredita que seu filme seja importante para refletir sobre os ciclos naturais e entender que o processo de luto não é um processo linear, com momentos bem definidos e progressivos:
"É preciso respeitar o tempo de cada um e entender que esses ciclos são normais. É necessário ter carinho e paciência com esse processo, para que tais acontecimentos permaneçam conosco e nos modifiquem".