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Biográfico

Biográfico

M. Night Shyamalan: até onde pode ir o rei das reviravoltas?

22/7/2021

M. Night Shyamalan construiu sua fama e seu renome em filmes com grandes reviravoltas, e mesmo com alguns problemas no caminho, ele conseguiu se manter entre os grandes diretores de uma época onde plot twists se tornam mais comuns no cinema

escrito por
Luis Henrique Franco

M. Night Shyamalan construiu sua fama e seu renome em filmes com grandes reviravoltas, e mesmo com alguns problemas no caminho, ele conseguiu se manter entre os grandes diretores de uma época onde plot twists se tornam mais comuns no cinema

escrito por
Luis Henrique Franco
22/7/2021

Qualquer um que tenha visto um filme de M. Night Shyamalan sabe qual a sua marca tradicional. Com grandes produções no gênero do suspense, o diretor indiano se consagrou por, no final de todos os seus filmes, colocar uma enorme reviravolta no enredo, fazendo com que o entendimento do público sobre a história fosse completamente alterado. É por causa de sua capacidade de construir narrativas tão envolventes e, do nada, alterá-las com um simples jogo de revelações, que fez com que muitos de seus filmes se tornassem verdadeiros clássicos dos últimos trinta anos.

É claro que esses jogos de trama nem sempre dão certo, e em mais de uma ocasião, as reviravoltas de Shyamalan não saíram como esperado, decepcionando o público ou não o surpreendendo da forma que deveria. Ainda assim, a forma como ele introduz essa ferramenta narrativa em seus filmes justifica a sua fama. Agora, com o seu mais novo filme prestes a ser lançado, relembramos alguns grandes momentos de sua carreira e analisamos o quanto Shyamalan ainda pode continuar a entusiasmar seu público com seus roteiros imprevisíveis.

OS ANOS DE FORMAÇÃO

M. Night Shyamalan em evento da série Servant, da Apple Tv+

Nascido em Puducherry, Índia, Manoj Nelliyattu Shyamalan se mudou ainda jovem para os Estados Unidos e foi criado na Filadélfia. Aos oito anos, ganhou de presente uma câmera Super 8, e foi a partir de então que sua paixão pelo cinema começou a florescer. Seus primeiros projetos refletiam muito da inspiração de Shyamalan por Steven Spielberg, um de seus maiores ídolos.

Na época em que frequentou a Universidade de Nova York, decidiu alterar seu nome do meio para Night, com o qual passou a assinar desde então. Ainda na faculdade, recebeu o reconhecimento por seu Mérito como Estudante, possuindo as maiores notas de sua classe. Formado em 1992, no mesmo ano lançou seu primeiro filme, Praying with Anger, baseado em sua própria viagem de volta à Índia e produzido com os fundos que ele próprio juntou para a produção do filme.

Seu segundo filme, Olhos Abertos (1998), por sua vez, foi filmado na escola católica na qual ele estudou quando criança. Mesmo se mantendo hindu por influência de seus pais, Shyamalan sempre estudou em escolas cristãs da Filadélfia, o que fez com que ele sempre se sentisse deslocado entre os demais estudantes e provocaram nele um medo de que ele talvez fosse para o inferno quando morresse.

Olhos Abertos também marcou o começo das aparições surpresa de Shyamalan em seus próprios filmes, algo que ele incluiria em todos os seus longas consecutivos.

PRIMEIROS SUCESSOS E A INTRODUÇÃO DE SUA MARCA

Foi em 1999 que Shyamalan recebeu aclamação mundial como diretor de cinema, após lançar seu terceiro longa, O Sexto Sentido. Na trama, acompanhamos um psicólogo infantil com um enorme trauma em sua vida que é designado para cuidar do caso de um estranho garoto que diz ver gente morta o tempo todo. O filme se tornou um enorme sucesso por misturar elementos do sobrenatural com um enredo muito marca do pela tensão e o suspense. Foi também esse longa que inaugurou a tendência mais conhecida do diretor: a reviravolta final.

Desde que foi lançado, O Sexto Sentido continua sendo uma enorme referência pela forma como sua trama é completamente alterada pela sua revelação final. Seu sucesso de público lançou Shyamalan ao estrelato, e o filme foi indicado a seis categorias do Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Roteiro Original.

Logo após seu primeiro sucesso, Shyamalan atingiu novamente o reconhecimento cinematográfico ao lançar sua própria produção do gênero de super-heróis, Corpo Fechado (2000). Com Bruce Willis e Samuel L. Jackson, o filme conta a história de um homem que sobrevive a um terrível acidente de trem sem nenhum grande ferimento, apenas para ser confrontado por um homem aficionado por quadrinhos que acredita que ele seja um super-herói. Diferente dos filmes do gênero de atualmente, Corpo Fechado suportou o teste do tempo por tratar a sua história de uma forma mais natural, sem nunca revelar até o final se seu protagonista é ou não um super-homem. Criando uma verdadeira história de origem, sua trama não fala sobre o mocinho enfrentando um grande vilão, mas sim, um homem descobrindo seu verdadeiro potencial.

Com dois sucessos enormes na área do sobrenatural e do suspense, o próximo passo de Shyamalan foi explorar a área da ficção científica. Mais especificamente, o gênero dos alienígenas. Sinais (2002) conseguiu cativar seu público com uma trama que foca na expectativa e na tensão de ver a família principal se preparando para a invasão extraterrestre do que, de fato, mostrar os alienígenas a todo o momento. Com Mel Gibson e Joaquin Phoenix, o longa foca bastante nos dramas familiares e nas difíceis decisões que eles devem fazer: abandonar sua fazenda e tudo aquilo pelo qual eles lutaram, ou se manter no lugar e arriscar uma perigosa invasão de seres de outro planeta. Sua história é bastante tocante e muito bem arquitetada, mesmo que sua reviravolta seja, talvez, a mais fraca entre os três primeiros sucessos do diretor.

Logo em seguida, o diretor lançou outro filme bastante aclamado, A Vila (2004), que narra os acontecimentos de uma vila do período colonial que é aterrorizada por monstros da floresta que os impedem de sair do local onde vivem. Embora o filme receba críticas positivas, muitas pessoas desgostaram de sua reviravolta final, por desfazer toda a construção que havia sido feita até então de uma maneira extrema demais. De todos os primeiros sucessos do diretor, A Vila é talvez o menos aclamado, mesmo que ainda detenha vários métodos.

Cena de A Vila, em que a personagem de Bryce Dallas Howard tenta escapar de uma das criaturas da floresta.

O MOMENTO DE BAIXA

A recepção baixa de A Vila pareceu indicar a má fase do diretor durante os anos seguintes. Até então, seus filmes apresentavam roteiros consistentes e histórias interessantes, mesmo que a execução nem sempre foram perfeitas. Seus filmes subsequentes, no entanto, começaram a apresentar tramas bagunçadas ou pouco interessantes, fazendo com que Shyamalan caísse em um limbo de infâmia por alguns anos.

Em 2006, ele lançou A Dama da Água, que conta a história de um superintendente que resgata uma jovem moça de uma lagoa, apenas para descobrir que ela é na verdade uma personagem de uma história infantil, tentando retornar para sua casa. Mesmo com uma temática interessante, o filme foi mal recebido por críticas e público, marcando o primeiro verdadeiro fracasso do diretor.

O que se seguiu, porém, foi muito pior, pois logo em seguida Shyamalan lançou Fim dos Tempos (2008), estrelando Mark Wahlberg como um cientista que tenta proteger sua família de uma praga que faz os infectados cometerem suicídio. Novamente, uma proposta interessante, mas a execução foi tão ruim que levou esse filme a ser considerado um dos piores de todos os tempos. A reviravolta final certamente não ajudou a melhorar a visão das pessoas sobre essa produção.

Marl Wahlberg e Zooey Deschanel em cena do filme Fim dos Tempos.

Em 2010, Shyamalan foi escalado para dirigir O Último Mestre do Ar, adaptação live-action do icônico desenho infantil Avatar: A Lenda de Aang (2005). Mesmo com inúmeros fãs do desenho, a adaptação se tornou mais um fiasco para o diretor, tendo deixado muito da história do desenho de fora e alterado muito da personalidade de seus personagens principais. Os movimentos da dobra de elementos também foram mal executados e os efeitos especiais empregados foram estranhos e pouco convincentes. Mesmo com os maiores esforços de Shyamalan, O Último Mestre do Ar se tornou apenas uma piada entre os adoradores do desenho original, e um filme praticamente esquecido por todo o resto da população.

Pôster do filme O Último Mestre do Ar, adaptação live-action do desenho Avatar

Em 2013, o diretor retornou para o que poderia ser a sua redenção. Depois da Terra trazia uma premissa interessante sobre um universo pós-apocalíptico onde a humanidade deixou a Terra após um conflito intergaláctico contra seres que os rastreavam pelo medo, e trazia em seu elenco tanto Will Smith quanto seu filho Jaden. Com uma trama de sobrevivência e desenvolvimento de laços entre pai e filho, o filme poderia ter colocado Shyamalan de volta no topo, mas mais uma vez o resultado deixou a desejar, com a realização sendo pouco chamativa por si só e as atuações tanto de Will quanto de Jaden sendo pouco convincentes, a ponto de lhe renderem premiações no Framboesa de Ouro.

Will Smith e seu filho Jaden em cena de Depois da Terra

OS TRABALHOS MAIS RECENTES E O RETORNO AO UNIVERSO DOS HERÓIS

Após anos tentando lançar diversos projetos e não obtendo sucesso em nenhum deles, parecia que Shyamalan estaria fadado ao esquecimento. Mas foi então que o diretor retomou parte de sua glória ao lançar, em 2015, A Visita, seu primeiro grande filme em muitos anos. Deixando de lado a ficção científica e abordando uma história mais simples de suspense, o filme acompanha duas crianças que, em uma visita à casa de seus avós, começam a estranhar o comportamento do casal de idosos. Conforme o tempo passa, eles ficam cada vez mais aterrorizados pelos dois velhinhos e começam a investigar o que de fato está ocorrendo ali.

Mesmo não sendo igual aos seus melhores filmes, A Visita conseguiu provar que ainda havia algo que Shyamalan poderia proporcionar ao público, dando ao diretor uma nova chance dentro do cinema. E foi com essa chance que ele retornou ao universo de heróis que havia iniciado com Corpo Fechado, criando uma continuação inesperada, mas muito bem recebida. Fragmentado (2016) não se revela de imediato dentro do mesmo universo que o filme de 2000, inicialmente aparentando falar de um trio de garotas que é sequestrada por um homem problemático que sofre de múltiplas personalidades (James McAvoy). E durante boa parte de seu trajeto, o filme parece seguir nesse roteiro mais realista, sem nada de sobrenatural e focado mais na tensão e no suspense do sequestro. No entanto, o seu final apresenta a reviravolta de que Kevin (McAvoy) é capaz de invocar, como uma de suas personalidades, uma aberração animalesca de pele extremamente resistente, super agilidade e força sobre-humana, que acredita ser sua missão limpar a Terra dos chamados "impuros".

O sucesso de Fragmentado é inegável, e foi o principal impulso para que Shyamalan concluísse seu universo de heróis com seu terceiro grande filme, Vidro (2019), no qual retornam os personagens de Samuel L. Jackson e Bruce Willis introduzidos em Corpo Fechado. O terceiro filme, no entanto, não teve o mesmo apreço que os dois anteriores. Com uma trama lenta demais e que mantém seus personagens muito tempo presos em um asilo e só fornece um pouco de ação em seus momentos finais, sem nunca chegar ao que poderia ser de fato, Vidro se provou uma decepção, mesmo tendo capacidade de ser um grande desfecho para a trilogia.

O QUE O FUTURO RESERVA AO MESTRE DAS REVIRAVOLTAS?

2021 marca o retorno de M. Night Shyamalan aos cinemas após Vidro. Sua nova trama de suspense, traduzida no Brasil como Tempo, narra a história de uma família que decide passar um feriado em uma praia isolada e paradisíaca, mas descobre que o local está acelerando seu processo de envelhecimento e reduzindo seu tempo de vida drasticamente no período de apenas um dia.

Um retorno interessante para os gêneros de ficção científica, horror e suspense que tornaram o diretor famoso, Tempo possui uma boa premissa e um elenco marcante, encabeçado por Gael García Bernal (Diários de Motocicleta) e Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit). Se bem realizado, pode se tornar um dos grandes clássicos de Shyamalan. O problema é justamente o fato de que aquilo que tornou o diretor tão reconhecido em seus projetos já não é algo tão inovador quanto um dia foi.

Como acontece com muitas coisas no cinema, as inovações de Shyamalan foram usadas e empregadas por outros diretores e roteiristas, tornando-se algo comum em muitos filmes dos anos 2000 e 2010. Mais do que isso, o próprio uso contínuo que Shyamalan faz de seus recursos narrativos os tornaram previsíveis e esperados em seus filmes. Um bom exemplo disso são as próprias reviravoltas do diretor. Quando foram empregadas em O sexto Sentido e Corpo Fechado, ninguém esperava por elas, e a audiência foi surpreendida por sua existência. No momento em que elas começam a aparecer em quase todos os projetos do diretor, entretanto, seu efeito é diminuído, pois aqueles que acompanham sua carreira já esperam sua incorporação na história.

M. Night Shyamalan dirigindo uma cena de Fragmentado.

Então, qual seria a saída para que Shyamalan continue a ser um diretor influente no cinema atual? O que ele poderia oferecer? É difícil responder a essa pergunta de uma forma mais concreta e definitiva do que simplesmente dizendo "inovação". O fato é que a fórmula que o diretor usou em seus primeiros filmes e que os tornaram clássicos do começo dos anos 2000 já está datada. Ele ainda pode continuar utilizando seus traços narrativos mais marcantes, mas seria bom deixá-los menos previsíveis, alterando-os em suas produções futuras ou deixando de usá-los em alguns de seus projetos.

É inegável que Shyamalan contribuiu bastante para o cinema, principalmente para os gêneros de ficção científica e suspense, no começo de sua carreira. Mas, como já é natural para todos os grandes diretores, ele precisa se renovar se pretende continuar deixando sua marca. Quem sabe Tempo não seria o pontapé inicial para essa mudança.

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Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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M. Night Shyamalan construiu sua fama e seu renome em filmes com grandes reviravoltas, e mesmo com alguns problemas no caminho, ele conseguiu se manter entre os grandes diretores de uma época onde plot twists se tornam mais comuns no cinema

crítica por
Luis Henrique Franco
22/7/2021

Qualquer um que tenha visto um filme de M. Night Shyamalan sabe qual a sua marca tradicional. Com grandes produções no gênero do suspense, o diretor indiano se consagrou por, no final de todos os seus filmes, colocar uma enorme reviravolta no enredo, fazendo com que o entendimento do público sobre a história fosse completamente alterado. É por causa de sua capacidade de construir narrativas tão envolventes e, do nada, alterá-las com um simples jogo de revelações, que fez com que muitos de seus filmes se tornassem verdadeiros clássicos dos últimos trinta anos.

É claro que esses jogos de trama nem sempre dão certo, e em mais de uma ocasião, as reviravoltas de Shyamalan não saíram como esperado, decepcionando o público ou não o surpreendendo da forma que deveria. Ainda assim, a forma como ele introduz essa ferramenta narrativa em seus filmes justifica a sua fama. Agora, com o seu mais novo filme prestes a ser lançado, relembramos alguns grandes momentos de sua carreira e analisamos o quanto Shyamalan ainda pode continuar a entusiasmar seu público com seus roteiros imprevisíveis.

OS ANOS DE FORMAÇÃO

M. Night Shyamalan em evento da série Servant, da Apple Tv+

Nascido em Puducherry, Índia, Manoj Nelliyattu Shyamalan se mudou ainda jovem para os Estados Unidos e foi criado na Filadélfia. Aos oito anos, ganhou de presente uma câmera Super 8, e foi a partir de então que sua paixão pelo cinema começou a florescer. Seus primeiros projetos refletiam muito da inspiração de Shyamalan por Steven Spielberg, um de seus maiores ídolos.

Na época em que frequentou a Universidade de Nova York, decidiu alterar seu nome do meio para Night, com o qual passou a assinar desde então. Ainda na faculdade, recebeu o reconhecimento por seu Mérito como Estudante, possuindo as maiores notas de sua classe. Formado em 1992, no mesmo ano lançou seu primeiro filme, Praying with Anger, baseado em sua própria viagem de volta à Índia e produzido com os fundos que ele próprio juntou para a produção do filme.

Seu segundo filme, Olhos Abertos (1998), por sua vez, foi filmado na escola católica na qual ele estudou quando criança. Mesmo se mantendo hindu por influência de seus pais, Shyamalan sempre estudou em escolas cristãs da Filadélfia, o que fez com que ele sempre se sentisse deslocado entre os demais estudantes e provocaram nele um medo de que ele talvez fosse para o inferno quando morresse.

Olhos Abertos também marcou o começo das aparições surpresa de Shyamalan em seus próprios filmes, algo que ele incluiria em todos os seus longas consecutivos.

PRIMEIROS SUCESSOS E A INTRODUÇÃO DE SUA MARCA

Foi em 1999 que Shyamalan recebeu aclamação mundial como diretor de cinema, após lançar seu terceiro longa, O Sexto Sentido. Na trama, acompanhamos um psicólogo infantil com um enorme trauma em sua vida que é designado para cuidar do caso de um estranho garoto que diz ver gente morta o tempo todo. O filme se tornou um enorme sucesso por misturar elementos do sobrenatural com um enredo muito marca do pela tensão e o suspense. Foi também esse longa que inaugurou a tendência mais conhecida do diretor: a reviravolta final.

Desde que foi lançado, O Sexto Sentido continua sendo uma enorme referência pela forma como sua trama é completamente alterada pela sua revelação final. Seu sucesso de público lançou Shyamalan ao estrelato, e o filme foi indicado a seis categorias do Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Roteiro Original.

Logo após seu primeiro sucesso, Shyamalan atingiu novamente o reconhecimento cinematográfico ao lançar sua própria produção do gênero de super-heróis, Corpo Fechado (2000). Com Bruce Willis e Samuel L. Jackson, o filme conta a história de um homem que sobrevive a um terrível acidente de trem sem nenhum grande ferimento, apenas para ser confrontado por um homem aficionado por quadrinhos que acredita que ele seja um super-herói. Diferente dos filmes do gênero de atualmente, Corpo Fechado suportou o teste do tempo por tratar a sua história de uma forma mais natural, sem nunca revelar até o final se seu protagonista é ou não um super-homem. Criando uma verdadeira história de origem, sua trama não fala sobre o mocinho enfrentando um grande vilão, mas sim, um homem descobrindo seu verdadeiro potencial.

Com dois sucessos enormes na área do sobrenatural e do suspense, o próximo passo de Shyamalan foi explorar a área da ficção científica. Mais especificamente, o gênero dos alienígenas. Sinais (2002) conseguiu cativar seu público com uma trama que foca na expectativa e na tensão de ver a família principal se preparando para a invasão extraterrestre do que, de fato, mostrar os alienígenas a todo o momento. Com Mel Gibson e Joaquin Phoenix, o longa foca bastante nos dramas familiares e nas difíceis decisões que eles devem fazer: abandonar sua fazenda e tudo aquilo pelo qual eles lutaram, ou se manter no lugar e arriscar uma perigosa invasão de seres de outro planeta. Sua história é bastante tocante e muito bem arquitetada, mesmo que sua reviravolta seja, talvez, a mais fraca entre os três primeiros sucessos do diretor.

Logo em seguida, o diretor lançou outro filme bastante aclamado, A Vila (2004), que narra os acontecimentos de uma vila do período colonial que é aterrorizada por monstros da floresta que os impedem de sair do local onde vivem. Embora o filme receba críticas positivas, muitas pessoas desgostaram de sua reviravolta final, por desfazer toda a construção que havia sido feita até então de uma maneira extrema demais. De todos os primeiros sucessos do diretor, A Vila é talvez o menos aclamado, mesmo que ainda detenha vários métodos.

Cena de A Vila, em que a personagem de Bryce Dallas Howard tenta escapar de uma das criaturas da floresta.

O MOMENTO DE BAIXA

A recepção baixa de A Vila pareceu indicar a má fase do diretor durante os anos seguintes. Até então, seus filmes apresentavam roteiros consistentes e histórias interessantes, mesmo que a execução nem sempre foram perfeitas. Seus filmes subsequentes, no entanto, começaram a apresentar tramas bagunçadas ou pouco interessantes, fazendo com que Shyamalan caísse em um limbo de infâmia por alguns anos.

Em 2006, ele lançou A Dama da Água, que conta a história de um superintendente que resgata uma jovem moça de uma lagoa, apenas para descobrir que ela é na verdade uma personagem de uma história infantil, tentando retornar para sua casa. Mesmo com uma temática interessante, o filme foi mal recebido por críticas e público, marcando o primeiro verdadeiro fracasso do diretor.

O que se seguiu, porém, foi muito pior, pois logo em seguida Shyamalan lançou Fim dos Tempos (2008), estrelando Mark Wahlberg como um cientista que tenta proteger sua família de uma praga que faz os infectados cometerem suicídio. Novamente, uma proposta interessante, mas a execução foi tão ruim que levou esse filme a ser considerado um dos piores de todos os tempos. A reviravolta final certamente não ajudou a melhorar a visão das pessoas sobre essa produção.

Marl Wahlberg e Zooey Deschanel em cena do filme Fim dos Tempos.

Em 2010, Shyamalan foi escalado para dirigir O Último Mestre do Ar, adaptação live-action do icônico desenho infantil Avatar: A Lenda de Aang (2005). Mesmo com inúmeros fãs do desenho, a adaptação se tornou mais um fiasco para o diretor, tendo deixado muito da história do desenho de fora e alterado muito da personalidade de seus personagens principais. Os movimentos da dobra de elementos também foram mal executados e os efeitos especiais empregados foram estranhos e pouco convincentes. Mesmo com os maiores esforços de Shyamalan, O Último Mestre do Ar se tornou apenas uma piada entre os adoradores do desenho original, e um filme praticamente esquecido por todo o resto da população.

Pôster do filme O Último Mestre do Ar, adaptação live-action do desenho Avatar

Em 2013, o diretor retornou para o que poderia ser a sua redenção. Depois da Terra trazia uma premissa interessante sobre um universo pós-apocalíptico onde a humanidade deixou a Terra após um conflito intergaláctico contra seres que os rastreavam pelo medo, e trazia em seu elenco tanto Will Smith quanto seu filho Jaden. Com uma trama de sobrevivência e desenvolvimento de laços entre pai e filho, o filme poderia ter colocado Shyamalan de volta no topo, mas mais uma vez o resultado deixou a desejar, com a realização sendo pouco chamativa por si só e as atuações tanto de Will quanto de Jaden sendo pouco convincentes, a ponto de lhe renderem premiações no Framboesa de Ouro.

Will Smith e seu filho Jaden em cena de Depois da Terra

OS TRABALHOS MAIS RECENTES E O RETORNO AO UNIVERSO DOS HERÓIS

Após anos tentando lançar diversos projetos e não obtendo sucesso em nenhum deles, parecia que Shyamalan estaria fadado ao esquecimento. Mas foi então que o diretor retomou parte de sua glória ao lançar, em 2015, A Visita, seu primeiro grande filme em muitos anos. Deixando de lado a ficção científica e abordando uma história mais simples de suspense, o filme acompanha duas crianças que, em uma visita à casa de seus avós, começam a estranhar o comportamento do casal de idosos. Conforme o tempo passa, eles ficam cada vez mais aterrorizados pelos dois velhinhos e começam a investigar o que de fato está ocorrendo ali.

Mesmo não sendo igual aos seus melhores filmes, A Visita conseguiu provar que ainda havia algo que Shyamalan poderia proporcionar ao público, dando ao diretor uma nova chance dentro do cinema. E foi com essa chance que ele retornou ao universo de heróis que havia iniciado com Corpo Fechado, criando uma continuação inesperada, mas muito bem recebida. Fragmentado (2016) não se revela de imediato dentro do mesmo universo que o filme de 2000, inicialmente aparentando falar de um trio de garotas que é sequestrada por um homem problemático que sofre de múltiplas personalidades (James McAvoy). E durante boa parte de seu trajeto, o filme parece seguir nesse roteiro mais realista, sem nada de sobrenatural e focado mais na tensão e no suspense do sequestro. No entanto, o seu final apresenta a reviravolta de que Kevin (McAvoy) é capaz de invocar, como uma de suas personalidades, uma aberração animalesca de pele extremamente resistente, super agilidade e força sobre-humana, que acredita ser sua missão limpar a Terra dos chamados "impuros".

O sucesso de Fragmentado é inegável, e foi o principal impulso para que Shyamalan concluísse seu universo de heróis com seu terceiro grande filme, Vidro (2019), no qual retornam os personagens de Samuel L. Jackson e Bruce Willis introduzidos em Corpo Fechado. O terceiro filme, no entanto, não teve o mesmo apreço que os dois anteriores. Com uma trama lenta demais e que mantém seus personagens muito tempo presos em um asilo e só fornece um pouco de ação em seus momentos finais, sem nunca chegar ao que poderia ser de fato, Vidro se provou uma decepção, mesmo tendo capacidade de ser um grande desfecho para a trilogia.

O QUE O FUTURO RESERVA AO MESTRE DAS REVIRAVOLTAS?

2021 marca o retorno de M. Night Shyamalan aos cinemas após Vidro. Sua nova trama de suspense, traduzida no Brasil como Tempo, narra a história de uma família que decide passar um feriado em uma praia isolada e paradisíaca, mas descobre que o local está acelerando seu processo de envelhecimento e reduzindo seu tempo de vida drasticamente no período de apenas um dia.

Um retorno interessante para os gêneros de ficção científica, horror e suspense que tornaram o diretor famoso, Tempo possui uma boa premissa e um elenco marcante, encabeçado por Gael García Bernal (Diários de Motocicleta) e Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit). Se bem realizado, pode se tornar um dos grandes clássicos de Shyamalan. O problema é justamente o fato de que aquilo que tornou o diretor tão reconhecido em seus projetos já não é algo tão inovador quanto um dia foi.

Como acontece com muitas coisas no cinema, as inovações de Shyamalan foram usadas e empregadas por outros diretores e roteiristas, tornando-se algo comum em muitos filmes dos anos 2000 e 2010. Mais do que isso, o próprio uso contínuo que Shyamalan faz de seus recursos narrativos os tornaram previsíveis e esperados em seus filmes. Um bom exemplo disso são as próprias reviravoltas do diretor. Quando foram empregadas em O sexto Sentido e Corpo Fechado, ninguém esperava por elas, e a audiência foi surpreendida por sua existência. No momento em que elas começam a aparecer em quase todos os projetos do diretor, entretanto, seu efeito é diminuído, pois aqueles que acompanham sua carreira já esperam sua incorporação na história.

M. Night Shyamalan dirigindo uma cena de Fragmentado.

Então, qual seria a saída para que Shyamalan continue a ser um diretor influente no cinema atual? O que ele poderia oferecer? É difícil responder a essa pergunta de uma forma mais concreta e definitiva do que simplesmente dizendo "inovação". O fato é que a fórmula que o diretor usou em seus primeiros filmes e que os tornaram clássicos do começo dos anos 2000 já está datada. Ele ainda pode continuar utilizando seus traços narrativos mais marcantes, mas seria bom deixá-los menos previsíveis, alterando-os em suas produções futuras ou deixando de usá-los em alguns de seus projetos.

É inegável que Shyamalan contribuiu bastante para o cinema, principalmente para os gêneros de ficção científica e suspense, no começo de sua carreira. Mas, como já é natural para todos os grandes diretores, ele precisa se renovar se pretende continuar deixando sua marca. Quem sabe Tempo não seria o pontapé inicial para essa mudança.

confira o trailer

Biográfico

M. Night Shyamalan

M. Night Shyamalan construiu sua fama e seu renome em filmes com grandes reviravoltas, e mesmo com alguns problemas no caminho, ele conseguiu se manter entre os grandes diretores de uma época onde plot twists se tornam mais comuns no cinema

escrito por
Luis Henrique Franco
22/7/2021
M. Night Shyamalan
Diretor e Produtor
nascimento
1970
M. Night Shyamalan nasceu na Índia e, nos anos 90, começou uma carreira explosiva no cinema, com filmes caracterizados principalmente por seu ar de suspense sobrenatural e suas reviravoltas imprevisíveis.

M. Night Shyamalan construiu sua fama e seu renome em filmes com grandes reviravoltas, e mesmo com alguns problemas no caminho, ele conseguiu se manter entre os grandes diretores de uma época onde plot twists se tornam mais comuns no cinema

escrito por
Luis Henrique Franco
22/7/2021

Qualquer um que tenha visto um filme de M. Night Shyamalan sabe qual a sua marca tradicional. Com grandes produções no gênero do suspense, o diretor indiano se consagrou por, no final de todos os seus filmes, colocar uma enorme reviravolta no enredo, fazendo com que o entendimento do público sobre a história fosse completamente alterado. É por causa de sua capacidade de construir narrativas tão envolventes e, do nada, alterá-las com um simples jogo de revelações, que fez com que muitos de seus filmes se tornassem verdadeiros clássicos dos últimos trinta anos.

É claro que esses jogos de trama nem sempre dão certo, e em mais de uma ocasião, as reviravoltas de Shyamalan não saíram como esperado, decepcionando o público ou não o surpreendendo da forma que deveria. Ainda assim, a forma como ele introduz essa ferramenta narrativa em seus filmes justifica a sua fama. Agora, com o seu mais novo filme prestes a ser lançado, relembramos alguns grandes momentos de sua carreira e analisamos o quanto Shyamalan ainda pode continuar a entusiasmar seu público com seus roteiros imprevisíveis.

OS ANOS DE FORMAÇÃO

M. Night Shyamalan em evento da série Servant, da Apple Tv+

Nascido em Puducherry, Índia, Manoj Nelliyattu Shyamalan se mudou ainda jovem para os Estados Unidos e foi criado na Filadélfia. Aos oito anos, ganhou de presente uma câmera Super 8, e foi a partir de então que sua paixão pelo cinema começou a florescer. Seus primeiros projetos refletiam muito da inspiração de Shyamalan por Steven Spielberg, um de seus maiores ídolos.

Na época em que frequentou a Universidade de Nova York, decidiu alterar seu nome do meio para Night, com o qual passou a assinar desde então. Ainda na faculdade, recebeu o reconhecimento por seu Mérito como Estudante, possuindo as maiores notas de sua classe. Formado em 1992, no mesmo ano lançou seu primeiro filme, Praying with Anger, baseado em sua própria viagem de volta à Índia e produzido com os fundos que ele próprio juntou para a produção do filme.

Seu segundo filme, Olhos Abertos (1998), por sua vez, foi filmado na escola católica na qual ele estudou quando criança. Mesmo se mantendo hindu por influência de seus pais, Shyamalan sempre estudou em escolas cristãs da Filadélfia, o que fez com que ele sempre se sentisse deslocado entre os demais estudantes e provocaram nele um medo de que ele talvez fosse para o inferno quando morresse.

Olhos Abertos também marcou o começo das aparições surpresa de Shyamalan em seus próprios filmes, algo que ele incluiria em todos os seus longas consecutivos.

PRIMEIROS SUCESSOS E A INTRODUÇÃO DE SUA MARCA

Foi em 1999 que Shyamalan recebeu aclamação mundial como diretor de cinema, após lançar seu terceiro longa, O Sexto Sentido. Na trama, acompanhamos um psicólogo infantil com um enorme trauma em sua vida que é designado para cuidar do caso de um estranho garoto que diz ver gente morta o tempo todo. O filme se tornou um enorme sucesso por misturar elementos do sobrenatural com um enredo muito marca do pela tensão e o suspense. Foi também esse longa que inaugurou a tendência mais conhecida do diretor: a reviravolta final.

Desde que foi lançado, O Sexto Sentido continua sendo uma enorme referência pela forma como sua trama é completamente alterada pela sua revelação final. Seu sucesso de público lançou Shyamalan ao estrelato, e o filme foi indicado a seis categorias do Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Roteiro Original.

Logo após seu primeiro sucesso, Shyamalan atingiu novamente o reconhecimento cinematográfico ao lançar sua própria produção do gênero de super-heróis, Corpo Fechado (2000). Com Bruce Willis e Samuel L. Jackson, o filme conta a história de um homem que sobrevive a um terrível acidente de trem sem nenhum grande ferimento, apenas para ser confrontado por um homem aficionado por quadrinhos que acredita que ele seja um super-herói. Diferente dos filmes do gênero de atualmente, Corpo Fechado suportou o teste do tempo por tratar a sua história de uma forma mais natural, sem nunca revelar até o final se seu protagonista é ou não um super-homem. Criando uma verdadeira história de origem, sua trama não fala sobre o mocinho enfrentando um grande vilão, mas sim, um homem descobrindo seu verdadeiro potencial.

Com dois sucessos enormes na área do sobrenatural e do suspense, o próximo passo de Shyamalan foi explorar a área da ficção científica. Mais especificamente, o gênero dos alienígenas. Sinais (2002) conseguiu cativar seu público com uma trama que foca na expectativa e na tensão de ver a família principal se preparando para a invasão extraterrestre do que, de fato, mostrar os alienígenas a todo o momento. Com Mel Gibson e Joaquin Phoenix, o longa foca bastante nos dramas familiares e nas difíceis decisões que eles devem fazer: abandonar sua fazenda e tudo aquilo pelo qual eles lutaram, ou se manter no lugar e arriscar uma perigosa invasão de seres de outro planeta. Sua história é bastante tocante e muito bem arquitetada, mesmo que sua reviravolta seja, talvez, a mais fraca entre os três primeiros sucessos do diretor.

Logo em seguida, o diretor lançou outro filme bastante aclamado, A Vila (2004), que narra os acontecimentos de uma vila do período colonial que é aterrorizada por monstros da floresta que os impedem de sair do local onde vivem. Embora o filme receba críticas positivas, muitas pessoas desgostaram de sua reviravolta final, por desfazer toda a construção que havia sido feita até então de uma maneira extrema demais. De todos os primeiros sucessos do diretor, A Vila é talvez o menos aclamado, mesmo que ainda detenha vários métodos.

Cena de A Vila, em que a personagem de Bryce Dallas Howard tenta escapar de uma das criaturas da floresta.

O MOMENTO DE BAIXA

A recepção baixa de A Vila pareceu indicar a má fase do diretor durante os anos seguintes. Até então, seus filmes apresentavam roteiros consistentes e histórias interessantes, mesmo que a execução nem sempre foram perfeitas. Seus filmes subsequentes, no entanto, começaram a apresentar tramas bagunçadas ou pouco interessantes, fazendo com que Shyamalan caísse em um limbo de infâmia por alguns anos.

Em 2006, ele lançou A Dama da Água, que conta a história de um superintendente que resgata uma jovem moça de uma lagoa, apenas para descobrir que ela é na verdade uma personagem de uma história infantil, tentando retornar para sua casa. Mesmo com uma temática interessante, o filme foi mal recebido por críticas e público, marcando o primeiro verdadeiro fracasso do diretor.

O que se seguiu, porém, foi muito pior, pois logo em seguida Shyamalan lançou Fim dos Tempos (2008), estrelando Mark Wahlberg como um cientista que tenta proteger sua família de uma praga que faz os infectados cometerem suicídio. Novamente, uma proposta interessante, mas a execução foi tão ruim que levou esse filme a ser considerado um dos piores de todos os tempos. A reviravolta final certamente não ajudou a melhorar a visão das pessoas sobre essa produção.

Marl Wahlberg e Zooey Deschanel em cena do filme Fim dos Tempos.

Em 2010, Shyamalan foi escalado para dirigir O Último Mestre do Ar, adaptação live-action do icônico desenho infantil Avatar: A Lenda de Aang (2005). Mesmo com inúmeros fãs do desenho, a adaptação se tornou mais um fiasco para o diretor, tendo deixado muito da história do desenho de fora e alterado muito da personalidade de seus personagens principais. Os movimentos da dobra de elementos também foram mal executados e os efeitos especiais empregados foram estranhos e pouco convincentes. Mesmo com os maiores esforços de Shyamalan, O Último Mestre do Ar se tornou apenas uma piada entre os adoradores do desenho original, e um filme praticamente esquecido por todo o resto da população.

Pôster do filme O Último Mestre do Ar, adaptação live-action do desenho Avatar

Em 2013, o diretor retornou para o que poderia ser a sua redenção. Depois da Terra trazia uma premissa interessante sobre um universo pós-apocalíptico onde a humanidade deixou a Terra após um conflito intergaláctico contra seres que os rastreavam pelo medo, e trazia em seu elenco tanto Will Smith quanto seu filho Jaden. Com uma trama de sobrevivência e desenvolvimento de laços entre pai e filho, o filme poderia ter colocado Shyamalan de volta no topo, mas mais uma vez o resultado deixou a desejar, com a realização sendo pouco chamativa por si só e as atuações tanto de Will quanto de Jaden sendo pouco convincentes, a ponto de lhe renderem premiações no Framboesa de Ouro.

Will Smith e seu filho Jaden em cena de Depois da Terra

OS TRABALHOS MAIS RECENTES E O RETORNO AO UNIVERSO DOS HERÓIS

Após anos tentando lançar diversos projetos e não obtendo sucesso em nenhum deles, parecia que Shyamalan estaria fadado ao esquecimento. Mas foi então que o diretor retomou parte de sua glória ao lançar, em 2015, A Visita, seu primeiro grande filme em muitos anos. Deixando de lado a ficção científica e abordando uma história mais simples de suspense, o filme acompanha duas crianças que, em uma visita à casa de seus avós, começam a estranhar o comportamento do casal de idosos. Conforme o tempo passa, eles ficam cada vez mais aterrorizados pelos dois velhinhos e começam a investigar o que de fato está ocorrendo ali.

Mesmo não sendo igual aos seus melhores filmes, A Visita conseguiu provar que ainda havia algo que Shyamalan poderia proporcionar ao público, dando ao diretor uma nova chance dentro do cinema. E foi com essa chance que ele retornou ao universo de heróis que havia iniciado com Corpo Fechado, criando uma continuação inesperada, mas muito bem recebida. Fragmentado (2016) não se revela de imediato dentro do mesmo universo que o filme de 2000, inicialmente aparentando falar de um trio de garotas que é sequestrada por um homem problemático que sofre de múltiplas personalidades (James McAvoy). E durante boa parte de seu trajeto, o filme parece seguir nesse roteiro mais realista, sem nada de sobrenatural e focado mais na tensão e no suspense do sequestro. No entanto, o seu final apresenta a reviravolta de que Kevin (McAvoy) é capaz de invocar, como uma de suas personalidades, uma aberração animalesca de pele extremamente resistente, super agilidade e força sobre-humana, que acredita ser sua missão limpar a Terra dos chamados "impuros".

O sucesso de Fragmentado é inegável, e foi o principal impulso para que Shyamalan concluísse seu universo de heróis com seu terceiro grande filme, Vidro (2019), no qual retornam os personagens de Samuel L. Jackson e Bruce Willis introduzidos em Corpo Fechado. O terceiro filme, no entanto, não teve o mesmo apreço que os dois anteriores. Com uma trama lenta demais e que mantém seus personagens muito tempo presos em um asilo e só fornece um pouco de ação em seus momentos finais, sem nunca chegar ao que poderia ser de fato, Vidro se provou uma decepção, mesmo tendo capacidade de ser um grande desfecho para a trilogia.

O QUE O FUTURO RESERVA AO MESTRE DAS REVIRAVOLTAS?

2021 marca o retorno de M. Night Shyamalan aos cinemas após Vidro. Sua nova trama de suspense, traduzida no Brasil como Tempo, narra a história de uma família que decide passar um feriado em uma praia isolada e paradisíaca, mas descobre que o local está acelerando seu processo de envelhecimento e reduzindo seu tempo de vida drasticamente no período de apenas um dia.

Um retorno interessante para os gêneros de ficção científica, horror e suspense que tornaram o diretor famoso, Tempo possui uma boa premissa e um elenco marcante, encabeçado por Gael García Bernal (Diários de Motocicleta) e Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit). Se bem realizado, pode se tornar um dos grandes clássicos de Shyamalan. O problema é justamente o fato de que aquilo que tornou o diretor tão reconhecido em seus projetos já não é algo tão inovador quanto um dia foi.

Como acontece com muitas coisas no cinema, as inovações de Shyamalan foram usadas e empregadas por outros diretores e roteiristas, tornando-se algo comum em muitos filmes dos anos 2000 e 2010. Mais do que isso, o próprio uso contínuo que Shyamalan faz de seus recursos narrativos os tornaram previsíveis e esperados em seus filmes. Um bom exemplo disso são as próprias reviravoltas do diretor. Quando foram empregadas em O sexto Sentido e Corpo Fechado, ninguém esperava por elas, e a audiência foi surpreendida por sua existência. No momento em que elas começam a aparecer em quase todos os projetos do diretor, entretanto, seu efeito é diminuído, pois aqueles que acompanham sua carreira já esperam sua incorporação na história.

M. Night Shyamalan dirigindo uma cena de Fragmentado.

Então, qual seria a saída para que Shyamalan continue a ser um diretor influente no cinema atual? O que ele poderia oferecer? É difícil responder a essa pergunta de uma forma mais concreta e definitiva do que simplesmente dizendo "inovação". O fato é que a fórmula que o diretor usou em seus primeiros filmes e que os tornaram clássicos do começo dos anos 2000 já está datada. Ele ainda pode continuar utilizando seus traços narrativos mais marcantes, mas seria bom deixá-los menos previsíveis, alterando-os em suas produções futuras ou deixando de usá-los em alguns de seus projetos.

É inegável que Shyamalan contribuiu bastante para o cinema, principalmente para os gêneros de ficção científica e suspense, no começo de sua carreira. Mas, como já é natural para todos os grandes diretores, ele precisa se renovar se pretende continuar deixando sua marca. Quem sabe Tempo não seria o pontapé inicial para essa mudança.

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