Crítica

Crítica

Halloween Kills: o terror deveria ter morrido

15/10/2021

Com um roteiro confuso e que abusa de absurdos, Halloween Kills tenta se apoiar na lenda de Michael Myers, mas não consegue fazer justiça ao grande Bicho-Papão criado por John Carpenter.

escrito por
Luis Henrique Franco

Com um roteiro confuso e que abusa de absurdos, Halloween Kills tenta se apoiar na lenda de Michael Myers, mas não consegue fazer justiça ao grande Bicho-Papão criado por John Carpenter.

escrito por
Luis Henrique Franco
15/10/2021

Algumas franquias precisam ser encerradas de uma vez por todas.

Muito além da saturação que algumas histórias já causam, algumas sagas simplesmente não possuem o suficiente para manter sua história viva por dezenas de filmes sem fim, e acabam caindo no ridículo e no absurdo. Tendo sido um dos maiores filmes de terror de todos os tempos, Halloween (1978) hoje em dia se enquadra nesse cenário. A grandiosa obra de John Carpenter, que tornou o Slasher um dos subgêneros mais populares do cinema, foi seguida por infinidade de sequências que abusaram dos personagens do filme original e cometeram exageros que tiraram muito de sua essência assustadora ao longo das décadas. E mesmo que a sequência lançada em 2018 tenha trazido um respiro para a franquia, o mesmo não pode ser dito de sua continuação, Halloween Kills: O Terror Continua.

O filme segue diretamente a história de 2018, mostrando como Michael Myers consegue escapar ao fogo iniciado por Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), sua filha Karen (Judy Greer) e sua neta Allyson (Andi Matichak). Novamente livre na noite de Halloween, Michael reinicia sua onda de assassinatos e chacinas, enquanto segue todo o caminho até a sua antiga residência em Haddonfield.

Michael Myers escapando do incêndio na casa dos Strode

Tudo nessa sequência parece querer fazer menção ao filme original. Logo a primeira cena remete a um flashback da noite do filme original, mostrando o jovem oficial Hawkins (Thomas Mann) em seu encontro com o assassino, e a incapacidade dele de matá-lo, encerrando o terror de uma vez por todas. De volta ao presente, o filme deixa Laurie em um segundo plano para trazer de volta à trama alguns dos sobreviventes do filme original (inclusive alguns interpretados pelos atores do filme original), que ao saberem que Michael está novamente livre, decidem tomar as coisas em suas próprias mãos e caçar o assassino para eliminá-lo de vez.

A ideia de fazer essas referências ao primeiro filme é um dos pontos bons do novo longa, não só porque estabelece uma relação mais forte com a história original, mas também porque, ao trazer os velhos personagens de volta, permite que o público testemunhe as marcas que os ataques de Michael deixaram em seus sobreviventes e na cidade como um todo. Mas o filme logo tropeça nessa escolha, valendo-se desse trauma e de um sentimento generalizado de vingança para justificar atitudes idiotas, como perseguir o assassino, mesmo sabendo de sua capacidade, o que leva a algumas mortes que são, no mínimo, engraçadas. Ainda assim, a estupidez das decisões tomadas surpreende até mesmo aqueles mais familiarizados com os clichês do terror.

Anthony Michael Hall é um dos principais problemas nesse sentido. Interpretando Tommy Doyle, um dos sobreviventes do filme original, ele é incapaz de dar a seu personagem a seriedade que seu trauma requer. Além disso, como um dos principais agitadores por essa busca por vingança, é ele quem acaba levando muitos outros personagens à morte, tornando sua presença em tela ainda mais insuportável.

Anthony Michael Hall como Tommy Doyle, pronto para caçar Michael com um bastão de baseball.

Michael Myers, por outro lado, é outro aspecto bem aproveitado do filme. Se a sequência de 2018 pareceu apresentar um Myers fragilizado pela idade, Halloween Kills retoma o insaciável assassino, colocando-o em situações de verdadeiros massacres pela cidade, executando suas vítimas de uma maneira brutal que justifica a posição do personagem como um dos ícones do Slasher. O filme também estabelece sua influência sobre a cidade, com seu retorno gerando um pânico geral que leva inúmeras pessoais a apoiarem a atitude irracional de persegui-lo e tentar por um fim em sua maldade. Mas novamente, o filme não consegue aproveitar seus acertos sem destruí-los no caminho.

Vamos começar pelo efeito de Myers na população. Por um lado, há uma mensagem interessante de como o medo e o pânico nos levam a tomar decisões erradas e a nos tornarmos o que juramos destruir. Por outro, tudo é tão mal executado. Não há evolução dos personagens em nenhum sentido. A partir do momento em que todos começam a gritar "O Mal Morre Essa Noite!", o filme não toma nenhuma decisão além do previsível, tornando uma escolha reflexiva interessante em mais um clichê cansativo. Além disso, a escala da situação assume proporções exageradas, que acentuam problemas de narrativa, como a ausência completa de um plano por parte dos civis para pegar Michael e o sacrifício desnecessário de pessoas em situações completamente evitáveis, além da completa ineficiência da polícia e das autoridades, ainda mais absurda nesse filme do que em outros do gênero.

O problema com Michael Myers também é parecido. Por um lado, o filme evita a situação criada pelo seu antecessor e escapa de qualquer tentativa de humanizar o assassino. Por isso, o Myers desse filme não expõe fragilidades ou vulnerabilidades, o que, como já foi dito, funciona para restaurar sua imagem de ícone do Slasher. Mas então o filme dá um passo a mais e transforma essa falta de humanidade justamente naquilo que deveria evitar: o aspecto sobrenatural, que leva à incompreensível e inverossímil imortalidade de Michael.

Michael Myers encara sua vítima do topo de uma escadaria

Mas isso não é nada comparado ao que o filme faz com suas protagonistas. Destaque do filme de 2018, Laurie Strode não tem função alguma nesse filme. Recuperando-se da ferida deixada pelo assassino no final do último filme, ela passa praticamente toda a trama dentro do hospital, de cama, sem tomar nenhuma ação importante e sendo apenas espectadora dos acontecimentos ao seu redor. Pode-se até justificar de que esse filme tentou focar mais em Myers, mas a presença de Laurie é tão desperdiçada na trama que seria melhor se ela tivesse morrido no último filme. Já Karen e Alysson assumem um papel de maior protagonismo, mas não conseguem preencher o vazio deixado por ela. Ambas participam mais ativamente da caçada a Michael, mas não conseguem ter uma presença forte no filme e acabam sendo pouco interessantes para o andamento da história.

Jamie Lee Curtis como Laurie Strode em cena no hospital de Halloween Kills
Judy Greer como Karen Strode, segurando a máscara de Michael Myers

No geral, Halloween Kills tenta obter substância da franquia para disfarçar que não tem nada a introduzir no universo criado por John Carpenter. O filme até tenta se conectar ao filme original e tecer uma história a partir de seus personagens que retornam, mas não consegue disfarçar que, no fundo, é apenas um segundo ato medíocre do que deve ser, no mínimo, uma trilogia para o personagem. Tudo o que ele consegue estabelecer é a existência de um terceiro filme no futuro, para o qual ninguém deve se interessar.

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Halloween Kills: O Terror Continua

Halloween Kills: O Terror Continua

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Com um roteiro confuso e que abusa de absurdos, Halloween Kills tenta se apoiar na lenda de Michael Myers, mas não consegue fazer justiça ao grande Bicho-Papão criado por John Carpenter.

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Luis Henrique Franco
15/10/2021

Algumas franquias precisam ser encerradas de uma vez por todas.

Muito além da saturação que algumas histórias já causam, algumas sagas simplesmente não possuem o suficiente para manter sua história viva por dezenas de filmes sem fim, e acabam caindo no ridículo e no absurdo. Tendo sido um dos maiores filmes de terror de todos os tempos, Halloween (1978) hoje em dia se enquadra nesse cenário. A grandiosa obra de John Carpenter, que tornou o Slasher um dos subgêneros mais populares do cinema, foi seguida por infinidade de sequências que abusaram dos personagens do filme original e cometeram exageros que tiraram muito de sua essência assustadora ao longo das décadas. E mesmo que a sequência lançada em 2018 tenha trazido um respiro para a franquia, o mesmo não pode ser dito de sua continuação, Halloween Kills: O Terror Continua.

O filme segue diretamente a história de 2018, mostrando como Michael Myers consegue escapar ao fogo iniciado por Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), sua filha Karen (Judy Greer) e sua neta Allyson (Andi Matichak). Novamente livre na noite de Halloween, Michael reinicia sua onda de assassinatos e chacinas, enquanto segue todo o caminho até a sua antiga residência em Haddonfield.

Michael Myers escapando do incêndio na casa dos Strode

Tudo nessa sequência parece querer fazer menção ao filme original. Logo a primeira cena remete a um flashback da noite do filme original, mostrando o jovem oficial Hawkins (Thomas Mann) em seu encontro com o assassino, e a incapacidade dele de matá-lo, encerrando o terror de uma vez por todas. De volta ao presente, o filme deixa Laurie em um segundo plano para trazer de volta à trama alguns dos sobreviventes do filme original (inclusive alguns interpretados pelos atores do filme original), que ao saberem que Michael está novamente livre, decidem tomar as coisas em suas próprias mãos e caçar o assassino para eliminá-lo de vez.

A ideia de fazer essas referências ao primeiro filme é um dos pontos bons do novo longa, não só porque estabelece uma relação mais forte com a história original, mas também porque, ao trazer os velhos personagens de volta, permite que o público testemunhe as marcas que os ataques de Michael deixaram em seus sobreviventes e na cidade como um todo. Mas o filme logo tropeça nessa escolha, valendo-se desse trauma e de um sentimento generalizado de vingança para justificar atitudes idiotas, como perseguir o assassino, mesmo sabendo de sua capacidade, o que leva a algumas mortes que são, no mínimo, engraçadas. Ainda assim, a estupidez das decisões tomadas surpreende até mesmo aqueles mais familiarizados com os clichês do terror.

Anthony Michael Hall é um dos principais problemas nesse sentido. Interpretando Tommy Doyle, um dos sobreviventes do filme original, ele é incapaz de dar a seu personagem a seriedade que seu trauma requer. Além disso, como um dos principais agitadores por essa busca por vingança, é ele quem acaba levando muitos outros personagens à morte, tornando sua presença em tela ainda mais insuportável.

Anthony Michael Hall como Tommy Doyle, pronto para caçar Michael com um bastão de baseball.

Michael Myers, por outro lado, é outro aspecto bem aproveitado do filme. Se a sequência de 2018 pareceu apresentar um Myers fragilizado pela idade, Halloween Kills retoma o insaciável assassino, colocando-o em situações de verdadeiros massacres pela cidade, executando suas vítimas de uma maneira brutal que justifica a posição do personagem como um dos ícones do Slasher. O filme também estabelece sua influência sobre a cidade, com seu retorno gerando um pânico geral que leva inúmeras pessoais a apoiarem a atitude irracional de persegui-lo e tentar por um fim em sua maldade. Mas novamente, o filme não consegue aproveitar seus acertos sem destruí-los no caminho.

Vamos começar pelo efeito de Myers na população. Por um lado, há uma mensagem interessante de como o medo e o pânico nos levam a tomar decisões erradas e a nos tornarmos o que juramos destruir. Por outro, tudo é tão mal executado. Não há evolução dos personagens em nenhum sentido. A partir do momento em que todos começam a gritar "O Mal Morre Essa Noite!", o filme não toma nenhuma decisão além do previsível, tornando uma escolha reflexiva interessante em mais um clichê cansativo. Além disso, a escala da situação assume proporções exageradas, que acentuam problemas de narrativa, como a ausência completa de um plano por parte dos civis para pegar Michael e o sacrifício desnecessário de pessoas em situações completamente evitáveis, além da completa ineficiência da polícia e das autoridades, ainda mais absurda nesse filme do que em outros do gênero.

O problema com Michael Myers também é parecido. Por um lado, o filme evita a situação criada pelo seu antecessor e escapa de qualquer tentativa de humanizar o assassino. Por isso, o Myers desse filme não expõe fragilidades ou vulnerabilidades, o que, como já foi dito, funciona para restaurar sua imagem de ícone do Slasher. Mas então o filme dá um passo a mais e transforma essa falta de humanidade justamente naquilo que deveria evitar: o aspecto sobrenatural, que leva à incompreensível e inverossímil imortalidade de Michael.

Michael Myers encara sua vítima do topo de uma escadaria

Mas isso não é nada comparado ao que o filme faz com suas protagonistas. Destaque do filme de 2018, Laurie Strode não tem função alguma nesse filme. Recuperando-se da ferida deixada pelo assassino no final do último filme, ela passa praticamente toda a trama dentro do hospital, de cama, sem tomar nenhuma ação importante e sendo apenas espectadora dos acontecimentos ao seu redor. Pode-se até justificar de que esse filme tentou focar mais em Myers, mas a presença de Laurie é tão desperdiçada na trama que seria melhor se ela tivesse morrido no último filme. Já Karen e Alysson assumem um papel de maior protagonismo, mas não conseguem preencher o vazio deixado por ela. Ambas participam mais ativamente da caçada a Michael, mas não conseguem ter uma presença forte no filme e acabam sendo pouco interessantes para o andamento da história.

Jamie Lee Curtis como Laurie Strode em cena no hospital de Halloween Kills
Judy Greer como Karen Strode, segurando a máscara de Michael Myers

No geral, Halloween Kills tenta obter substância da franquia para disfarçar que não tem nada a introduzir no universo criado por John Carpenter. O filme até tenta se conectar ao filme original e tecer uma história a partir de seus personagens que retornam, mas não consegue disfarçar que, no fundo, é apenas um segundo ato medíocre do que deve ser, no mínimo, uma trilogia para o personagem. Tudo o que ele consegue estabelecer é a existência de um terceiro filme no futuro, para o qual ninguém deve se interessar.

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Com um roteiro confuso e que abusa de absurdos, Halloween Kills tenta se apoiar na lenda de Michael Myers, mas não consegue fazer justiça ao grande Bicho-Papão criado por John Carpenter.

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Luis Henrique Franco
15/10/2021
nascimento

Com um roteiro confuso e que abusa de absurdos, Halloween Kills tenta se apoiar na lenda de Michael Myers, mas não consegue fazer justiça ao grande Bicho-Papão criado por John Carpenter.

escrito por
Luis Henrique Franco
15/10/2021

Algumas franquias precisam ser encerradas de uma vez por todas.

Muito além da saturação que algumas histórias já causam, algumas sagas simplesmente não possuem o suficiente para manter sua história viva por dezenas de filmes sem fim, e acabam caindo no ridículo e no absurdo. Tendo sido um dos maiores filmes de terror de todos os tempos, Halloween (1978) hoje em dia se enquadra nesse cenário. A grandiosa obra de John Carpenter, que tornou o Slasher um dos subgêneros mais populares do cinema, foi seguida por infinidade de sequências que abusaram dos personagens do filme original e cometeram exageros que tiraram muito de sua essência assustadora ao longo das décadas. E mesmo que a sequência lançada em 2018 tenha trazido um respiro para a franquia, o mesmo não pode ser dito de sua continuação, Halloween Kills: O Terror Continua.

O filme segue diretamente a história de 2018, mostrando como Michael Myers consegue escapar ao fogo iniciado por Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), sua filha Karen (Judy Greer) e sua neta Allyson (Andi Matichak). Novamente livre na noite de Halloween, Michael reinicia sua onda de assassinatos e chacinas, enquanto segue todo o caminho até a sua antiga residência em Haddonfield.

Michael Myers escapando do incêndio na casa dos Strode

Tudo nessa sequência parece querer fazer menção ao filme original. Logo a primeira cena remete a um flashback da noite do filme original, mostrando o jovem oficial Hawkins (Thomas Mann) em seu encontro com o assassino, e a incapacidade dele de matá-lo, encerrando o terror de uma vez por todas. De volta ao presente, o filme deixa Laurie em um segundo plano para trazer de volta à trama alguns dos sobreviventes do filme original (inclusive alguns interpretados pelos atores do filme original), que ao saberem que Michael está novamente livre, decidem tomar as coisas em suas próprias mãos e caçar o assassino para eliminá-lo de vez.

A ideia de fazer essas referências ao primeiro filme é um dos pontos bons do novo longa, não só porque estabelece uma relação mais forte com a história original, mas também porque, ao trazer os velhos personagens de volta, permite que o público testemunhe as marcas que os ataques de Michael deixaram em seus sobreviventes e na cidade como um todo. Mas o filme logo tropeça nessa escolha, valendo-se desse trauma e de um sentimento generalizado de vingança para justificar atitudes idiotas, como perseguir o assassino, mesmo sabendo de sua capacidade, o que leva a algumas mortes que são, no mínimo, engraçadas. Ainda assim, a estupidez das decisões tomadas surpreende até mesmo aqueles mais familiarizados com os clichês do terror.

Anthony Michael Hall é um dos principais problemas nesse sentido. Interpretando Tommy Doyle, um dos sobreviventes do filme original, ele é incapaz de dar a seu personagem a seriedade que seu trauma requer. Além disso, como um dos principais agitadores por essa busca por vingança, é ele quem acaba levando muitos outros personagens à morte, tornando sua presença em tela ainda mais insuportável.

Anthony Michael Hall como Tommy Doyle, pronto para caçar Michael com um bastão de baseball.

Michael Myers, por outro lado, é outro aspecto bem aproveitado do filme. Se a sequência de 2018 pareceu apresentar um Myers fragilizado pela idade, Halloween Kills retoma o insaciável assassino, colocando-o em situações de verdadeiros massacres pela cidade, executando suas vítimas de uma maneira brutal que justifica a posição do personagem como um dos ícones do Slasher. O filme também estabelece sua influência sobre a cidade, com seu retorno gerando um pânico geral que leva inúmeras pessoais a apoiarem a atitude irracional de persegui-lo e tentar por um fim em sua maldade. Mas novamente, o filme não consegue aproveitar seus acertos sem destruí-los no caminho.

Vamos começar pelo efeito de Myers na população. Por um lado, há uma mensagem interessante de como o medo e o pânico nos levam a tomar decisões erradas e a nos tornarmos o que juramos destruir. Por outro, tudo é tão mal executado. Não há evolução dos personagens em nenhum sentido. A partir do momento em que todos começam a gritar "O Mal Morre Essa Noite!", o filme não toma nenhuma decisão além do previsível, tornando uma escolha reflexiva interessante em mais um clichê cansativo. Além disso, a escala da situação assume proporções exageradas, que acentuam problemas de narrativa, como a ausência completa de um plano por parte dos civis para pegar Michael e o sacrifício desnecessário de pessoas em situações completamente evitáveis, além da completa ineficiência da polícia e das autoridades, ainda mais absurda nesse filme do que em outros do gênero.

O problema com Michael Myers também é parecido. Por um lado, o filme evita a situação criada pelo seu antecessor e escapa de qualquer tentativa de humanizar o assassino. Por isso, o Myers desse filme não expõe fragilidades ou vulnerabilidades, o que, como já foi dito, funciona para restaurar sua imagem de ícone do Slasher. Mas então o filme dá um passo a mais e transforma essa falta de humanidade justamente naquilo que deveria evitar: o aspecto sobrenatural, que leva à incompreensível e inverossímil imortalidade de Michael.

Michael Myers encara sua vítima do topo de uma escadaria

Mas isso não é nada comparado ao que o filme faz com suas protagonistas. Destaque do filme de 2018, Laurie Strode não tem função alguma nesse filme. Recuperando-se da ferida deixada pelo assassino no final do último filme, ela passa praticamente toda a trama dentro do hospital, de cama, sem tomar nenhuma ação importante e sendo apenas espectadora dos acontecimentos ao seu redor. Pode-se até justificar de que esse filme tentou focar mais em Myers, mas a presença de Laurie é tão desperdiçada na trama que seria melhor se ela tivesse morrido no último filme. Já Karen e Alysson assumem um papel de maior protagonismo, mas não conseguem preencher o vazio deixado por ela. Ambas participam mais ativamente da caçada a Michael, mas não conseguem ter uma presença forte no filme e acabam sendo pouco interessantes para o andamento da história.

Jamie Lee Curtis como Laurie Strode em cena no hospital de Halloween Kills
Judy Greer como Karen Strode, segurando a máscara de Michael Myers

No geral, Halloween Kills tenta obter substância da franquia para disfarçar que não tem nada a introduzir no universo criado por John Carpenter. O filme até tenta se conectar ao filme original e tecer uma história a partir de seus personagens que retornam, mas não consegue disfarçar que, no fundo, é apenas um segundo ato medíocre do que deve ser, no mínimo, uma trilogia para o personagem. Tudo o que ele consegue estabelecer é a existência de um terceiro filme no futuro, para o qual ninguém deve se interessar.

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