Crítica

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O Último Duelo: um filme que merece mais atenção

19/1/2022

Mesmo que cansativo em momentos, O Último Duelo conta uma história interessante através de uma construção narrativa essencial para levantar todos os aspectos importantes de sua história e explorar sua temática sobre todos os ângulos necessários.

escrito por
Luis Henrique Franco

Mesmo que cansativo em momentos, O Último Duelo conta uma história interessante através de uma construção narrativa essencial para levantar todos os aspectos importantes de sua história e explorar sua temática sobre todos os ângulos necessários.

escrito por
Luis Henrique Franco
19/1/2022

Tendo chegado ao serviço de streaming Star+ nesse dia 19, O Último Duelo teve uma passagem pouco chamativa pelo cinema, apesar de seu elenco estelar e da direção de Ridley Scott. O drama medieval pode não ter cativado muito a audiência, mas certamente é um filme que merece ser assistido pela maneira como sua história analisa uma situação real extremamente pertinente nos dias atuais, construindo sua narrativa com o objetivo de apresentar as visões de diferentes personagens sobre si mesmos e sobre os fatos.

A trama se passa na França do século XIV, em meio aos conflitos com a Inglaterra, e acompanha o caso que se sucedeu após Marguerite de Carrouges (Jodie Comer), nobre casada com Jean de Carrouges (Matt Damon), apresentar uma acusação severa de que ela teria sido estuprada pelo também cavaleiro Jacques Le Gris (Adam Driver), fato que ele prontamente nega. Sem maneira de provar a inocência ou culpa de nenhum dos lados, é determinado que Carrouges e Le Gris devem se enfrentar em um duelo até a morte, do qual o vencedor será considerado o portador da verdade.

Matt Damon como Jean de Carrouges, armado para o duelo.

Com o objetivo de cobrir com maior amplitude toda a história, o filme opta por se dividir em três partes, cada uma acompanhando um dos três personagens principais, narrando a maneira como ele viu os acontecimentos. Apresentando essa visão tríplice, o filme consegue dar a seus personagens uma enorme complexidade, nunca apresentando-os como pessoas definidas apenas por um lado e sempre trazendo mais de uma visão sobre quem eles são. Obviamente a visão de cada um favorece a si mesmo, e é interessante ver a maneira como o filme mostra as mesmas cenas sob esses diferentes pontos de vista, alterando os acontecimentos para realçar a visão do personagem em quem está centrado no momento.

Articulando bem a sua sucessão de eventos, o filme se inicia com a visão de Carrouges, explicando sua história com Le Gris, da época em que eram amigos até a inimizade que se alastrou entre eles no momento em que Le Gris se tornou braço direito de Pierre D'Alençon (Ben Affleck), senhor de ambos e um homem que detestava Carrouges. A partir daí, os eventos narrados sempre colocam o personagem de Damon como um homem correto, que sofre na mão de seus senhores cruéis e luta para preservar sua vida ao lado de sua esposa e defender sua honra após o estupro ocorrer. Mas quando a história assume o ponto de vista de Le Gris, essa construção é desfeita e vemos um Carrouges bruto, insensível, que trata sua mulher como uma posse e é irritado em relação a tudo, buscando alimentar a sua inimizade ao invés de resolvê-la e sempre se vendo como alguém merecedor de mais atenção e benefícios.

Matt Damon e Adam Driver interpretam dois cavaleiros prestes a se enfrentar em duelo

Apresentando inicialmente esses dois pontos de vista, o filme estabelece uma rivalidade duradoura muito anterior ao fato do estupro, justificando com antecedência o ódio de um pelo outro e mostrando que, para ambos, a acusação de estupro é apenas uma desculpa para eles lutarem entre si. Ambos tratam o como uma questão de honra, mas nenhum deles dá ao ocorrido a seriedade de um crime terrível e certamente não vêm a questão como algo mais sério do que a sua rivalidade pessoal.

Em um terceiro momento, tendo finalizado de estabelecer seus dois protagonistas masculinos, o filme elabora um terceiro ponto de vista centrado em Marguerite, que se coloca no meio dos dois pontos anteriores, fornecendo um equilíbrio para a narrativa e apresentando uma versão verdadeira do ocorrido, não mascarada pelo orgulho e o ódio dos cavaleiros, na qual percebemos não só a crueldade que foi feita com ela, mas também os riscos de sua denúncia e os maus tratos que tal ação lhe causam, tanto por parte de Le Gris quanto pelo lado de Carrouges e sua família. A forma como Marguerite e sua denúncia são retratadas esboçam um painel bastante contemporâneo sobre o quão difícil é para mulheres relatarem abusos, estupros e maus tratos cometidos por homens.

Jodie Comer como Marguerite de Carrouges em O Último Duelo

Com essa construção, o filme sofre o mal de se tornar longo e cansativo, principalmente pelo fato de que cada uma das três partes narra os mesmos acontecimentos sob pontos de vista diferentes, ocasionando mudanças significativas na forma como vemos o ocorrido, mas não os acontecimentos em si. Essa construção, entretanto, é essencial para estabelecer em um primeiro momento a visão dos dois homens, retratados como aqueles que a sociedade ouve com mais ênfase, para apenas no final nos propiciar o olhar mais importante, o da mulher, para retratar o que de fato aconteceu e como a sociedade se volta contra vítimas de abusos que tentam denunciar agressores poderosos.

Matt Damon e Jodie Comer em cena de O Último Duelo

O Último Duelo pode apresentar algumas falhas. O cansaço provocado pela longa duração da história é o principal dele, aliado a uma maquiagem um tanto forçada que parece ridícula aos olhos do espectador e o tira da imersão no filme. Além disso, é um filme que se rende à comum dramatização exagerada dos eventos para efeito cinematográfico, apesar de não ser o pior filme nesse quesito. Todos esses males, porém, são menores diante de uma história interessante e importante, que explora ao máximo seu elenco e as mudanças que eles conseguem fornecer ao comportamento de seus personagens de acordo com qual deles conta a história, e que consegue criar pontos de tensão diversos que modificam a maneira como encaramos o clímax principal.

O filme dirigido por Ridley Scott já se encontra disponível na plataforma de streaming Star+.

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O Último Duelo

O Último Duelo

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Mesmo que cansativo em momentos, O Último Duelo conta uma história interessante através de uma construção narrativa essencial para levantar todos os aspectos importantes de sua história e explorar sua temática sobre todos os ângulos necessários.

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Luis Henrique Franco
19/1/2022

Tendo chegado ao serviço de streaming Star+ nesse dia 19, O Último Duelo teve uma passagem pouco chamativa pelo cinema, apesar de seu elenco estelar e da direção de Ridley Scott. O drama medieval pode não ter cativado muito a audiência, mas certamente é um filme que merece ser assistido pela maneira como sua história analisa uma situação real extremamente pertinente nos dias atuais, construindo sua narrativa com o objetivo de apresentar as visões de diferentes personagens sobre si mesmos e sobre os fatos.

A trama se passa na França do século XIV, em meio aos conflitos com a Inglaterra, e acompanha o caso que se sucedeu após Marguerite de Carrouges (Jodie Comer), nobre casada com Jean de Carrouges (Matt Damon), apresentar uma acusação severa de que ela teria sido estuprada pelo também cavaleiro Jacques Le Gris (Adam Driver), fato que ele prontamente nega. Sem maneira de provar a inocência ou culpa de nenhum dos lados, é determinado que Carrouges e Le Gris devem se enfrentar em um duelo até a morte, do qual o vencedor será considerado o portador da verdade.

Matt Damon como Jean de Carrouges, armado para o duelo.

Com o objetivo de cobrir com maior amplitude toda a história, o filme opta por se dividir em três partes, cada uma acompanhando um dos três personagens principais, narrando a maneira como ele viu os acontecimentos. Apresentando essa visão tríplice, o filme consegue dar a seus personagens uma enorme complexidade, nunca apresentando-os como pessoas definidas apenas por um lado e sempre trazendo mais de uma visão sobre quem eles são. Obviamente a visão de cada um favorece a si mesmo, e é interessante ver a maneira como o filme mostra as mesmas cenas sob esses diferentes pontos de vista, alterando os acontecimentos para realçar a visão do personagem em quem está centrado no momento.

Articulando bem a sua sucessão de eventos, o filme se inicia com a visão de Carrouges, explicando sua história com Le Gris, da época em que eram amigos até a inimizade que se alastrou entre eles no momento em que Le Gris se tornou braço direito de Pierre D'Alençon (Ben Affleck), senhor de ambos e um homem que detestava Carrouges. A partir daí, os eventos narrados sempre colocam o personagem de Damon como um homem correto, que sofre na mão de seus senhores cruéis e luta para preservar sua vida ao lado de sua esposa e defender sua honra após o estupro ocorrer. Mas quando a história assume o ponto de vista de Le Gris, essa construção é desfeita e vemos um Carrouges bruto, insensível, que trata sua mulher como uma posse e é irritado em relação a tudo, buscando alimentar a sua inimizade ao invés de resolvê-la e sempre se vendo como alguém merecedor de mais atenção e benefícios.

Matt Damon e Adam Driver interpretam dois cavaleiros prestes a se enfrentar em duelo

Apresentando inicialmente esses dois pontos de vista, o filme estabelece uma rivalidade duradoura muito anterior ao fato do estupro, justificando com antecedência o ódio de um pelo outro e mostrando que, para ambos, a acusação de estupro é apenas uma desculpa para eles lutarem entre si. Ambos tratam o como uma questão de honra, mas nenhum deles dá ao ocorrido a seriedade de um crime terrível e certamente não vêm a questão como algo mais sério do que a sua rivalidade pessoal.

Em um terceiro momento, tendo finalizado de estabelecer seus dois protagonistas masculinos, o filme elabora um terceiro ponto de vista centrado em Marguerite, que se coloca no meio dos dois pontos anteriores, fornecendo um equilíbrio para a narrativa e apresentando uma versão verdadeira do ocorrido, não mascarada pelo orgulho e o ódio dos cavaleiros, na qual percebemos não só a crueldade que foi feita com ela, mas também os riscos de sua denúncia e os maus tratos que tal ação lhe causam, tanto por parte de Le Gris quanto pelo lado de Carrouges e sua família. A forma como Marguerite e sua denúncia são retratadas esboçam um painel bastante contemporâneo sobre o quão difícil é para mulheres relatarem abusos, estupros e maus tratos cometidos por homens.

Jodie Comer como Marguerite de Carrouges em O Último Duelo

Com essa construção, o filme sofre o mal de se tornar longo e cansativo, principalmente pelo fato de que cada uma das três partes narra os mesmos acontecimentos sob pontos de vista diferentes, ocasionando mudanças significativas na forma como vemos o ocorrido, mas não os acontecimentos em si. Essa construção, entretanto, é essencial para estabelecer em um primeiro momento a visão dos dois homens, retratados como aqueles que a sociedade ouve com mais ênfase, para apenas no final nos propiciar o olhar mais importante, o da mulher, para retratar o que de fato aconteceu e como a sociedade se volta contra vítimas de abusos que tentam denunciar agressores poderosos.

Matt Damon e Jodie Comer em cena de O Último Duelo

O Último Duelo pode apresentar algumas falhas. O cansaço provocado pela longa duração da história é o principal dele, aliado a uma maquiagem um tanto forçada que parece ridícula aos olhos do espectador e o tira da imersão no filme. Além disso, é um filme que se rende à comum dramatização exagerada dos eventos para efeito cinematográfico, apesar de não ser o pior filme nesse quesito. Todos esses males, porém, são menores diante de uma história interessante e importante, que explora ao máximo seu elenco e as mudanças que eles conseguem fornecer ao comportamento de seus personagens de acordo com qual deles conta a história, e que consegue criar pontos de tensão diversos que modificam a maneira como encaramos o clímax principal.

O filme dirigido por Ridley Scott já se encontra disponível na plataforma de streaming Star+.

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Mesmo que cansativo em momentos, O Último Duelo conta uma história interessante através de uma construção narrativa essencial para levantar todos os aspectos importantes de sua história e explorar sua temática sobre todos os ângulos necessários.

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Luis Henrique Franco
19/1/2022
nascimento

Mesmo que cansativo em momentos, O Último Duelo conta uma história interessante através de uma construção narrativa essencial para levantar todos os aspectos importantes de sua história e explorar sua temática sobre todos os ângulos necessários.

escrito por
Luis Henrique Franco
19/1/2022

Tendo chegado ao serviço de streaming Star+ nesse dia 19, O Último Duelo teve uma passagem pouco chamativa pelo cinema, apesar de seu elenco estelar e da direção de Ridley Scott. O drama medieval pode não ter cativado muito a audiência, mas certamente é um filme que merece ser assistido pela maneira como sua história analisa uma situação real extremamente pertinente nos dias atuais, construindo sua narrativa com o objetivo de apresentar as visões de diferentes personagens sobre si mesmos e sobre os fatos.

A trama se passa na França do século XIV, em meio aos conflitos com a Inglaterra, e acompanha o caso que se sucedeu após Marguerite de Carrouges (Jodie Comer), nobre casada com Jean de Carrouges (Matt Damon), apresentar uma acusação severa de que ela teria sido estuprada pelo também cavaleiro Jacques Le Gris (Adam Driver), fato que ele prontamente nega. Sem maneira de provar a inocência ou culpa de nenhum dos lados, é determinado que Carrouges e Le Gris devem se enfrentar em um duelo até a morte, do qual o vencedor será considerado o portador da verdade.

Matt Damon como Jean de Carrouges, armado para o duelo.

Com o objetivo de cobrir com maior amplitude toda a história, o filme opta por se dividir em três partes, cada uma acompanhando um dos três personagens principais, narrando a maneira como ele viu os acontecimentos. Apresentando essa visão tríplice, o filme consegue dar a seus personagens uma enorme complexidade, nunca apresentando-os como pessoas definidas apenas por um lado e sempre trazendo mais de uma visão sobre quem eles são. Obviamente a visão de cada um favorece a si mesmo, e é interessante ver a maneira como o filme mostra as mesmas cenas sob esses diferentes pontos de vista, alterando os acontecimentos para realçar a visão do personagem em quem está centrado no momento.

Articulando bem a sua sucessão de eventos, o filme se inicia com a visão de Carrouges, explicando sua história com Le Gris, da época em que eram amigos até a inimizade que se alastrou entre eles no momento em que Le Gris se tornou braço direito de Pierre D'Alençon (Ben Affleck), senhor de ambos e um homem que detestava Carrouges. A partir daí, os eventos narrados sempre colocam o personagem de Damon como um homem correto, que sofre na mão de seus senhores cruéis e luta para preservar sua vida ao lado de sua esposa e defender sua honra após o estupro ocorrer. Mas quando a história assume o ponto de vista de Le Gris, essa construção é desfeita e vemos um Carrouges bruto, insensível, que trata sua mulher como uma posse e é irritado em relação a tudo, buscando alimentar a sua inimizade ao invés de resolvê-la e sempre se vendo como alguém merecedor de mais atenção e benefícios.

Matt Damon e Adam Driver interpretam dois cavaleiros prestes a se enfrentar em duelo

Apresentando inicialmente esses dois pontos de vista, o filme estabelece uma rivalidade duradoura muito anterior ao fato do estupro, justificando com antecedência o ódio de um pelo outro e mostrando que, para ambos, a acusação de estupro é apenas uma desculpa para eles lutarem entre si. Ambos tratam o como uma questão de honra, mas nenhum deles dá ao ocorrido a seriedade de um crime terrível e certamente não vêm a questão como algo mais sério do que a sua rivalidade pessoal.

Em um terceiro momento, tendo finalizado de estabelecer seus dois protagonistas masculinos, o filme elabora um terceiro ponto de vista centrado em Marguerite, que se coloca no meio dos dois pontos anteriores, fornecendo um equilíbrio para a narrativa e apresentando uma versão verdadeira do ocorrido, não mascarada pelo orgulho e o ódio dos cavaleiros, na qual percebemos não só a crueldade que foi feita com ela, mas também os riscos de sua denúncia e os maus tratos que tal ação lhe causam, tanto por parte de Le Gris quanto pelo lado de Carrouges e sua família. A forma como Marguerite e sua denúncia são retratadas esboçam um painel bastante contemporâneo sobre o quão difícil é para mulheres relatarem abusos, estupros e maus tratos cometidos por homens.

Jodie Comer como Marguerite de Carrouges em O Último Duelo

Com essa construção, o filme sofre o mal de se tornar longo e cansativo, principalmente pelo fato de que cada uma das três partes narra os mesmos acontecimentos sob pontos de vista diferentes, ocasionando mudanças significativas na forma como vemos o ocorrido, mas não os acontecimentos em si. Essa construção, entretanto, é essencial para estabelecer em um primeiro momento a visão dos dois homens, retratados como aqueles que a sociedade ouve com mais ênfase, para apenas no final nos propiciar o olhar mais importante, o da mulher, para retratar o que de fato aconteceu e como a sociedade se volta contra vítimas de abusos que tentam denunciar agressores poderosos.

Matt Damon e Jodie Comer em cena de O Último Duelo

O Último Duelo pode apresentar algumas falhas. O cansaço provocado pela longa duração da história é o principal dele, aliado a uma maquiagem um tanto forçada que parece ridícula aos olhos do espectador e o tira da imersão no filme. Além disso, é um filme que se rende à comum dramatização exagerada dos eventos para efeito cinematográfico, apesar de não ser o pior filme nesse quesito. Todos esses males, porém, são menores diante de uma história interessante e importante, que explora ao máximo seu elenco e as mudanças que eles conseguem fornecer ao comportamento de seus personagens de acordo com qual deles conta a história, e que consegue criar pontos de tensão diversos que modificam a maneira como encaramos o clímax principal.

O filme dirigido por Ridley Scott já se encontra disponível na plataforma de streaming Star+.

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