Crítica

Crítica

Os Segredos de Dumbledore: a expansão do mundo bruxo com alguns "poréns"

15/4/2022

Conseguindo explorar melhor o mundo bruxo e as relações entre seus personagens, Os Segredos de Dumbledore consegue superar as suas falhas e se tornar uma continuação decente para a icônica saga.

escrito por
Luis Henrique Franco

Conseguindo explorar melhor o mundo bruxo e as relações entre seus personagens, Os Segredos de Dumbledore consegue superar as suas falhas e se tornar uma continuação decente para a icônica saga.

escrito por
Luis Henrique Franco
15/4/2022

Desde o seu começo, a franquia Animais Fantásticos tem enfrentado altos e baixos. Valendo-se do amor das pessoas pela saga Harry Potter, a nova história procurou explorar o mundo bruxo para além de Hogwarts, mas enfrentou problemas para estabelecer uma linha de narrativa que justificasse os seus atuais três filmes, e provavelmente outros que virão depois. Após o enorme fiasco que foi Os Crimes de Grindelwald, o terceiro filme da saga, Os Segredos de Dumbledore, consegue ao menos corrigir alguns erros mais notórios, estruturar melhor a sua história e, definitivamente, explorar de maneira mais concisa esse novo mundo mágico.

O terceiro filme já se inicia com o terrível Grindelwald (agora interpretado por Mads Mikkelsen) estruturando seus planos e reunindo seus seguidores para tomar o poder do mundo bruxo. Mas, ao contrário de Voldemort, que tentou obter tal poder pela força e violência, Grindelwald prefere tomar uma ação mais política e procura meios de ser eleito como grande bruxo da Confederação da Magia, uma organização que domina todos os ministérios de magia do mundo e que lhe daria controle total para lançar uma guerra contra os trouxas.

Mads Mikklensen como o vilão Grindelwald

Valer-se dessa premissa abertamente política já lança uma novidade interessante na franquia. Harry Potter nunca foi estranho a mensagens sociais, mas introduzir esse aspecto tão aberta e diretamente é uma forma de deixar o propósito do filme claro logo de início, permitindo um foco maior na construção da política do mundo bruxo e em sua estrutura mundial. Assim, cabe ao professor Dumbledore (Jude Law) e ao magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne) bolarem um plano complexo para impedir Grindelwald de tomar o poder, valendo-se de artimanhas políticas, diversas missões diferentes entre os personagens e o respeito que todo o mundo mágico tem por uma nova criatura, o Qilin, capaz de ler as almas das pessoas.

Para além dessa exploração da organização do mundo bruxo, Os Segredos de Dumbledore também consegue construir uma história bem organizada, de forma que, mesmo todas as suas partes e arcos não sejam muito bem desenvolvidos, o todo ainda assim é algo bem estruturado. Pequenos erros ainda acontecem, com personagens aparecendo em locais e cenas completamente diferentes em espaços muito curtos de tempo. É um fato reconhecido que bruxos podem se teletransportar (desculpem, "Aparatar"), mas o fato de não vermos tais personagens chegando em cena ainda causa estranhamento.

Alguns outros problemas incluem o prolongamento excessivo de algumas cenas. Em determinado momento, Newt precisa tirar seu irmão, Teseu (Callum Turner) de uma prisão na Alemanha, e apesar de ser uma cena bastante divertida, seu prolongamento cansa e acaba tirando o encanto do momento.

Newt (Eddie Redmayne) e Teseu (Callum Turner) fogem de uma prisão mágica na Alemanha

A ascensão de Grindelwald também é um problema, visto que acontece com várias permissões estranhas vindas de altas autoridades do mundo bruxo, que não deveriam hesitar tanto em derrubá-lo só porque ele possui um grande apelo com as massas. De novo, é uma mensagem interessante de como é perigoso dar voz para extremistas, mas estamos falando de um homem acusado de assassinatos e crimes notórios, e a maneira como ele escapa dessas acusações é inverossímil demais.

Apesar de tudo isso, Os Segredos de Dumbledore ainda possui vários aspectos positivos, entre eles a exploração do personagem que lhe dá o nome. Se Os Crimes de Grindelwald foi uma grande enrolação e não desenvolveu em nada as ações do vilão, o terceiro filme coloca o foco totalmente em Dumbledore, deixando que Jude Law assuma o palco em um papel que explora a densidade de seu personagem e traz à tona os sues momentos mais sombrios. Várias das ações de Dumbledore, já reveladas na saga Harry Potter, são abordadas e aprofundadas, mesmo que a forma como isso é feito parece querer justificar o personagem e tirá-lo do local não muito positivo que ele ocupou aos olhos do público mais recentemente. Podemos dizer que o Dumbledore de Jude Law não chega nem perto do bruxo da saga original, disposto a sacrificar um adolescente e a usar os outros como peças de seus planos com pouca consideração a quem eles são.

Dumbledore (Jude Law mostra seu pacto de sangue e explica seu plano a Newt e Teseu

Juntos, Mikkelsen e Law comandam a maior parte do filme e recebem dele os maiores destaques. O resto do elenco possui seus momentos para brilhar e, mesmo que não assumam o protagonismo definitivo, conseguem, em grande parte, se desenvolver para obter uma grande importância no filme. Eddie Redmayne mantém a constituição de Scalamander de maneira impecável, sendo divertidamente tímido, excêntrico e inteligente de se assistir, mas seu próprio personagem nunca parece um que deve assumir o protagonismo da história e é muitas vezes relegado a coadjuvante, o que é estranho, considerando que esta deveria ser a sua franquia.

Do restante do elenco, pode-se ainda destacar a atuação de Dan Fogler como Jacob Kowalski, o amigo trouxa de Newt que se mantém como o lado cômico da saga, mas que consegue se desenvolver bem como um personagem mais complexo e como uma peça essencial da trama, e Jessica Williams como a professora Eulalia Hicks, uma personagem divertida e bastante ativa ao longo da trama e que também fornece alguns momentos bastante engraçados. Já Alison Sudol e William Nadylam se encontram extremamente apagados nesse filme, e seus personagens, que prometiam tanto destaque nessa saga, acabam tendo seus arcos jogados para um segundo plano e sendo bem pouco desenvolvidos.

Jacob (Dan Fogler), Lally (Jessica Williams), Newt e Teseu entram na Sala Precisa em Hogwarts

No geral, Os Segredos de Dumbledore consegue encaminhar bem a sua história, mesmo com alguns problemas, e é uma aventura divertida com personagens carismáticos e que leva o mundo bruxo para o seu lado político e social de maneira mais direta. Seu grande problema, e isso é um mal de todas as prequels, é a falta de conexão de alguns de seus pontos com a saga original. Por exemplo, já foi estabelecida a existência de outras escolas de magia pelo mundo, mas se existem outros ministérios de magia a serviço de uma mesma Confederação, por que a saga original nos fez pensar que o Ministro Britânico era a personalidade política mais importante do mundo bruxo? Por que nunca ouvimos falar dessa Confederação antes, ou da criatura qilin? Outro problema é que a relação de Alvo Dumbledore com seu irmão Aberforth (Richard Coyle), que não possui a mesma raiva por ele que na saga original. Pode ser algo a ser desenvolvido no futuro, mas isso nos leva a perguntar se vale a pena continuar essa saga.

Maria Fernanda Cândido como Vicência Santos, candidata do Ministério da Magia do Brasil ao cargo de líder da Confederação dos Bruxos.

Como já foi dito, Animais Fantásticos tem estado em uma montanha russa de polêmicas e filmes bons e ruins desde a sua estreia. Os Segredos de Dumbledore se encontra em uma encruzilhada em que poderia encerrar a saga como uma trilogia e proporcionar um final aceitável para a história, mas que deixaria algumas lacunas abertas sobre o funcionamento do mundo bruxo. Contudo, um novo filme para fechar essas lacunas não é nenhuma garantia de sucesso, e a franquia precisa tomar cuidado por onde caminha se quiser se manter em alta.

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Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Conseguindo explorar melhor o mundo bruxo e as relações entre seus personagens, Os Segredos de Dumbledore consegue superar as suas falhas e se tornar uma continuação decente para a icônica saga.

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Luis Henrique Franco
15/4/2022

Desde o seu começo, a franquia Animais Fantásticos tem enfrentado altos e baixos. Valendo-se do amor das pessoas pela saga Harry Potter, a nova história procurou explorar o mundo bruxo para além de Hogwarts, mas enfrentou problemas para estabelecer uma linha de narrativa que justificasse os seus atuais três filmes, e provavelmente outros que virão depois. Após o enorme fiasco que foi Os Crimes de Grindelwald, o terceiro filme da saga, Os Segredos de Dumbledore, consegue ao menos corrigir alguns erros mais notórios, estruturar melhor a sua história e, definitivamente, explorar de maneira mais concisa esse novo mundo mágico.

O terceiro filme já se inicia com o terrível Grindelwald (agora interpretado por Mads Mikkelsen) estruturando seus planos e reunindo seus seguidores para tomar o poder do mundo bruxo. Mas, ao contrário de Voldemort, que tentou obter tal poder pela força e violência, Grindelwald prefere tomar uma ação mais política e procura meios de ser eleito como grande bruxo da Confederação da Magia, uma organização que domina todos os ministérios de magia do mundo e que lhe daria controle total para lançar uma guerra contra os trouxas.

Mads Mikklensen como o vilão Grindelwald

Valer-se dessa premissa abertamente política já lança uma novidade interessante na franquia. Harry Potter nunca foi estranho a mensagens sociais, mas introduzir esse aspecto tão aberta e diretamente é uma forma de deixar o propósito do filme claro logo de início, permitindo um foco maior na construção da política do mundo bruxo e em sua estrutura mundial. Assim, cabe ao professor Dumbledore (Jude Law) e ao magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne) bolarem um plano complexo para impedir Grindelwald de tomar o poder, valendo-se de artimanhas políticas, diversas missões diferentes entre os personagens e o respeito que todo o mundo mágico tem por uma nova criatura, o Qilin, capaz de ler as almas das pessoas.

Para além dessa exploração da organização do mundo bruxo, Os Segredos de Dumbledore também consegue construir uma história bem organizada, de forma que, mesmo todas as suas partes e arcos não sejam muito bem desenvolvidos, o todo ainda assim é algo bem estruturado. Pequenos erros ainda acontecem, com personagens aparecendo em locais e cenas completamente diferentes em espaços muito curtos de tempo. É um fato reconhecido que bruxos podem se teletransportar (desculpem, "Aparatar"), mas o fato de não vermos tais personagens chegando em cena ainda causa estranhamento.

Alguns outros problemas incluem o prolongamento excessivo de algumas cenas. Em determinado momento, Newt precisa tirar seu irmão, Teseu (Callum Turner) de uma prisão na Alemanha, e apesar de ser uma cena bastante divertida, seu prolongamento cansa e acaba tirando o encanto do momento.

Newt (Eddie Redmayne) e Teseu (Callum Turner) fogem de uma prisão mágica na Alemanha

A ascensão de Grindelwald também é um problema, visto que acontece com várias permissões estranhas vindas de altas autoridades do mundo bruxo, que não deveriam hesitar tanto em derrubá-lo só porque ele possui um grande apelo com as massas. De novo, é uma mensagem interessante de como é perigoso dar voz para extremistas, mas estamos falando de um homem acusado de assassinatos e crimes notórios, e a maneira como ele escapa dessas acusações é inverossímil demais.

Apesar de tudo isso, Os Segredos de Dumbledore ainda possui vários aspectos positivos, entre eles a exploração do personagem que lhe dá o nome. Se Os Crimes de Grindelwald foi uma grande enrolação e não desenvolveu em nada as ações do vilão, o terceiro filme coloca o foco totalmente em Dumbledore, deixando que Jude Law assuma o palco em um papel que explora a densidade de seu personagem e traz à tona os sues momentos mais sombrios. Várias das ações de Dumbledore, já reveladas na saga Harry Potter, são abordadas e aprofundadas, mesmo que a forma como isso é feito parece querer justificar o personagem e tirá-lo do local não muito positivo que ele ocupou aos olhos do público mais recentemente. Podemos dizer que o Dumbledore de Jude Law não chega nem perto do bruxo da saga original, disposto a sacrificar um adolescente e a usar os outros como peças de seus planos com pouca consideração a quem eles são.

Dumbledore (Jude Law mostra seu pacto de sangue e explica seu plano a Newt e Teseu

Juntos, Mikkelsen e Law comandam a maior parte do filme e recebem dele os maiores destaques. O resto do elenco possui seus momentos para brilhar e, mesmo que não assumam o protagonismo definitivo, conseguem, em grande parte, se desenvolver para obter uma grande importância no filme. Eddie Redmayne mantém a constituição de Scalamander de maneira impecável, sendo divertidamente tímido, excêntrico e inteligente de se assistir, mas seu próprio personagem nunca parece um que deve assumir o protagonismo da história e é muitas vezes relegado a coadjuvante, o que é estranho, considerando que esta deveria ser a sua franquia.

Do restante do elenco, pode-se ainda destacar a atuação de Dan Fogler como Jacob Kowalski, o amigo trouxa de Newt que se mantém como o lado cômico da saga, mas que consegue se desenvolver bem como um personagem mais complexo e como uma peça essencial da trama, e Jessica Williams como a professora Eulalia Hicks, uma personagem divertida e bastante ativa ao longo da trama e que também fornece alguns momentos bastante engraçados. Já Alison Sudol e William Nadylam se encontram extremamente apagados nesse filme, e seus personagens, que prometiam tanto destaque nessa saga, acabam tendo seus arcos jogados para um segundo plano e sendo bem pouco desenvolvidos.

Jacob (Dan Fogler), Lally (Jessica Williams), Newt e Teseu entram na Sala Precisa em Hogwarts

No geral, Os Segredos de Dumbledore consegue encaminhar bem a sua história, mesmo com alguns problemas, e é uma aventura divertida com personagens carismáticos e que leva o mundo bruxo para o seu lado político e social de maneira mais direta. Seu grande problema, e isso é um mal de todas as prequels, é a falta de conexão de alguns de seus pontos com a saga original. Por exemplo, já foi estabelecida a existência de outras escolas de magia pelo mundo, mas se existem outros ministérios de magia a serviço de uma mesma Confederação, por que a saga original nos fez pensar que o Ministro Britânico era a personalidade política mais importante do mundo bruxo? Por que nunca ouvimos falar dessa Confederação antes, ou da criatura qilin? Outro problema é que a relação de Alvo Dumbledore com seu irmão Aberforth (Richard Coyle), que não possui a mesma raiva por ele que na saga original. Pode ser algo a ser desenvolvido no futuro, mas isso nos leva a perguntar se vale a pena continuar essa saga.

Maria Fernanda Cândido como Vicência Santos, candidata do Ministério da Magia do Brasil ao cargo de líder da Confederação dos Bruxos.

Como já foi dito, Animais Fantásticos tem estado em uma montanha russa de polêmicas e filmes bons e ruins desde a sua estreia. Os Segredos de Dumbledore se encontra em uma encruzilhada em que poderia encerrar a saga como uma trilogia e proporcionar um final aceitável para a história, mas que deixaria algumas lacunas abertas sobre o funcionamento do mundo bruxo. Contudo, um novo filme para fechar essas lacunas não é nenhuma garantia de sucesso, e a franquia precisa tomar cuidado por onde caminha se quiser se manter em alta.

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Crítica

Conseguindo explorar melhor o mundo bruxo e as relações entre seus personagens, Os Segredos de Dumbledore consegue superar as suas falhas e se tornar uma continuação decente para a icônica saga.

escrito por
Luis Henrique Franco
15/4/2022
nascimento

Conseguindo explorar melhor o mundo bruxo e as relações entre seus personagens, Os Segredos de Dumbledore consegue superar as suas falhas e se tornar uma continuação decente para a icônica saga.

escrito por
Luis Henrique Franco
15/4/2022

Desde o seu começo, a franquia Animais Fantásticos tem enfrentado altos e baixos. Valendo-se do amor das pessoas pela saga Harry Potter, a nova história procurou explorar o mundo bruxo para além de Hogwarts, mas enfrentou problemas para estabelecer uma linha de narrativa que justificasse os seus atuais três filmes, e provavelmente outros que virão depois. Após o enorme fiasco que foi Os Crimes de Grindelwald, o terceiro filme da saga, Os Segredos de Dumbledore, consegue ao menos corrigir alguns erros mais notórios, estruturar melhor a sua história e, definitivamente, explorar de maneira mais concisa esse novo mundo mágico.

O terceiro filme já se inicia com o terrível Grindelwald (agora interpretado por Mads Mikkelsen) estruturando seus planos e reunindo seus seguidores para tomar o poder do mundo bruxo. Mas, ao contrário de Voldemort, que tentou obter tal poder pela força e violência, Grindelwald prefere tomar uma ação mais política e procura meios de ser eleito como grande bruxo da Confederação da Magia, uma organização que domina todos os ministérios de magia do mundo e que lhe daria controle total para lançar uma guerra contra os trouxas.

Mads Mikklensen como o vilão Grindelwald

Valer-se dessa premissa abertamente política já lança uma novidade interessante na franquia. Harry Potter nunca foi estranho a mensagens sociais, mas introduzir esse aspecto tão aberta e diretamente é uma forma de deixar o propósito do filme claro logo de início, permitindo um foco maior na construção da política do mundo bruxo e em sua estrutura mundial. Assim, cabe ao professor Dumbledore (Jude Law) e ao magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne) bolarem um plano complexo para impedir Grindelwald de tomar o poder, valendo-se de artimanhas políticas, diversas missões diferentes entre os personagens e o respeito que todo o mundo mágico tem por uma nova criatura, o Qilin, capaz de ler as almas das pessoas.

Para além dessa exploração da organização do mundo bruxo, Os Segredos de Dumbledore também consegue construir uma história bem organizada, de forma que, mesmo todas as suas partes e arcos não sejam muito bem desenvolvidos, o todo ainda assim é algo bem estruturado. Pequenos erros ainda acontecem, com personagens aparecendo em locais e cenas completamente diferentes em espaços muito curtos de tempo. É um fato reconhecido que bruxos podem se teletransportar (desculpem, "Aparatar"), mas o fato de não vermos tais personagens chegando em cena ainda causa estranhamento.

Alguns outros problemas incluem o prolongamento excessivo de algumas cenas. Em determinado momento, Newt precisa tirar seu irmão, Teseu (Callum Turner) de uma prisão na Alemanha, e apesar de ser uma cena bastante divertida, seu prolongamento cansa e acaba tirando o encanto do momento.

Newt (Eddie Redmayne) e Teseu (Callum Turner) fogem de uma prisão mágica na Alemanha

A ascensão de Grindelwald também é um problema, visto que acontece com várias permissões estranhas vindas de altas autoridades do mundo bruxo, que não deveriam hesitar tanto em derrubá-lo só porque ele possui um grande apelo com as massas. De novo, é uma mensagem interessante de como é perigoso dar voz para extremistas, mas estamos falando de um homem acusado de assassinatos e crimes notórios, e a maneira como ele escapa dessas acusações é inverossímil demais.

Apesar de tudo isso, Os Segredos de Dumbledore ainda possui vários aspectos positivos, entre eles a exploração do personagem que lhe dá o nome. Se Os Crimes de Grindelwald foi uma grande enrolação e não desenvolveu em nada as ações do vilão, o terceiro filme coloca o foco totalmente em Dumbledore, deixando que Jude Law assuma o palco em um papel que explora a densidade de seu personagem e traz à tona os sues momentos mais sombrios. Várias das ações de Dumbledore, já reveladas na saga Harry Potter, são abordadas e aprofundadas, mesmo que a forma como isso é feito parece querer justificar o personagem e tirá-lo do local não muito positivo que ele ocupou aos olhos do público mais recentemente. Podemos dizer que o Dumbledore de Jude Law não chega nem perto do bruxo da saga original, disposto a sacrificar um adolescente e a usar os outros como peças de seus planos com pouca consideração a quem eles são.

Dumbledore (Jude Law mostra seu pacto de sangue e explica seu plano a Newt e Teseu

Juntos, Mikkelsen e Law comandam a maior parte do filme e recebem dele os maiores destaques. O resto do elenco possui seus momentos para brilhar e, mesmo que não assumam o protagonismo definitivo, conseguem, em grande parte, se desenvolver para obter uma grande importância no filme. Eddie Redmayne mantém a constituição de Scalamander de maneira impecável, sendo divertidamente tímido, excêntrico e inteligente de se assistir, mas seu próprio personagem nunca parece um que deve assumir o protagonismo da história e é muitas vezes relegado a coadjuvante, o que é estranho, considerando que esta deveria ser a sua franquia.

Do restante do elenco, pode-se ainda destacar a atuação de Dan Fogler como Jacob Kowalski, o amigo trouxa de Newt que se mantém como o lado cômico da saga, mas que consegue se desenvolver bem como um personagem mais complexo e como uma peça essencial da trama, e Jessica Williams como a professora Eulalia Hicks, uma personagem divertida e bastante ativa ao longo da trama e que também fornece alguns momentos bastante engraçados. Já Alison Sudol e William Nadylam se encontram extremamente apagados nesse filme, e seus personagens, que prometiam tanto destaque nessa saga, acabam tendo seus arcos jogados para um segundo plano e sendo bem pouco desenvolvidos.

Jacob (Dan Fogler), Lally (Jessica Williams), Newt e Teseu entram na Sala Precisa em Hogwarts

No geral, Os Segredos de Dumbledore consegue encaminhar bem a sua história, mesmo com alguns problemas, e é uma aventura divertida com personagens carismáticos e que leva o mundo bruxo para o seu lado político e social de maneira mais direta. Seu grande problema, e isso é um mal de todas as prequels, é a falta de conexão de alguns de seus pontos com a saga original. Por exemplo, já foi estabelecida a existência de outras escolas de magia pelo mundo, mas se existem outros ministérios de magia a serviço de uma mesma Confederação, por que a saga original nos fez pensar que o Ministro Britânico era a personalidade política mais importante do mundo bruxo? Por que nunca ouvimos falar dessa Confederação antes, ou da criatura qilin? Outro problema é que a relação de Alvo Dumbledore com seu irmão Aberforth (Richard Coyle), que não possui a mesma raiva por ele que na saga original. Pode ser algo a ser desenvolvido no futuro, mas isso nos leva a perguntar se vale a pena continuar essa saga.

Maria Fernanda Cândido como Vicência Santos, candidata do Ministério da Magia do Brasil ao cargo de líder da Confederação dos Bruxos.

Como já foi dito, Animais Fantásticos tem estado em uma montanha russa de polêmicas e filmes bons e ruins desde a sua estreia. Os Segredos de Dumbledore se encontra em uma encruzilhada em que poderia encerrar a saga como uma trilogia e proporcionar um final aceitável para a história, mas que deixaria algumas lacunas abertas sobre o funcionamento do mundo bruxo. Contudo, um novo filme para fechar essas lacunas não é nenhuma garantia de sucesso, e a franquia precisa tomar cuidado por onde caminha se quiser se manter em alta.

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