Quentin Tarantino é um diretor que obteve um sucesso estrondoso em uma carreira de, relativamente, poucos títulos. Com Era Uma Vez... Em Hollywood, diretor chega ao seu nono filme dirigido, número este que considera os dois volumes de Kill Bill como um único filme. Mesmo com esse número pequeno de produções em seu nome se comparado com outros diretores de mesma fama, Tarantino atingiu uma fama indescritível e emplacou praticamente todos os seus filmes junto com o público, criando personagens e cenas incríveis que persistem até hoje na memória de todos os seus fãs.
Entre as muitas coisas que tornam seus filmes icônicos, pode-se citar os bons roteiros, com tramas bem armadas e momentos de tensão sem igual, as cenas incríveis e os personagens marcantes presentes em todos os seus filmes, que fazem o melhor de seus diálogos e constroem relações entre si que se sustentam durante todo o filme. Mas além de sofrerem mortes bem violentas e da suposta relação entre alguns personagens de filmes diferentes (algo que o próprio diretor já afirmou), eles também possuem outra coisa em comum: muitos deles são interpretados por atores e atrizes que constantemente voltam para mais filmes do diretor, tornando-se presenças quase garantidas quando ouvimos que Tarantino está fazendo um novo filme. Confira abaixo algumas das parcerias mais duradouras e e emblemáticas que o diretor criou em sua carreira.
ZOË BELL

Uma das menos conhecidas entre os parceiros de Tarantino, Zoë Bell teve a sua dose de participações nos filmes do diretor, mesmo que, em geral, não tenha papéis chamativos. Nascida na Nova Zelândia, Zoë se estabeleceu na indústria cinematográfica como uma dublê extremamente talentosa, tendo feito sua estreia na série Xena: A Princesa Guerreira, na qual foi dublê da protagonista, Lucy Lawless.
Seu primeiro trabalho ao lado de Tarantino foi nos dois volumes de Kill Bill, onde atuou como dublê de ação da atriz Uma Thurman. Ela chegou a ser indicada por seu trabalho no Volume 1 ao World Stunt Awards tanto para Melhor Atuação de uma Dublê Feminina quanto para Melhor Luta. Ele venceu as duas categorias no ano seguinte por seu trabalho no Volume 2. Zoë voltaria a vencer o prêmio em 2008 pelo filme Grindhouse, escrito por Tarantino e Robert Rodriguez, onde ela também fez a sua estreia como atriz. Além desses, ela também fez papel em Bastardos Inglórios, onde atuou como dublê tanto para Mélanie Laurent quanto para Diane Kruger.
Nos filmes dirigidos por Tarantino, sua maior participação como atriz se deu em À Prova de Morte, onde ficou reconhecida pela cena de perseguição em cima de um carro em movimento. Outras participações como atriz ocorreram em Django Livre, onde interpreta um papel menor como uma das rastreadoras de Calvin Candie, e em Os Oito Odiados, onde interpreta a personagem Six-Horse Judy. Zoë também foi escalada para viver uma personagem em Era Uma Vez... Em Hollywood, filme do qual ela também será coordenadora de dublês.
KURT RUSSELL

Tendo feito sua estreia no cinema e na TV ainda muito jovem, Kurt Russell se tornou um nome conhecido nos anos 70 e, principalmente, nos anos 80, onde participou de filmes que hoje em dia são vistos como cults pelos fãs, como Fuga de Nova York, O Enigma de Outro Mundo e Os Aventureiros do Bairro Proibido, além de ter vivido o protagonista de Stargate em meados dos anos 90. Sua carreira teve seus altos e baixos nos anos 2000, mas os últimos anos têm se mostrado mais generosos para esse que, talvez, seja um dos atores mais veteranos da lista.
Como ator dos filmes de Tarantino, Kurt Russell não é o mais presente, nem o mais marcante. Tendo, até o momento, três filmes ao lado do diretor, o primeiro deles foi À Prova de Morte, do qual o ator foi o protagonista, vivendo na pele do personagem Stuntman Mike, que gosta de se gabar de que seu carro é à prova de morte e não se preocupa em causar acidentes no meio da estrada para provar isso. Depois, Russell só voltaria a atuar sob a direção de Tarantino em Os Oito Odiados, onde viveu John "O Carrasco" Ruth, um caçador de recompensas encarregado de levar uma notória criminosa para ser enforcada na cidade. Russell também atuará em Era Uma Vez... Em Hollywood, seu terceiro trabalho com Tarantino.
Apesar de não ser o ator mais presente nos filmes do diretor, Kurt Russell conseguiu ainda assim criar uma marca ao interpretar, nos dois casos até agora, personagens de certa forma repudiáveis e que pareciam ter desde sempre a intenção de não serem os favoritos do público. essa característica faz com que tanto os destinos de Mike quanto de John Ruth, por mais sangrentos de uma maneira que só Tarantino sabe fazer, sejam divertidos e, de certa forma, até prazerosos de se assistir.
TIM ROTH

Tim Roth é um ator britânico que começou a sua carreira nos anos 80. Um pouco menos conhecido que outros atores de sua época, ele conseguiu dar ao público uma boa dose de personagens memoráveis ao longo dos anos. Ele também é um dos primeiros atores a trabalhar com Tarantino e uma das parcerias mais antigas do diretor.
O trabalho dos dois juntos data de 1992, ano em que estreou o primeiro filme de Tarantino como diretor, Cães de Aluguel. Já nesse filme, Roth obteve um papel de destaque ao interpretar Mr. Orange, um policial disfarçado como um dos membros da gangue que vai assaltar o banco. Mr. Orange ficou reconhecido principalmente pela maneira drástica como sua traição é revelada ao protagonista, Mr. White (Harvey Keitel), certamente uma das cenas mais icônicas do filme. Logo em seguida, em 1994, Roth retornou em Pulp Fiction, o segundo filme de Tarantino, onde teve um papel menor como um assaltante de uma lanchonete que aparece nos minutos iniciais e na cena final do filme.
Depois de sua participação em Pulp Fiction, Tim Roth deixou as produções de Tarantino um pouco de lado e não retornou por vários anos até conseguir um papel em Os Oito Odiados como Oswaldo Morbray, o novo carrasco da cidade que está passando a noite na hospedagem onde os personagens se encontram. Embora não tão chamativo quanto Mr. Orange, Morbray é uma boa adição e Roth faz bem o papel do homem que aparenta ser mais civilizado, que gosta de falar e elucubrar sobre questões diversas de uma maneira quase filosófica.
LEONARDO DICAPRIO

Com uma carreira galopante que se inicia nos anos 90, quando ele tinha apenas 14 anos de idade, Leonardo DiCaprio é um dos mais bem sucedidos e mais famosos atores de nossos tempos, dispondo de inúmeras atuações de sucesso e personagens marcantes nos mais diversos filmes, desde comédias até dramas e suspenses policiais, passando por faroestes, biografias e ficções científicas.
Quando falamos dos filmes de Tarantino, entretanto, o ator não possui uma parceria muito duradoura. Na realidade, na linha temporal dos filmes do diretor, DiCaprio aparece apenas em duas das produções e, em comparação com outros nessa lista, teve uma estreia muito recente nos trabalhos de Tarantino, atuando inicialmente em Django Livre, onde vive o vilão Calvin Candie. Sua performance nesse filme, porém, é uma das mais chamativas e uma das mais lembradas. DiCaprio realmente põe esforço e paixão em seu personagem, tornando-o ameaçador e desprezível e vendendo perfeitamente a ideia do latifundiário racista com uma crença estúpida na superioridade da raça branca.
A segunda produção em comum dos dois é Era Uma Vez... Em Hollywood, onde DiCaprio finalmente assumirá o papel de protagonista como o ator Rick Dalton, uma estrela de filmes que passa por uma fase difícil da carreira, ao lado de seu dublê, Cliff Boom (Brad Pitt).
MICHAEL MADSEN

Conhecido como um ator muito bom para um tipo de papel, Michael Madsen é talvez o ator com a carreira menos galopante dessa lista. Um topa-tudo de Hollywood, seus filmes vão desde produções aclamadas até os piores tipos de trash que são feitos quase sem nenhum investimento. Não à toa, alguns de seus filmes mais marcantes foram feitos ao lado de Tarantino, com o qual ele trabalha desde os primeiros filmes do diretor.
Sua primeira aparição é, com certeza, a mais marcante de todas. Em Cães de Aluguel, Madsen protagonizou uma das cenas mais famosas de Tarantino, que logo o caracterizou por sua tendência a uma violência gráfica característica. Na cena em questão, o personagem de Madsen, um dos membros da gangue de assaltantes, se diverte torturando um policial capturado ao som de "Stuck in the middle with you", da banda Stealers, Wheelers. Nessa cena, o personagem simplesmente corta uma das orelhas do policial amarrado, cena que, embora não seja mostrada, é suficientemente bem feita para nos fazer se contorcer de agonia.
Depois de Cães de Aluguel, Madsen pulou dois filmes de Tarantino e retornou em um papel menor em Kill Bill, como um dos membros da equipe de assassinos de Bill e um dos alvos da Noiva. Seu personagem, mais devidamente explorado no segundo volume, não foi o mais chamativo membro da gangue e perdeu espaço para outros atores no elenco, como Lucy Liu, Daryl Hannah e David Carradine. Depois disso, Madsen só voltaria em Os Oito Odiados, mais uma vez em um papel secundário que não chamou muito a atenção se comparado com outros no elenco, mas que conseguiu se estabelecer bem e cumprir sua função na narrativa. Michael Madsen deve retornar em Era Uma Vez... Em Hollywood, embora seu papel deva ser muito pequeno e não passe de uma aparição.
UMA THURMAN

Entre todas as atrizes que já trabalharam com Tarantino, é talvez a mais célebre e a com os papéis mais memoráveis. Uma Thurman se tornou uma atriz reconhecida durante os anos 90, durante os quais realizou alguns de seus principais filmes. Seu primeiro grande sucesso foi justamente o filme Pulp Fiction - Tempos de Violência.
Tendo uma importante atuação em um dos atos do filme, Thurman talvez não tenha tido o maior número de cenas, mas aquelas em que apareceu lhe renderam aclamação e reconhecimento. Tanto a cena da dança no bar ao lado de John Travolta quanto a sequência da overdose são momentos extremamente lembrados do filme pelos fãs. Com sua atuação, a atriz conseguiu construir sua carreira e estrelar em outros grandes sucessos.
Apesar de não ser uma atriz que tenha trabalhado em inúmeros filmes com tarantino, Uma Thurman certamente marcou presença. Além de Pulp Fiction, seu outro trabalho para o diretor é como a protagonista de Kill Bill, conhecida apenas como A Noiva, uma assassina de elite traída pelo seu ex-namorado e quase morta e que jura vingança contra ele e toda a sua gangue. Ambos os volumes são praticamente carregados pela atriz, que convence tanto nas cenas mais calmas quanto nas sequências de ação e luta de espadas.
ROBERT RICHARDSON

Com tantos atores em sua lista, Tarantino também fez parcerias incríveis e duradouras em outras áreas do cinema. Uma das mais longas e marcantes de sua carreira é com o cinematógrafo e diretor de fotografia Robert Richardson, um dos mais premiados da atualidade e um dos maiores responsáveis pelas cenas icônicas de muitos filmes do diretor.
Ganhador de Três Oscars, Richardson ficou famoso por trabalhar com, além de Tarantino, diretores como Oliver Stone e Martin Scorcese, Em filmes como Platoon, O Aviador, JFK e Nascido em Quatro de Julho. A parceria com Tarantino começou em Kill Bill e tem se mantido constante em quase todos os filmes do diretor desde então, a única exceção sendo À Prova de Morte. Não à toa, a captura das cenas, dos cenários e dos personagens nos filmes se manteve constante e sempre impecáveis.
Richardson esteve responsável pela fotografia em Os Oito Odiados, Bastardos Inglórios e Django Livre, sendo também o diretor de fotografia nesses dois últimos. Pelos três trabalhos ele foi indicado ao Oscar, mas não venceu em nenhuma das três ocasiões, o que, se pararmos para ver algumas das cenas desses filmes e a maneira como elas foram capturadas, é realmente um absurdo. Felizmente, Richardson estará de volta como diretor de fotografia em Era Uma Vez... Em Hollywood, e talvez possa conseguir seu quarto Oscar, o primeiro por Tarantino.
CHRISTOPH WALTZ

Um talentoso ator alemão, Christoph Waltz foi praticamente revelado a Hollywood por Tarantino. Uma parceria recente e que rendeu apenas dois filmes por enquanto, os filmes estrelados pelo ator tiraram enorme proveito de sua impecável atuação, em ambos como um personagem mais falante e dado a especulações e explicações filosóficas.
O primeiro filme de Waltz ao lado de Tarantino foi Bastardos Inglórios, onde ele incorporou um dos mais notórios vilões do cinema dos últimos anos: o coronel nazista Hans Landa. Introduzido na primeira cena, Landa logo deixa uma grande impressão no público, uma impressão extremamente ameaçadora. Através de seus diálogos, constrói-se um vilão extremamente inteligente e cruel, capaz de torturar suas vítimas com o mero uso de palavras, mesmo quando sorri e finge ser uma pessoa agradável. Waltz foi capaz de vender bem esse papel, de forma que não há uma única cena do coronel em que nos sentimos seguros. Por sua atuação impecável, o ator recebeu o merecido Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
Em 2012, o ator voltou a trabalhar com o diretor em Django Livre, dessa vez interpretando um caçador de recompensas que ajuda o protagonista em sua missão de salvar a sua esposa. Como Landa, o Dr. King Schultz é um personagem extremamente capaz de expressar todas as suas ideias por palavras e convencer alguém pelo mais elaborado diálogo. Ele também deixa clara a sua repugnância pela escravidão, algo demonstrado tanto por suas palavras quanto por suas expressões. Jamie Foxx pode ser o protagonista do filme, mas é Christoph Waltz, ao lado de Leonardo DiCaprio, quem rouba o show, e essa atuação valeu ao ator o seu segundo Oscar de Ator Coadjuvante.
SALLY MENKE

Outra parceria fora das áreas de atuação, Sally Menke talvez tenha nutrido um dos laços mais duradouros com Tarantino. Trabalhando nas áreas de edição e montagem, ela trabalhou nos bastidores de desde os anos 80, editando primeiramente documentários realizados para o canal CBS e recebendo um número maior de filmes a partir dos anos 90, dos quais o primeiro foi As Tartarugas Ninja.
Ela conheceu Tarantino quando ele ainda estava se preparando para filmar Cães de Aluguel. Após ler o roteiro, ela achou a ideia do filme fantástica e se dispôs a ajudá-lo, recebendo logo depois o trabalho no filme. A partir daí, ela participou da montagem de praticamente todos os filmes do diretor até Bastardos Inglórios. Por todos os seus trabalhos, ela foi indicada ao Oscar duas vezes: a primeira por Pulp Fiction e a segunda por Bastardos Inglórios.
Em 2007, Tarantino descreveu a relação dele com Menke, afirmando que "as melhores colaborações em um filme se dão entre um diretor e o editor", e que ela era "a sua única colaboradora genuína". Em 2010, Sally Menke foi encontrada morta após sair de casa para uma caminhada. Segundo o legista, a causa da morte teve relação com a exposição ao calor excessivo. O Sundance Institute criou uma sociedade memorial de editores de cinema para homenageá-la, e Tarantino dedicou a ela o filme Django Livre, o primeiro de sua carreira sem a participação de Menke.
SAMUEL L. JACKSON

Entre todos os atores que já trabalharam para Tarantino, nenhum teve mais participações em seus filmes do que Samuel L. Jackson. O ator, com mais de 180 filmes e séries em sua longa carreira, participou em seis dos nove filmes do diretor. Algumas participações foram apenas aparições ou não foram devidamente creditadas, enquanto outras foram extremamente marcante. A mais marcante, entretanto, é justamente a primeira, em Pulp Fiction. Logo em seu primeiro trabalho pelo diretor, Jackson fez questão de deixar sua marca, nos presenteando com uma cena que até hoje é a primeira lembrada por muitos quando falamos do filme, sendo também fruto de inúmeras referências e memes.
Samuel L. Jackson voltou logo no filme seguinte, Jackie Brown, como o grande vilão da trama, e certamente é um dos pontos altos deste que talvez seja o filme menos lembrado do diretor. Depois disso, seguiu-se uma série de pequenas aparições ou atuações não-creditadas. Em Kill Bill, ele faz uma pequena ponta como o pianista do casamento da Noiva e praticamente não mostra sua cara para a câmera. Jackson não apareceu em À Prova de Morte, mas retornou em Bastardos Inglórios como o narrador da trama, que faz alguns comentários explicativos ao longo do filme.
Como uma estrela real com papéis importantes, Jackson retornou em Django Livre como Stephen, o chamado "Negro da Casa" da fazenda de Calvin Candie e um vilão tão ameaçador quanto o próprio fazendeiro, e certamente mais inteligente do que ele, capaz de observar situações que seu patrão é incapaz por não subestimar as outras pessoas como ele faz. A última aparição de Jackson em um filme do Tarantino foi como o Major Warren em Os Oito Odiados, um oficial negro do exército do norte durante a Guerra Civil que fica preso na cabana junto com os outros personagens e que não poupa nenhum deles de seus comentários ácidos e maldosos e suas ações controversas, ganhando o público com toda a dedicação e o jeito peculiar do ator.
Embora tenha anunciado o fim de sua carreira em seu décimo filme, que a cada ano se torna mais próximo e mais inegável, Tarantino certamente deixa um enorme legado de grandes produções e personagens marcantes. E suas parcerias também não ficam para trás, visto que inúmeras das pessoas acima listadas são reconhecidas principalmente por seus trabalhos com o diretor. Só esperamos que Era Uma Vez... em Hollywood e que o décimo filme tragam muito mais tramas e personagens memoráveis para todos nós.