Quatro amigas, já cansadas de viver em sua pacata cidade, se juntam uma noite e, guiadas pela curiosidade, decidem pesquisar e invocar a assombração conhecida como Slender Man. Depois de passarem a noite pesquisando sobre o ser, as quatro começam a ter sensações estranhas e visões horripilantes quando a terrível criatura passa a vigiá-las e a atormentá-las, levando-as à completa loucura.

Navegando na famosa história de Eric Knudsen, lançada na internet em 2009, Slender Man: pesadelo sem Rosto tinha uma boa base para a construção de seu enredo, usando a polêmica dos desaparecimentos atribuídos à criatura para construir seu suspense e seu terror. Além disso, o fato de se basear em uma lenda urbana tão famosa já seria um bom chamariz dos fãs do gênero e poderia servir tanto para sua própria divulgação quanto para prender seu espectador na sala. Infelizmente, o filme fracassa em conceitos muito básicos e deixa de aproveitar seus principais momentos, resumindo-se a mais um filme chato com alguns poucos jump-scares capazes de pegar o público desprevenido. No fundo, poderia ser um grande filme, mas algumas coisas trabalharam juntas para torná-lo totalmente esquecível.
SUSPENSE TEM QUE LEVAR A ALGUM LUGAR
O que torna esse filme tão enfurecedor é o fato de que quem o assiste percebe que havia uma boa base para a tensão. Durante boa parte da história, o mistério que circunda o desaparecimento da primeira das amigas, Katie (Annalise Basso), é um bom ponto de partida, e o suspense construído em torno da investigação e dos primeiros momentos em que as outras meninas passam a ser perseguidas é muito capaz de te colocar em estado de alerta. Resumindo, se Slender Man falha como filme de terror, não é pela sua incapacidade de construir a tensão inicial.

O problema é a conclusão da mesma. Porque mesmo que não tenhamos certeza do que vai acontecer, nossa vivência de outros filmes do gênero nos faz ter uma ideia do que pode se seguir. E quando o filme segue exatamente pelo caminho que imaginamos, toda a tensão que foi construída nas cenas anteriores é desmanchada. Infelizmente, Slender Man não só cai nesse caminho, como é incapaz de sair dele. O resultado do suspense anteriormente dito são cenas de jump-scares sem nada de especial e a velha fórmula da entidade perseguidora que permanece constantemente atrás de suas vítimas, como todos os que já assistiram Invocação do Mal já conhecem e já estão cansadas de ver. Chega-se tão ao fundo da ideia do "eu sei o que vai acontecer agora" que o filme se torna extremamente sonolento.
E o mais enfurecedor disso tudo é justamente o potencial que o filme parece demonstrar em seus primeiros minutos de ser, se não um longa inovador do gênero, ao menos um que saiba explorar sua fórmula de uma maneira a nos provocar o mínimo de sensação de surpresa, mas fracassa nessa missão.
PRECISA MESMO MOSTRAR O BICHO?

Outro ponto que pega mal no filme é sua constante exibição da criatura em questão. Para aqueles que já jogaram o primeiro jogo sobre o Slender Man, é interessante lembrar que o terror não estava na aparição repentina do bicho, mas do fato de que ele estava sempre nos observando à distância quando virávamos para trás. Essa ideia de um "stalker", alguém que observa de longe e vai se aproximando aos poucos, infelizmente não é utilizada no filme, que prefere apresentar um monstro implacável que persegue suas vítimas de maneira quase predatória, o que leva a cenas extremamente longas da criatura encurralando e interagindo com as meninas, quando na realidade poderia-se ter optado por relances rápidos da criatura e focado mais no horror e no suspense que estava sendo construído nos primeiros momentos do filme.
A ideia de um filme mais voltado para o suspense é ainda reforçada pela maneira como o Slender Man perturba a mente das meninas e as faz ficarem paranoicas e obcecadas. As alucinações tanto de Wren (Joey King) quanto de Hallie (Julia Goldani Telles) foram pouco exploradas e, apesar de King ter conseguido demonstrar bem a insanidade que se apoderava de sua personagem, o que tivemos nos momentos de alucinação foi muito mais o fruto da ação de um tipo de Freddy Kruger do mundo real, distorcendo as coisas a seu bel prazer, do que realmente o fruto de uma possessão mental e de uma alucinação tenebrosa. Tudo porque o Slender Man tinha que estar presente em todos os momentos de terror.

E a constante presença da entidade acaba por ter outro efeito nocivo para o filme, tirando toda a noção de realidade que podemos ter e deixando claro se tratar de algo criado por efeitos visuais. É bem difícil ter medo de algo que você sabe que é falso, principalmente quando ele fica extremamente exposto.
PODERIA SER MELHOR?

Diante de todas essas críticas, faço questão também de levantar a polêmica envolvendo o filme, na qual, para evitar ofender ou afastar um público mais sensível, o estúdio responsável resolveu por cortar algumas cenas mais pesadas do longa. É difícil dizer qual o efeito que elas poderiam ter tido sobre o longa sem saber o que seria mostrado, mas podemos imaginar que as cenas reforçariam os momentos de terror do filme, podendo torná-los mais cativantes e mais sérios para o público.
Longe de querer dizer que todos os problemas do filme seriam consertados com essas cenas, mas às vezes um movimento do estúdio acaba por tirar alguma parte muito interessante, que poderia significar uma nova interpretação de todo o longa para o público. A ausência dessas cenas, por mais que o estúdio tente se explicar, acaba por tirar o conteúdo do filme e nos deixa na expectativa para o que poderia ter sido e, principalmente, para uma eventual edição do diretor.
Slender Man: Pesadelo sem Rosto estreia no dia 23 de agosto.