Não é difícil entender porque os filmes de super-heróis estão se tornando tão cansativos e frustrantes nos últimos anos. Após uma era de ouro ao longo da última década, muitas das últimas produções desse gênero empacaram em uma fórmula extremamente repetitiva e cansativa, que os torna previsíveis e tira muito do clamor popular que tais filmes poderiam ter. Mais frustrante ainda, no entanto, são os filmes do gênero que têm a possibilidade de introduzir algo novo, mas continuam a se esconder atrás dessa fórmula e não aproveitam quase nada do potencial de seus personagens e histórias. Morbius é um dos piores exemplos desse tipo de filme.
O filme narra a história de origem de um dos personagens mais sombrios do universo Marvel, dr. Michael Morbius. Logo no início, é revelada a doença que afeta o personagem principal, vivido por Jared Leto. Buscando uma cura para essa condição terrível em seu sangue, Morbius inicia uma pesquisa tentando misturar o DNA humano com o de um morcego vampiro. Ao testar o ocorrido em si mesmo, no entanto, ele se transforma em um ser sombrio, um vampiro vivo que necessita consumir sangue para sobreviver.
Pode-se entender porque esse filme poderia ser um ponto inovador para os filmes de super-heróis da Marvel. Não só a sua premissa traz uma mistura interessante de fantasia e ficção científica, como também introduz um personagem mais sombrio, violento e perigoso, um anti-herói que poderia colocar a Marvel dentro do gênero do terror e abrir as portas para novos personagens e novas explorações mais sérias, adultas e sombrias do universo dos heróis. Por isso, é decepcionante ver que os produtores do filme optaram por seguir uma fórmula entediante e conhecida.
O começo do filme segue os conceitos básicos de um filme de origem de heróis, apresentando o protagonista, seus problemas e a maneira como ele pretende lidar com ele. Ao longo dessa introdução, no entanto, temos a sensação de que o filme ainda pode seguir para um caminho mais assustador e interessante, o que se desfaz na primeira transformação de Morbius, uma cena que não apresenta nada além de efeitos especiais excessivos e confusos, uma maquiagem esquisita para o personagem e um ataque extremamente censurado à tripulação de um navio. Ao longo do filme, vários ataques como esse acontecem, um mais fraco do que o outro e nenhum com qualquer toque de aterrorizante, mostrando uma enorme covardia do estúdio, que evita a todo o custo perder seu público mais jovem.
Mas a falta de violência e a censura a cenas mais pesadas não seria um problema tão sério se o filme fosse bem estruturado. Mas Morbius consegue ser uma bagunça em questão de atuações, roteiro e efeitos, sem nada de sólido para oferecer como contrapeso. As motivações do protagonista para realizar a experiência e sua luta para conter o vampiro são compreensíveis, mas nunca assumem a forma de um embate moral sério, pois o filme não explora esse aspecto colocando o personagem em cenas realmente sérias onde tais convicções podem ser testadas. Existe um conflito entre a moral de Morbius e a do vilão do filme, Milo (Matt Smith), mas não uma que crie nada além do motivo mais simples e banal para ambos serem inimigos.
E por falar em vilão, Milo é sem dúvida um dos piores da história da Marvel e da Sony. Suas motivações são fracas, seu aprofundamento é nulo e sua própria transição para vilão acontece do nada e sem nenhum motivo realmente satisfatório, o que torna o conflito dele com Morbius ainda menos entusiasmante. O que poderia se tornar um dilema moral entre os dois personagens se torna apenas uma série de lutas mal coreografadas e cheias de efeitos especiais que explodem por toda a parte, tornando as cenas confusas e indigestas.
Os demais personagens são dispensáveis. O filme gasta atores como Jared Harris e Tyrese Gibson colocando um em um papel vazio e sem importância e o outro no corpo de um agente inútil do FBI, que nada faz além de chegar atrasado nos locais. Adria Arjona ainda possui mais destaque e possui alguma relevância para a cena, mas não sustenta nem seu papel de doutora que ajuda o protagonista e nem o de interesse romântico do herói, criando um dos casais mais sem graça dos filmes de super-heróis.
Já Jared Leto deveria se aposentar de filmes baseados em quadrinhos. Seu Morbius é apático, inexpressivo e entediante. Quando transformado, ele é apenas um animal de maquiagem e efeitos especiais sem qualquer personalidade. Quando humano, ele não possui nenhuma presença de cena e é incapaz de transmitir as dores e os conflitos do personagem. O pior é que o filme tenta dar a Morbius uma história trágica e séria, mas tanto o roteiro quanto a atuação de Leto o transformam em um vampiro mais embaraçoso do que qualquer coisa saída de Crepúsculo.
A verdade é que Morbius é fruto do medo do estúdio, que viu no personagem uma possibilidade para atrair público, mas ignorou o que o torna tão atrativo, ou até reconheceu esses fatores, mas não se dispôs a explorá-los no filme. O resultado é um filme que só não vai ser esquecido em meio ao grande acúmulo de filmes de heróis de nossa época por ser tão ruim a ponto de traumatizar o espectador. Ao menos, sob esse ponto de vista, Morbius consegue ser assustador.
O filme é mais um capítulo do universo de heróis da Sony e estreou dia 31 de março nos cinemas.