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Análise & Opinião

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Opinião: O Destino do Machão Invencível do Cinema

20/9/2019

Durante anos, os principais gêneros do cinema americano foram protagonizados por uma figura extremamente interessante, caracterizada como o machão rude, desobediente e invencível, do qual Rambo é um componente muito conhecido. Mas como será que esse tipo de personagem sobrevive nos dias de hoje?

escrito por
Luis Henrique Franco

Durante anos, os principais gêneros do cinema americano foram protagonizados por uma figura extremamente interessante, caracterizada como o machão rude, desobediente e invencível, do qual Rambo é um componente muito conhecido. Mas como será que esse tipo de personagem sobrevive nos dias de hoje?

escrito por
Luis Henrique Franco
20/9/2019

Durante anos, os principais gêneros do cinema americano foram protagonizados por uma figura extremamente interessante. Mais presente em filmes de ação e faroeste, o protagonista masculino era quase sempre caracterizado como um homem rude, mal humorado, sempre muito sério e sem papas na língua. Era um indivíduo forte, viril, com um manejo de armas incrível e capaz de destruir dezenas e até mesmo centenas de inimigos de uma só vez sofrendo, no máximo, alguns poucos arranhões. Era um herói no modelo mais brutal que o cinema americano poderia exportar para o mundo, e representava uma ideologia que, para a época, era exatamente o que os Estados Unidos gostariam que o mundo visse.

Baseado nesse personagem tão excêntrico, diversos atores lançaram-se à fama em meio à cultura pop. Nomes como Chuck Norris, Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude van Damme, Bruce Campbell, Clint Eastwood, Charles Bronson e John Wayne tornaram-se incrivelmente reconhecidos por seus papéis de homens másculos, arrogantes, com um estilo de caubói pistoleiro e furiosos. E entre todos eles, também surgiu para o estrelato Sylvester Stallone, intérprete de dois personagens desse tipo: Rocky Balboa e John Rambo. Os últimos anos têm sido especialmente únicos para Stallone, que pôde reviver seus dois personagens icônicos em suas versões mais velhas. Primeira, Rocky foi revivido para a franquia Creed, e agora Rambo está de volta para seu quinto filme.

John Wayne em Bravura Indômita. O ator foi um dos mais importantes dos filmes de ação e faroeste americano durante a Guerra Fria

Como parte de uma cultura que buscava colocar, da forma menos sutil possível, os Estados Unidos acima de tudo e de todos, Rambo é o exemplo perfeito do que se desejava dos machões hollywoodianos: uma força praticamente invencível e a capacidade de trucidar centenas de inimigos em um campo aberto enquanto eles mal conseguiam acertar um único tiro. Cultura essa que figura até hoje nos grandes filmes de ação e em outras produções, embora de formas um pouco mais sutis. Por isso, é realmente simbólico que o quinto filme, em contraste com o primeiro de 1982, intitulado First Blood, tenha recebido o nome de Rambo: Last Blood, indicando que ao menos um dos grandes personagens de Stallone conhecerá seu fim.

Esse fim anunciado vem com uma mudança na maneira como o público tem recebido esses personagens. Rambo é parte de uma outra geração de cinema, uma que necessitava alimentar esse tipo de caricatura e que não tinha as preocupações que o comportamento polêmico desses heróis poderia causar. O importante naquela época era que esses personagens fossem máquinas de matar contra o inimigo, destituindo deles a necessidade de serem humanos. Hoje, tais visões sobre os protagonistas masculinos mudaram, e é possível ver as consequências dessas mudanças nos filmes e nas franquias que perduram desde aqueles tempos.

Talvez Charles Bronson e John Wayne não tenham vivido o suficiente para presenciar essa mudança, mas Clint Eastwood é um exemplo de como os novos tempos afetaram os "velhos caubóis". Suas performances como ator vêm mudando aos poucos desde Os Imperdoáveis, abandonando seu estilo bruto, frio e calculista de antes e adotando um ar um pouco mais sofrido, reflexivo e condizente com sua idade, com exemplos como Gran Torino e o mais recente A Mula. E mesmo que John Wayne não tenha vivido para ver esses novos tempos, seu legado foi posto à prova do novo público, com o clássico hollywoodiano Bravura Indômita sendo readaptado em 2010 com Jeff Bridges no papel principal e apresentando um protagonista que, ao contrário do original de 1970, onde seus defeitos eram postos de lado porque ele era o grande e poderoso "herói" da história, o novo filme abraça os defeitos do personagem e o tornam um homem muito mais falho em seus atos e, embora ainda bastante bruto, um pouco mais receptivo ao público geral.

Durante décadas, Clint Eastwood foi reconhecido como o machão dos filmes de faroeste
Com noventa anos de idade, Clint Eastwood parece ter abandonado a postura de caubói durão e, em filmes como A Mula, assume uma postura mais frágil e humana

Fora do universo dos "caubóis", o próprio gênero de ação sofreu grandes mudanças. Estrelas como Kurt Russell, Chuck Norris, Van Damme ou Schwarzenegger ou foram aos poucos sumindo do estrelato ou começaram a procurar papéis em outros gêneros, enquanto suas franquias mais famosas foram aos poucos perdendo seu público fiel. A mudança na atuação de Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro é notável, indo de uma máquina mortífera a um personagem que tenta usar de sacadas cômicas para conquistar um público já cansado desse papel. E mesmo assim, mais um filme está a caminho de ser lançado, mas isso é tema para um texto de um futuro próximo.

Arnold Schwarzenegger foi imortalizado como Exterminador do Futuro, mas o passar dos anos e a constante repetição do papel cansaram até mesmo os maiores fãs da saga

007 é uma outra saga que vêm a tempos sofrendo nos cinemas. Desde os tempos em que o papel pertencia a Pierce Brosnan, o espião inglês tem sido alvo de críticas e do esgotamento de suas aventuras, sempre repetindo os mesmos passos e a mesma fórmula ao longo de 25 filmes lançados periodicamente desde 1962. A era Daniel Craig conseguiu trazer, em seu início, um respiro para o personagem, incorporando-o a um tipo de filme de ação mais dinâmico, tenso e moderno. Ainda assim, as mudanças introduzidas para colocar James Bond dentro da nova era de tecnologias digitais de nosso tempo falhou em transformar o personagem em algo diferente do que uma propaganda dos tempos de espionagem e heroísmo da Guerra Fria. Ironicamente, 007 começou a criticar sua própria fórmula nos filmes mais recentes, mas fez muito pouco para mudá-la.

Apesar de algumas alterações e críticas aos filmes anteriores, os filmes d 007 estrelando Daniel Craig não alteraram muito a repetitiva fórmula da franquia

Em meio a esse novo cenário, Rambo é um personagem propício para encontrar seu fim. Como a maioria dos outros listados acima, é um protagonista que não mais se enquadra na maneira que Hollywood quer apresentar seus heróis, é um fruto do passado que ainda não teve o fim que precisa ter. Esse quinto filme muito provavelmente marcará um adeus, e provavelmente será carregado de reflexões e um certo sentimentalismo trazido por tudo que o personagem viveu e que seus fãs ainda se lembram.

Ainda assim, a despedida do personagem condiz mais com a ideia de ele ser velho e conectado a um ideal de outros tempos do que com o completo desgaste do tipo. Isso porque, embora o machão do cinema esteja bastante desgastado, ainda existem muitos membros desse grupo no cinema moderno e, embora tenham sofrido algumas alterações com o passar dos anos e perdido a necessidade de serem fisicamente colossais, por exemplo, esses homens ainda carregam em si o estigma de seus antepassados. São casos como este os personagens Dom Torreto (Velozes e Furiosos), Jason Boune (A Identidade Bourne) e John Wick (De Volta ao Jogo). A sobrevivência desses personagens em tempos recentes, onde os antigos membros desse grupo começam a perder espaço, se dá tanto pela renovação natural do cinema quanto pelas mudanças em filmes de ação, tornando-se mais dinâmicos e com uma ação mais explosiva. Para a visão hollywoodiana, esses filmes de ação se tornaram sucessos comerciais de verão, o que justifica a tomada nem sempre tão séria que alguns deles possuem e facilita a sobrevivência do tipo de herói desse gênero.

John Wick, interpretado por Keanu Reeves, torna-se uma versão moderna para o machão dos filmes das décadas de 60 a 90

Então, sim, 2019 provavelmente será o ano que marcará o destino definitivo de Rambo. Ele não é mais um personagem que tem tanto clamor entre as pessoas, e seu estilo de filme de ação certamente se encontra um pouco ultrapassado. Seu tipo de personagem, entretanto, ainda sobrevive, e deve continuar a sobreviver por muitos anos em Hollywood. Porque é um tipo de personagem fácil de se identificar e capaz de proezas que todos desejamos poder realizar. Os tempos mudaram, e o machão do cinema não ficou a salvo de sofrer essas mudanças para poder sobreviver, mas ainda permanece o mesmo em seu cerne, apenas dando espaço para uma nova geração, que carrega o legado de Rambo, mas que pode deixá-lo morrer sem qualquer preocupação.

Rambo: Last Blood pode ser a última vez que Sylvester Stallone irá interpretar seu icônico personagem
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Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Durante anos, os principais gêneros do cinema americano foram protagonizados por uma figura extremamente interessante, caracterizada como o machão rude, desobediente e invencível, do qual Rambo é um componente muito conhecido. Mas como será que esse tipo de personagem sobrevive nos dias de hoje?

crítica por
Luis Henrique Franco
20/9/2019

Durante anos, os principais gêneros do cinema americano foram protagonizados por uma figura extremamente interessante. Mais presente em filmes de ação e faroeste, o protagonista masculino era quase sempre caracterizado como um homem rude, mal humorado, sempre muito sério e sem papas na língua. Era um indivíduo forte, viril, com um manejo de armas incrível e capaz de destruir dezenas e até mesmo centenas de inimigos de uma só vez sofrendo, no máximo, alguns poucos arranhões. Era um herói no modelo mais brutal que o cinema americano poderia exportar para o mundo, e representava uma ideologia que, para a época, era exatamente o que os Estados Unidos gostariam que o mundo visse.

Baseado nesse personagem tão excêntrico, diversos atores lançaram-se à fama em meio à cultura pop. Nomes como Chuck Norris, Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude van Damme, Bruce Campbell, Clint Eastwood, Charles Bronson e John Wayne tornaram-se incrivelmente reconhecidos por seus papéis de homens másculos, arrogantes, com um estilo de caubói pistoleiro e furiosos. E entre todos eles, também surgiu para o estrelato Sylvester Stallone, intérprete de dois personagens desse tipo: Rocky Balboa e John Rambo. Os últimos anos têm sido especialmente únicos para Stallone, que pôde reviver seus dois personagens icônicos em suas versões mais velhas. Primeira, Rocky foi revivido para a franquia Creed, e agora Rambo está de volta para seu quinto filme.

John Wayne em Bravura Indômita. O ator foi um dos mais importantes dos filmes de ação e faroeste americano durante a Guerra Fria

Como parte de uma cultura que buscava colocar, da forma menos sutil possível, os Estados Unidos acima de tudo e de todos, Rambo é o exemplo perfeito do que se desejava dos machões hollywoodianos: uma força praticamente invencível e a capacidade de trucidar centenas de inimigos em um campo aberto enquanto eles mal conseguiam acertar um único tiro. Cultura essa que figura até hoje nos grandes filmes de ação e em outras produções, embora de formas um pouco mais sutis. Por isso, é realmente simbólico que o quinto filme, em contraste com o primeiro de 1982, intitulado First Blood, tenha recebido o nome de Rambo: Last Blood, indicando que ao menos um dos grandes personagens de Stallone conhecerá seu fim.

Esse fim anunciado vem com uma mudança na maneira como o público tem recebido esses personagens. Rambo é parte de uma outra geração de cinema, uma que necessitava alimentar esse tipo de caricatura e que não tinha as preocupações que o comportamento polêmico desses heróis poderia causar. O importante naquela época era que esses personagens fossem máquinas de matar contra o inimigo, destituindo deles a necessidade de serem humanos. Hoje, tais visões sobre os protagonistas masculinos mudaram, e é possível ver as consequências dessas mudanças nos filmes e nas franquias que perduram desde aqueles tempos.

Talvez Charles Bronson e John Wayne não tenham vivido o suficiente para presenciar essa mudança, mas Clint Eastwood é um exemplo de como os novos tempos afetaram os "velhos caubóis". Suas performances como ator vêm mudando aos poucos desde Os Imperdoáveis, abandonando seu estilo bruto, frio e calculista de antes e adotando um ar um pouco mais sofrido, reflexivo e condizente com sua idade, com exemplos como Gran Torino e o mais recente A Mula. E mesmo que John Wayne não tenha vivido para ver esses novos tempos, seu legado foi posto à prova do novo público, com o clássico hollywoodiano Bravura Indômita sendo readaptado em 2010 com Jeff Bridges no papel principal e apresentando um protagonista que, ao contrário do original de 1970, onde seus defeitos eram postos de lado porque ele era o grande e poderoso "herói" da história, o novo filme abraça os defeitos do personagem e o tornam um homem muito mais falho em seus atos e, embora ainda bastante bruto, um pouco mais receptivo ao público geral.

Durante décadas, Clint Eastwood foi reconhecido como o machão dos filmes de faroeste
Com noventa anos de idade, Clint Eastwood parece ter abandonado a postura de caubói durão e, em filmes como A Mula, assume uma postura mais frágil e humana

Fora do universo dos "caubóis", o próprio gênero de ação sofreu grandes mudanças. Estrelas como Kurt Russell, Chuck Norris, Van Damme ou Schwarzenegger ou foram aos poucos sumindo do estrelato ou começaram a procurar papéis em outros gêneros, enquanto suas franquias mais famosas foram aos poucos perdendo seu público fiel. A mudança na atuação de Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro é notável, indo de uma máquina mortífera a um personagem que tenta usar de sacadas cômicas para conquistar um público já cansado desse papel. E mesmo assim, mais um filme está a caminho de ser lançado, mas isso é tema para um texto de um futuro próximo.

Arnold Schwarzenegger foi imortalizado como Exterminador do Futuro, mas o passar dos anos e a constante repetição do papel cansaram até mesmo os maiores fãs da saga

007 é uma outra saga que vêm a tempos sofrendo nos cinemas. Desde os tempos em que o papel pertencia a Pierce Brosnan, o espião inglês tem sido alvo de críticas e do esgotamento de suas aventuras, sempre repetindo os mesmos passos e a mesma fórmula ao longo de 25 filmes lançados periodicamente desde 1962. A era Daniel Craig conseguiu trazer, em seu início, um respiro para o personagem, incorporando-o a um tipo de filme de ação mais dinâmico, tenso e moderno. Ainda assim, as mudanças introduzidas para colocar James Bond dentro da nova era de tecnologias digitais de nosso tempo falhou em transformar o personagem em algo diferente do que uma propaganda dos tempos de espionagem e heroísmo da Guerra Fria. Ironicamente, 007 começou a criticar sua própria fórmula nos filmes mais recentes, mas fez muito pouco para mudá-la.

Apesar de algumas alterações e críticas aos filmes anteriores, os filmes d 007 estrelando Daniel Craig não alteraram muito a repetitiva fórmula da franquia

Em meio a esse novo cenário, Rambo é um personagem propício para encontrar seu fim. Como a maioria dos outros listados acima, é um protagonista que não mais se enquadra na maneira que Hollywood quer apresentar seus heróis, é um fruto do passado que ainda não teve o fim que precisa ter. Esse quinto filme muito provavelmente marcará um adeus, e provavelmente será carregado de reflexões e um certo sentimentalismo trazido por tudo que o personagem viveu e que seus fãs ainda se lembram.

Ainda assim, a despedida do personagem condiz mais com a ideia de ele ser velho e conectado a um ideal de outros tempos do que com o completo desgaste do tipo. Isso porque, embora o machão do cinema esteja bastante desgastado, ainda existem muitos membros desse grupo no cinema moderno e, embora tenham sofrido algumas alterações com o passar dos anos e perdido a necessidade de serem fisicamente colossais, por exemplo, esses homens ainda carregam em si o estigma de seus antepassados. São casos como este os personagens Dom Torreto (Velozes e Furiosos), Jason Boune (A Identidade Bourne) e John Wick (De Volta ao Jogo). A sobrevivência desses personagens em tempos recentes, onde os antigos membros desse grupo começam a perder espaço, se dá tanto pela renovação natural do cinema quanto pelas mudanças em filmes de ação, tornando-se mais dinâmicos e com uma ação mais explosiva. Para a visão hollywoodiana, esses filmes de ação se tornaram sucessos comerciais de verão, o que justifica a tomada nem sempre tão séria que alguns deles possuem e facilita a sobrevivência do tipo de herói desse gênero.

John Wick, interpretado por Keanu Reeves, torna-se uma versão moderna para o machão dos filmes das décadas de 60 a 90

Então, sim, 2019 provavelmente será o ano que marcará o destino definitivo de Rambo. Ele não é mais um personagem que tem tanto clamor entre as pessoas, e seu estilo de filme de ação certamente se encontra um pouco ultrapassado. Seu tipo de personagem, entretanto, ainda sobrevive, e deve continuar a sobreviver por muitos anos em Hollywood. Porque é um tipo de personagem fácil de se identificar e capaz de proezas que todos desejamos poder realizar. Os tempos mudaram, e o machão do cinema não ficou a salvo de sofrer essas mudanças para poder sobreviver, mas ainda permanece o mesmo em seu cerne, apenas dando espaço para uma nova geração, que carrega o legado de Rambo, mas que pode deixá-lo morrer sem qualquer preocupação.

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Durante anos, os principais gêneros do cinema americano foram protagonizados por uma figura extremamente interessante, caracterizada como o machão rude, desobediente e invencível, do qual Rambo é um componente muito conhecido. Mas como será que esse tipo de personagem sobrevive nos dias de hoje?

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Luis Henrique Franco
20/9/2019
nascimento

Durante anos, os principais gêneros do cinema americano foram protagonizados por uma figura extremamente interessante, caracterizada como o machão rude, desobediente e invencível, do qual Rambo é um componente muito conhecido. Mas como será que esse tipo de personagem sobrevive nos dias de hoje?

escrito por
Luis Henrique Franco
20/9/2019

Durante anos, os principais gêneros do cinema americano foram protagonizados por uma figura extremamente interessante. Mais presente em filmes de ação e faroeste, o protagonista masculino era quase sempre caracterizado como um homem rude, mal humorado, sempre muito sério e sem papas na língua. Era um indivíduo forte, viril, com um manejo de armas incrível e capaz de destruir dezenas e até mesmo centenas de inimigos de uma só vez sofrendo, no máximo, alguns poucos arranhões. Era um herói no modelo mais brutal que o cinema americano poderia exportar para o mundo, e representava uma ideologia que, para a época, era exatamente o que os Estados Unidos gostariam que o mundo visse.

Baseado nesse personagem tão excêntrico, diversos atores lançaram-se à fama em meio à cultura pop. Nomes como Chuck Norris, Arnold Schwarzenegger, Jean-Claude van Damme, Bruce Campbell, Clint Eastwood, Charles Bronson e John Wayne tornaram-se incrivelmente reconhecidos por seus papéis de homens másculos, arrogantes, com um estilo de caubói pistoleiro e furiosos. E entre todos eles, também surgiu para o estrelato Sylvester Stallone, intérprete de dois personagens desse tipo: Rocky Balboa e John Rambo. Os últimos anos têm sido especialmente únicos para Stallone, que pôde reviver seus dois personagens icônicos em suas versões mais velhas. Primeira, Rocky foi revivido para a franquia Creed, e agora Rambo está de volta para seu quinto filme.

John Wayne em Bravura Indômita. O ator foi um dos mais importantes dos filmes de ação e faroeste americano durante a Guerra Fria

Como parte de uma cultura que buscava colocar, da forma menos sutil possível, os Estados Unidos acima de tudo e de todos, Rambo é o exemplo perfeito do que se desejava dos machões hollywoodianos: uma força praticamente invencível e a capacidade de trucidar centenas de inimigos em um campo aberto enquanto eles mal conseguiam acertar um único tiro. Cultura essa que figura até hoje nos grandes filmes de ação e em outras produções, embora de formas um pouco mais sutis. Por isso, é realmente simbólico que o quinto filme, em contraste com o primeiro de 1982, intitulado First Blood, tenha recebido o nome de Rambo: Last Blood, indicando que ao menos um dos grandes personagens de Stallone conhecerá seu fim.

Esse fim anunciado vem com uma mudança na maneira como o público tem recebido esses personagens. Rambo é parte de uma outra geração de cinema, uma que necessitava alimentar esse tipo de caricatura e que não tinha as preocupações que o comportamento polêmico desses heróis poderia causar. O importante naquela época era que esses personagens fossem máquinas de matar contra o inimigo, destituindo deles a necessidade de serem humanos. Hoje, tais visões sobre os protagonistas masculinos mudaram, e é possível ver as consequências dessas mudanças nos filmes e nas franquias que perduram desde aqueles tempos.

Talvez Charles Bronson e John Wayne não tenham vivido o suficiente para presenciar essa mudança, mas Clint Eastwood é um exemplo de como os novos tempos afetaram os "velhos caubóis". Suas performances como ator vêm mudando aos poucos desde Os Imperdoáveis, abandonando seu estilo bruto, frio e calculista de antes e adotando um ar um pouco mais sofrido, reflexivo e condizente com sua idade, com exemplos como Gran Torino e o mais recente A Mula. E mesmo que John Wayne não tenha vivido para ver esses novos tempos, seu legado foi posto à prova do novo público, com o clássico hollywoodiano Bravura Indômita sendo readaptado em 2010 com Jeff Bridges no papel principal e apresentando um protagonista que, ao contrário do original de 1970, onde seus defeitos eram postos de lado porque ele era o grande e poderoso "herói" da história, o novo filme abraça os defeitos do personagem e o tornam um homem muito mais falho em seus atos e, embora ainda bastante bruto, um pouco mais receptivo ao público geral.

Durante décadas, Clint Eastwood foi reconhecido como o machão dos filmes de faroeste
Com noventa anos de idade, Clint Eastwood parece ter abandonado a postura de caubói durão e, em filmes como A Mula, assume uma postura mais frágil e humana

Fora do universo dos "caubóis", o próprio gênero de ação sofreu grandes mudanças. Estrelas como Kurt Russell, Chuck Norris, Van Damme ou Schwarzenegger ou foram aos poucos sumindo do estrelato ou começaram a procurar papéis em outros gêneros, enquanto suas franquias mais famosas foram aos poucos perdendo seu público fiel. A mudança na atuação de Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro é notável, indo de uma máquina mortífera a um personagem que tenta usar de sacadas cômicas para conquistar um público já cansado desse papel. E mesmo assim, mais um filme está a caminho de ser lançado, mas isso é tema para um texto de um futuro próximo.

Arnold Schwarzenegger foi imortalizado como Exterminador do Futuro, mas o passar dos anos e a constante repetição do papel cansaram até mesmo os maiores fãs da saga

007 é uma outra saga que vêm a tempos sofrendo nos cinemas. Desde os tempos em que o papel pertencia a Pierce Brosnan, o espião inglês tem sido alvo de críticas e do esgotamento de suas aventuras, sempre repetindo os mesmos passos e a mesma fórmula ao longo de 25 filmes lançados periodicamente desde 1962. A era Daniel Craig conseguiu trazer, em seu início, um respiro para o personagem, incorporando-o a um tipo de filme de ação mais dinâmico, tenso e moderno. Ainda assim, as mudanças introduzidas para colocar James Bond dentro da nova era de tecnologias digitais de nosso tempo falhou em transformar o personagem em algo diferente do que uma propaganda dos tempos de espionagem e heroísmo da Guerra Fria. Ironicamente, 007 começou a criticar sua própria fórmula nos filmes mais recentes, mas fez muito pouco para mudá-la.

Apesar de algumas alterações e críticas aos filmes anteriores, os filmes d 007 estrelando Daniel Craig não alteraram muito a repetitiva fórmula da franquia

Em meio a esse novo cenário, Rambo é um personagem propício para encontrar seu fim. Como a maioria dos outros listados acima, é um protagonista que não mais se enquadra na maneira que Hollywood quer apresentar seus heróis, é um fruto do passado que ainda não teve o fim que precisa ter. Esse quinto filme muito provavelmente marcará um adeus, e provavelmente será carregado de reflexões e um certo sentimentalismo trazido por tudo que o personagem viveu e que seus fãs ainda se lembram.

Ainda assim, a despedida do personagem condiz mais com a ideia de ele ser velho e conectado a um ideal de outros tempos do que com o completo desgaste do tipo. Isso porque, embora o machão do cinema esteja bastante desgastado, ainda existem muitos membros desse grupo no cinema moderno e, embora tenham sofrido algumas alterações com o passar dos anos e perdido a necessidade de serem fisicamente colossais, por exemplo, esses homens ainda carregam em si o estigma de seus antepassados. São casos como este os personagens Dom Torreto (Velozes e Furiosos), Jason Boune (A Identidade Bourne) e John Wick (De Volta ao Jogo). A sobrevivência desses personagens em tempos recentes, onde os antigos membros desse grupo começam a perder espaço, se dá tanto pela renovação natural do cinema quanto pelas mudanças em filmes de ação, tornando-se mais dinâmicos e com uma ação mais explosiva. Para a visão hollywoodiana, esses filmes de ação se tornaram sucessos comerciais de verão, o que justifica a tomada nem sempre tão séria que alguns deles possuem e facilita a sobrevivência do tipo de herói desse gênero.

John Wick, interpretado por Keanu Reeves, torna-se uma versão moderna para o machão dos filmes das décadas de 60 a 90

Então, sim, 2019 provavelmente será o ano que marcará o destino definitivo de Rambo. Ele não é mais um personagem que tem tanto clamor entre as pessoas, e seu estilo de filme de ação certamente se encontra um pouco ultrapassado. Seu tipo de personagem, entretanto, ainda sobrevive, e deve continuar a sobreviver por muitos anos em Hollywood. Porque é um tipo de personagem fácil de se identificar e capaz de proezas que todos desejamos poder realizar. Os tempos mudaram, e o machão do cinema não ficou a salvo de sofrer essas mudanças para poder sobreviver, mas ainda permanece o mesmo em seu cerne, apenas dando espaço para uma nova geração, que carrega o legado de Rambo, mas que pode deixá-lo morrer sem qualquer preocupação.

Rambo: Last Blood pode ser a última vez que Sylvester Stallone irá interpretar seu icônico personagem

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