E assim, chegamos a mais um final de ano. 2020 foi extremamente atípico para todos nós, com diversos acontecimentos que mudaram nossa forma de ver o mundo e de nos relacionarmos com todos que estão à nossa volta. Certamente foi um ano penoso para todos nós e que exigiu muito de cada pessoa, individual e coletivamente. Não deve ser fácil olhar para trás para um ano desses, e essa retrospectiva pode ser algo pouco desejado por muitos.
Mesmo assim, é importante relembrar os maus momentos e os bons, para que possamos, talvez extrair algo desse ano que passa e seguir em frente com um pouco mais de confiança. Muitas coisas aconteceram no universo do cinema e da tv em 2020. Vamos relembrar alguns dos principais acontecimentos desse ano e esperar que o ano que vem traga alguma melhora.
OS MALES DE UM NOVO VÍRUS
2020 foi um ano assolado por uma tragédia de proporções colossais. No final do ano passado, foi descoberto um novo vírus na província de Wuhan, na China. Dito como algo transmitido por zoonose, esse vírus, o Sars-Cov-2, logo começou a se espalhar por toda a China, iniciando o que a princípio parecia uma epidemia local. Entretanto, não demorou muito para que o novo Coronavírus se espalhasse pelo mundo, infectando pessoas em todos os cantos do planeta e iniciando uma gigantesca pandemia.

A COVID-19 se tornou um problema gigantesco, principalmente devido à sua rápida transmissão, que levou inúmeros países e ficarem sem leitos hospitalares para atenderem todos os pacientes. Medidas de prevenção começaram a ser tomadas, com a imposição de quarentena e isolamento social, o fechamento de comércio e a orientação para a higiene pessoal de todas as pessoas, além do início de uma busca desesperada por uma vacina contra o vírus. Para o campo do entretenimento, essas medidas significaram o cancelamento de shows e eventos, o fechamento de cinemas, teatros, casas de espetáculos, o adiamento de estreias de filmes e uma migração em massa de muitas produções novas para os serviços de streaming, que ganharam força considerável em face do ocorrido.
Além do streaming, outras opções foram pensadas para se manter as pessoas em casa. Diversos artistas, como Lady Gaga e Elton John, se reuniram para iniciar uma série de lives onde eram realizados shows virtuais, uma forma de ainda levar alguma diversão para as pessoas que estavam respeitando o isolamento social.
Após meses de isolamento social, no entanto, diversas pessoas começaram a querer retomar a vida normal, desrespeitando normas de segurança e voltando a frequentar ambientes públicos e aglomerações de pessoas. Nesse cenário, vários locais reabriram em uma tentativa de voltar aos negócios, sem que o coronavírus tenha sido completamente combatido ainda. No atual momento, algumas vacinas já começaram a ser distribuídas pela população de alguns países, mas a COVID-19 ainda persiste em praticamente todos os lugares do mundo, e deve continuar após a chegada de 2021. Por causa disso, é importante ter cuidado. Continue a evitar aglomerações, só saia de casa se for extremamente necessário, use máscara e álcool gel. Ao todo, mais de um milhão e oitocentas pessoas já morreram do vírus.
OS FIASCOS DO MUNDO DOS GAMES
Como em quase todos os anos, 2020 teve uma grande quantidade de jogos incríveis sendo lançados. Também houveram muitos jogos ruins que não cativaram o público nem um pouco. Contudo, esse ano foi o palco de talvez dois dos maiores desapontamentos no mundo dos games nos últimos tempos.
Já não é tão surpreendente assim que Blizzard tenha cometido um erro em um de seus jogos. Alguns fãs já aceitaram o fato de que a companhia já não é a mesma de seus anos dourados. Contudo, haviam altas esperanças em Warcraft III Reforged. O relançamento do clássico jogo prometia cinemáticas atualizadas, novos gráficos e mapas e uma revisita interessante a um dos melhores jogos da Blizzard nos anos 2000. Entretanto, tudo o que foi entregue foi o mesmo jogo de antes com gráficos um pouco melhores (e que mesmo assim não chegavam ao que havia sido prometido). Pior do que isso, o jogo veio cheio de bugs e erros, dando a entender que a Blizzard certamente acelerou o desenvolvimento para se adequar à data de lançamento.

Não é preciso dizer que, desde o lançamento, o jogo causou grande revolta entre os fãs. Furiosos pela ausência do conteúdo prometido para o jogo, muitas pessoas exigiram que seus gastos fossem devolvidos e deram a Warcraft III Reforged uma das piores notas já vistas no mundo dos games. Diante de tamanha negatividade, a Blizzard não teve escolha a não ser restituir os valores de alguns clientes extremamente insatisfeitos, gerando para si mesma um enorme prejuízo e uma péssima reputação.
Outro caso de fiasco no mundo dos games em 2020 foi Cyberpunk 2077. Anunciado pela CD Projekt Red, o jogo era uma das principais promessas do ano, mas teve o seu lançamento adiado por vários motivos. A descoberta de que os desenvolvedores estavam em um regime de horas extras obrigatórias causou ainda maior polêmica e levou muitos a pensarem que o jogo não estava pronto. Teoria que se comprovou com o lançamento, que veio com gráficos piores do que os prometidos, inúmeros bugs, saves corrompidos e diversos outros problemas que poderiam ter sido resolvidos se tivesse havido mais tempo para o desenvolvimento. Da mesma forma que a Blizzard, a CD Projekt Red também está tendo que restituir os pagamentos dos jogadores e, inclusive, se vê ameaçada por um processo de seus investidores.

O CASO J.K. ROWLING
J.K. Rowling foi, durante muitos anos, uma das autoras mais aclamadas e adoradas pelo público. Seu trabalho com a saga Harry Potter a fez ser idolatrada por praticamente toda uma geração, e durante anos ela figurou como uma das escritoras mais conectadas com esses leitores jovens. 2020 foi o ano em que essa fantasia acabou, e Rowling mostrou um lado extremamente odiável de sua pessoa.
O incidente começou no Twitter, após a autora comentar a respeito de uma matéria jornalística intitulada Pessoas que Menstruam. No comentário, Rowling criticou o uso de "pessoa", visto que, na opinião dela, "Mulheres" daria conta de todo o público de quem a matéria estaria falando. O comentário, porém, ignorou completamente a inclusão de homens trans, causando uma grande revolta entre os seguidores da escritora. A partir de então, ela tentou justificar sua posição de que não se pode negar o sexo biológico, porque ele seria determinante para a sua experiência.

A partir de uma série de comentários que praticamente deslegitimam a existência da população trans, Rowling foi duramente criticada por inúmeras pessoas. Vários fãs de Harry Potter se mostraram extremamente desapontados e levaram ao cancelamento da autora. O elenco das franquias Harry Potter e Animais Fantásticos, em especial o ator Daniel Radcliffe, também se posicionaram, e a própria Warner teve de se posicionar na questão. Funcionários da editora responsável pelo lançamento do novo livro infantil de Rowling se recusaram a trabalhar com a escritora em seu livro, forçando-a a um "esclarecimento" de sua posição, que também não melhorou muito a situação.
Os comentários transfóbicos de Rowling levantaram novamente a questão de se devemos separar autor de obra quando realizamos um cancelamento. Algumas personalidades defenderam que livros da saga Harry Potter ainda poderiam ser lidos, enquanto outros defendiam a exclusão total das obras da autora. Mais recentemente, Rowling voltou a se envolver em uma polêmica, ao divulgar camisas de uma loja que vende produtos com dizeres transfóbicos, revivendo a questão uma vez mais.
Algumas pessoas simplesmente não aprendem.
ELLEN DEGENERES QUESTIONADA

J.K. Rowling, no entanto, não foi a única celebridade sob a mira de acusações em 2020. A apresentadora Ellen DeGeneres também foi colocada sob os holofotes após diversas acusações de ex-empregados afirmarem que ela cometia assédio moral no ambiente de trabalho. A comediante foi acusada de ser uma chefe abusiva, compulsiva-obsessiva que entregava aos seus empregados constantemente uma lista de reclamações e espalhava "armadilhas" para ver se seus funcionários estavam realmente trabalhando.
As diversas acusações, vinda tanto de empregados de sua casa como de funcionários de seu programa, levaram o programa de Ellen a sofrer uma investigação da Warner Bros. a respeito do ambiente de trabalho promovido pela apresentadora. O ambiente tóxico criado nos bastidores envolvia demissões de funcionários que haviam tirado licenças, broncas e assédios contra empregados que fizessem reclamações e inclusive a proibição de alguns trabalhadores de olharem diretamente para Ellen quando a vissem passando. Apesar de muitas dessas acusações se dirigirem contra os produtores do programa, e não contra Ellen propriamente, alguns funcionários afirmaram que ela deveria ter mais controle sobre sua produção para evitar coisas assim de acontecerem.
Renovado para a sua 18ª temporada, o Ellen DeGeneres Show já anunciou mudanças na sua equipe em virtude dessas investigações. Os produtores-executivos Ed Glavin e Kevin Leman, além do produtor co-executivo Jonathan Norman, foram demitidos do programa. Os três enfrentavam denúncias de assédio, abuso e má-conduta sexual nos bastidores. A própria Ellen escreveu uma carta para seus funcionários, desculpando-se pelo ocorrido e assumindo responsabilidade pelos acontecimentos.
HACKEARAM O TWITTER!
No meio desse ano, ocorreu um enorme ataque cibernético na rede social Twitter. Os hackers invadiram a central da empresa e conseguiram publicar uma mensagem fraudulenta na conta de inúmeras celebridades e pessoas importantes pelo mundo. Na mensagem, eles prometiam retorno em dobro para quem enviasse qualquer quantidade de dinheiro para um endereço de Bitcoin fornecido.
Contas de personalidades extremamente importantes, como Jeff Bezos, Bill Gates, Kim Kardashian e Elon Musk, foram usadas para divulgar a mensagem. No total, o endereço de Bitcoin teria arrecadado mais de 100 mil dólares em poucas semanas. Em resposta, Twitter paralisou todas as suas contas verificadas e as proibiu de continuar postando por um determinado período de tempo até resolver a situação.

O ataque foi considerado o maior da história da rede social. Após semanas de investigação, a polícia estadunidense teria identificado o culpado como Graham Clark, um jovem de 17 anos, que foi detido na cidade de Trampa, na Flórida, e acusado deste e de mais 30 outros crimes. Ele teve acesso ao login da VPN do Twitter através de contas de funcionários utilizando a técnica do "Spear Phishing", em que eles se passaram por técnicos de TI da Twitter para obter as credenciais das vítimas. Devido à dificuldade de se rastrear Bitcoins, o dinheiro arrecadado dificilmente poderá ser devolvido às pessoas vítimas do golpe.
O OSCAR A CAMINHO DE UMA MAIOR INCLUSÃO

Em meio aos movimentos sociais que ganham cada vez mais destaque na sociedade atual, a Academia de Hollywood decidiu incorporar uma série de novos requisitos para que uma produção seja indicado ao Oscar de Melhor Filme. Esses novos requisitos têm como objetivo criar uma diversidade maior entre os indicados e assegurar ao menos a representatividade mínima de grupos sociais na competição.
De acordo com essas novas regras, os filmes que quiserem concorrer ao prêmio deverão atender ao menos dois dos quatro critérios a seguir: ter membros de minorias, como negros ou latinos, em papéis de protagonistas ou coadjuvantes, ou 30% do elenco composto por grupos pouco representados, ou narrativa principal focada nestes grupos; ter um número determinado de membros de grupos pouco representados, como mulheres ou pessoas com deficiência, em cargos de liderança ou 30% da equipe geral formada por membros destes grupos; oferecer cargos pagos de estágio ou de aprendizado para membros de grupos pouco representados nos estúdios, distribuidoras e produtoras, além de vagas de oportunidades de desenvolvimento de habilidades e de treinamento para membros destes grupos em cargos menores na equipe de produção; ter cargos de liderança nos estúdios e/ou produtoras preenchidos por membros de minorias ou grupos pouco representados nas equipes de marketing, distribuição e/ou publicidade.
Esses requisitos serão colocados em prática em 2022, mas serão estabelecidas como obrigatórias a partir de 2024. A ideia é garantir que grupos sociais que foram geralmente esquecidos pela premiação ao longo dos anos passem a ter uma maior visibilidade e chance de competir pelos prêmios principais.

UM CLÁSSICO POSTO EM DEBATE
2020 viu novamente a ascensão do racismo a patamares terríveis. Em maio desse ano, o caso do assassinato de George Floyd, um homem negro estadunidense, por policiais brancos, causou enorme revolta nos Estados Unidos e no mundo. Uma onda de protestos teve início, com pessoas marchando pelas ruas e fazendo manifestações em diversas cidades diferentes. Lideradas pelo movimento Black Lives Matter, esses protestos exigiam a punição devida para os policiais que assassinaram George e por mudanças na maneira como os negros eram vistos, tratados e representados na sociedade.
A onda de revolta se estendeu por meses e afetou diversos setores de diferentes maneiras. Por todo o território estadunidense, pessoas clamaram pela remoção de monumentos e símbolos racistas ou em homenagem a pessoas racistas. A discussão atingiu o campo do cinema e do streaming quando, em face dessas manifestações, a HBO Max removeu o filme de 1939, ...E o Vento Levou, de seu catálogo temporariamente. A medida foi tomada pelo fato de tal filme apresentar um retrato extremamente racista de escravos e exaltar proprietários escravocratas como figuras heroicas.

De acordo com um porta-voz da HBO-Max, manter o filme em catálogo sem uma explicação ou uma denúncia dessas representações seria inadmissível. ... E o Vento Levou é apenas uma das muitas obras histórias a serem criticadas por sua representação da população negra. Filmes, livros, séries e músicas estão todas sendo postas em debate nos últimos anos, onde se questiona se essas obras devem ou não continuar a ser veiculadas para o público.
Um dia após a sua retirada, no entanto, o filme alcançou o topo da lista de filmes e tv da Amazon e a quinta colocação na loja digital da Apple. A HBO Max afirmou que o longa retornaria à sua plataforma junto de uma discussão sobre o contexto em que ele foi feito e sobre os erros da representação mostrada. Contudo, não serão feitas edições no material, visto que fazer isso seria como dizer que tais preconceitos nunca existiram.
A RAINHA DO XADREZ
O Gambito da Rainha estreou no final de 2020 e se tornou rapidamente uma das minisséries de maior sucesso da Netflix. A história da enxadrista Beth Harmon (Anya Taylor-Joy), uma jovem prodígio que luta para conquistar o campeonato mundial de Xadrez, enquanto lida também com problemas de depressão e vício, conquistou um público gigantesco e a adoração de inúmeros fãs, mas isso não ficou apenas no universo da televisão. Isso porque O Gambito da Rainha também inovou o gosto das pessoas pelo xadrez de uma forma extremamente marcante.

Pesquisas recentes mostram o impacto da minissérie no mercado de xadrez. Houve um aumento exponencial de 250% a 300% nas pesquisas do Google por jogadas como o próprio gambito da rainha e a defesa siciliana, além de uma enorme busca por modos de se jogar xadrez online. O aplicativo "Chess - Play and Learn" faturou mais de 300 mil dólares devido ao aumento repentino de downloads após o lançamento da série.
Impulsionado também pelo retorno da popularidade dos jogos de tabuleiro durante o período da pandemia e da quarentena, o xadrez certamente teve em O Gambito da Rainha uma publicidade avassaladora, mesmo que não intencional. O fato de o sucesso da série refletir no sucesso do jogo em si mostra o quão interconectados entretenimento e publicidade estão hoje em dia.
O CASO FORTNITE
Esse ano foi recheado de polêmicas no mundo dos games. Em agosto de 2020, o Battle Royale Fortnite foi banido daslojas virtuais da Apple e da Google Play. A remoção foi o início de uma enorme briga judicial entre Apple, Google e a desenvolvedora Epic Games. O CEO da Epic comentou pelo Twitter não concordar com a cobrança das lojas de 30% da receita obtida com o download do jogo. Por causa disso, a empresa lançou uma opção de pagamento muito mais barato para o Fortnite em iOS e Android.

Como se pode imaginar, a decisão não agradou nem um pouco os executivos da Apple e do Google Play, principalmente porque essa nova forma de obtenção do jogo violava as diretrizes das duas lojas virtuais. Isso fez com que Fortnite fosse removido de ambas as lojas no dia 13 de agosto, levando a Epic a abrir um processo judicial contra a Google e a Apple por conta de seus "monopólios ilegais".
Em comunicado, a Epic Games afirma estar lutando por plataformas benéficas e políticas igualmente benéficas para todos os desenvolvedores. Já a Apple e a Google defenderam suas políticas e apontaram um interesse da Epic em buscar um acordo especial para a venda de Fortnite nas lojas virtuais. Ambas as empresas, porém, afirmaram estarem abertas para discutir a possibilidade de retorno do Fortnite às duas lojas.
A CHEGADA DO DISNEY+, MAS A QUE PREÇO?
2020 também marcou a chegada do aguardado Disney+ ao Brasil. A plataforma de streaming exclusiva da Disney trouxe os grandes clássicos da companhia, desde filmes e animações até as suas séries, e promete uma grande quantidade de novas produções ao longo dos próximos anos, principalmente dentro dos universos de suas principais franquias, como Marvel e Star Wars.

Contudo, a chegada do serviço não foi apenas um mar de rosas para o público. Isso porque a Disney fez questão de garantir à sua plataforma a exclusividade quase que total de todos os seus produtos, através de inúmeras medidas restritivas para a transmissão de seus filmes e séries. Além de remover seu conteúdo de outras plataformas de streaming, a Disney também lutou para remover suas produções de serviços de torrent e, inclusive, retirá-los das programações de canais pagos e dos serviços de compra e alugueis digitais, além de encerrar a produção de mídias físicas na América Latina.
Através dessas medidas, a Disney tentou assegurar que a sua plataforma fosse a única através da qual seus produtos fossem viabilizados. As medidas geraram polêmicas e reclamações, levando a companhia a adotar algumas medidas para reverter a situação. Um pouco antes do lançamento da plataforma, foi anunciada uma parceria entre o Disney+ e o Globoplay, no qual os assinantes poderiam contratar os dois serviços ao mesmo tempo. Isso não evitou, porém, que o serviço recebesse críticas após a sua chegada, em especial devido à ausência de alguns conteúdos na plataforma, em especial produções mais recentes.
Esses foram alguns dos acontecimentos que abalaram o mundo do entretenimento no ano de 2020. Muitos outros fatos ocorreram esse ano, alguns bons e outros ruins. É mais um ano que termina, e esperamos que 2021 seja, ao menos, um pouco melhor.
Feliz Ano Novo!