Crítica

Crítica

Triângulo da Tristeza: quando o barco está afundando, ria

16/2/2023

Com uma proposta de não se levar muito a sério, Triângulo da Tristeza expõe a situação trágica de nossa sociedade de uma forma caricata que nos permite rir de uma situação de naufrágio social e das pessoas grotescas que nela se encontram.

escrito por
Luis Henrique Franco

Com uma proposta de não se levar muito a sério, Triângulo da Tristeza expõe a situação trágica de nossa sociedade de uma forma caricata que nos permite rir de uma situação de naufrágio social e das pessoas grotescas que nela se encontram.

escrito por
Luis Henrique Franco
16/2/2023

Desde a sua concepção na Antiguidade, o papel da comédia sempre foi o de estabelecer uma crítica à sociedade e representar caricaturas de suas mazelas, expondo seus problemas de uma forma divertida e que permita ao público refletir sobre elas. No cinema, esse papel se mostrou extremamente propício para o gênero, e Triângulo da Tristeza parece se enquadrar muito bem nesse contexto. Contudo, ao contrário de muitas produções atuais, o filme de Ruben Östlund não se destaca por se levar a sério em sua crítica. Ao contrário, após conseguir expor a tragédia da sociedade atual, ele opta por rir de sua situação.

Acompanhando um casal de modelos, interpretados por Harris Dickinson e Charlbi Dean, que recebeu um convite para participar de um cruzeiro de luxo, o filme inicia um tour escancarado pelos hábitos polêmicos, absurdos e, por vezes, repulsivos da classe mais rica. Parece o intuito do diretor de que o seu público odeie todos os personagens logo de cara, mas não uma forma que o filme se torne insuportável. Expondo os absurdos das classes super ricas de uma forma degradante e humilhante, Östlund propõe uma sátira sobre a forma como a sociedade é organizada. O iate onde esses milionários se hospedam é organizado também em classes, com a tripulação sendo claramente dividida entre a equipe que está sempre mais à vista e os trabalhadores que fazem seu trabalho sem serem notados, nas salas de motores e partes baixas do barco.

O casal de protagonistas toma banho de sol à bordo do iate.

O filme pode demorar um pouco a engrenar para o público, principalmente por nos levar a odiar os protagonistas, o que torna as primeiras cenas dos dois sozinhos angustiantes de se assistir. Uma vez no iate, porém, Triângulo da Tristeza lança sobre nós sua visão escancarada do sistema de classes de uma forma que não perdoa seus personagens, nem diminui o nosso ódio por eles. E é por isso que o fato de o filme não se levar a sério é importante. Ao estabelecer essa caricatura explícita, Östlund torna mais fácil a nossa convivência com os personagens deploráveis, pois estes são ridicularizados ao extremo. Fica claro e óbvio de que ninguém ali é um herói ou alguém para quem devemos torcer. Não devemos investir esperanças neles, apenas rir de sua própria estupidez e mesquinhez.

Não é por isso, no entanto, que o filme seja algo estúpido e sem nada a oferecer. Triângulo da Tristeza domina muito bem a arde cômica por conseguir, em meio a essa caricatura, introduzir uma visão bastante contundente da organização da sociedade, propor um debate de ideias políticas e repensar em seus próprios termos como a sociedade deveria ser organizada, ao mesmo tempo em que alerta sobre os perigos do acúmulo de poder. É um verdadeiro festival que expõe a nossa situação atual como um barco prestes a afundar. Ao invés de tentar reparar tudo que o que consegue, no entanto, o filme ri do ridículo dessa tragédia e fornece uma reflexão, sem assumir para si ares de que obteve a resposta definitiva para o problema.

Dois passageiros do iate fazem pose para fotos.

Se há algum envolvimento emocional do público, é com a tripulação do iate, seja a pobre comissária (Vicki Berlin) que tenta manter tudo em ordem em meio ao caos, as atendentes que constantemente são vítimas dos abusos dos passageiros, a equipe de limpeza e manutenção que permanece invisível para os hóspedes, e até mesmo o próprio capitão (Woody Harrelson), um homem que se reconhece como um hipócrita e que se vê descontente com seu trabalho, mas que não consegue deixá-lo, afundando suas mágoas na bebida enquanto deixa seu navio em completa desordem.

Woody Harrelson como o capitão do iate, prestes a receber os hóspedes para um jantar.

Com uma construção desse tipo, alguns problemas acabam por surgir. O primeiro deles se encontra nos personagens, que nunca ganham espaço para desenvolverem arcos narrativos nítidos, pouco alterando sua natureza ao longo do filme, seja para melhor ou pior. Não é algo que impede a imersão do público, mas tira um pouco a nossa conexão com a situação mostrada. Triângulo da Tristeza também possui alguns problemas na sua estrutura geral, com um segundo ato muito melhor e mais bem estruturado do que o primeiro, mais lento e entediante, e o terceiro, que aos poucos vai perdendo a energia estabelecida no clímax, apesar de construir um bom desfecho para a história.

Triângulo da Tristeza é uma sátira ácida e divertida que obtém muito triunfo por não se considerar mais séria ou mais inteligente do que de fato é. Sabendo que seus argumentos não estão "reinventando a roda", o filme apresenta uma jornada tragicômica que nos permite refletir sobre o estado de nossa sociedade, mas que se propõe muito mais a nos fazer rir dos absurdos que muitas vezes nem sabemos que acontecem.

EXPECTATIVAS PARA O OSCAR

Prêmios Indicados: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original

Ruben Östlund conquistou com inegável mérito a sua vaga tanto na categoria de Direção como na de Roteiro. A segunda é certamente onde seu trabalho encontra maior força, pois Triângulo da Tristeza, embora bem conduzido, não se destaca muito entre os demais concorrentes da categorias. Seu trabalho realmente traz o melhor do que o filme propõe, e entre todos os indicados, é refrescante ver um filme que não se estabelece ao público como algo extremamente sério. Ainda assim, o bom trabalho da direção deve muito ao roteiro excelente, que transborda com sua sátira ácida e seus comentários sobre a sociedade que nem sempre são óbvios, permanecendo escondidos por debaixo da superfície mais caricata e extravagante. Cheio de minúcias e momentos de diversão sutil, o filme é certamente um forte concorrente na categoria.

Melhor Filme, no entanto, é algo debatível. Não que Triângulo da Tristeza não seja merecedor da indicação. É inclusive extremamente merecedor, principalmente pela sua forma mais escancarada e sem escrúpulos de estabelecer sua crítica, ao passo que outros concorrentes optam por uma visão mais séria e sóbria. Essa diferença realmente dá destaque ao longa, mas não o é o suficiente para colocá-lo entre os favoritos, que inclusive também se consagraram como possíveis vencedores nas outras categorias às quais o filme concorre.

Triângulo da Tristeza é um bom filme para se ter nessa edição do Oscar, e um que talvez devesse receber mais atenção por não se enquadrar exatamente naquilo que normalmente vemos aparecer nessa premiação. O provável, no entanto, é que o filme saia da cerimônia de mãos abanando.

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Triângulo da Tristeza

Triângulo da Tristeza

Direção: 
Criação:
Roteirista 1
Roteirista 2
Roteirista 3
Diretor 1
Diretor 2
Diretor 3
Elenco Principal:
Ator 1
Ator 2
Ator 3
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Com uma proposta de não se levar muito a sério, Triângulo da Tristeza expõe a situação trágica de nossa sociedade de uma forma caricata que nos permite rir de uma situação de naufrágio social e das pessoas grotescas que nela se encontram.

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Luis Henrique Franco
16/2/2023

Desde a sua concepção na Antiguidade, o papel da comédia sempre foi o de estabelecer uma crítica à sociedade e representar caricaturas de suas mazelas, expondo seus problemas de uma forma divertida e que permita ao público refletir sobre elas. No cinema, esse papel se mostrou extremamente propício para o gênero, e Triângulo da Tristeza parece se enquadrar muito bem nesse contexto. Contudo, ao contrário de muitas produções atuais, o filme de Ruben Östlund não se destaca por se levar a sério em sua crítica. Ao contrário, após conseguir expor a tragédia da sociedade atual, ele opta por rir de sua situação.

Acompanhando um casal de modelos, interpretados por Harris Dickinson e Charlbi Dean, que recebeu um convite para participar de um cruzeiro de luxo, o filme inicia um tour escancarado pelos hábitos polêmicos, absurdos e, por vezes, repulsivos da classe mais rica. Parece o intuito do diretor de que o seu público odeie todos os personagens logo de cara, mas não uma forma que o filme se torne insuportável. Expondo os absurdos das classes super ricas de uma forma degradante e humilhante, Östlund propõe uma sátira sobre a forma como a sociedade é organizada. O iate onde esses milionários se hospedam é organizado também em classes, com a tripulação sendo claramente dividida entre a equipe que está sempre mais à vista e os trabalhadores que fazem seu trabalho sem serem notados, nas salas de motores e partes baixas do barco.

O casal de protagonistas toma banho de sol à bordo do iate.

O filme pode demorar um pouco a engrenar para o público, principalmente por nos levar a odiar os protagonistas, o que torna as primeiras cenas dos dois sozinhos angustiantes de se assistir. Uma vez no iate, porém, Triângulo da Tristeza lança sobre nós sua visão escancarada do sistema de classes de uma forma que não perdoa seus personagens, nem diminui o nosso ódio por eles. E é por isso que o fato de o filme não se levar a sério é importante. Ao estabelecer essa caricatura explícita, Östlund torna mais fácil a nossa convivência com os personagens deploráveis, pois estes são ridicularizados ao extremo. Fica claro e óbvio de que ninguém ali é um herói ou alguém para quem devemos torcer. Não devemos investir esperanças neles, apenas rir de sua própria estupidez e mesquinhez.

Não é por isso, no entanto, que o filme seja algo estúpido e sem nada a oferecer. Triângulo da Tristeza domina muito bem a arde cômica por conseguir, em meio a essa caricatura, introduzir uma visão bastante contundente da organização da sociedade, propor um debate de ideias políticas e repensar em seus próprios termos como a sociedade deveria ser organizada, ao mesmo tempo em que alerta sobre os perigos do acúmulo de poder. É um verdadeiro festival que expõe a nossa situação atual como um barco prestes a afundar. Ao invés de tentar reparar tudo que o que consegue, no entanto, o filme ri do ridículo dessa tragédia e fornece uma reflexão, sem assumir para si ares de que obteve a resposta definitiva para o problema.

Dois passageiros do iate fazem pose para fotos.

Se há algum envolvimento emocional do público, é com a tripulação do iate, seja a pobre comissária (Vicki Berlin) que tenta manter tudo em ordem em meio ao caos, as atendentes que constantemente são vítimas dos abusos dos passageiros, a equipe de limpeza e manutenção que permanece invisível para os hóspedes, e até mesmo o próprio capitão (Woody Harrelson), um homem que se reconhece como um hipócrita e que se vê descontente com seu trabalho, mas que não consegue deixá-lo, afundando suas mágoas na bebida enquanto deixa seu navio em completa desordem.

Woody Harrelson como o capitão do iate, prestes a receber os hóspedes para um jantar.

Com uma construção desse tipo, alguns problemas acabam por surgir. O primeiro deles se encontra nos personagens, que nunca ganham espaço para desenvolverem arcos narrativos nítidos, pouco alterando sua natureza ao longo do filme, seja para melhor ou pior. Não é algo que impede a imersão do público, mas tira um pouco a nossa conexão com a situação mostrada. Triângulo da Tristeza também possui alguns problemas na sua estrutura geral, com um segundo ato muito melhor e mais bem estruturado do que o primeiro, mais lento e entediante, e o terceiro, que aos poucos vai perdendo a energia estabelecida no clímax, apesar de construir um bom desfecho para a história.

Triângulo da Tristeza é uma sátira ácida e divertida que obtém muito triunfo por não se considerar mais séria ou mais inteligente do que de fato é. Sabendo que seus argumentos não estão "reinventando a roda", o filme apresenta uma jornada tragicômica que nos permite refletir sobre o estado de nossa sociedade, mas que se propõe muito mais a nos fazer rir dos absurdos que muitas vezes nem sabemos que acontecem.

EXPECTATIVAS PARA O OSCAR

Prêmios Indicados: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original

Ruben Östlund conquistou com inegável mérito a sua vaga tanto na categoria de Direção como na de Roteiro. A segunda é certamente onde seu trabalho encontra maior força, pois Triângulo da Tristeza, embora bem conduzido, não se destaca muito entre os demais concorrentes da categorias. Seu trabalho realmente traz o melhor do que o filme propõe, e entre todos os indicados, é refrescante ver um filme que não se estabelece ao público como algo extremamente sério. Ainda assim, o bom trabalho da direção deve muito ao roteiro excelente, que transborda com sua sátira ácida e seus comentários sobre a sociedade que nem sempre são óbvios, permanecendo escondidos por debaixo da superfície mais caricata e extravagante. Cheio de minúcias e momentos de diversão sutil, o filme é certamente um forte concorrente na categoria.

Melhor Filme, no entanto, é algo debatível. Não que Triângulo da Tristeza não seja merecedor da indicação. É inclusive extremamente merecedor, principalmente pela sua forma mais escancarada e sem escrúpulos de estabelecer sua crítica, ao passo que outros concorrentes optam por uma visão mais séria e sóbria. Essa diferença realmente dá destaque ao longa, mas não o é o suficiente para colocá-lo entre os favoritos, que inclusive também se consagraram como possíveis vencedores nas outras categorias às quais o filme concorre.

Triângulo da Tristeza é um bom filme para se ter nessa edição do Oscar, e um que talvez devesse receber mais atenção por não se enquadrar exatamente naquilo que normalmente vemos aparecer nessa premiação. O provável, no entanto, é que o filme saia da cerimônia de mãos abanando.

confira o trailer

Crítica

Com uma proposta de não se levar muito a sério, Triângulo da Tristeza expõe a situação trágica de nossa sociedade de uma forma caricata que nos permite rir de uma situação de naufrágio social e das pessoas grotescas que nela se encontram.

escrito por
Luis Henrique Franco
16/2/2023
nascimento

Com uma proposta de não se levar muito a sério, Triângulo da Tristeza expõe a situação trágica de nossa sociedade de uma forma caricata que nos permite rir de uma situação de naufrágio social e das pessoas grotescas que nela se encontram.

escrito por
Luis Henrique Franco
16/2/2023

Desde a sua concepção na Antiguidade, o papel da comédia sempre foi o de estabelecer uma crítica à sociedade e representar caricaturas de suas mazelas, expondo seus problemas de uma forma divertida e que permita ao público refletir sobre elas. No cinema, esse papel se mostrou extremamente propício para o gênero, e Triângulo da Tristeza parece se enquadrar muito bem nesse contexto. Contudo, ao contrário de muitas produções atuais, o filme de Ruben Östlund não se destaca por se levar a sério em sua crítica. Ao contrário, após conseguir expor a tragédia da sociedade atual, ele opta por rir de sua situação.

Acompanhando um casal de modelos, interpretados por Harris Dickinson e Charlbi Dean, que recebeu um convite para participar de um cruzeiro de luxo, o filme inicia um tour escancarado pelos hábitos polêmicos, absurdos e, por vezes, repulsivos da classe mais rica. Parece o intuito do diretor de que o seu público odeie todos os personagens logo de cara, mas não uma forma que o filme se torne insuportável. Expondo os absurdos das classes super ricas de uma forma degradante e humilhante, Östlund propõe uma sátira sobre a forma como a sociedade é organizada. O iate onde esses milionários se hospedam é organizado também em classes, com a tripulação sendo claramente dividida entre a equipe que está sempre mais à vista e os trabalhadores que fazem seu trabalho sem serem notados, nas salas de motores e partes baixas do barco.

O casal de protagonistas toma banho de sol à bordo do iate.

O filme pode demorar um pouco a engrenar para o público, principalmente por nos levar a odiar os protagonistas, o que torna as primeiras cenas dos dois sozinhos angustiantes de se assistir. Uma vez no iate, porém, Triângulo da Tristeza lança sobre nós sua visão escancarada do sistema de classes de uma forma que não perdoa seus personagens, nem diminui o nosso ódio por eles. E é por isso que o fato de o filme não se levar a sério é importante. Ao estabelecer essa caricatura explícita, Östlund torna mais fácil a nossa convivência com os personagens deploráveis, pois estes são ridicularizados ao extremo. Fica claro e óbvio de que ninguém ali é um herói ou alguém para quem devemos torcer. Não devemos investir esperanças neles, apenas rir de sua própria estupidez e mesquinhez.

Não é por isso, no entanto, que o filme seja algo estúpido e sem nada a oferecer. Triângulo da Tristeza domina muito bem a arde cômica por conseguir, em meio a essa caricatura, introduzir uma visão bastante contundente da organização da sociedade, propor um debate de ideias políticas e repensar em seus próprios termos como a sociedade deveria ser organizada, ao mesmo tempo em que alerta sobre os perigos do acúmulo de poder. É um verdadeiro festival que expõe a nossa situação atual como um barco prestes a afundar. Ao invés de tentar reparar tudo que o que consegue, no entanto, o filme ri do ridículo dessa tragédia e fornece uma reflexão, sem assumir para si ares de que obteve a resposta definitiva para o problema.

Dois passageiros do iate fazem pose para fotos.

Se há algum envolvimento emocional do público, é com a tripulação do iate, seja a pobre comissária (Vicki Berlin) que tenta manter tudo em ordem em meio ao caos, as atendentes que constantemente são vítimas dos abusos dos passageiros, a equipe de limpeza e manutenção que permanece invisível para os hóspedes, e até mesmo o próprio capitão (Woody Harrelson), um homem que se reconhece como um hipócrita e que se vê descontente com seu trabalho, mas que não consegue deixá-lo, afundando suas mágoas na bebida enquanto deixa seu navio em completa desordem.

Woody Harrelson como o capitão do iate, prestes a receber os hóspedes para um jantar.

Com uma construção desse tipo, alguns problemas acabam por surgir. O primeiro deles se encontra nos personagens, que nunca ganham espaço para desenvolverem arcos narrativos nítidos, pouco alterando sua natureza ao longo do filme, seja para melhor ou pior. Não é algo que impede a imersão do público, mas tira um pouco a nossa conexão com a situação mostrada. Triângulo da Tristeza também possui alguns problemas na sua estrutura geral, com um segundo ato muito melhor e mais bem estruturado do que o primeiro, mais lento e entediante, e o terceiro, que aos poucos vai perdendo a energia estabelecida no clímax, apesar de construir um bom desfecho para a história.

Triângulo da Tristeza é uma sátira ácida e divertida que obtém muito triunfo por não se considerar mais séria ou mais inteligente do que de fato é. Sabendo que seus argumentos não estão "reinventando a roda", o filme apresenta uma jornada tragicômica que nos permite refletir sobre o estado de nossa sociedade, mas que se propõe muito mais a nos fazer rir dos absurdos que muitas vezes nem sabemos que acontecem.

EXPECTATIVAS PARA O OSCAR

Prêmios Indicados: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original

Ruben Östlund conquistou com inegável mérito a sua vaga tanto na categoria de Direção como na de Roteiro. A segunda é certamente onde seu trabalho encontra maior força, pois Triângulo da Tristeza, embora bem conduzido, não se destaca muito entre os demais concorrentes da categorias. Seu trabalho realmente traz o melhor do que o filme propõe, e entre todos os indicados, é refrescante ver um filme que não se estabelece ao público como algo extremamente sério. Ainda assim, o bom trabalho da direção deve muito ao roteiro excelente, que transborda com sua sátira ácida e seus comentários sobre a sociedade que nem sempre são óbvios, permanecendo escondidos por debaixo da superfície mais caricata e extravagante. Cheio de minúcias e momentos de diversão sutil, o filme é certamente um forte concorrente na categoria.

Melhor Filme, no entanto, é algo debatível. Não que Triângulo da Tristeza não seja merecedor da indicação. É inclusive extremamente merecedor, principalmente pela sua forma mais escancarada e sem escrúpulos de estabelecer sua crítica, ao passo que outros concorrentes optam por uma visão mais séria e sóbria. Essa diferença realmente dá destaque ao longa, mas não o é o suficiente para colocá-lo entre os favoritos, que inclusive também se consagraram como possíveis vencedores nas outras categorias às quais o filme concorre.

Triângulo da Tristeza é um bom filme para se ter nessa edição do Oscar, e um que talvez devesse receber mais atenção por não se enquadrar exatamente naquilo que normalmente vemos aparecer nessa premiação. O provável, no entanto, é que o filme saia da cerimônia de mãos abanando.

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